Risco calculado »

Técnica avalia chance de pacientes voltarem a ter pedra nos rins

Cálculo é formado por pequenos cristais que podem ser encontrados tanto nos rins quanto em outro órgão do trato urinário

Diminuir Fonte Aumentar Fonte Imprimir Corrigir Notícia Enviar
Vilhena Soares - Correio Braziliense Publicação:19/11/2014 12:00Atualização:19/11/2014 11:29
A retirada de pedras acumuladas nos rins é um procedimento conhecido como doloroso e de alta incidência na população. Por isso, um medo de quem já passou pelo problema é que os cálculos surjam pela segunda vez. Para prever as chances de isso acontecer, pesquisadores americanos elaboraram um questionário que, ao abordar os hábitos comportamentais e o histórico de saúde dos pacientes, poderá ajudar os médicos a avaliar quais correm risco de desenvolver as pedras novamente.

Relatos de pacientes que se submeteram ao procedimento foram a principal motivação dos pesquisadores, que buscaram um modo de prevenir o cálculo renal recorrente. “Após a dolorosa experiência de uma cirurgia para retirar as pedras, muitos querem saber se é provável que isso aconteça novamente”, destaca Andrew Rule, pesquisador e médico do Hospital Mayo Clinic e um dos autores do estudo. Rule explica que saber dos riscos de o cálculo se formar novamente pode facilitar o tratamento. “Se soubermos quais pacientes apresentam grande probabilidade de ter outra pedra no rim, então poderemos aconselhá-los melhor quanto a dietas e medicamentos capazes de prevenir o problema”, complementa.

O especialista explica que o cálculo é formado por pequenos cristais, que podem ser encontrados tanto nos rins quanto em outro órgão do trato urinário. Nesses casos, o cálcio presente no organismo pode se combinar a outras substâncias, como oxalato, fosfato ou carbonato, e formar pequenos cristais que, aglutinados, constituem o cálculo renal. Histórico familiar aumenta a propensão a desenvolver as pedras, além de hábitos como não beber muita água. Pessoas que vivem em regiões quentes ou que suam muito estão dentro do grupo de risco, assim como aquelas que ingerem dietas ricas em proteína, sal e açúcar.
Clique na imagem para ampliá-la e saiba mais (Anderson Araújo/Thiago Fagundes/CB/D.A Press)
Clique na imagem para ampliá-la e saiba mais

Perguntas
Para elaborar o questionário, a equipe do médico analisou prontuários de 2.239 adultos que tiveram pedra nos rins, sendo que, desses, 707 retornaram ao consultório devido ao mesmo problema. Com as informações coletadas, os pesquisadores elaboraram 11 perguntas, incluindo dados a respeito de idade, sexo, histórico familiar, além de pontos específicos dos sintomas, como presença de sangue na urina. Os cientistas contam que, pelas respostas, é possível saber com precisão a probabilidade de uma pessoa ter uma outra pedra renal sintomática em dois, cinco ou dez anos após a primeira ocorrência. “Estamos focados em pacientes que, anteriormente, tiveram apenas um episódio de cálculo renal. Aqueles que passaram por diversas ocorrências já estão em alto risco”, complementa Rule.

Para Daniel Rinaldi dos Santos, presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), o questionário dos cientistas americanos pode auxiliar os médicos da área. Ele diz que, no Brasil, frequentemente os profissionais já adotam uma estratégia semelhante. “A diferença é que, agora, teremos uma pontuação, que pode apontar as chances de o paciente desenvolver a doença novamente, em níveis percentuais”, destaca.

Santos acredita que o questionário pode ser uma ferramenta de ajuda na área médica, mas alerta que, caso venha a ser adotado no Brasil, precisa ser adaptado para as características do país. “ A forma pela qual você avalia cada paciente é diferente e necessita de parâmetros baseados nos costumes locais. Sabemos que até a temperatura ambiente pode influenciar a incidência da doença. No Brasil, por exemplo, temos que considerar o clima quente, que agrava o cálculo renal. Já a alimentação, nos EUA, é diferente; os americanos consomem mais refrigerante, o que também provoca a doença, e aqui já não temos esses números altos do consumo de bebidas doces”, exemplifica.

Maria Letícia Azevedo, nefrologista e coordenadora de transplante renal do Hospital Santa Lúcia, também acredita que a pontuação fornecida pelo sistema desenvolvido pelo Hospital Mayo Clinic poderá ajudar a prever uma segunda ocorrência de cálculo renal. “Já sabemos que, ao ter um histórico familiar de pedra nos rins, as chances de alguém desenvolver o problema de forma recorrente são grandes. Essas são perguntas que nós abordamos em consultório médico, porém, com o auxílio de uma pontuação mostrada nesses normogramas (nome que usamos para definir esse tipo de questionário), teremos formas de elaborar gráficos que mostrem dados mais pertinentes quanto à doença”, destaca a especialista.

Ela também diz que, devido à alta ocorrência da doença, o acompanhamento periódico dos pacientes pode ser prejudicado, principalmente na rede pública, onde a espera por consulta é maior. “Temos muitos pacientes nessa situação. Por isso, é importante ter ferramentas que facilitem essa avaliação. Qualquer iniciativa que ajude a diminuir a dor dos pacientes é bem-vinda”, avalia.

Acompanhamento
A preocupação com a dor pode fazer com que as pessoas fujam das consultas médicas. Esse pavor, combinado com a negligência com a alimentação após a cirurgia, por exemplo, contribui para o surgimento da segunda pedra, destaca Maria Letícia Azevedo. “Seguir as recomendações médicas após a cirurgia, como beber água e adotar uma dieta sem gorduras, é essencial. Além disso, é preciso voltar ao consultório para acompanhamento. Muitos pacientes somem”, conta a especialista. Daniel Rinaldi dos Santos também destaca que o retorno frequente ao consultório médico é essencial para prevenir o sofrimento decorrente do cálculo renal. “Todos os indivíduos que passam por esse problema precisam de acompanhamento e de mudança nos hábitos, principalmente nos alimentares”, reforça.

O próximo passo dos cientistas americanos é testar o questionário, que está disponível para médicos em uma rede on-line, em pacientes que já tiveram pedra nos rim e que têm predisposições a desenvolver o problema novamente. “Queremos encontrar variáveis adicionais que podem aumentar a utilidade dessa ferramenta no futuro”, acrescenta Andrew Rule.

COMENTÁRIOS

Os comentários são de responsabilidade exclusiva dos autores.