Ato de caminhar ou pedalar pelas ruas contribui para a segurança e a mobilidade urbana ativa
Ações também trazem economia para as cidades
Outro estudo, do Instituto de Ciências de Saúde Ambiental norte-americano, revela uma economia de US$ 24 para cada gasto com a construção de ciclovias. Na Europa, algumas escolas vêm adotando programas de incentivos para as crianças irem para as aulas caminhando ou pedalando. A iniciativa tenta inverter a estatística, que mostra que o número de crianças que vai a pé ou de bicicleta para a escola diminuiu de 50% para 15%, enquanto o número de crianças obesas triplicou. Enfim, a tendência das grandes cidades é ter cada vez menos facilidades para veículos particulares e cada vez mais integração entre os modos de transporte, destacando os não motorizados e os coletivos.
Para a urbanista Janaína Amorim Dias, especialista em mobilidade urbana sustentável e em arquitetura da paisagem, como o transporte coletivo não abrange toda a cidade, é interessante que as viagens possam ser completadas a pé ou de bicicleta, sendo essa última usada ainda para percursos maiores. Os sistemas de bicicletas compartilhadas também permitem que as pessoas usufruam desse modo de transporte sem a necessidade de ter uma bicicleta ou se preocupar com onde deixá-la. “Para apoiar a mobilidade ativa, é importante incentivar práticas de caminhadas e ciclismo nas ruas. Fechamento de via no fim de semana, liberando o espaço para as pessoas se exercitarem, tem tido sucesso em muitas cidades do Brasil”, diz.
Sidney Maurício de Moura, de 27 anos, aderiu à bicicleta por necessidade. Em 2012, teve que vender carro e moto e passou a fazer o trajeto de ida e volta para o trabalho no pedal. Detalhe: ele mora em Santa Luzia e trabalha na Savassi, no restaurante da família. Hoje, pedala 60 quilômetros por dia, gastando uma hora para ir e 50 minutos para voltar. “Não gostava de andar de ônibus, sempre fui independente no meu deslocamento. A bike me permite essa liberdade. E tem também a questão da saúde. Emagreci 13 quilos sem mudar em nada a alimentação. Hoje, durmo melhor e tenho mais disposição. Apaixonei-me pela bicicleta, tanto que já comprei carro e moto de novo, mas continuo usando a bike para ir pro trabalho”, comenta.
ESTRUTURA
Sidney tem sorte de poder guardar a magrela no trabalho, assim como ter um vestiário para banho. As longas distâncias e a temperatura da capital impedem os belo-horizontinos de fazer o que é muito comum na Europa, em que engravatados circulam de bicicleta numa boa, já que é difícil ficar suado em temperaturas tão amenas. Segundo Janaína, para atrair um número maior de pessoas a usar a bicicleta como modo de transporte, é importante o incentivo desse veículo em curtos ou médios deslocamentos. “Um bom começo é a integração de bairros com o transporte coletivo. E, paralelamente à implantação de vias cicláveis, é preciso colocar bicicletários em pontos-chave da cidade, como terminais, estações e pontos de transporte coletivo.
O bicicletário é um sistema fechado e mais seguro, com vagas para estacionar as bicicletas, diferentemente do paraciclo, que é simplesmente um local para amarrar a bicicleta. “Os paraciclos podem ser eficientes em áreas comerciais, locais movimentados, onde o tempo em que a bicicleta fica parada é menor. No caso de BH, uma opção seria estacionamentos para bicicleta em regiões como Savassi, Centro e área hospitalar, para atrair os deslocamentos dos bairros do entorno. As pessoas acessariam esses locais com descida na ida e pegariam subidas na volta para casa, que é mais interessante”, sugere a especialista. Também é bom que as empresas criem incentivos, como vestiários e espaços para os funcionários guardarem as bikes.
BICICLETÁRIO
Tramita na Câmara Municipal de Belo Horizonte projeto de lei que pretende tornar obrigatória a instalação de bicicletários em diferentes estabelecimentos públicos e privados: agências bancárias, estações de metrô, escolas, hospitais, centros de saúde, supermercado, shoppings centers e sedes de órgãos públicos. Os estabelecimentos que ainda não têm bicicletários teriam 12 meses para se adaptar à norma caso ela seja aprovada. O texto recebeu parecer de constitucionalidade na Comissão de Legislação e Justiça no início de dezembro, mas, antes de ser discutido e votado em plenário, ainda precisa concluir tramitação nas comissões de mérito da Câmara. A proposta é do vereador Pelé do Vôlei.
DICAS PARA PEDALAR NO MEIO URBANO
» Pesquise a melhor bicicleta para o uso que pretende. Algumas pessoas apenas pedalam como transporte e lazer na cidade, outras adicionam a prática esportiva, como as trilhas e treinos nas estradas. Quando o bolso permite, algumas pessoas têm duas bicicletas, uma para o dia a dia na cidade e outra para as trilhas/estradas. Isso acaba poupando o equipamento esportivo, que, normalmente, é mais caro.
» Antes de pedalar para o trabalho, comece com trajetos próximos de casa (ir à padaria, à academia) e aumente aos poucos. Em um ou dois fins de semana, faça o trajeto de casa até o local de trabalho, ou outro destino cotidiano, para entender como é a distância e quais as características do trajeto. Assim, identificam-se as melhores rotas, como evitar algum morro ou vias mais perigosas.
» Mantenha a bicicleta com a manutenção em dia. A bike utilizada na cidade é bem mais econômica que manter um carro, claro, mas é necessário manter uma “agenda” de revisões, especialmente antes e depois dos períodos chuvosos, que causam maior desgaste. Também é importante aprender procedimentos básicos, como trocar/remendar câmaras de pneus.
» Pedale com conduta segura. Fique visível, indicando seus movimentos no trânsito, e use equipamento de proteção individual conforme sua necessidade. Para evitar acidentes do tipo “não te vi”, use piscas e adesivos e coletes refletivos. Para reduzir os danos de alguns acidentes, adote luvas, óculos e capacete. Esses itens não são mágicos: o ciclista deve sempre ter atenção máxima ao ambiente que o cerca.
» Busque dicas na internet. Há vários grupos de ciclistas em BH, com ampla diversidade de atividades. Confira: www.bhemciclo.org/grupos-de-ciclistas-em-belo-horizonte
Fonte: Vinícius Mundim Zucheratto e Figueiredo, voluntário do Bike Anjo BH