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Médicos de BH são pioneiros na realização de cirurgias pouco invasivas para traumas ginecológicos

A laparoscopia por portal único na região pélvica reduz tempo de recuperação e permite detectar cânceres

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Márcia Maria Cruz - Estado de Minas Publicação:04/02/2015 14:09Atualização:04/02/2015 14:15
Cirurgiões-ginecológicos Maurício Bechara e Admário Santos afirmam que procedimento é menos agressivo às mulheres (CRISTINA HORTA/EM/D.A PRESS)
Cirurgiões-ginecológicos Maurício Bechara e Admário Santos afirmam que procedimento é menos agressivo às mulheres
No Dia Mundial de Combate ao Câncer, a boa notícia sai das mãos da equipe de ginecologia do Hospital da Baleia, em Belo Horizonte. Coordenada pelos cirurgiões ginecológicos Admário Silva Santos e Maurício Bechara Noviello, a equipe é pioneira na técnica minimamente invasiva usada para o tratamento de doenças ginecológicas, entre elas, cânceres de ovário e útero. Desde 2012, foram realizadas 150 cirurgias de laparoscopia por portal único. “Operamos toda a cavidade pélvica por meio de um único dispositivo”, diz Bechara. O procedimento também pode ser empregado para diagnosticar o câncer de ovário, que, na maioria das vezes, é identificado em estágio avançado, o que reduz a sobrevida das pacientes.

Para 2015, o Instituo Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca) estima 15.590 novos casos de câncer do colo do útero, com um risco estimado de 15,33 casos a cada 100 mil mulheres. Trata-se do terceiro tipo de incidência da doença mais comum entre as mulheres. O primeiro são os carcinomas de pele, seguido por câncer de mama. Em sexto lugar, aparece o câncer de ovário, que deverá ter 5.680 novos casos este ano.

Chamadas minimamente invasivas, as laparoscopias trazem benefícios aos pacientes por reduzirem o tempo de recuperação. Em média, podem voltar para a casa depois de 20 horas. Na laparoscopia convencional são realizadas até três pequenas incisões na região do abdômen. O portal único aprimora as técnicas de cirurgias menos invasivas. É feita apenas uma incisão de 2,5 centímetro na região do umbigo para a introdução do dispositivo em formato cilíndrico, por onde vão passar os instrumentos cirúrgicos. “Quanto menos cortes, menos agressão. Sem contar ainda a questão estética”, pontua Santos. Os médicos explicam que, como o acesso é feito por meio do umbigo, a cicatriz da cirurgia ficará encoberta.

O dispositivo foi desenvolvido por uma empresa gaúcha com objetivo de ser empregado em cirurgias de vesícula. No entanto, haviam indicativos de que poderia também ser usado nas cirurgias ginecológicas. “Eles nos procuraram e perguntaram se gostaríamos de começar a trabalhar com essa técnica, mas não tinha ninguém fazendo no Brasil. Fomos os primeiros”, conta Santos. Como os dois médicos atuam como pesquisadores pelo CNPq, iniciaram a pesquisa com as pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) no Hospital da Baleia. Todas as mulheres submetidas ao procedimento passaram pela aprovação da comissão de ética e pesquisa do hospital.

CÉLULAS DESTRUÍDAS
A maior parte das 150 cirurgias realizadas foi para a retirada de tumores benignos do ovário, com tamanhos entre 18 e 25 centímetros. Foram atendidas mulheres de 19 a 60 anos. O tempo médio das cirurgias é de 30 minutos, podendo alguns procedimentos serem mais rápidos e outros mais demorados, dependendo da complexidade do caso. “É bem mais fácil operar pelo portal único”, assegura Bechara.

Em latex, o dispositivo em formato cilíndrico possui quatro orifícios por onde passam a ótica e os instrumentos usados pelos médicos para fazer a cirurgia. Eles introduzem também uma endobag, espécie de saco plástico onde o órgão que passará pela cirurgia é colocado. O procedimento é feito para que as células cancerígenas possam ser destruídas sem o risco de atingirem outras partes do organismo. Diante dos resultados positivos, as pesquisas foram apresentas em revistas científicas da área. Em um dos artigos, a equipe relata a cirurgia complexa em que foram retirados um tumor ovariano e também a vesícula biliar. Apesar da complexidade do procedimento, a paciente obteve alta em menos de 24 horas e voltou a trabalhar em menos de 15 dias.

FATORES DE RISCO

O principal fator de risco para o desenvolvimento das lesões precursoras do câncer do colo do útero é a infecção pelo papilomavírus humano (HPV). A prevenção é maior arma contra esse tipo de câncer. Por isso, é recomendada a realização do exame citopatológico, conhecido como papanicolau, em mulheres de 25 a 64 anos.

No caso do câncer de ovário, o fator de risco mais importante para o desenvolvimento é a história familiar de câncer de mama ou ovariano. A doença costuma evoluir silenciosamente e mais da metade dos casos são descobertos em fase avançada. O risco de desenvolver a doença aumenta em mulheres que já desenvolveram câncer de mama e são portadoras de mutações em dois genes (BRCA1 e BRCA2).

Outros fatores de risco são a terapia de reposição hormonal pós-menopausa, tabagismo e obesidade. Alguns estudos também apontam uma relação direta entre o desenvolvimento do câncer ovariano e a menopausa tardia. A prevenção desse tipo de neoplasia é limitada pelo pouco conhecimento de suas causas, além da falta de disponibilidade de técnicas para o diagnóstico precoce.

DIA MUNDIAL DE COMBATE AO CÂNCER
Dados da União Internacional de Controle de Câncer (Union for International Cancer Control –UICC) mostram que cerca de 8,2 milhões de pessoas morrem de câncer a cada ano no mundo e, destes, 4 milhões faleceram prematuramente (entre 30 e 69 anos). A campanha mundial "Está ao nosso alcance enfrentar o desafio", promovida pela entidade, tem o objetivo de reduzir o número de 19,3 milhões de casos estimados da doença até 2025, incentivando a conscientização e pressionando governos a tomar medidas contra o mal.

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