Em meio a campanhas polêmicas, ONU Mulheres pede fim do machismo no carnaval
Primeiro foi o Ministério da Justiça com o slogan "Bebeu, perdeu"; em seguida a Skol com o "Esqueci o 'não' em casa". As duas campanhas foram retiradas de circulação após manifestação de mulheres.
Pesquisa do Instituto Avon/Data Popular, realizada em dezembro de 2014, mostra que 96% dos jovens considera que existe machismo no Brasil. Além dessa informação, o estudo evidencia a naturalização dos valores machistas na cultura: 49% dos homens e 53% das mulheres aprovam esses ‘princípios’; já 78% das entrevistadas revelaram que já foram assediadas em local público.
O início do mês trouxe uma notícia que sinalizou uma mudança positiva nesse cenário: a condenação a 7 anos de prisão de um homem que deu um beijo forçado em uma mulher no carnaval de Salvador, em 2008. O crime foi classificado como estupro e deixou claro que o corpo da mulher não é propriedade pública. Não é não.
Logo em seguida uma campanha do Ministério da Justiça para a folia deste ano caiu como um balde de água fria. Com o slogan “Bebeu, perdeu”, a peça divulgada em redes sociais mostrava duas jovens rindo de outra garota, com o texto: "Bebeu demais e esqueceu o que fez? Seus amigos vão te lembrar por muito tempo". A foto que ficou disponível na web por cerca de três horas foi retirada do ar após repercussão negativa. O ministério se desculpou, disse que houve um equívoco e ressaltou que a peça tem o objetivo de conscientizar a população.
Menos de uma semana depois, outra campanha publicitária evidenciou o quanto ainda é preciso avançar na discussão sobre a violência de gênero. A marca de cerveja Skol, do grupo Ambev, espalhou outdoors em São Paulo com o seguinte texto: “Esqueci o ‘não’ em casa”. A mensagem incomodou a publicitária Priscila Ferrari, 25 anos, que, imediatamente, providenciou uma resposta à campanha considerada machista. Com fita isolante, Priscila completou a chamada: 'E trouxe o nunca'. Após a repercussão na web e acusações de fazer apologia ao estupro e reforçar a cultura de opressão à mulher, a empresa decidiu retirar os cartazes das ruas.
Em sua página no Facebook, Priscila publicou uma foto mostrando o anúncio 'customizado' e relatou que a campanha de carnaval espalha frases que induzem a perda do controle. Até o fechamento da reportagem, a publicação já tinha mais de 21 mil curtidas e mais 7 mil compartilhamentos. "Uma campanha totalmente irresponsável, principalmente durante o carnaval, quando a gente sabe que o índice de estupro sobe. Amigos publicitários, vocês precisam ter mais noção e respeito", desabafou a jovem. Sobre a alteração na propaganda, Priscila alegou que a "intervenção foi feita com fita isolante pois o objetivo não era destruir a infraestrutura do outdoor, só a propaganda".
Em nota, a Ambev agradeceu os comentários postados nas redes sociais e informou que a campanha tem como objetivo aceitar os convites da vida e aproveitar os bons momentos. "Fomos alertados nas redes sociais que parte de nossa comunicação poderia resultar em um entendimento dúbio. E, por respeito à diversidade de opiniões, substituiremos as frases atuais por mensagens mais claras e positivas, que transmitam o mesmo conceito".
#naopercaorespeito
Sem grande repercussão, a campanha ‘Ter pegada é não faltar com o respeito’, lançada em 9 de fevereiro, e coordenada pela ONU Mulheres Brasil dá o recado: o homem precisa compreender os limites da paquera e a mulher tem que saber reconhecer a abordagem agressiva, constrangimento ou violência: “Neste carnaval, perca a vergonha. Denuncie. Ligue 180”.
A iniciativa também chama atenção para o uso do preservativo. Pesquisa conduzida pelo Ministério da Saúde e divulgada em janeiro de 2015 revela que 45% da população não usa camisinha nas relações sexuais. Assista:
Outro vídeo que integra a campanha pelo fim do machismo, intitulado ‘Chega bem, quem chega direito’, traça os caminhos da paquera com cantadas sugestivas e dicas para eles sobre como quebrar o gelo com as mulheres. No filme também são indicadas as recusas das mulheres e que esses sinais devem ser respeitados pelos homens sem uso de práticas agressivas. Veja:
(Com informações de Mirelle Pinheiro, do Correio Braziliense)