Mãe cria panfleto para ajudar filho autista e arte repercute na internet

Mariana Caminha disponibiliza o arquivo editável para que pais possam fazer a mesma homenagem aos pequenos. Página no Facebook auxilia com mais informações sobre o transtorno

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Jacqueline Saraiva - Correio Braziliense Publicação:26/02/2015 14:10
Diagnosticado com autismo pouco depois do primeiro ano de vida, o pequeno Fabrício Caminha, hoje com 4 anos, cresce se transformando em mais um exemplo para as pessoas que vivem a mesma situação. Enfrentar uma rotina de terapias, rotinas adaptadas e até mesmo o preconceito das pessoas não seria fácil para ele sem a ajuda da mãe, a jornalista Mariana Caminha, 34 anos. O empenho em derrubar as barreiras da desinformação sobre o Transtorno do Espectro Autista (TED) fez com que ela tivesse uma ideia que repercutiu na internet. Em um panfleto, reuniu as principais informações sobre o próprio filho no intuito de apresentá-lo aos coleguinhas de escola e professores.



Mariana conta que tomou a atitude apenas para mostrar as qualidades do menino e ajudá-lo a se integrar à nova escola e a interagir melhor. Depois de deixar uma unidade particular, Fabrício vai estudar na Escola Classe 303 Sul, onde terá uma educação direcionada, ao lado de outras crianças com necessidades semelhantes às dele. “A gente sempre teve muita sorte de encontrar professores motivados e amiguinhos que sempre ajudaram o Fabrício, que foram muito carinhosos com ele, no ensino regular. Daí resolvi criar esse panfleto para tentar incentivar ainda mais o esclarecimento, o diálogo e trazer as crianças e os pais delas para perto dos autistas”, explica.

Ser mãe de uma criança autista foi um desafio. “O mais difícil foi fechar o diagnóstico. Começamos a perceber, quando ele tinha um ano e dez meses, a dificuldade em falar. Pensamos que era um problema de audição e procuramos ajuda médica em várias especialidades. Só conseguimos fechar o diagnóstico com um médico em São Paulo. Depois disso, as coisas começaram a se encaixar mais. Não é algo fácil, principalmente porque o autismo não é uma condição muito conhecida entre médicos, mas não é algo impossível”, explica.

Depois de criar o panfleto, a mãe de Fabrício resolveu postá-lo no Facebook, na página “Doutores do TEA”, criada por ela para a troca de informações com outros pais. “Eu nem imaginava que ia repercutir tanto, mas, depois que coloquei [a arte] no Facebook, dezenas de pessoas em todo o país começaram a me chamar para fazer um igual para os filhos”. Hoje, o perfil disponibiliza um link onde é possível abrir o arquivo editável para que as pessoas façam a mesma homenagem aos pequenos.

Funcionária da Embaixada do Reino Unido, Mariana morou por sete anos na Inglaterra, onde deu à luz o menino. O conhecimento na língua inglesa também virou ferramenta de ajuda. “A maioria das informações sobre o transtorno estão em língua inglesa, o que acaba virando mais uma barreira. No ‘Doutores do TEA’, a gente busca simplificar ainda mais a informação”, diz. Ela ressalta que ainda há muitas barreiras a serem vencidas e que o apoio da família às pessoas que têm o espectro autista é fundamental. “Você sabe que ele [o autista] vai sofrer, você vai sofrer. É um desafio. Tem dias que você está otimista, tem dias que fica mal e mesmo assim tem que se entregar, mas de uma forma divertida, sem tratar o assunto com estereótipos. A gente não precisa de pena, nem eles”.

'Você sabe que ele [o autista] vai sofrer, você vai sofrer. É um desafio. Tem dias que você está otimista, tem dias que fica mal e mesmo assim tem que se entregar, mas de uma forma divertida. A gente não precisa de pena, nem eles', diz Mariana (Arquivo Pessoal )
"Você sabe que ele [o autista] vai sofrer, você vai sofrer. É um desafio. Tem dias que você está otimista, tem dias que fica mal e mesmo assim tem que se entregar, mas de uma forma divertida. A gente não precisa de pena, nem eles", diz Mariana


Sem estatísticas
Segundo a Associação Brasileira de Autismo (Abra), o Brasil ainda não dispõe de estatísticas oficiais sobre o autismo no país, tampouco no Distrito Federal. A SES também não tem dados sobre quantos atendimentos são realizados na rede pública para essas pessoas. Estudos em outros países têm mostrado um aumento nos casos diagnosticados. Em março do ano passado, uma pesquisa do Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC, sigla em inglês), demonstrou que uma em cada 68 crianças norte-americanas de 8 anos de idade tem autismo. A prevalência do transtorno no país teve um aumento de 30% em relação aos números divulgados em 2012, que apontavam que uma em cada 88 crianças dos Estados Unidos era autista. O relatório revelou também que a maioria recebe o diagnóstico após os 4 anos de idade, embora a síndrome possa ser detectada a partir dos 2 anos.

O autismo é definido por um conjunto de comportamentos que variam em grau e gravidade. De acordo com a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas relacionados à Saúde, a síndrome pertence aos Transtornos Globais de Desenvolvimento e pode se manifestar de diversas formas. As mais comuns são: Autismo Infantil; Autismo Atípico ou Transtorno Global de desenvolvimento (TGD); Síndrome de Asperger; e Síndrome de Rett.

O tratamento é feito de acordo com as necessidades de cada paciente e depende da complexidade do caso. Os neuropediatras aconselham aos pais que estejam atentos ao comportamento da criança desde os primeiros meses. Quanto mais rápido é diagnosticado, melhores são as chances de garantir qualidade de vida ao autista. Há dificuldades que precisam ser trabalhadas e desenvolvidas durante toda a vida e, além da equipe médica, a família também precisa entender as necessidades da pessoa.

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