Crianças cegas enfrentam desafio para ter acesso à literatura infantil
Alunos do terceiro período de escola infantil confeccionam livros em alto relevo para estudantes do Instituto São Rafael
Zulmira Furbino
Publicação:07/03/2015 13:09Atualização: 07/03/2015 13:51
Um dos grandes desafios para as crianças que não enxergam é ter acesso à literatura infantil. Não que não haja oferta de livros em braile (o sistema de leitura para cegos) para os baixinhos com deficiência visual. É que a formação de professores na mesma situação que eles, os mais capacitados para ensinar os pequenos a ler, está cada dia mais escassa e há pouco estímulo à leitura na família.
Mesmo em condições tão difíceis, porém, muitos baixinhos insistem em mergulhar nos livros. Sara da Silva Teixeira tem 8 anos, estuda no Instituto São Rafael e não abre mão da leitura, embora tenha apenas três livros em casa. “Aprendi a ler no ano passado. Já li muitos livros. O meu favorito é Madrugada na casa do bruxo. Deus me livre de estar na casa dele nessa hora. Se eu tivesse mais livros, ia ler muito mais”, afirma.
Com uma adaptação do livro Cinderela em braile nas mãos, Vitória Gonzaga Vaz da Silva, de 9, conta que chegou ao Instituto há três anos. “Antes, eu não sabia nada. Foi aqui que aprendi a ler. Não tenho livro em casa, mas tirei as folhas do meu caderno em braile do ano passado para ler em casa”, explica. Ela conta que seu livro predileto é A galinha que botava batatas. Vitória também gosta de A Bela Adormecida. “Acho ela legal. É uma personagem bonita e divertida”, observa.
Míriam do Coito Silva Rocha, de 14, também é aluna do Instituto São Rafael. Como sua colega Vitória, ela leu A galinha que botava batatas, além de outros livros, como A felicidade das borboletas, O João de barro e A casa do caramujo. “Gosto de ler porque, lendo, a gente se sente bem e aprende mais”, resume.
SOLIDARIEDADE Para tentar ajudar crianças como Sara, Vitória e Míriam, alunos do terceiro período da Escola Infantil Trilha da Criança estão confeccionando um livro em alto relevo, com imagens que mostram a importância da preservação da água. O livro será doado ao Instituto São Rafael. Para começar a desenvolvê-lo, os alunos que enxergam normalmente trabalham, de olhos vendados, com a percepção do corpo e do rosto dos coleguinhas. Mas não é tão simples assim. “Tapei os olhos, mas não consegui descobrir quem era o meu coleguinha”, diz Marina Batistuta, de 5.
MARLENE GONÇALVES, DEFICIENTE VISUAL E PROFESSORA DO 3º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL DO INSTITUTO SÃO RAFAEL
Crianças preparam publicação com imagens que mostram a importância da preservação da água
Um dos grandes desafios para as crianças que não enxergam é ter acesso à literatura infantil. Não que não haja oferta de livros em braile (o sistema de leitura para cegos) para os baixinhos com deficiência visual. É que a formação de professores na mesma situação que eles, os mais capacitados para ensinar os pequenos a ler, está cada dia mais escassa e há pouco estímulo à leitura na família.
Mesmo em condições tão difíceis, porém, muitos baixinhos insistem em mergulhar nos livros. Sara da Silva Teixeira tem 8 anos, estuda no Instituto São Rafael e não abre mão da leitura, embora tenha apenas três livros em casa. “Aprendi a ler no ano passado. Já li muitos livros. O meu favorito é Madrugada na casa do bruxo. Deus me livre de estar na casa dele nessa hora. Se eu tivesse mais livros, ia ler muito mais”, afirma.
O livro predileto de Vitória Gonzaga Vaz da Silva, de 9 anos, é A galinha que botava batatas
SOLIDARIEDADE Para tentar ajudar crianças como Sara, Vitória e Míriam, alunos do terceiro período da Escola Infantil Trilha da Criança estão confeccionando um livro em alto relevo, com imagens que mostram a importância da preservação da água. O livro será doado ao Instituto São Rafael. Para começar a desenvolvê-lo, os alunos que enxergam normalmente trabalham, de olhos vendados, com a percepção do corpo e do rosto dos coleguinhas. Mas não é tão simples assim. “Tapei os olhos, mas não consegui descobrir quem era o meu coleguinha”, diz Marina Batistuta, de 5.
MARLENE GONÇALVES, DEFICIENTE VISUAL E PROFESSORA DO 3º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL DO INSTITUTO SÃO RAFAEL
Ler é fundamental
“Comparado a tudo que existe para uma criança que enxerga, as possibilidades para as crianças com deficiência visual são muito limitadas. A boa vontade do governo federal não é suficiente. O Ministério da Educação insiste no formato gravado de literatura, mas nós combatemos a ‘desbrailização’. Só por meio do braile uma pessoa cega pode aprender a ler e a escrever. Ler é tudo”