Cuidados básicos com a boca evitam doenças, como o câncer, e tratamentos caros e invasivos
O desafio do Brasil é tornar a prevenção, que tem baixo custo e na maioria das vezes é indolor, um hábito
Carolina Cotta - Estado de Minas
Lilian Monteiro - Estado de Minas
Publicação:15/03/2015 13:36Atualização: 15/03/2015 14:15
Na próxima sexta-feira, comemora-se o Dia Mundial da Saúde Bucal. Anos atrás não teríamos motivos para festa, mas hoje há conquistas a celebrar. Nos últimos anos, o Brasil entrou para o grupo de países com baixa prevalência de cárie, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). Temos, assim, uma realidade similar à do Leste Europeu e de alguns países da Ásia e da África, e, em termos regionais, a melhor situação na América do Sul, junto à Venezuela.
Segundo Angelo Roncalli, pós-doutor em public health dentistry pela University College London e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, a rigor, não há um consenso sobre o perfil “ideal” da saúde bucal. “Na prática, em termos epidemiológicos, quanto menos doença, melhor.” Os bons dados dizem respeito à cárie dentária em crianças, mas há uma incidência de doenças considerável em adultos. “O quadro em idosos é lastimável, com impressionante média de 25 dentes extraídos em termos nacionais: mais de 95% deles precisam de alguma prótese dentária.”
O Brasil tem pela frente o desafio de manter a tendência de declínio da cárie em toda a população. O quadro começa a mudar, principalmente com o modelo de política pública de saúde bucal posto em prática desde 2004, com o programa Brasil Sorridente, do governo federal. E, para Roncalli, que foi consultor do Ministério da Saúde quando coordenador-geral do projeto SBBrasil 2010 – Pesquisa Nacional de Saúde Bucal, é importante lembrar que não há como transferir a responsabilidade da prevenção apenas para as pessoas. “As atitudes relativas às políticas públicas e ao indivíduo estão interconectadas, pois a realização de práticas preventivas por parte das pessoas implica acesso à informação por meio da educação formal e das estratégias de educação em saúde, as quais são, em essência, atribuições do sistema público”, defende.
Assim, cabe às políticas públicas equalizarem as oportunidades de acesso às medidas preventivas e reabilitadoras, mas cabe ao indivíduo, uma vez garantido esse acesso, fazer suas escolhas por uma vida mais saudável. Segundo Flávio de Freitas Mattos, doutor em odontologia social e professor do Departamento de Odontologia Social e Preventiva da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais, no passado pensava-se que os problemas da boca eram só da boca. “Perder os dentes não era um problema. A pessoa tinha cárie, ia ao dentista e se tratava. Hoje, sabe-se que nada substitui a durabilidade do dente natural. Não há trabalho restaurador que traga a segurança que a natureza dá.”
Prevenir é barato e indolor. Nesta matéria especial, trazemos especialistas que alertam sobre a importância dos cuidados com a saúde bucal, o que requer educação, acesso e compromisso, de cada um e do governo.
Armados de escova e fio dental
Especialistas alertam sobre doenças, exaltam a importância da prevenção e a necessidade de cuidados básicos para a saúde bucal. Apesar de avanços, Brasil tem longo caminho a percorrer
A odontologia avança na rapidez que é própria ao mundo globalizado e tecnológico. A prática, hoje, dispõe cada vez mais de recursos inovadores, indicados para os mais variados procedimentos estéticos e corretivos. O Brasil é uma referência. Tem profissionais de topo, reconhecidos mundialmente em áreas ligadas ao embelezamento dos dentes. Figura ainda entre os países que mais publicam em revistas especializadas e apresentam trabalhos científicos em congressos. Ao mesmo tempo, precisa lidar com questões primárias de higiene e saúde bucal.
Segundo José Bernardes das Neves, doutor em implantodontia e membro da Academia Americana de Osseointegração, a cárie e a doença periodontal – inflamação que acomete o dente e pode culminar em sua perda – são os males crônicos mais comuns aqui e também no exterior. “Mais de 95% dos brasileiros sofrem com cárie e doença periodontal, 98% escovam os dentes de forma errada e 50% da população com 40 anos não tem metade dos dentes. Por isso, ainda podemos dizer que é um país de desdentados”, afirma José Bernardes, por meio de constatações clínicas.
O Brasil esquece o princípio básico: prevenção. Algo simples e ao alcance de todos, segundo José Bernardes das Neves. “Correta higienização com escova e fio dental; consumo inteligente de açúcar, evitando alimentos adocicados entre as refeições; uso correto do flúor; e acesso à água fluoretada, que fortalece o esmalte dos dentes, são a base da prevenção. A escova não chega entre os dentes, por isso o fio dental é fundamental. Ninguém pode abrir mão dessa dupla. Um complementa o outro.”
Hilarino Vieira Soares, cirurgião-dentista clínico com especialização em periodontia, enfatiza que “quem não faz prevenção diária vai ter cárie, dor, mau hálito, sangramento gengival, pode chegar a prescindir de um tratamento de canal e, às vezes, pode até perder o dente”. E ressalta qual é o passo a passo diário: “Bochechar de uma a duas vezes com água para remover os restos alimentares, passar o fio dental e escovar com pasta. O enxaguatório pode ser usado como coadjuvante, já que reduz a placa bacteriana e melhora o hálito”, ensina.
CUIDADOS ESSENCIAS
Escova não dura a vida inteira. É preciso trocá-la a cada três meses, já que, sem a elasticidade das cerdas, a função de remover a placa bacteriana se perde. Uma boa escovação pede iluminação adequada, em frente ao espelho, “e não vendo novela ou correndo. Não se pode esquecer de escovar a língua, pois se ela ficar com resíduos, será prejudicial”, ensina José Bernardes, que alerta para a importância de não só lavar, mas secar a escova. Para o especialista, o modelo simples, normal de escova é o mais interessante e o indicado são cerdas arredondadas e macias. “A elétrica é recomendada para quem não tem destreza manual.”
A escovação deve ocorrer, no mínimo, três vezes ao dia, após as grandes refeições (café da manhã, almoço e jantar), sendo a noturna a principal. “Durante o dia, a salivação é uma proteção para os dentes. Mas, à noite, tudo fica pior, porque, sem alimentação, não há o fluxo de saliva e as bactérias encontram o meio ideal para atacar dentes e gengiva”, explica José Bernardes. Ele chama a atenção para a ida regular ao consultório, pelo menos a cada seis meses, para acompanhamento e manutenção da saúde bucal. “Só o profissional é capaz de remover a placa, a cárie e detectar doenças periodontais e mesmo o câncer bucal.”
Além de cobrar o compromisso e o comprometimento do paciente com sua saúde bucal, Hilarino Soares diz que também “é função do cirurgião-dentista orientar seus pacientes sobre a prevenção diária”. Mas o especialista cobra melhor formação profissional, com enfoque na prevenção, contribuindo para a educação básica nas escolas, por meio de palestras motivadoras de dentistas, além do atendimento contínuo e conjunto com os pais para a conscientização de ambos. “Os governos investem pouco na prevenção, que é mais barata que o tratamento curativo.”
Radiografia que alerta
Pesquisa do Conselho Federal de Odontologia (CFO) constata que apenas metade dos brasileiros escova os dentes três vezes por dia e somente 57% usam o fio dental
A caminhada ainda é longa, mas não há outra saída “senão o princípio básico: escova, creme e fio dental”, afirma Aílton Morilhas, presidente do Conselho Federal de Odontologia (CFO). Com a propriedade de quem representa os dentistas de todo o Brasil e a partir de dados concretos, em setembro de 2014 ele encomendou uma pesquisa ao Datafolha para mostrar aos presidenciáveis como andam as necessidades dos brasileiros em relação aos cuidados bucais.
No estudo, 2.085 entrevistados com mais de 16 anos, de todos os níveis econômicos e regiões do país, falaram sobre o direito a serviços públicos de qualidade; acesso ao cirurgião-dentista; odontologia de emergência; conhecimento das políticas públicas; e avaliação do atendimento ao cidadão. Ao destrinchar o comportamento, os conhecimentos e os hábitos do cidadão, o CFO quer conhecer os pontos positivos e negativos dos serviços odontológicos públicos e privados.
“O que nos preocupa, por ser pouco divulgado e receber menor valor, é o câncer bucal, o quinto que mais mata as mulheres e o sétimo entre os homens. Temos de focar na prevenção, já que a doença é detectada no exame bucal.” Como todo câncer, existe o aspecto suscetível, mas o álcool e o fumo também contribuem para seu aparecimento. “Todos precisam saber que uma lesão por mais de sete dias precisa ser avaliada pelo dentista, apto a diagnosticar uma afta, uma estomatite e mesmo o câncer”, alerta.
Para Aílton Morilhas, a população mais necessitada não está educada para cuidar da saúde bucal. No entanto, hoje, os brasileiros têm acesso ao dentista, pois há uma equipe integrada ao programa Saúde da Família. “Até 2003, 2,78% das crianças de até 12 anos já tinham perdido ou obturado um dente. Em 2010, a taxa caiu para 2,07%. Nossa preocupação é melhorar ainda mais o acesso via rede pública. A Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza que exista um dentista para cada 1.500 pessoas. No Brasil, essa necessidade está suprida, mas falta melhorar a distribuição e a interiorização desses profissionais.”
Atendendo à terceira geração de pacientes, Hilarino Vieira Soares, cirurgião-dentista clínico com especialização em periodontia, observa uma melhoria na dentição do brasileiro.“As novas gerações têm menos problemas, tornando o tratamento também menos invasivo. Com as medidas preventivas, hoje não se fazem tantas restaurações, tratamentos de canal e extrações de dentes quanto no passado.” Já o aumento na procura por implantes está diretamente ligado ao envelhecimento da população. “Na maioria das vezes, ocorrem em pacientes com mais de 60 anos, que passaram a valorizar mais o sorriso e a mastigação.”
Entre os principais resultados da pesquisa, vale destacar que os brasileiros deram nota 8,5 para o atendimento recebido do dentista da rede pública. Na esfera particular, a nota sobe para 9,2. Para 59% dos entrevistados, o estado de saúde bucal é ótimo ou bom. Quanto ao acesso ao serviço odontológico, 81% informaram que sua cidade tem atendimento público. No atendimento público em situações de emergência, a pesquisa mostra que há muito a evoluir e que existe, sem dúvida, uma necessidade de ampliar a oferta de serviços odontológicos, pois 66% declararam não conseguir atendimento público de urgência.
OBSTÁCULOS
A dificuldade de acesso a um tratamento continuado dobra o número de extrações no atendimento público em relação ao privado. Tanto que apenas 4% dos entrevistados citam tratamento de canal, contra 12% no particular. A continuidade e a regularidade também são problema. Um a cada quatro brasileiros inicia um tratamento, mas não termina. No entanto, no caso dos serviços públicos, apenas 6% fazem essa alegação e o maior problema é de agendamento de consultas, citado por 23% dos entrevistados. Nos serviços particulares, agendar consultas não é impedimento, mas 23% não concluem o tratamento por falta de condições financeiras.
Mesmo com os obstáculos, a pesquisa indicou que 31 milhões de brasileiros estão fazendo algum tipo de tratamento odontológico. Quanto à prevenção, Morilhas enfatiza que os bons hábitos estão sendo disseminados no Brasil. Pela pesquisa, 49% dos brasileiros escovam os dentes três vezes por dia. Cinquenta e sete por cento afirmaram usar o fio dental, 30% deles mais de uma vez por dia e 17% apenas em um momento. Por fim, 2/3 dos brasileiros adultos não sabem que a legislação garante o atendimento a urgências odontológicas, à prevenção, à assistência e à reabilitação da saúde bucal.
DEPOIMENTOS
Marcela Jordão Torres Guaracy, 32 anos, advogada
“Minha mãe fez seus filhos assumirem cuidados com todo o corpo. Sempre fui preocupada e diligente de estar sempre no dentista, que frequento desde criança. E por ter medo da agulha, não querer sentir dor e ter sido alertada de que não é fácil encarar anestesia e tratamento de uma cárie, decidi não passar pela experiência. Então, nunca tive cárie. Sem falar que tenho dois dentes de leite e, por isso, preciso cuidar ainda mais, já que, se perdê-los, terei de fazer implante. Confesso que agora, grávida de seis meses da Júlia, descobri que há doenças como a gengivite gravítica, e passei a ir de quatro em quatro meses ao dentista. Acredito que saúde bucal é questão de educação, criação e de cada um ser responsável pela sua saúde como um todo. E, claro, ter um profissional que nos conscientize e nos lembre de que o cuidado deve ser nosso.”
Hugo Soares Porto Fonseca, 35 anos, advogado e professor universitário
“Nunca tive cárie, o que atribuo ao papel da minha mãe – que sempre incentivou a escovação – e aos bons profissionais que me acompanharam. Eles me ajudaram a desenvolver a higiene bucal não só após as refeições, como incutiram na minha rotina o uso do fio dental. Sigo à risca e acredito que é questão de hábito e disciplina. Só vou ao dentista para manutenção e limpeza. E olhe que gosto muito de doce e como sobremesa quase diariamente.”
DENTES PARA QUÊ?
» Mastigação: ajudam a mastigar bem os alimentos, essenciais à nossa saúde.
» Fala: ajudam a articular corretamente as palavras e pronunciar bem os sons.
» Estética: dão boa aparência por meio de um belo e saudável sorriso.
Sinal de alerta...
» Gengivite: a doença é caracterizada por gengiva vermelha, inchada e sangrante.
» Periodontite: essa doença destrói o osso. É formada uma bolsa que pode acumular pus e provocar sangramentos da gengiva, cárie e afetar a mobilidade do dente.
De olho no que come...
» Coma alimentos ricos em cálcio, fósforo e vitamina A, importantes na fase de formação dos dentes.
» Prefira alimentos fibrosos, como cenoura e frutas.
» Evite alimentos grudentos, como balas, caramelos, biscoitos, doces e refrigerantes.
» Se comer doces, prefira fazê-lo após as refeições, usando fio dental e escovando os dentes na sequência.
Prevenção evita...
» Mau hálito
» Sangramento da gengiva
» Cárie
» Dor
» Perda do dente
» Má oclusão
Fonte: Hilarino Vieira Soares, cirurgião-dentista clínico com especialização em periodontia
Cardápio diário
Desde 2010, o Brasil figura, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em seleto grupo de países com baixa prevalência de cáries. Mas ainda precisa melhorar
Parece inverossímil, mas até 2003 o Brasil não tinha política pública de saúde bucal: apenas quem podia pagar tinha acesso a tratamento odontológico. Estaria justificado o selo de nação desdentada, já que, até então, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde Bucal (SBBrasil), do Ministério da Saúde, a cada quatro brasileiros com até 65 anos, três tinham todos os dentes perdidos, ou seja, 75% da população. “Uma tragédia. Verdadeira mutilação em massa. Um escândalo, já que a saúde bucal vai além de ter uma boca saudável, envolvendo autoestima”, indigna-se Gilberto Pucca Jr., coordenador nacional de saúde bucal do Ministério da Saúde.
Esse triste cenário só começou a mudar com o programa Brasil Sorridente, criado em 2004, visando assegurar assistência odontológica gratuita para a população dependente do Sistema Único de Saúde (SUS). Atualmente, mais de 80 milhões de brasileiros são atendidos pela iniciativa. O investimento do Ministério da Saúde já ultrapassou R$ 7 bilhões desde seu lançamento, com expansão e manutenção da rede. O problema, segundo Pucca, é que se convencionou que o Brasil não tinha saúde bucal porque a população não se preocupava. “O que não é fato. O brasileiro não tinha era acesso”, ressalta.
“Hoje, não somos mais um país de desdentados. Tanto que, desde 2010, figuramos, com o aval da Organização Mundial de Saúde (OMS), em um seleto grupo de países com baixa prevalência de cáries. Quarenta e quatro por centro das crianças até 12 anos estão livres de cárie”, comemora. De fato, a expansão da assistência trouxe impactos importantes na saúde da população. Depois do Brasil Sorridente, mais de 7 milhões de pessoas tiveram acesso a água tratada e fluoretada. Atualmente, o SUS emprega cerca de 30% dos dentistas do país, o que representa mais de 64 mil profissionais e um aumento de 50%, já que, em 2002, esse número era de aproximadamente 43 mil.
METAS
Os atendimentos ocorrem nas mais de 40,5 mil Unidades Básicas de Saúde (UBS) espalhadas pelo Brasil, que contam com mais de 24 mil equipes de saúde (um aumento de 451% em relação a 2002). Além das consultas nas UBS, outros 1.033 Centros de Especialidades Odontológicas (CEO) realizam procedimentos de maior complexidade, como cirurgias, tratamento de canal, oferta de implantes, ortodontia e diagnóstico de câncer de boca. O programa conta também com 1.955 laboratórios de próteses dentárias.
“Antes do Brasil Sorridente, apenas 20 milhões dos brasileiros tinham acesso. Hoje, são 90 milhões. Mas sabemos que ainda faltam outros 90 milhões. Há passivos, mas temos metas, entre elas, universalizar o tratamento e a fluoretação da água, principalmente de algumas cidades da Região Nordeste; uma ação de acuidade, já que chegará às pessoas de maior risco e miséria. Água de qualidade diminui pela metade a incidência de cárie. Infelizmente, a ausência de acesso e a falta de política pública anteriores provocaram a naturalização da doença bucal no país como sendo normal, tornando-a secundária. Não é mais. Vivemos outra realidade de oferta e busca de reabilitação. Temos de aumentar a conscientização para que a saúde bucal passe a fazer parte do cardápio diário do brasileiro.”
SAIBA MAIS: O exemplo de Minas
Em 2012, a Secretaria de Saúde de Minas Gerais traçou o primeiro estudo epidemiológico da saúde bucal no estado. O SBMinas, seguindo a mesma metodologia do SBBrasil, mostrou que, de uma maneira geral, os mineiros apresentam um perfil de doenças bucais mais favorável e, em algumas situações, similar à Região Sudeste e ao Brasil como um todo. Na maioria dos indicadores, diferenças expressivas são observadas quando capital e interior são comparados. Associados à análise das variáveis socioeconômicas, esses resultados apontam para importantes desigualdades regionais. Dois terços das crianças de 12 anos, três em cada quatro adolescentes e a quase totalidade de adultos e idosos apresentam algum tipo de problema que exige uma intervenção odontológica.
Boca saudável
Cáries e doenças periodontais, como a gengivite, são os problemas bucais mais frequentes em todo o mundo, causando dor, sangramento, inchaço na gengiva, podendo evoluir para estágios mais graves. Ambos podem ser evitados com a combinação de fio dental e escovação. O flúor das pastas de dente previne as cáries e o ato de escovar ajuda a remover a placa bacteriana. Já o fio usado corretamente remove a placa e os alimentos dos lugares onde a escova não alcança, sob a gengiva e entre os dentes, por exemplo. Se é tão simples, onde as pessoas estão errando? O Bem Viver ouviu especialistas para traçar um passo a passo, da escolha da escova ao jeito certo de usar o fio. Uma chance para mudar o seu sorriso.
COMO ESCOLHER
Escova dental:
- O importante é ter escova, mesmo que não seja a melhor. Uma simples, com movimentos certos, limpa tão bem quanto aquelas que têm mais recursos. O importante não é a forma da escova, mas como
é manuseada.
- Há diferentes tamanhos de escova, como de boca. Use o bom senso e opte pelo tamanho mais confortável à sua, que permita manusear a escova sem machucar as paredes internas e de forma a alcançar os cantos.
- Priorize as cerdas macias, a não ser que seu dentista tenha indicado cerdas médias por algum motivo. Essas, dependendo da força na escovação, podem machucar a gengiva.
- Escovas elétricas são caras, mas cômodas. Como fazem os movimentos corretos, podem até se tornar mais eficientes que escovas comuns, pois a escovação torna-se menos “usuário-dependente”.
- Teoricamente, as escovas devem ser trocadas a cada três meses. Mas sua durabilidade pode variar. O ideal é substituí-la assim que as cerdas começarem a perder o formato original.
Pasta dental:
- A escovação previne cáries e doenças periodontais, o que se alcança com qualquer pasta que contenha flúor, maioria no mercado. O gosto e o preço ficam à escolha da pessoa. O essencial mesmo é que tenha flúor.
- Crianças muito novas, que ainda têm dificuldade de cuspir, podem usar pastas sem flúor porque esse não pode ser ingerido.
- Pessoas com tendência a acumular cálculos dentários, o chamado tártaro, devem usar, segundo indicação do dentista, pastas com substâncias que atuam contra essa deposição de minerais.
- Pessoas com hipersensibilidade nos dentes devem usar pastas para dentes sensíveis, ou pelo menos alternar as escovações com pastas comuns e pastas próprias para hipersensibilidade.
- Pastas clareadoras funcionam como uma “maquiagem”: fazem apenas um efeito ótico, por terem partículas que refletem a luz de maneira mais clara. O efeito, contudo é passageiro. Elas não mudam a cor do dente.
Enxaguante bucal:
- Os antissépticos bucais podem ajudar a evitar cáries e doenças periodontais, mas de forma alguma substituem a escovação e o fio dental. Não são, portanto, indispensáveis, e sim, coadjuvantes.
- Existem diversos enxaguatórios bucais no mercado, com variadas formulações e sabores, mas o importante é que contenham flúor para ajudar a reduzir o risco de cárie dentária.
- Há versões sem álcool, que devem ser priorizadas por crianças e dependentes de álcool. Os enxaguantes com álcool podem provocar queimação.
Fio dental:
- O fio e a fita dental têm a mesma função: remover a placa bacteriana e resíduos de alimentos. A opção por um ou outro depende do conforto: é essencial que ele entre com facilidade, não desfie e não machuque.
- A fita limpa com mais facilidade por preencher melhor os espaços entre os dentes, mas não é adequada para quem tem os dentes muito juntos.
- Existem fios de náilon, encerados ou não, com variedade de sabores. Como esse tipo de fio é composto de muitas fibras de náilon, pode, às vezes, rasgar ou desfiar, especialmente se os dentes forem muito juntos.
- Embora mais caro, há também o fio de filamento único, que desliza facilmente entre os dentes, mesmo com pouco espaço, e não se rompe. O importante é que sejam usados de maneira adequada.
O JEITO CERTO DE ...
- Use o fio dental antes de cada escovação, ou seja, no mínimo depois das três principais refeições.
- Passe-o, cuidadosamente, ao redor da base de cada dente, seguindo suas curvas.
- Assegure-se de limpar além da linha da gengiva, mas não force muito, pois ele pode cortar ou machucar o frágil tecido gengival.
- Utilize uma parte nova do pedaço de fio dental para cada dente a ser limpo.
Segundo Angelo Roncalli, pós-doutor em public health dentistry pela University College London e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, a rigor, não há um consenso sobre o perfil “ideal” da saúde bucal. “Na prática, em termos epidemiológicos, quanto menos doença, melhor.” Os bons dados dizem respeito à cárie dentária em crianças, mas há uma incidência de doenças considerável em adultos. “O quadro em idosos é lastimável, com impressionante média de 25 dentes extraídos em termos nacionais: mais de 95% deles precisam de alguma prótese dentária.”
O Brasil tem pela frente o desafio de manter a tendência de declínio da cárie em toda a população. O quadro começa a mudar, principalmente com o modelo de política pública de saúde bucal posto em prática desde 2004, com o programa Brasil Sorridente, do governo federal. E, para Roncalli, que foi consultor do Ministério da Saúde quando coordenador-geral do projeto SBBrasil 2010 – Pesquisa Nacional de Saúde Bucal, é importante lembrar que não há como transferir a responsabilidade da prevenção apenas para as pessoas. “As atitudes relativas às políticas públicas e ao indivíduo estão interconectadas, pois a realização de práticas preventivas por parte das pessoas implica acesso à informação por meio da educação formal e das estratégias de educação em saúde, as quais são, em essência, atribuições do sistema público”, defende.
Assim, cabe às políticas públicas equalizarem as oportunidades de acesso às medidas preventivas e reabilitadoras, mas cabe ao indivíduo, uma vez garantido esse acesso, fazer suas escolhas por uma vida mais saudável. Segundo Flávio de Freitas Mattos, doutor em odontologia social e professor do Departamento de Odontologia Social e Preventiva da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais, no passado pensava-se que os problemas da boca eram só da boca. “Perder os dentes não era um problema. A pessoa tinha cárie, ia ao dentista e se tratava. Hoje, sabe-se que nada substitui a durabilidade do dente natural. Não há trabalho restaurador que traga a segurança que a natureza dá.”
Prevenir é barato e indolor. Nesta matéria especial, trazemos especialistas que alertam sobre a importância dos cuidados com a saúde bucal, o que requer educação, acesso e compromisso, de cada um e do governo.
Armados de escova e fio dental
Especialistas alertam sobre doenças, exaltam a importância da prevenção e a necessidade de cuidados básicos para a saúde bucal. Apesar de avanços, Brasil tem longo caminho a percorrer
A odontologia avança na rapidez que é própria ao mundo globalizado e tecnológico. A prática, hoje, dispõe cada vez mais de recursos inovadores, indicados para os mais variados procedimentos estéticos e corretivos. O Brasil é uma referência. Tem profissionais de topo, reconhecidos mundialmente em áreas ligadas ao embelezamento dos dentes. Figura ainda entre os países que mais publicam em revistas especializadas e apresentam trabalhos científicos em congressos. Ao mesmo tempo, precisa lidar com questões primárias de higiene e saúde bucal.
"A saúde começa sim pela boca. E não é só a saúde dos dentes, já que ela envolve mastigação, fonação, digestão, autoestima, beleza e sorriso" - José Bernardes Neves, doutor em implantodontia e membro da Academia Americana de Osseointegração
O Brasil esquece o princípio básico: prevenção. Algo simples e ao alcance de todos, segundo José Bernardes das Neves. “Correta higienização com escova e fio dental; consumo inteligente de açúcar, evitando alimentos adocicados entre as refeições; uso correto do flúor; e acesso à água fluoretada, que fortalece o esmalte dos dentes, são a base da prevenção. A escova não chega entre os dentes, por isso o fio dental é fundamental. Ninguém pode abrir mão dessa dupla. Um complementa o outro.”
Hilarino Vieira Soares, cirurgião-dentista clínico com especialização em periodontia, enfatiza que “quem não faz prevenção diária vai ter cárie, dor, mau hálito, sangramento gengival, pode chegar a prescindir de um tratamento de canal e, às vezes, pode até perder o dente”. E ressalta qual é o passo a passo diário: “Bochechar de uma a duas vezes com água para remover os restos alimentares, passar o fio dental e escovar com pasta. O enxaguatório pode ser usado como coadjuvante, já que reduz a placa bacteriana e melhora o hálito”, ensina.
CUIDADOS ESSENCIAS
Escova não dura a vida inteira. É preciso trocá-la a cada três meses, já que, sem a elasticidade das cerdas, a função de remover a placa bacteriana se perde. Uma boa escovação pede iluminação adequada, em frente ao espelho, “e não vendo novela ou correndo. Não se pode esquecer de escovar a língua, pois se ela ficar com resíduos, será prejudicial”, ensina José Bernardes, que alerta para a importância de não só lavar, mas secar a escova. Para o especialista, o modelo simples, normal de escova é o mais interessante e o indicado são cerdas arredondadas e macias. “A elétrica é recomendada para quem não tem destreza manual.”
Além de cobrar o compromisso e o comprometimento do paciente com sua saúde bucal, Hilarino Soares diz que também “é função do cirurgião-dentista orientar seus pacientes sobre a prevenção diária”. Mas o especialista cobra melhor formação profissional, com enfoque na prevenção, contribuindo para a educação básica nas escolas, por meio de palestras motivadoras de dentistas, além do atendimento contínuo e conjunto com os pais para a conscientização de ambos. “Os governos investem pouco na prevenção, que é mais barata que o tratamento curativo.”
Radiografia que alerta
Pesquisa do Conselho Federal de Odontologia (CFO) constata que apenas metade dos brasileiros escova os dentes três vezes por dia e somente 57% usam o fio dental
O cirurgião-dentista Hilarino Vieira Soares recomenda bochechar de uma a duas vezes com água para remover os restos alimentares, passar o fio dental e escovar com pasta
No estudo, 2.085 entrevistados com mais de 16 anos, de todos os níveis econômicos e regiões do país, falaram sobre o direito a serviços públicos de qualidade; acesso ao cirurgião-dentista; odontologia de emergência; conhecimento das políticas públicas; e avaliação do atendimento ao cidadão. Ao destrinchar o comportamento, os conhecimentos e os hábitos do cidadão, o CFO quer conhecer os pontos positivos e negativos dos serviços odontológicos públicos e privados.
“O que nos preocupa, por ser pouco divulgado e receber menor valor, é o câncer bucal, o quinto que mais mata as mulheres e o sétimo entre os homens. Temos de focar na prevenção, já que a doença é detectada no exame bucal.” Como todo câncer, existe o aspecto suscetível, mas o álcool e o fumo também contribuem para seu aparecimento. “Todos precisam saber que uma lesão por mais de sete dias precisa ser avaliada pelo dentista, apto a diagnosticar uma afta, uma estomatite e mesmo o câncer”, alerta.
Aílton Morilhas, presidente do CFO: "A estética é importante desde que traga saúde bucal"
Atendendo à terceira geração de pacientes, Hilarino Vieira Soares, cirurgião-dentista clínico com especialização em periodontia, observa uma melhoria na dentição do brasileiro.“As novas gerações têm menos problemas, tornando o tratamento também menos invasivo. Com as medidas preventivas, hoje não se fazem tantas restaurações, tratamentos de canal e extrações de dentes quanto no passado.” Já o aumento na procura por implantes está diretamente ligado ao envelhecimento da população. “Na maioria das vezes, ocorrem em pacientes com mais de 60 anos, que passaram a valorizar mais o sorriso e a mastigação.”
Entre os principais resultados da pesquisa, vale destacar que os brasileiros deram nota 8,5 para o atendimento recebido do dentista da rede pública. Na esfera particular, a nota sobe para 9,2. Para 59% dos entrevistados, o estado de saúde bucal é ótimo ou bom. Quanto ao acesso ao serviço odontológico, 81% informaram que sua cidade tem atendimento público. No atendimento público em situações de emergência, a pesquisa mostra que há muito a evoluir e que existe, sem dúvida, uma necessidade de ampliar a oferta de serviços odontológicos, pois 66% declararam não conseguir atendimento público de urgência.
OBSTÁCULOS
A dificuldade de acesso a um tratamento continuado dobra o número de extrações no atendimento público em relação ao privado. Tanto que apenas 4% dos entrevistados citam tratamento de canal, contra 12% no particular. A continuidade e a regularidade também são problema. Um a cada quatro brasileiros inicia um tratamento, mas não termina. No entanto, no caso dos serviços públicos, apenas 6% fazem essa alegação e o maior problema é de agendamento de consultas, citado por 23% dos entrevistados. Nos serviços particulares, agendar consultas não é impedimento, mas 23% não concluem o tratamento por falta de condições financeiras.
Mesmo com os obstáculos, a pesquisa indicou que 31 milhões de brasileiros estão fazendo algum tipo de tratamento odontológico. Quanto à prevenção, Morilhas enfatiza que os bons hábitos estão sendo disseminados no Brasil. Pela pesquisa, 49% dos brasileiros escovam os dentes três vezes por dia. Cinquenta e sete por cento afirmaram usar o fio dental, 30% deles mais de uma vez por dia e 17% apenas em um momento. Por fim, 2/3 dos brasileiros adultos não sabem que a legislação garante o atendimento a urgências odontológicas, à prevenção, à assistência e à reabilitação da saúde bucal.
DEPOIMENTOS
“Minha mãe fez seus filhos assumirem cuidados com todo o corpo. Sempre fui preocupada e diligente de estar sempre no dentista, que frequento desde criança. E por ter medo da agulha, não querer sentir dor e ter sido alertada de que não é fácil encarar anestesia e tratamento de uma cárie, decidi não passar pela experiência. Então, nunca tive cárie. Sem falar que tenho dois dentes de leite e, por isso, preciso cuidar ainda mais, já que, se perdê-los, terei de fazer implante. Confesso que agora, grávida de seis meses da Júlia, descobri que há doenças como a gengivite gravítica, e passei a ir de quatro em quatro meses ao dentista. Acredito que saúde bucal é questão de educação, criação e de cada um ser responsável pela sua saúde como um todo. E, claro, ter um profissional que nos conscientize e nos lembre de que o cuidado deve ser nosso.”
Hugo Soares Porto Fonseca, 35 anos, advogado e professor universitário
“Nunca tive cárie, o que atribuo ao papel da minha mãe – que sempre incentivou a escovação – e aos bons profissionais que me acompanharam. Eles me ajudaram a desenvolver a higiene bucal não só após as refeições, como incutiram na minha rotina o uso do fio dental. Sigo à risca e acredito que é questão de hábito e disciplina. Só vou ao dentista para manutenção e limpeza. E olhe que gosto muito de doce e como sobremesa quase diariamente.”
DENTES PARA QUÊ?
» Mastigação: ajudam a mastigar bem os alimentos, essenciais à nossa saúde.
» Fala: ajudam a articular corretamente as palavras e pronunciar bem os sons.
» Estética: dão boa aparência por meio de um belo e saudável sorriso.
Sinal de alerta...
» Gengivite: a doença é caracterizada por gengiva vermelha, inchada e sangrante.
» Periodontite: essa doença destrói o osso. É formada uma bolsa que pode acumular pus e provocar sangramentos da gengiva, cárie e afetar a mobilidade do dente.
De olho no que come...
» Coma alimentos ricos em cálcio, fósforo e vitamina A, importantes na fase de formação dos dentes.
» Prefira alimentos fibrosos, como cenoura e frutas.
» Evite alimentos grudentos, como balas, caramelos, biscoitos, doces e refrigerantes.
» Se comer doces, prefira fazê-lo após as refeições, usando fio dental e escovando os dentes na sequência.
Prevenção evita...
» Mau hálito
» Sangramento da gengiva
» Cárie
» Dor
» Perda do dente
» Má oclusão
Fonte: Hilarino Vieira Soares, cirurgião-dentista clínico com especialização em periodontia
Cardápio diário
Desde 2010, o Brasil figura, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em seleto grupo de países com baixa prevalência de cáries. Mas ainda precisa melhorar
Gilberto Pucca Jr., coordenador nacional de saúde bucal do Ministério da Saúde, comemora avanços do programa Brasil Sorridente
Esse triste cenário só começou a mudar com o programa Brasil Sorridente, criado em 2004, visando assegurar assistência odontológica gratuita para a população dependente do Sistema Único de Saúde (SUS). Atualmente, mais de 80 milhões de brasileiros são atendidos pela iniciativa. O investimento do Ministério da Saúde já ultrapassou R$ 7 bilhões desde seu lançamento, com expansão e manutenção da rede. O problema, segundo Pucca, é que se convencionou que o Brasil não tinha saúde bucal porque a população não se preocupava. “O que não é fato. O brasileiro não tinha era acesso”, ressalta.
“Hoje, não somos mais um país de desdentados. Tanto que, desde 2010, figuramos, com o aval da Organização Mundial de Saúde (OMS), em um seleto grupo de países com baixa prevalência de cáries. Quarenta e quatro por centro das crianças até 12 anos estão livres de cárie”, comemora. De fato, a expansão da assistência trouxe impactos importantes na saúde da população. Depois do Brasil Sorridente, mais de 7 milhões de pessoas tiveram acesso a água tratada e fluoretada. Atualmente, o SUS emprega cerca de 30% dos dentistas do país, o que representa mais de 64 mil profissionais e um aumento de 50%, já que, em 2002, esse número era de aproximadamente 43 mil.
METAS
Os atendimentos ocorrem nas mais de 40,5 mil Unidades Básicas de Saúde (UBS) espalhadas pelo Brasil, que contam com mais de 24 mil equipes de saúde (um aumento de 451% em relação a 2002). Além das consultas nas UBS, outros 1.033 Centros de Especialidades Odontológicas (CEO) realizam procedimentos de maior complexidade, como cirurgias, tratamento de canal, oferta de implantes, ortodontia e diagnóstico de câncer de boca. O programa conta também com 1.955 laboratórios de próteses dentárias.
“Antes do Brasil Sorridente, apenas 20 milhões dos brasileiros tinham acesso. Hoje, são 90 milhões. Mas sabemos que ainda faltam outros 90 milhões. Há passivos, mas temos metas, entre elas, universalizar o tratamento e a fluoretação da água, principalmente de algumas cidades da Região Nordeste; uma ação de acuidade, já que chegará às pessoas de maior risco e miséria. Água de qualidade diminui pela metade a incidência de cárie. Infelizmente, a ausência de acesso e a falta de política pública anteriores provocaram a naturalização da doença bucal no país como sendo normal, tornando-a secundária. Não é mais. Vivemos outra realidade de oferta e busca de reabilitação. Temos de aumentar a conscientização para que a saúde bucal passe a fazer parte do cardápio diário do brasileiro.”
SAIBA MAIS: O exemplo de Minas
Em 2012, a Secretaria de Saúde de Minas Gerais traçou o primeiro estudo epidemiológico da saúde bucal no estado. O SBMinas, seguindo a mesma metodologia do SBBrasil, mostrou que, de uma maneira geral, os mineiros apresentam um perfil de doenças bucais mais favorável e, em algumas situações, similar à Região Sudeste e ao Brasil como um todo. Na maioria dos indicadores, diferenças expressivas são observadas quando capital e interior são comparados. Associados à análise das variáveis socioeconômicas, esses resultados apontam para importantes desigualdades regionais. Dois terços das crianças de 12 anos, três em cada quatro adolescentes e a quase totalidade de adultos e idosos apresentam algum tipo de problema que exige uma intervenção odontológica.
Cáries e doenças periodontais, como a gengivite, são os problemas bucais mais frequentes em todo o mundo, causando dor, sangramento, inchaço na gengiva, podendo evoluir para estágios mais graves. Ambos podem ser evitados com a combinação de fio dental e escovação. O flúor das pastas de dente previne as cáries e o ato de escovar ajuda a remover a placa bacteriana. Já o fio usado corretamente remove a placa e os alimentos dos lugares onde a escova não alcança, sob a gengiva e entre os dentes, por exemplo. Se é tão simples, onde as pessoas estão errando? O Bem Viver ouviu especialistas para traçar um passo a passo, da escolha da escova ao jeito certo de usar o fio. Uma chance para mudar o seu sorriso.
COMO ESCOLHER
Escova dental:
- O importante é ter escova, mesmo que não seja a melhor. Uma simples, com movimentos certos, limpa tão bem quanto aquelas que têm mais recursos. O importante não é a forma da escova, mas como
é manuseada.
- Há diferentes tamanhos de escova, como de boca. Use o bom senso e opte pelo tamanho mais confortável à sua, que permita manusear a escova sem machucar as paredes internas e de forma a alcançar os cantos.
- Priorize as cerdas macias, a não ser que seu dentista tenha indicado cerdas médias por algum motivo. Essas, dependendo da força na escovação, podem machucar a gengiva.
- Escovas elétricas são caras, mas cômodas. Como fazem os movimentos corretos, podem até se tornar mais eficientes que escovas comuns, pois a escovação torna-se menos “usuário-dependente”.
- Teoricamente, as escovas devem ser trocadas a cada três meses. Mas sua durabilidade pode variar. O ideal é substituí-la assim que as cerdas começarem a perder o formato original.
Pasta dental:
- A escovação previne cáries e doenças periodontais, o que se alcança com qualquer pasta que contenha flúor, maioria no mercado. O gosto e o preço ficam à escolha da pessoa. O essencial mesmo é que tenha flúor.
- Crianças muito novas, que ainda têm dificuldade de cuspir, podem usar pastas sem flúor porque esse não pode ser ingerido.
- Pessoas com tendência a acumular cálculos dentários, o chamado tártaro, devem usar, segundo indicação do dentista, pastas com substâncias que atuam contra essa deposição de minerais.
- Pessoas com hipersensibilidade nos dentes devem usar pastas para dentes sensíveis, ou pelo menos alternar as escovações com pastas comuns e pastas próprias para hipersensibilidade.
- Pastas clareadoras funcionam como uma “maquiagem”: fazem apenas um efeito ótico, por terem partículas que refletem a luz de maneira mais clara. O efeito, contudo é passageiro. Elas não mudam a cor do dente.
Enxaguante bucal:
- Os antissépticos bucais podem ajudar a evitar cáries e doenças periodontais, mas de forma alguma substituem a escovação e o fio dental. Não são, portanto, indispensáveis, e sim, coadjuvantes.
- Existem diversos enxaguatórios bucais no mercado, com variadas formulações e sabores, mas o importante é que contenham flúor para ajudar a reduzir o risco de cárie dentária.
- Há versões sem álcool, que devem ser priorizadas por crianças e dependentes de álcool. Os enxaguantes com álcool podem provocar queimação.
Fio dental:
- O fio e a fita dental têm a mesma função: remover a placa bacteriana e resíduos de alimentos. A opção por um ou outro depende do conforto: é essencial que ele entre com facilidade, não desfie e não machuque.
- A fita limpa com mais facilidade por preencher melhor os espaços entre os dentes, mas não é adequada para quem tem os dentes muito juntos.
- Existem fios de náilon, encerados ou não, com variedade de sabores. Como esse tipo de fio é composto de muitas fibras de náilon, pode, às vezes, rasgar ou desfiar, especialmente se os dentes forem muito juntos.
- Embora mais caro, há também o fio de filamento único, que desliza facilmente entre os dentes, mesmo com pouco espaço, e não se rompe. O importante é que sejam usados de maneira adequada.
O JEITO CERTO DE ...
- Use o fio dental antes de cada escovação, ou seja, no mínimo depois das três principais refeições.
- Passe-o, cuidadosamente, ao redor da base de cada dente, seguindo suas curvas.
- Assegure-se de limpar além da linha da gengiva, mas não force muito, pois ele pode cortar ou machucar o frágil tecido gengival.
- Utilize uma parte nova do pedaço de fio dental para cada dente a ser limpo.