Esportes de aventura ganham adeptos que buscam superar desafios e encontrar equilíbrio para uma vida mais plena
Proximidade com o perigo funciona como motivação para superar o medo
Zulmira Furbino
Publicação:05/04/2015 08:52Atualização: 05/04/2015 09:09
Superar desafios é um dos melhores remédios para acreditar em si mesmo, elevar a autoestima, ganhar força para realizar sonhos, conquistar o que deseja e, principalmente, aproveitar e amar a vida. Os caminhos para viver com plenitude são muitos e cada um escolhe o seu. Há os que optam por atividades que acalmam e ampliam o entendimento, como ioga, meditação ou psicanálise. Mas há também os que preferem o perigo. Isso mesmo. Os esportes de aventura atraem adeptos das mais variadas idades. São praticantes de escalada, montanhismo, rapel, paraquedismo, voo livre, rafting, entre outras atividades capazes de proporcionar bem-estar e prazer. Para os adeptos, a proximidade com o perigo funciona como motivação para superar o medo e desarmar as travas. Foi o que ocorreu com o funcionário público Ronaldo Martins Santos, de 48 anos, que sofria medo de altura e superou a sua fobia praticando rapel e escalada.
As práticas esportivas consideradas “radicais” são capazes de derramar altas doses de adrenalina e noradrenalina no organismo. Isso ocorre porque, quando está em perigo, o corpo se prepara para lutar ou fugir. O coração bate mais rápido e mais forte, a respiração fica mais eficiente, a pessoa enxerga melhor e o sistema neuromuscular sofre uma ativação aguda. É por isso que, durante as atividades, o medo é transformado em euforia e o corpo fica potencializado para a ação. Mas atenção: para que isso aconteça, é preciso estar preparado – e bem orientado. O medo é um sinal que não deve ser desprezado. Além disso, segundo a psiquiatra Sofia Bauer, a prática desses esportes derrama uma alta dosagem de noradrenalina no organismo, e isso faz com que os praticantes de esportes considerados radicais queiram sempre repetir a dose com mais intensidade, o que pode levar a situações de risco desnecessário.
Muito além da aventura
Família Gribel se reúne em viagens esportivas e enxerga na prática um excelente exercício de autoconhecimento, que se reflete em todos os aspectos da vida, inclusive no profissional
Tudo começou há 21 anos em Bali, na Indonésia, num trekking que tinha como objetivo vislumbrar, ao vivo e em cores, como é que funciona um vulcão em erupção. De lá pra cá, a família Gribel, que administra a Tenco Shopping Centers, embarcou no esporte de aventura e não parou mais. Isso quer dizer que há duas décadas sempre há um roteiro de aventura na programação de viagem de Adriana e Eduardo Gribel e seus filhos. O cardápio inclui montanhismo, salto de paraquedas, rappel, escalada, bungee jumping, entre outras atividades de fazer muita gente tremer nas bases.
“Fazendo esse tipo de esporte a gente se sente mais seguro porque sabemos que somos capazes de dominar a nós mesmos em momentos delicados. Muitas vezes, as decisões que precisamos tomar ao praticar montanhismo são mais difíceis do que as do dia a dia. Isso nos dá autoconfiança e autoconhecimento”, observa Adriana Gribel, vice-presidente da Tenco. Nesse período, a experiência da família tem sido tão gratificante que se estendeu de forma natural para o campo do trabalho.
“Nossos valores foram construídos dentro do montanhismo. Por isso, meu marido e eu levamos tudo isso para a empresa”, explica Adriana.
Foi assim que o estilo de vida, a autoconfiança e a facilidade de tomar decisões no ambiente de negócios da família Gribel invadiu o ambiente da empresa e acabou influenciando os próprios funcionários. A tal ponto que para comemorar o sucesso de um empreendimento inaugurado em Roraima, no Norte do país, o casal organizou uma escalada ao monte de mesmo nome com empregados da casa. “Recebemos 70 inscrições dos shoppings em todo o Brasil, mas criamos critérios e selecionamos 20 pessoas. Seria muito arriscado levar mais gente para uma montanha que fica a 2,7 mil metros de altitude. A escalada será realizada entre os dias 18 e 26 deste mês. O grau de dificuldade é considerado médio”, comenta Adriana.
Para se preparar, o grupo vem treinando assiduamente, junto ou isoladamente. No último fim de semana, o teste foi subir o Pico da Bandeira, ponto mais alto de Minas Gerais e Espírito Santo, e terceiro pico mais alto do país (2.892 metros de altitude). Anteriormente, a turma já havia subido o Pico do Itacolomi, no limite dos municípios de Mariana e Ouro Preto, com 1.772m. “A empolgação é impressionante. É muito motivador fazer esse tipo de esporte em grupo. Como é uma coisa nova para eles, estão todos muito felizes”, avalia. O objetivo é levar até essas pessoas as experiências positivas decorrentes do montanhismo, como a capacidade de resolver problemas de forma positiva e de desenvolver a aceitação das diferenças dentro das equipes e também de trabalhar em conjunto. “No caso dos meus filhos, sinto que depois dessas experiências eles estão preparados, seguros e cultivam menos preconceitos porque foram habituados a lidar com situações e culturas diferentes. Assim, eles se tornaram pessoas mais simples”, compara.
O assistente comercial da Tenco, Fabiano dos Santos, de 29 anos, foi um dos escolhidos para escalar o Roraima. A princípio, ele pensou que seria tudo um oba-oba, mas ao subir o Pico do Itacolomi e o da Bandeira percebeu que não era nada disso. “Na empresa, Adriana e Eduardo sempre diziam que nosso objetivo é atingir as metas, fazendo comparação com alcançar o pico das montanhas. Eles falavam que somos uma equipe e que não faz sentido haver uma disputa interna na empresa. Não compreendia o que queriam dizer até subir os picos. Na montanha, o objetivo é alcançar o alto e não chegar na frente. Queremos que todos cheguem e, para isso, um deve incentivar o outro a subir”, afirma.
Santos comenta ainda que leva esse ensinamento para sua vida profissional e também para a pessoal. No caso do Pico da Bandeira, o assistente conta que viveu situações que nunca havia experimentado antes. “Foi difícil. Subimos à noite, ficamos acampados e voltamos a subir às 2h30. Nunca tinha acampado nem dormido em barraca, nunca tinha tomado banho gelado naquela situação, mas quando cheguei ao alto não pensava em nada disso, só queria curtir a paisagem, que é maravilhosa”, revela.
Tudo pela sensação de prazer
Mesmo com limitações físicas, praticantes de esportes radicais não se intimidam e querem mais é sentir a adrenalina percorrer o corpo, numa mistura de medo e poder
O empresário Agnaldo Dias Quintela, dono de uma agência de turismo de aventura em Campinas, tem 47 anos. Aos 26, ele sofreu um acidente de moto e perdeu o movimento do braço esquerdo. Quando isso ocorreu, ele já trabalhava com esporte de aventura, em especial, descidas de rapel e de caverna. Um ano depois do acidente, ele estava com um amigo, levando um grupo para uma “escala-caminhada” no Pico das Agulhas Negras, no Rio de Janeiro. Sua ideia era subir até onde desse. Mas chegou um ponto da trilha em que havia muita gente para subir e a saída foi dividir a turma e seguir por uma caminho alternativo, que só Agnaldo conhecia. “Fui levando meu amigo e o grupo, passando a corda de segurança para as pessoas. Teve gente que só continuou porque eu fui, apesar da minha limitação física”, lembra. E não pense que ele parou por aí.
Depois do acidente, Agnaldo já escalou o Dedo de Deus, pico de 1.692 metros de altitude, localizado na Serra do Mar, entre os municípios de Petrópolis, Guapimirim e Teresópolis, no Rio de Janeiro, três vezes. Subiu também o Pão de Açúcar duas vezes. “Tem que ter força de vontade e determinação, porque, numa escalada, é preciso superar os poucos centímetros que estão entre você e a garra fincada na pedra”, explica. Segundo ele, para subir o Dedo de Deus, foram 12 horas, o que o levou ao esgotamento físico e à superação dos próprios limites. “Levo isso para a minha rotina. Em casa, até as pequenas coisas que consigo fazer somente com um braço, como picar cebola, cortar um filé de frango fininho ou trabalhar com marcenaria, me deixam mais feliz”, observa. De acordo com ele, muita gente procura os esportes de aventura em busca de superação não só de problemas físicos, mas pessoais e emocionais.
VÍCIO
Nos passeios que organiza, ele já acompanhou um cliente que começou a superar o alcoolismo praticando esporte de aventura. “Ele não gostava de academia e então passou a fazer caminhadas pesadas de até quatro dias, na região do Itatiaia. Esse esforço físico mexe com as emoções de um modo positivo”, observa. Segundo ele, em escaladas para o Dedo de Deus, “o limite físico leva a dores e cãimbras monstruosas, mas a sensação de prazer é muito grande”. E é justamente essa sensação de prazer que faz os praticantes desses esportes voltarem em busca de mais aventuras. De acordo com a psiquiatra Sofia Bauer, esse tipo de atividade física traz ganhos na vida das pessoas por causa da descarga de noradrenalina no organismo, substância que influencia o humor, a ansiedade, o sono e a alimentação do ser humano.
Segundo ela, essa substância dá uma sensação de poder e inteligência nas pessoas, mas é uma faca de dois gumes porque elas podem ficar “viciadas” naquilo e não quererem parar mais. “Pular de paraquedas e fazer um down hill são atividades que trazem uma sensação muito boa, mas os praticantes correm o risco de começar a precisar disso para se sentirem turbinados. Claro que há pessoas que buscam nos esportes radicais uma forma de superação e ganham com isso uma habilidade que não tinham antes, mas existe o outro lado, que é a descarga de noradrenalina. Por isso, a recomendação é que a prática desses esportes seja feita com moderação”, observa. Para ela, existem formas mais simples de vencer os obstáculos da vida. “O principal tipo de superação é ir à luta. É preciso dar pequenos passos, cumprir pequenas metas. Pegando por pequenos pedacinhos, a meta difícil fica fácil”, sustenta.
DEPOIMENTO
Alisson Luís Tavares Ferreira 29 anos, contador
“Pratico highline (fita de slackline armada entre duas montanhas) desde 2012. Minha primeira travessia foi na Serra do Cipó, na linha Lamúria, que tem 12 metros de comprimento e 60 metros de altura. É um esporte que envolve muitos riscos, por isso, deve ser feito com seriedade e responsabilidade. Nele, usamos a mesma cadeirinha da escalada, que fica presa na fita por meio de um anel e isso impede que, em caso de queda, a pessoa se machuque. Na primeira vez que caí, achei que ia morrer. A sensação ruim dura até você sentir o tranco da corda segurando a sua cintura. Quando termina, no entanto, fica uma sensação de vitória, que não tem como alcançar no dia a dia. Hoje, tenho muito menos medo das coisas, fico na ponta de um telhado sem temor de cair. Em muitas ocasiões, quando todo mundo tem medo, me sinto seguro. Isso é bom e ruim, porque a gente perde um pouco a noção da autodefesa.”
Ronaldo Martins Santos tinha medo de altura e superou a fobia praticando rapel e escalada
Saiba mais...
Aos 18 anos, quando serviu o Exército, ele teve seu primeiro contato com o montanhismo e enfrentou pela primeira vez o medo de altura. “Em situações nas quais me sentia exposto, como descer ou subir um elevador panorâmico, sentia frio na barriga e chegava até a ficar paralisado”, lembra. No quartel, o medo foi amenizado, mas, apesar da melhora, ele ainda não se sentia pronto para enfrentar alturas. Oito anos depois, Ronaldo, que é formado em relações públicas, viu um cartaz na faculdade falando em superação de desafios por meio de uma descida de rapel na Cachoeira de Capanema, em Itabirito (70 metros de altura). “Senti pânico. Desci no meio da água, mas a técnica do instrutor era muito boa, e a chance de acidente, pequena”, diz. Quando tocou a terra, ele voltou ao alto da cachoeira e desceu de novo mais duas vezes. Na terceira, desceu sozinho. “Revivi as experiências do Exército. Quando acabamos, minha sensação era de vitória e bem-estar. Foi muito intenso”, diz.As práticas esportivas consideradas “radicais” são capazes de derramar altas doses de adrenalina e noradrenalina no organismo. Isso ocorre porque, quando está em perigo, o corpo se prepara para lutar ou fugir. O coração bate mais rápido e mais forte, a respiração fica mais eficiente, a pessoa enxerga melhor e o sistema neuromuscular sofre uma ativação aguda. É por isso que, durante as atividades, o medo é transformado em euforia e o corpo fica potencializado para a ação. Mas atenção: para que isso aconteça, é preciso estar preparado – e bem orientado. O medo é um sinal que não deve ser desprezado. Além disso, segundo a psiquiatra Sofia Bauer, a prática desses esportes derrama uma alta dosagem de noradrenalina no organismo, e isso faz com que os praticantes de esportes considerados radicais queiram sempre repetir a dose com mais intensidade, o que pode levar a situações de risco desnecessário.
Muito além da aventura
Família Gribel se reúne em viagens esportivas e enxerga na prática um excelente exercício de autoconhecimento, que se reflete em todos os aspectos da vida, inclusive no profissional
Tudo começou há 21 anos em Bali, na Indonésia, num trekking que tinha como objetivo vislumbrar, ao vivo e em cores, como é que funciona um vulcão em erupção. De lá pra cá, a família Gribel, que administra a Tenco Shopping Centers, embarcou no esporte de aventura e não parou mais. Isso quer dizer que há duas décadas sempre há um roteiro de aventura na programação de viagem de Adriana e Eduardo Gribel e seus filhos. O cardápio inclui montanhismo, salto de paraquedas, rappel, escalada, bungee jumping, entre outras atividades de fazer muita gente tremer nas bases.
Na trilha inca, o casal Adriana e Eduardo Gribel e os filhos fazem pose para um registro. Eles estendem experiência do esporte de aventura para o mundo dos negócios e carregam consigo funcionários da Tenco
“Fazendo esse tipo de esporte a gente se sente mais seguro porque sabemos que somos capazes de dominar a nós mesmos em momentos delicados. Muitas vezes, as decisões que precisamos tomar ao praticar montanhismo são mais difíceis do que as do dia a dia. Isso nos dá autoconfiança e autoconhecimento”, observa Adriana Gribel, vice-presidente da Tenco. Nesse período, a experiência da família tem sido tão gratificante que se estendeu de forma natural para o campo do trabalho.
“Nossos valores foram construídos dentro do montanhismo. Por isso, meu marido e eu levamos tudo isso para a empresa”, explica Adriana.
Foi assim que o estilo de vida, a autoconfiança e a facilidade de tomar decisões no ambiente de negócios da família Gribel invadiu o ambiente da empresa e acabou influenciando os próprios funcionários. A tal ponto que para comemorar o sucesso de um empreendimento inaugurado em Roraima, no Norte do país, o casal organizou uma escalada ao monte de mesmo nome com empregados da casa. “Recebemos 70 inscrições dos shoppings em todo o Brasil, mas criamos critérios e selecionamos 20 pessoas. Seria muito arriscado levar mais gente para uma montanha que fica a 2,7 mil metros de altitude. A escalada será realizada entre os dias 18 e 26 deste mês. O grau de dificuldade é considerado médio”, comenta Adriana.
Para se preparar, o grupo vem treinando assiduamente, junto ou isoladamente. No último fim de semana, o teste foi subir o Pico da Bandeira, ponto mais alto de Minas Gerais e Espírito Santo, e terceiro pico mais alto do país (2.892 metros de altitude). Anteriormente, a turma já havia subido o Pico do Itacolomi, no limite dos municípios de Mariana e Ouro Preto, com 1.772m. “A empolgação é impressionante. É muito motivador fazer esse tipo de esporte em grupo. Como é uma coisa nova para eles, estão todos muito felizes”, avalia. O objetivo é levar até essas pessoas as experiências positivas decorrentes do montanhismo, como a capacidade de resolver problemas de forma positiva e de desenvolver a aceitação das diferenças dentro das equipes e também de trabalhar em conjunto. “No caso dos meus filhos, sinto que depois dessas experiências eles estão preparados, seguros e cultivam menos preconceitos porque foram habituados a lidar com situações e culturas diferentes. Assim, eles se tornaram pessoas mais simples”, compara.
O assistente comercial da Tenco, Fabiano dos Santos, de 29 anos, foi um dos escolhidos para escalar o Roraima. A princípio, ele pensou que seria tudo um oba-oba, mas ao subir o Pico do Itacolomi e o da Bandeira percebeu que não era nada disso. “Na empresa, Adriana e Eduardo sempre diziam que nosso objetivo é atingir as metas, fazendo comparação com alcançar o pico das montanhas. Eles falavam que somos uma equipe e que não faz sentido haver uma disputa interna na empresa. Não compreendia o que queriam dizer até subir os picos. Na montanha, o objetivo é alcançar o alto e não chegar na frente. Queremos que todos cheguem e, para isso, um deve incentivar o outro a subir”, afirma.
Santos comenta ainda que leva esse ensinamento para sua vida profissional e também para a pessoal. No caso do Pico da Bandeira, o assistente conta que viveu situações que nunca havia experimentado antes. “Foi difícil. Subimos à noite, ficamos acampados e voltamos a subir às 2h30. Nunca tinha acampado nem dormido em barraca, nunca tinha tomado banho gelado naquela situação, mas quando cheguei ao alto não pensava em nada disso, só queria curtir a paisagem, que é maravilhosa”, revela.
O ex-bancário Pedro Assis Fonseca gosta tanto de aventura que abriu empresa de equipamentos especializados na atividade
Mesmo com limitações físicas, praticantes de esportes radicais não se intimidam e querem mais é sentir a adrenalina percorrer o corpo, numa mistura de medo e poder
O empresário Agnaldo Dias Quintela, dono de uma agência de turismo de aventura em Campinas, tem 47 anos. Aos 26, ele sofreu um acidente de moto e perdeu o movimento do braço esquerdo. Quando isso ocorreu, ele já trabalhava com esporte de aventura, em especial, descidas de rapel e de caverna. Um ano depois do acidente, ele estava com um amigo, levando um grupo para uma “escala-caminhada” no Pico das Agulhas Negras, no Rio de Janeiro. Sua ideia era subir até onde desse. Mas chegou um ponto da trilha em que havia muita gente para subir e a saída foi dividir a turma e seguir por uma caminho alternativo, que só Agnaldo conhecia. “Fui levando meu amigo e o grupo, passando a corda de segurança para as pessoas. Teve gente que só continuou porque eu fui, apesar da minha limitação física”, lembra. E não pense que ele parou por aí.
Depois do acidente, Agnaldo já escalou o Dedo de Deus, pico de 1.692 metros de altitude, localizado na Serra do Mar, entre os municípios de Petrópolis, Guapimirim e Teresópolis, no Rio de Janeiro, três vezes. Subiu também o Pão de Açúcar duas vezes. “Tem que ter força de vontade e determinação, porque, numa escalada, é preciso superar os poucos centímetros que estão entre você e a garra fincada na pedra”, explica. Segundo ele, para subir o Dedo de Deus, foram 12 horas, o que o levou ao esgotamento físico e à superação dos próprios limites. “Levo isso para a minha rotina. Em casa, até as pequenas coisas que consigo fazer somente com um braço, como picar cebola, cortar um filé de frango fininho ou trabalhar com marcenaria, me deixam mais feliz”, observa. De acordo com ele, muita gente procura os esportes de aventura em busca de superação não só de problemas físicos, mas pessoais e emocionais.
VÍCIO
Nos passeios que organiza, ele já acompanhou um cliente que começou a superar o alcoolismo praticando esporte de aventura. “Ele não gostava de academia e então passou a fazer caminhadas pesadas de até quatro dias, na região do Itatiaia. Esse esforço físico mexe com as emoções de um modo positivo”, observa. Segundo ele, em escaladas para o Dedo de Deus, “o limite físico leva a dores e cãimbras monstruosas, mas a sensação de prazer é muito grande”. E é justamente essa sensação de prazer que faz os praticantes desses esportes voltarem em busca de mais aventuras. De acordo com a psiquiatra Sofia Bauer, esse tipo de atividade física traz ganhos na vida das pessoas por causa da descarga de noradrenalina no organismo, substância que influencia o humor, a ansiedade, o sono e a alimentação do ser humano.
Segundo ela, essa substância dá uma sensação de poder e inteligência nas pessoas, mas é uma faca de dois gumes porque elas podem ficar “viciadas” naquilo e não quererem parar mais. “Pular de paraquedas e fazer um down hill são atividades que trazem uma sensação muito boa, mas os praticantes correm o risco de começar a precisar disso para se sentirem turbinados. Claro que há pessoas que buscam nos esportes radicais uma forma de superação e ganham com isso uma habilidade que não tinham antes, mas existe o outro lado, que é a descarga de noradrenalina. Por isso, a recomendação é que a prática desses esportes seja feita com moderação”, observa. Para ela, existem formas mais simples de vencer os obstáculos da vida. “O principal tipo de superação é ir à luta. É preciso dar pequenos passos, cumprir pequenas metas. Pegando por pequenos pedacinhos, a meta difícil fica fácil”, sustenta.
Agnaldo Dias Quintela voltou a escalar um ano depois de sofrer acidente de moto e perder o movimento do braço esquerdo
DEPOIMENTO
Alisson Luís Tavares Ferreira 29 anos, contador
“Pratico highline (fita de slackline armada entre duas montanhas) desde 2012. Minha primeira travessia foi na Serra do Cipó, na linha Lamúria, que tem 12 metros de comprimento e 60 metros de altura. É um esporte que envolve muitos riscos, por isso, deve ser feito com seriedade e responsabilidade. Nele, usamos a mesma cadeirinha da escalada, que fica presa na fita por meio de um anel e isso impede que, em caso de queda, a pessoa se machuque. Na primeira vez que caí, achei que ia morrer. A sensação ruim dura até você sentir o tranco da corda segurando a sua cintura. Quando termina, no entanto, fica uma sensação de vitória, que não tem como alcançar no dia a dia. Hoje, tenho muito menos medo das coisas, fico na ponta de um telhado sem temor de cair. Em muitas ocasiões, quando todo mundo tem medo, me sinto seguro. Isso é bom e ruim, porque a gente perde um pouco a noção da autodefesa.”