Câncer de cabeça e pescoço: 70% dos brasileiros são diagnosticados em estágio avançado da doença
O câncer de cabeça e pescoço se manifesta, geralmente, entre fumantes e alcoolistas de baixa renda. A falta de informação, nesses casos, impede o tratamento precoce
Rafael Campos - Revista do Correio - Revista do Correio
Publicação:01/05/2015 09:00Atualização: 26/04/2015 12:32
Segundo dados do Inca (Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva), em 2015, o número de novos casos deve ser superior a 19 mil. De acordo com a oncologista clínica Aline Chaves, a possibilidade de cura em estágios iniciais desse tipo de câncer chega a 80%. Em entrevista, ela expõe detalhes sobre o problema, que atinge cerca de 600 mil pessoas em todo o mundo.
Por que há tanta desinformação em relação ao câncer de cabeça e pescoço?
O câncer de cabeça e pescoço é muito estigmatizado. Na maioria das vezes, ele ocorre em alcoolistas e tabagistas pesados. Grande parte dessas pessoas são desinformadas em relação aos cuidados porque fazem parte de um perfil social que as impede de ter um melhor acesso à saúde. Tanto que 70% dos tumores são diagnosticados em fases avançadas.
O tumor se manifesta em quais regiões da cabeça e do pescoço?
Quando usamos o termo “câncer de cabeça e pescoço” falamos dos tumores que atacam a nasofaringe (cavidade nasal), a orofaringe (boca), a laringe e a hipofaringe. Também podemos incluir os tumores da tireoide e das glândulas salivares, que serão tratados de formas diferentes.
Existem sintomas particulares para esse câncer?
Sim. Por exemplo, quando o tumor atinge as cordas vocais, pode causar rouquidão. Caso seja na parte mais alta das cordas, pode causar dificuldade de engolir. Caso o câncer atinja a boca, o paciente pode desenvolver uma ferida que não cicatriza.
Por que o câncer de cabeça e pescoço merece uma definição própria?
Porque foram criados termos para ajudar em questões de anatomia. E isso pode ajudar muito o paciente, já que faz com que ele se lembre da importância do especialista na hora de tratar os tumores. Ele sempre será mais bem cuidado quando estiver nas mãos desse profissional, que saberá os detalhes e os meandros da doença.
Álcool e tabagismo são fatores de risco para vários tipos de câncer. Como esses vícios atuam nesse caso específico?
O tabagismo atua, principalmente, causando um defeito no DNA da célula. O álcool, sozinho, pode causar o câncer de boca. Há pesquisas que comprovam essa relação. Juntos, eles se potencializam: são muito piores juntos. Outro fator de risco importante para a doença é o HPV, que está associado à maioria dos tumores dessa região.
Diante do fato que o HPV é um dos fatores de risco, como a senhora vê o movimento de muitas mães que não vacinam as filhas, alegando que isso pode estimular o sexo?
Isso é fruto da desinformação. O HPV é transmitido, na absoluta maiora dos casos, pelo sexo, mas não só por ele. E a vacina não protege apenas do câncer de cabeça e pescoço, mas de outros, como o do colo do útero e o de pênis. Não há como ter receio de proteger sua filha de uma doença gravíssima, que pode até matar, simplesmente achando que ela não fará sexo. A vacina foi criada para dar maior proteção. Todas as crianças, a partir dos 9 anos, precisam ser vacinadas.
Há tratamentos específicos para o câncer de cabeça e pescoço? E quais são as chances de cura?
Quando pensamos no tratamento, pensamos em três coisas: onde a doença se instalou, a idade do paciente e o estágio do câncer. Em um estágio inicial, sugerimos radioterapia ou cirurgia, com uma taxa de cura de 80%. Se for na boca, o mais indicado é a cirurgia. Já na laringe, radioterapia. No caso de uma doença avançada, tentamos usar mais armas para tratar, fazendo tanto a cirurgia como a radioterapia. Em pacientes mais idosos, usamos a bioterapia.
Dados apontam que pacientes de câncer de cabeça e pescoço sofrem mais de depressão que outros doentes. Por quê?
Porque o tumor está, literalmente, na cara. Os tratamentos são muito agressivos e, muitas vezes, as cirurgias são mutilantes; alguns pacientes precisam fazer traqueostomia. O perfil social do paciente também complica a situação, já que muitos deles abandonam ou foram abandonados pelas famílias. Além disso, a autoimagem, por conta das alterações no corpo, é afetada: eles têm dificuldade para falar, comer, respirar etc. Por isso, o paciente deve ser abordado por uma equipe multidisciplinar. Não só médica, mas com psicólogo, assistente social, dentista, fonoaudiólogo e fisioterapeuta.
Além de cortar o álcool e o cigarro, quais são outras formas de prevenir esse câncer?
Principalmente, com alimentação saudável, rica em verduras e frutas, mantendo o cuidado com a boca, procurando o dentista. Também lembrar de sempre fazer sexo com segurança.
Mesmo com toda a prevenção, há riscos de que tenhamos algum tipo de câncer?
A maioria dos tumores podem ser evitados com prevenção primária, ou seja, não fume, não beba, evite o sol, tenha uma alimentação adequada e pratique atividade fisica. Porém, caso ele surja, é preciso fazer a prevenção secundária: vá ao médico regularmente, faça exames periódicos e nunca deixe de procurar um especialista caso perceba algo diferente. Isso pode garantir mais chances de cura.
Fique atento:
Caso você tenha esses sintomas por até três semanas, procure o especialista imediatamente.
» Feridas na língua;
» Úlceras não curáveis na boca;
» Manchas vermelhas ou brancas na boca;
» Dor na garganta;
» Rouquidão persistente;
» Dor ao engolir;
» Nódulo no pescoço;
» Nariz entupido de um lado e/ou descarga sangrenta do nariz.
Saiba mais...
No Brasil, 70% dos pacientes diagnosticados com câncer de cabeça e pescoço já estão em um estágio avançado da doença. Trata-se de um indício claro de falta de informação, ainda mais quando se levam em conta os principais fatores de risco para esses tumores: o cigarro, o álcool e o sexo oral sem proteção.- 'Olho no espelho e sinto um vazio': mulheres vítimas do câncer esperam por anos por reconstrução da mama
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Segundo dados do Inca (Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva), em 2015, o número de novos casos deve ser superior a 19 mil. De acordo com a oncologista clínica Aline Chaves, a possibilidade de cura em estágios iniciais desse tipo de câncer chega a 80%. Em entrevista, ela expõe detalhes sobre o problema, que atinge cerca de 600 mil pessoas em todo o mundo.
Por que há tanta desinformação em relação ao câncer de cabeça e pescoço?
O câncer de cabeça e pescoço é muito estigmatizado. Na maioria das vezes, ele ocorre em alcoolistas e tabagistas pesados. Grande parte dessas pessoas são desinformadas em relação aos cuidados porque fazem parte de um perfil social que as impede de ter um melhor acesso à saúde. Tanto que 70% dos tumores são diagnosticados em fases avançadas.
Aline Chaves, oncologista
Quando usamos o termo “câncer de cabeça e pescoço” falamos dos tumores que atacam a nasofaringe (cavidade nasal), a orofaringe (boca), a laringe e a hipofaringe. Também podemos incluir os tumores da tireoide e das glândulas salivares, que serão tratados de formas diferentes.
Existem sintomas particulares para esse câncer?
Sim. Por exemplo, quando o tumor atinge as cordas vocais, pode causar rouquidão. Caso seja na parte mais alta das cordas, pode causar dificuldade de engolir. Caso o câncer atinja a boca, o paciente pode desenvolver uma ferida que não cicatriza.
Por que o câncer de cabeça e pescoço merece uma definição própria?
Porque foram criados termos para ajudar em questões de anatomia. E isso pode ajudar muito o paciente, já que faz com que ele se lembre da importância do especialista na hora de tratar os tumores. Ele sempre será mais bem cuidado quando estiver nas mãos desse profissional, que saberá os detalhes e os meandros da doença.
Álcool e tabagismo são fatores de risco para vários tipos de câncer. Como esses vícios atuam nesse caso específico?
O tabagismo atua, principalmente, causando um defeito no DNA da célula. O álcool, sozinho, pode causar o câncer de boca. Há pesquisas que comprovam essa relação. Juntos, eles se potencializam: são muito piores juntos. Outro fator de risco importante para a doença é o HPV, que está associado à maioria dos tumores dessa região.
Diante do fato que o HPV é um dos fatores de risco, como a senhora vê o movimento de muitas mães que não vacinam as filhas, alegando que isso pode estimular o sexo?
Isso é fruto da desinformação. O HPV é transmitido, na absoluta maiora dos casos, pelo sexo, mas não só por ele. E a vacina não protege apenas do câncer de cabeça e pescoço, mas de outros, como o do colo do útero e o de pênis. Não há como ter receio de proteger sua filha de uma doença gravíssima, que pode até matar, simplesmente achando que ela não fará sexo. A vacina foi criada para dar maior proteção. Todas as crianças, a partir dos 9 anos, precisam ser vacinadas.
Há tratamentos específicos para o câncer de cabeça e pescoço? E quais são as chances de cura?
Quando pensamos no tratamento, pensamos em três coisas: onde a doença se instalou, a idade do paciente e o estágio do câncer. Em um estágio inicial, sugerimos radioterapia ou cirurgia, com uma taxa de cura de 80%. Se for na boca, o mais indicado é a cirurgia. Já na laringe, radioterapia. No caso de uma doença avançada, tentamos usar mais armas para tratar, fazendo tanto a cirurgia como a radioterapia. Em pacientes mais idosos, usamos a bioterapia.
Dados apontam que pacientes de câncer de cabeça e pescoço sofrem mais de depressão que outros doentes. Por quê?
Porque o tumor está, literalmente, na cara. Os tratamentos são muito agressivos e, muitas vezes, as cirurgias são mutilantes; alguns pacientes precisam fazer traqueostomia. O perfil social do paciente também complica a situação, já que muitos deles abandonam ou foram abandonados pelas famílias. Além disso, a autoimagem, por conta das alterações no corpo, é afetada: eles têm dificuldade para falar, comer, respirar etc. Por isso, o paciente deve ser abordado por uma equipe multidisciplinar. Não só médica, mas com psicólogo, assistente social, dentista, fonoaudiólogo e fisioterapeuta.
Além de cortar o álcool e o cigarro, quais são outras formas de prevenir esse câncer?
Principalmente, com alimentação saudável, rica em verduras e frutas, mantendo o cuidado com a boca, procurando o dentista. Também lembrar de sempre fazer sexo com segurança.
Mesmo com toda a prevenção, há riscos de que tenhamos algum tipo de câncer?
A maioria dos tumores podem ser evitados com prevenção primária, ou seja, não fume, não beba, evite o sol, tenha uma alimentação adequada e pratique atividade fisica. Porém, caso ele surja, é preciso fazer a prevenção secundária: vá ao médico regularmente, faça exames periódicos e nunca deixe de procurar um especialista caso perceba algo diferente. Isso pode garantir mais chances de cura.
Fique atento:
Caso você tenha esses sintomas por até três semanas, procure o especialista imediatamente.
» Feridas na língua;
» Úlceras não curáveis na boca;
» Manchas vermelhas ou brancas na boca;
» Dor na garganta;
» Rouquidão persistente;
» Dor ao engolir;
» Nódulo no pescoço;
» Nariz entupido de um lado e/ou descarga sangrenta do nariz.