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Mães de primeira viagem contam como a chegada do bebê transforma vidas

Ter um filho nos braços, planejado ou não, muda para sempre a vida de uma mulher, que passa a ser permeada de medos e incertezas, mas também de muitas emoções e gratificações

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Ludymilla Sá Publicação:10/05/2015 08:09

Dúvidas, anseios, medos e incertezas são sentimentos característicos da maternidade. Quando se trata da primeira gestação, então, eles se potencializam. Planejada ou não, a nova fase é permeada de expectativas, que não vão mais ter prazo para acabar. Saber se o bebê que carrega no ventre vai se desenvolver normalmente é uma das primeiras preocupações da mãe de primeira viagem. Ela surge simultaneamente à descoberta da gravidez. Depois, outras tantas incertezas vão permear os nove meses de espera e várias outras surgirão ao longo da vida. Mas, decerto, todos os percalços valerão a pena.

É o que diz a jornalista Raquel Santiago. Aos 34 anos, ela deu à luz Maria Cecília há pouco mais de um mês e vai passar o primeiro Dia das Mães com a bebê nos braços. A filha foi tudo o que sempre sonhou. Desde a concepção até o parto, apesar de alguns percalços que a atormentaram durante a gestação. “Aos 11 anos, já dizia que queria ter duas filhas, como a minha mãe. Dizia que não casaria, mas que iria ter minhas filhas. Acho que porque meus pais se separaram quando eu tinha 2 anos, daí achava que não precisava de um pai. Quando conheci meu marido, comecei a pensar em família, e que a figura paterna era fundamental. Então, nos casamos e começamos a planejar a Maria Cecília”, conta.

''Depois que Maria Cecília nasceu, nunca mais dormi mais de três ou quatro horas. Não sei explicar o que é isso, só sei que é muita felicidade'', diz Raquel Santiago (Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
''Depois que Maria Cecília nasceu, nunca mais dormi mais de três ou quatro horas. Não sei explicar o que é isso, só sei que é muita felicidade'', diz Raquel Santiago
Em razão do trabalho, Raquel pretendia engravidar em agosto de 2014, mas naquele mês descobriu que já estava com 12 semanas. “Como trabalho com política, agosto seria o mês ideal. A turbulência terminaria em outubro e ficaria tranquila nos meses restantes. Mas, no meio da loucura de campanha, nem tinha percebido que estava atrasada. Quando minha ficha caiu, fiz o exame de farmácia e o de laboratório para confirmar. Contamos só para minha mãe e minha sogra. Esperamos o dia do meu aniversário para anunciarmos para o restante da família e amigos, durante um almoço.”

Com a certeza da gravidez, surgiu o primeiro medo. Apesar de não fazer parte do grupo de risco, Raquel temia ter um bebê com síndrome de Down. Fez a primeira ultrassonografia já com 12 semanas para verificar e acabou descobrindo um mioma. “Isso me azucrinou um pouco, porque sentia muita dor. Além disso, o mioma crescia junto da bebê.” Mas ela acabou tirando de letra.

XODÓ DA CASA

Raquel saiu da clínica com outra certeza: a de que teria um menino, apesar de todo o desejo de ser mãe de uma menina. Ele se chamaria Heitor. “Tudo culpa do ultrassonografista, que disse que tinha 90% de chance de ser um rapazinho.” Só durante o exame morfológico que Maria Cecília se confirmou. “Minha sogra deu um grito. Seria o xodó da casa, porque só tinha netos. Meu marido ficou mudo e depois começamos a chorar. Fiquei ainda mais feliz.”

Passada a fase de insegurança inicial, Raquel começou a se preocupar com a chegada da filha. Preparou-se para ter um parto natural e humanizado. Fez até fisioterapia para fortalecer o períneo durante dois meses. Mas só saberia se seria como o desejado quando entrasse em trabalho de parto, o que ocorreu na madrugada de 29 de março. “Fui para a casa de parto do Sofia Feldman. No hospital, estavam meu marido, minha sogra, a enfermeira obstetra, uma residente e a minha doula Kalu Brum. Maria nasceu às 17h17 – pesando 2,385 quilos e medindo 48cm –, na banheira, mamando e fazendo cocô!”

Agora, com Maria Cecília em casa, há pouco mais de um mês Raquel vive um aprendizado constante. “Somos nós duas, uma aprendendo com a outra. Quando a Maria nasceu, vi que era merecedora desse milagre. Fiquei tão grata por tudo: Sofia (Feldman, hospital), nascimento e realização, que já comecei a doar leite materno para ajudar outros bebês. Mais que ser mãe, sou uma mulher feliz, que desejava muito esta criança. Às vezes, os casais querem ter filhos, mas não querem criá-los, pois não se preparam para as dores, as cólicas, a educação. Depois que Maria Cecília nasceu, nunca mais dormi mais de três ou quatro horas. Não sei explicar o que é isso. Só sei que é muita felicidade.”

Um novo mundo
Depois de confirmada a gravidez, é hora de se preparar para as transformações do corpo e as inseguranças em relação à saúde do bebê, mas nada supera a alegria de ser mãe pela primeira vez

Idalina Noronha, de 33, viu a vida virar de ponta-cabeça quando o filho nasceu com a síndrome de Down, mas garante que Heitor é o bebê que sempre desejou  (Erika Santos/Divulgação)
Idalina Noronha, de 33, viu a vida virar de ponta-cabeça quando o filho nasceu com a síndrome de Down, mas garante que Heitor é o bebê que sempre desejou
Há um ano e um mês, quando a administradora de empresas Idalina Noronha, de 33 anos, deu à luz Heitor Afonso, ela não imaginava que sua vida viraria de ponta-cabeça. Foram nove meses de anseios, habituais de uma mãe de primeira viagem, e uma alegria incontida pela chegada do filho desejado. Heitor nasceu com síndrome de Down, condição cromossômica causada por um cromossomo extra no par 21, que não foi detectado durante o pré-natal. Com a surpresa, veio também a certeza de que um mundo novo teria de ser desbravado.

Idalina e o marido, Eustáquio, viram-se diante do inesperado. “Ele foi esperado, planejado, muito amado durante toda a minha gravidez. O Heitor era o que a gente mais queria. Demoramos seis meses para engravidar e não tive nenhum conflito, nenhum medo durante a gestação, porque os exames estavam todos normais. Então, fiquei tranquila. Meu marido, sim, tinha medo de ter um filho com síndrome de Down. Mas fizemos a translucência nucal, repetimos e deu normal. O morfológico também. Tanto que ele não tem cardiopatia, o que é comum em crianças com a síndrome. Como não fazia parte do grupo de risco, não tinha mais de 35 anos, a probabilidade era mínima. Então, não havia motivos para me preocupar”, conta a mãe.

Ter um filho é um dos acontecimentos mais vitais para o ser humano, segundo Idalina. Talvez, por isso, tenha ficado meio perdida com a notícia de que o filho era especial. “Foi ruim, não vou negar, não vou ser hipócrita. Os médicos não têm preparo para dar essa notícia, não têm sensibilidade. Meu marido achou estranho o comportamento dos médicos, que faziam muitos exames sem nos dizer nada. Daí ele perguntou se o Heitor tinha síndrome de Down. A residente falou que ele apresentava algumas características, que pediriam um exame, mas que ficaríamos sabendo depois de 40 dias. Não acreditei. Pedi para falar com a pediatra, que era geneticista. Perguntei a probabilidade e ela disse friamente: 99% de chance”, contou.

Em casa, Idalina conta que foram dois meses de angústias, sem saber muito o que e como fazer. Agora, são dias de conquistas e superações constantes. Heitor faz fisioterapia, terapia ocupacional e fonoaudiologia desde os três meses de idade – tratamento chamado de estimulação precoce – e tem desenvolvimento normal, como o de qualquer outra criança. “Confesso que ainda não aceitei completamente a síndrome, mas estamos muito bem. Posso dizer que aceitamos 90% depois de encontrarmos acolhimento no grupo Minas Down. Participamos de um outro mundo, em que trocamos experiências, alegrias e frustrações. Vimos que o Heitor é o bebê que sempre desejamos.”

Os medos de Idalina perduram, pois a sociedade não está preparada para receber uma criança especial, ela conclui. Mas não há felicidade maior do que ver as conquistas do filho. “Tinha medo do futuro dele, se ele estudaria, se namoraria, casaria, se teria uma vida normal e seria feliz. Mas aprendi que temos de viver um dia de cada vez e que o futuro só a Deus pertence. Então, para que pensar nisso agora? Faço minha parte, todos os estímulos possíveis, ele tem. E responde muito bem a todos eles, graças a Deus!”
Roberta Fonseca, de 32 anos, diz que a chegada de Alice, daqui a um mês, será a realização de um sonho ( Leandro Couri/EM/D.A Press)
Roberta Fonseca, de 32 anos, diz que a chegada de Alice, daqui a um mês, será a realização de um sonho
ALTO ASTRAL Um novo mundo também é aguardado pela advogada Roberta Bruno Fonseca Souto, de 32. No oitavo mês da primeira gestação, ela espera, com muita alegria, a chegada de Alice, bebê tão desejado quanto foi Heitor. “Nunca tive medo da síndrome (de Down). Todos os exames estão normais, mas nunca tive preocupação com isso. Claro que existe um receio, mas nunca deixei que o medo tomasse conta de mim. Sou uma pessoa muito otimista, muito alto astral. Tive medo de perder o neném no início da gravidez, mas escutei da minha irmã que nunca se deve começar uma história com medo.”

A chegada de Alice é a realização de um sonho, segundo Roberta. “Sempre quis ser mãe, claro que agregado a outros valores profissionais, mas não imaginava que era assim, um misto de alegria e de preocupações. Falta energia, há muito cansaço nesta reta final – ela vai nascer em junho – e encarar tudo isso não é fácil. Mas eu e meu marido estamos em comunhão para recebermos a nossa filha.”

As transformações do corpo, as alterações de humor em razão dos hormônios, as inseguranças e incertezas... nada supera a alegria da confirmação de ser mãe pela primeira vez. Pelo menos para a gerente de operações Tiziane Spinelli, de 34, grávida de cinco meses de Davi. “Foi uma gravidez planejada, mas antecipada. É o primeiro menino da família e comemoramos demais. Tive alguns medos, mas recorri a especialistas para me ajudar, e o Davi vem para nos unir e alegrar ainda mais.”

 

Fase mágica

A chegada de um bebê na família é sempre rodeada de muita ansiedade, expectativa e sonhos. Mas também de muitas dúvidas, especialmente para as mães de primeira viagem. Que tipo de parto fazer? Qual é o enxoval ideal? Como funciona a amamentação e a troca de fraldas até o desfralde? Como dar banho no neném? Essas são as incertezas que dominam a rotina de quem terá o primeiro filho. Para ganhar um pouco mais de tranquilidade nesse momento de espera, especialistas recomendam que elas recorram a todo tipo de ajuda.

A enfermeira-obstetra Cíntia Ribeiro Santos, idealizadora do curso Casal grávido, diz que metodologia dá tranquilidade à nova mamãe (Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
A enfermeira-obstetra Cíntia Ribeiro Santos, idealizadora do curso Casal grávido, diz que metodologia dá tranquilidade à nova mamãe

Os cursos Casal grávido e Gestantes, alaém de livros sobre o tema, são algumas opções que podem orientar as mulheres grávidas pela primeira vez e esclarecer as dúvidas mais frequentes. “Acho que a primeira coisa é ela entender que é mãe de primeira viagem, que tudo é novo, que é natural ter curiosidade, insegurança e medos. Inclusive, é natural por ser hormonal. E depois, se cercar de informações. Acho que não garante tranquilidade totalmente, porque as dúvidas serão constantes, ao longo da vida, vão aparecer quando o bebê nascer, mas ajuda. Eu mesma fiz curso de tudo, e isso me deu tranquilidade. Ouvir experiência do outro também nos conforta. Acho que ajuda nesse processo”, opina a psicóloga clínica e neuropsicóloga Luciana Campelo.

Uma consulta a um pediatra, mesmo antes de o bebê nascer, também é uma alternativa, na avaliação da psicóloga. Especialmente se a mãe for mais ansiosa que o normal. “O pediatra vai dar certa segurança, vai poder explicar o que se espera de uma criança, sobre as primeiras vacinas... Estou falando da mãe ansiosa, que tem esse desejo veemente, acho que essas coisas confortam. Ela também tem de conversar com pessoas que estão vivenciando a mesma experiência, ou que já a vivenciaram.”

Luciana Campelo também afirma a necessidade da participação do pai nesse período de incertezas. “A mãe tem de incluir o pai, tem de deixar que o outro seja como ele é, porque há casos em que a mãe vive a gravidez como se fosse somente dela, que o pai é um caso a parte. E não. Ele é protagonista do processo. É importante que a mãe converse com o parceiro sobre esses sofrimentos. E tem de acreditar que vai dar certo, porque mãe nasce quando o filho nasce, ninguém é mãe sem ser mãe.”
 

Cíntia Ribeiro Santos, enfermeira-obstetra e membro do Comitê de Aleitamento Materno do Hospital Sofia Feldman, concorda com a neuropsicóloga. Ela é uma das idealizadoras do curso Casal grávido, da maternidade, ministrado mensalmente e de forma gratuita. “O curso Casal grávido, na realidade, é uma forma de orientar e preparar o casal para a chegada do bebê, convidá-lo a refletir sobre o nascimento dessa criança, ensinar a dar o primeiro banho, esclarecer as dúvidas da amamentação e a importância de ter uma pessoa preparada ao lado da mãe.”

Assim como Luciana Campelo, a especialista afirma que essas metodologias dão um pouco mais de tranquilidade à nova mamãe, mas que outras dúvidas vão surgir depois do nascimento da criança. Nesse caso, é importante não se render às interferências externas. “Brinco sempre com as mães de primeira viagem, de que é preciso ter muito cuidado com a sogra. Não que eu a esteja menosprezando, não é isso. É que, sempre que o bebê chora, ela diz que é fome, por exemplo. Aconteceu comigo! E nem sempre o motivo do choro do bebê é fome. Ele tem outras necessidades. Às vezes, quer apenas sentir o cheiro da mãe.”

Quanto às dúvidas sobre o melhor parto, não há um que seja o ideal, segundo a enfermeira. “Não existe fórmula mágica, cada mulher tem o seu momento. Vejo a gravidez como uma fase mágica. Se ela estiver tendo um bom acompanhamento, pode ficar tranquila. Desde que seja como pede o protocolo institucional. E se criar hábitos saudáveis, vai chegar ao fim da gravidez bem e estará emocionalmente tranquila para o parto, seja qual for. A gente sabe que algumas mulheres vão entrar no processo natural fisiológico e outras, não. De qualquer forma, o corpo vai dar os sinais.”

BINÔMIO

Cíntia atenta também para as visitas durante o pós-parto. “É muito importante que a mãe de primeira viagem, que já vive uma fase de inseguranças, escolha as pessoas certas para acompanhá-la. Tem gente que acha que o nascimento de uma criança é um acontecimento e não tem a menor noção do que realmente está ocorrendo em um momento tão delicado, em que a mãe está aprendendo a ser mãe. Ela precisa fica atenta a isso, porque, em vez de vivenciar o binômio mãe e filho, passa a vivenciar a visita.”

A contadora Alessandra de Deus, de 34 anos, analista contábil da Unimed, é mãe pela primeira vez – deu à luz Letícia, há 10 meses – e confirma a importância de recorrer a essas alternativas durante os nove meses de espera. Ela fez um curso oferecido pela empresa onde trabalha e esclareceu suas dúvidas sobre a maternidade.

 

“Fiz um curso dividido em dois módulos. No primeiro, eles me ensinaram a cuidar de mim, de como era importante uma alimentação balanceada, de como me vestir para me sentir bonita... me deram suporte naquele período de mudança. No segundo, ensinaram os cuidados com o bebê, como daria banho, os cuidados com o umbigo.”

Quase um ano depois de fazer o curso e com a filha saudável e feliz, Alessandra afirma que ouvir a experiência do outro foi importante. “Mas só vivendo a situação mesmo para aprender. Ser mãe é uma dádiva, a melhor alegria na vida de uma mulher.”
 

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