Estudo comprova relação entre poluição do ar e alergia em crianças
Estudo canadense envolvendo 2.477 crianças com 1 ano mostrou que a sujeira atmosférica pode deixar as células humanas mais sensíveis aos agentes que causam alergias
Vilhena Soares - Correio Braziliense
Publicação:28/05/2015 15:00Atualização: 28/05/2015 09:58
A pesquisa faz parte de um grande trabalho feito com mães e filhos em busca das causas de alergia e asma em crianças. “É importante porque, no Canadá e em muitos outros países — especialmente os de alta e média rendas —, o nível de alergia infantil aumentou dramaticamente. O documento que acaba de ser publicado é focado na poluição atmosférica relacionada com o tráfego e o aparecimento precoce da alergia”, destacou ao Correio Michael Brauer, autor sênior do estudo e professor na Escola de População e Saúde Pública da Universidade de British Columbia.
No estudo, 2.477 crianças com 1 ano foram avaliadas por meio de um teste de alergia feito na pele. A exposição à poluição do ar ligada ao tráfego de veículos foi avaliada estimando os níveis de dióxido de nitrogênio presente no local em que cada participante vivia, bem como a utilização e o tipo de sistema de ventilação da casa. Os pesquisadores também estudaram a permanência dos meninos e das meninas fora do lar, incluindo a frequência em creches. Como resultado, observaram que os mais expostos à poluição apresentaram riscos maiores de desenvolver alergias.
Entre as hipóteses levantadas para essa relação, estão a de que poluição do ar reage quimicamente com os alérgenos — que induzem as reações alérgicas — para torná-los mais potentes ou que a poluição do ar altera a permeabilidade das células, tornando-as mais sensíveis aos efeitos de alérgenos. “Outra possibilidade é de que a exposição à poluição do ar altera a expressão de genes, fazendo com que o sistema imunitário se desenvolva de tal modo que é mais provável que a pessoa se torne alérgica, em comparação, por exemplo, com uma resposta não alérgica em que o sistema imunitário está focado em infecções”, complementa Brauer.
Presidente nacional da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), José Carlos Perini diz que a sujeira atmosférica causa mais riscos de alergias em crianças devido ao efeito provocado na imunidade delas. “O sistema respiratório nessa etapa da vida é imaturo. A alta exposição à poluição modifica o perfil que seria de defesa e se torna alérgico. Elas deixam de adquirir resistência para criar a enfermidade. É o mesmo caso de alimentos. Quando fornecidos em excesso, podem causar alergia”, explica.
Para Décio Medeiros, alergologista do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a suspeita da exposição à poluição como causa do aumento do risco de alergia já existia entre os médicos. O trabalho canadense veio para embasá-la. “Essa pesquisa se destaca por ter sido feita com um grande número de pessoas. São fatores que podem ser modificados nas crianças, dependendo do ambiente em que elas vivem.”
Creche protetora
O estudo rendeu outras descobertas interessantes relacionados a alergias no início da vida. Apontou, por exemplo, que crianças que frequentam creche e as que têm irmãos mais velhos são menos propensas a ser alérgicas porque elas ficam mais expostas a agentes infecciosos, fazendo com que o sistema imunológico em desenvolvimento lute mais contra os patógenos. “Nós também descobrimos que as que vivem em casas com garagem anexa são mais propensas a se tornarem alérgicas. Isso pode vir de um contato maior com a química vinda dos carros”, completa Brauer.
A próxima etapa da pesquisa será a análise de garotos e garotas com 7 e 8 anos, fase em que geralmente surgem as alergias. “Assim, poderemos avaliar a poluição do ar em relação a outros fatores de risco, como estresse, alimentação e químicos em produtos de consumo”, diz o pesquisador. Segundo ele, os resultados poderão contribuir para novos aconselhamento a grávidas sobre o que devem evitar e quando evitar para proteger os filhos das alergias.
Perini acredita que a pesquisa canadense pode ter impacto também sobre a urbanização dos espaços. “Um grande problema que temos hoje são os ambientes desordenados. Cidades planejadas são necessárias para manter as indústrias longe de onde as pessoas vivem. Isso renderia qualidade de vida”, detalha o presidente da Asbai. “É preciso pensar de forma mais rigorosa nas emissões veiculares, ter controle sobre a poluição na área urbana pois, já que não podemos acabar com ela, é possível tentar pelo menos controlar esses poluentes”, complementa.
Composto tóxico
Também chamado de dióxido de azoto, é um gás acastanhado de cheiro forte formado nas reações de combustão de motores a explosão. Nos humanos, irrita os pulmões e diminui a resistência às infecções respiratórias. Também se sabe que o composto contribui para fenômenos com elevado impacto ambiental, como as chuvas ácidas.
Por não terem o sistema de defesa completamente desenvolvido, os bebês acabam sofrendo mais os impactos do contato com os poluentes
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A poluição pode ser mais prejudicial à saúde na primeira infância. É o que indicam pesquisadores de uma instituição canadense em um estudo publicado na revista científica Environmental Health Perspectives. Segundo eles, bebês mais expostos à poluição durante o primeiro ano de vida têm riscos maiores de desenvolver alergias. A descoberta pode ajudar na criação de estratégias de defesa do organismo a complicações como a asma, que acomete em torno de 20% das crianças e dos adolescentes brasileiros.- Mineira ganha prêmio internacional com receitas para pessoas alérgicas às proteínas do leite
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A pesquisa faz parte de um grande trabalho feito com mães e filhos em busca das causas de alergia e asma em crianças. “É importante porque, no Canadá e em muitos outros países — especialmente os de alta e média rendas —, o nível de alergia infantil aumentou dramaticamente. O documento que acaba de ser publicado é focado na poluição atmosférica relacionada com o tráfego e o aparecimento precoce da alergia”, destacou ao Correio Michael Brauer, autor sênior do estudo e professor na Escola de População e Saúde Pública da Universidade de British Columbia.
No estudo, 2.477 crianças com 1 ano foram avaliadas por meio de um teste de alergia feito na pele. A exposição à poluição do ar ligada ao tráfego de veículos foi avaliada estimando os níveis de dióxido de nitrogênio presente no local em que cada participante vivia, bem como a utilização e o tipo de sistema de ventilação da casa. Os pesquisadores também estudaram a permanência dos meninos e das meninas fora do lar, incluindo a frequência em creches. Como resultado, observaram que os mais expostos à poluição apresentaram riscos maiores de desenvolver alergias.
Entre as hipóteses levantadas para essa relação, estão a de que poluição do ar reage quimicamente com os alérgenos — que induzem as reações alérgicas — para torná-los mais potentes ou que a poluição do ar altera a permeabilidade das células, tornando-as mais sensíveis aos efeitos de alérgenos. “Outra possibilidade é de que a exposição à poluição do ar altera a expressão de genes, fazendo com que o sistema imunitário se desenvolva de tal modo que é mais provável que a pessoa se torne alérgica, em comparação, por exemplo, com uma resposta não alérgica em que o sistema imunitário está focado em infecções”, complementa Brauer.
Presidente nacional da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), José Carlos Perini diz que a sujeira atmosférica causa mais riscos de alergias em crianças devido ao efeito provocado na imunidade delas. “O sistema respiratório nessa etapa da vida é imaturo. A alta exposição à poluição modifica o perfil que seria de defesa e se torna alérgico. Elas deixam de adquirir resistência para criar a enfermidade. É o mesmo caso de alimentos. Quando fornecidos em excesso, podem causar alergia”, explica.
Para Décio Medeiros, alergologista do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a suspeita da exposição à poluição como causa do aumento do risco de alergia já existia entre os médicos. O trabalho canadense veio para embasá-la. “Essa pesquisa se destaca por ter sido feita com um grande número de pessoas. São fatores que podem ser modificados nas crianças, dependendo do ambiente em que elas vivem.”
Creche protetora
O estudo rendeu outras descobertas interessantes relacionados a alergias no início da vida. Apontou, por exemplo, que crianças que frequentam creche e as que têm irmãos mais velhos são menos propensas a ser alérgicas porque elas ficam mais expostas a agentes infecciosos, fazendo com que o sistema imunológico em desenvolvimento lute mais contra os patógenos. “Nós também descobrimos que as que vivem em casas com garagem anexa são mais propensas a se tornarem alérgicas. Isso pode vir de um contato maior com a química vinda dos carros”, completa Brauer.
A próxima etapa da pesquisa será a análise de garotos e garotas com 7 e 8 anos, fase em que geralmente surgem as alergias. “Assim, poderemos avaliar a poluição do ar em relação a outros fatores de risco, como estresse, alimentação e químicos em produtos de consumo”, diz o pesquisador. Segundo ele, os resultados poderão contribuir para novos aconselhamento a grávidas sobre o que devem evitar e quando evitar para proteger os filhos das alergias.
Perini acredita que a pesquisa canadense pode ter impacto também sobre a urbanização dos espaços. “Um grande problema que temos hoje são os ambientes desordenados. Cidades planejadas são necessárias para manter as indústrias longe de onde as pessoas vivem. Isso renderia qualidade de vida”, detalha o presidente da Asbai. “É preciso pensar de forma mais rigorosa nas emissões veiculares, ter controle sobre a poluição na área urbana pois, já que não podemos acabar com ela, é possível tentar pelo menos controlar esses poluentes”, complementa.
Composto tóxico
Também chamado de dióxido de azoto, é um gás acastanhado de cheiro forte formado nas reações de combustão de motores a explosão. Nos humanos, irrita os pulmões e diminui a resistência às infecções respiratórias. Também se sabe que o composto contribui para fenômenos com elevado impacto ambiental, como as chuvas ácidas.