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Resposta de Bela Gil sobre merenda da filha chama atenção para 'cultura da porcaria' na alimentação infantil

Além de reforçar que a filha gosta de batata doce e banana da terra, a nutricionista e chef de cozinha diz que enxerga a alimentação como uma ferramenta política, econômica, social, ambiental e de saúde

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Valéria Mendes - Saúde Plena Publicação:28/05/2015 10:56Atualização:28/05/2015 11:37

Há uma semana, Bela Gil publicou em seu perfil no Instagram uma imagem em que mostrava o que estava dentro da merendeira da filha: granola caseira, banana da terra, batata doce e água. Uma onda de comentários invadiu as redes sociais e – apesar de a mãe de Flor Gil Demasi, 6 anos, ter recebido apoio –, foram as piadas, memes e críticas que ganharam a audiência de quem acompanhou a repercussão da história.



Nesta quarta-feira (27/05), no entanto, a filha de Gilberto Gil escreveu uma resposta em seu blog defendendo, além de lanches saudáveis para as crianças, a “alimentação como uma ferramenta política, econômica, social, ambiental e de saúde”. Já no início do texto, Bela deixa claro que a filha gosta do que foi colocado na lancheira.

A crença de que ‘criança pode comer tudo’ ou ‘deixa comer o que quiser’ sustenta uma triste estatística: uma em cada três crianças brasileiras de 5 a 9 anos está acima do peso. Meninos e meninas que, no futuro, vão engrossar outros dados alarmantes divulgados pelo Ministério da Saúde. Além de 52% de brasileiros estar acima do peso, 17,9% das pessoas com mais de 18 anos é obesa no país. Lembrando também que a Organização Mundial de Saúde fala em epidemia mundial de obesidade. Para quem não sabe, o excesso de peso não complica só o coração, como geralmente se pensa, mas todos os órgãos do organismo e até o esqueleto. Portanto, é um assunto de saúde pública.

A ‘cultura da porcaria’ na alimentação infantil é, sim, um dos grandes dificultadores da formação de bons hábitos. É na infância que os pequenos vão desenvolver o paladar para coisas boas e coisas ruins. No entanto, a luta pela alimentação saudável não significa dizer que uma criança não possa comer um brigadeiro em uma festa de aniversário, mas esse consumo precisar ser uma exceção.

Entre os motivos que Bela Gil enumerou para preparar a merendeira da filha toca justamente nessa questão: “Me importo com a saúde da minha filha e por isso presto atenção na alimentação dela. Não considero biscoito recheado, salgadinho de pacotinho, e achocolatados como alimentos e sim produtos maquiados de alimentos que iludem tanto os pais quanto as crianças com seus poderes viciantes. Não quero deixar a minha filha dependente de uma indústria, quero educá-la para ser independente, poder preparar o próprio alimento e escolher o que quiser para comer no jantar”, escreveu.

A reposta da chef de cozinha leva à reflexão de um grandes dilemas atuais da sociedade. Família e escola são os principais atores para incentivar hábitos alimentares saudáveis, mas outros fatores influenciam esse consumo e talvez um dos mais perversos seja a publicidade dirigida às meninas e meninos. Com discurso sofisticado, associa alimentos muito calóricos e poucos nutritivos ao universo infantil e dificulta a negativa dos cuidadores. Além de a relação com a comida passar culturalmente pelas demonstrações de afeto e amor, não é fácil – e quem é pai ou mãe sabe muito bem disso –, lutar contra o fluxo consumista que pauta a contemporaneidade.

Por isso, segundo Bela, “se os pais não forem conscientes e responsáveis pela alimentação dos filhos, incentivando o consumo de vegetais, frutas, legumes e cereais, eles crescem com o paladar já viciado em produtos industrializados, altamente açucarados e engordurados (com açúcar e gordura de péssima qualidade) que podem afetar sua saúde física e mental”.

Para ela, “os valores estão invertidos na nossa sociedade”. E você, o que acha?

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