Quando o suor vira doença?

Transpiração excessiva pode ser sintoma de hiperidrose, que atinge 1% dos brasileiros e afeta a autoestima. Tratamento inclui remoção das glândulas sudoríparas ou dos gânglios

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Andréa Silva Publicação:09/06/2015 15:00Atualização:09/06/2015 10:52
Hiperidrose atinge 1% dos brasileiros (EM/D.A Press)
Hiperidrose atinge 1% dos brasileiros
A transpiração é um processo fisiológico natural e vital ao organismo. Pelo suor são eliminadas algumas toxinas e ele ajuda a manter temperatura corporal, especialmente durante um esforço físico, no calor ou em ambientes mais quentes. Mas, quando há suor excessivo, principalmente na palma das mãos, planta dos pés, axilas, virilha, rosto e couro cabeludo pode ser indício de hiperidrose. Problema de transpiração excessiva e de forma imprevisível, mesmo com a temperatura baixa ou quando a pessoa está descansando. A doença, que não é contagiosa, afeta 2% da população mundial. No Brasil, a estimativa é de que 1% seja acometido pelo transtorno.

A sudorese excessiva e constante é provocada pela hiperatividade das glândulas sudoríparas. Os sintomas podem aparecer na infância, adolescência ou na fase adulta por razões desconhecidas de especialistas. Eventualmente, o transtorno pode estar ligado ao histórico familiar e a fatores como ansiedade e estresse. Causa incômodos, baixa a autoestima e acaba afastando aqueles que têm que conviver com o suor excessivo do convívio social, trazendo implicações nas atividades escolares ou profissionais.

O advogado J.Z., de 34 anos, percebeu os sintomas da hiperidrose na adolescência. Mesmo transpirando muito nas mãos e nos pés, só desconfiou de que algo estava errado quando entrou na faculdade e começou a fazer estágio. “Molhava os papéis e cadernos, tinha dificuldades em segurar a caneta e era péssimo ter que cumprimentar as pessoas com as mãos molhadas. Não tinha vergonha, mas me incomodava muito”, diz J. Ele conta que fez pesquisas sobre o transtorno e, aos 18 anos, procurou ajuda médica. Em todas as consultas indicaram um cirurgião torácico.

Um ano depois de buscar ajuda de clínicos e dermatologistas, passou por cirurgia para a retirada de glândulas. Segundo o advogado, após a intervenção a sudorese nas mãos melhorou 100% e a dos pés, 80%. “Ainda transpiro muito, principalmente no calor ou em situação de estresse, mas nada que me traga aqueles incômodos de antes”, conta o advogado.

O médico dermatologista e cirurgião dermatológico Glaysson Tassara Tavares, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia, Regional Minas Gerais (SBD-MG), explica que a sudorese é o ato de produzir e liberar suor pelos poros da pele, com a função de equilibrar a temperatura do corpo com o ambiente. Existe a hidrose (transpiração), a hiperidrose (transpiração excessiva), a bromidrose (suor com cheiro ruim) e a cromidrose (suor com cor).

“A hiperidrose pode ocorrer de forma fisiológica. A forma primária é uma disfunção rara e permanente do cérebro que, por motivos desconhecidos, estimula de maneira exagerada as glândulas sudoríparas de determinadas regiões do corpo”, explica o cirurgião dermatológico. Segundo Tavares, a forma secundária da sudorese excessiva é resultante de doenças como hipertireoidismo, tumores malignos, obesidade, menopausa ou ainda efeito colateral de alguma medicação. Na generalizada, ocorre aumento da transpiração por todo o corpo. Para esse caso, não há tratamento.

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CORRENTES ELÉTRICAS
A sudorese excessiva é mais comum na palma das mãos e planta dos pés. Pode acometer também as axilas e a região do rosto. Nesse último caso, o problema ocorre mais na fase adulta, entre os 30 e 50 anos. De acordo com o dermatologista, essas áreas são mais acometidas porque têm maior concentração de glândulas sudoríparas. “A sudorese é controlada de forma involuntária pelo sistema nervoso autônomo. A hiperatividade simpática é a causa mais comum da hiperidrose”, diz Tavares.

O médico dermatologista Geraldo Magela Magalhães, professor de dermatologia da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e preceptor da residência em dermatologia da Santa Casa de Belo Horizonte, informa que há dois tipos de tratamentos para a hiperidrose: o temporário ou paliativo e o definitivo ou cirúrgico. No primeiro caso, são indicados um antissudoral, produtos para a aplicação nas áreas do suor que ajudam a reduzir a transpiração. Podem ser aplicados em spray ou cremes. “Existem várias formulações, por isso a necessidade da consulta com dermatologista, que irá indicar o melhor tratamento para cada caso”, afirma Magalhães.

Outro tratamento é o iontoforese, correntes elétricas que controlam a produção do suor pela glândula sudorípara. Medicamentos orais também são receitados, mas somente em casos muito específicos, devido aos efeitos colaterais. A aplicação de toxina botulínica, principalmente nas axilas, é eficiente e já está bem estabelecida como solução para bloquear a produção do suor. Ela tem duração de seis a oito meses e alguns casos pode durar um ano. Somente entre 30 e 40% dos casos é indicado a cirurgia para remover as glândulas sudoríparas ou os gânglios que participam da inervação das glândulas (simpatectomia).

OCORRÊNCIAS
Levantamentos apontam que a hiperidrose acomete mais as mulheres (60%) do que os homens (40%). Entretanto, esses números podem refletir a procura por atendimento médico para tratar o problema, já que elas fazem isso com mais frequência do que eles. O assistente administrativo Júlio César Teixeira e Silva, de 36, disse ter percebido o suor excessivo na adolescência, mas até hoje não procurou um especialista para amenizar o problema. “Levo sempre uma camisa extra para o serviço ou quando vou sair. Transpiro excessivamente nas axilas, mas também molho as costas e a barriga. Estou empurrando a ida ao médico, mas como vou casar, não poderei mais fugir do tratamento”, diz Júlio.


Marcelo de Alencar Resende cirurgião torácico

Cirurgia minimamente invasiva
“A cirurgia, chamada de simpatectomia torácica endoscópica, ou STE, é indicada quando o suor excessivo causa transtornos à pessoa. O procedimento vem sendo amplamente utilizado para o tratamento da hiperidrose palmar, plantar, axilar e facial. A cirurgia é tecnicamente simples, de forma minimamente invasiva por meio de incisões na região axilar. São feitos quatro cortes, dois de cada lado do peito. Em um deles passa a microcâmera que filma a parte interna do tórax e localiza o nervo simpático, que é o controlador do suor e no outro passa um aparelho que vai bloqueá-lo. É aplicada a anestesia geral no paciente e procedimento cirúrgico demora aproximadamente meia hora.”

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