Pesquisa indica que 73% dos homens de Belo Horizonte nunca foram ao urologista

Apesar da preocupação com o desempenho sexual, belo-horizontinos são os que menos se consultam com urologistas. Maioria também desconhece a andropausa, uma das causas da impotência

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Carolina Cotta - Estado de Minas Publicação:15/07/2015 13:52

Quando questionado sobre sua saúde, o que mais preocupa o homem são as doenças cardiovasculares. Logo depois, mais do que diversos tipos de câncer e mesmo o diabetes, o maior temor é a disfunção erétil, popularmente conhecida como impotência sexual. Os dados são de uma pesquisa inédita da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), realizada em parceria com a Bayer, que ouviu 3,2 mil brasileiros, de oito capitais, entre elas Belo Horizonte, sobre como avaliam sua saúde e sexualidade. Hoje, data em que se comemora o Dia do Homem, outro dado é considerado alarmante: 51% dos entrevistados com mais de 45 anos relatou nunca ter ido a um urologista. A realidade mineira é ainda pior: 73% dos belo-horizontinos nunca se consultou com especialistas em saúde masculina, uma estatística pior que a média nacional.

E mais do que não consultar um urologista, é não priorizar a saúde. “Muitos homens chegam ao consultório sem nunca terem checado a pressão arterial”, alerta Roni Fernandes, presidente da SBU-SP. O preconceito em relação ao exame de toque retal, imprescindível para o diagnóstico de câncer de próstata, e que deve ser feito a partir dos 50 anos de idade, por muito tempo afastou os homens do urologista, apesar de ser um procedimento simples e rápido. Para Carlos Sacomani, do Núcleo de Urologia do Hospital AC Camargo, o problema é os homens não procurarem um médico de modo geral. “Quando chegam ao consultório é muito comum que sejam levados pela esposa ou filha. O homem não gosta de ir ao médico, talvez para não confrontar os problemas que pode ter, ou por ver isso como sinal de perda de força e vitalidade”, acredita.

Eles fogem do médico Apenas metade dos brasileiros ir ao urologista já preocupa, mas a pesquisa revelou ainda que, desses, 52% vai eventualmente ou quando já apareceu algum problema. E o homem não só “foge” do médico como também se automedica. Outro dado relevante da pesquisa é sobre o uso recreativo, ou sem prescrição, de medicamentos para disfunção erétil. Sessenta e dois por cento dos brasileiros e 86% dos belo-horizontinos usa essas substâncias por conta própria, a partir da recomendação de amigos. A consulta sistemática ao urologista poderia não só garantir um uso mais seguro desses medicamentos, como mudar o curso de uma série de doenças que afetam a saúde do homem, como o câncer de próstata e a andropausa, duas causas da impotência sexual.

Segundo a endocrinologista Elaine Frade Costa, professora de endocrinologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, um estudo brasileiro recente revelou que a prevalência de andropausa é de 19,8%. “Este é o único estudo epidemiológico em que foram avaliados 200 mil homens”, diz. A Deficiência Androgênica do Envelhecimento Masculino (Daem) é um tipo de hipogonadismo caracterizado pela diminuição da produção de testosterona relacionada ao envelhecimento do homem. Essa diminuição nos níveis de testosterona torna-se mais acentuada a partir dos 45 anos, quando podem aparecer sinais e sintomas como diminuição da libido, alterações de humor, depressão, cansaço, sensação de perda de energia, disfunção erétil, perda de massa óssea e massa muscular. Diferentemente da menopausa, quando a mulher deixa de produzir, de forma lenta e gradativa, os hormônios estrogênio e progesterona, a andropausa ocorre de forma bem mais gradual.



Segundo Carlos Corradi, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), essa baixa nos níveis de testosterona são mais comuns a partir dos 50, 60 anos. O diagnóstico é simples, a partir da identificação dos sintomas e da dosagem dos níveis de testosterona. Segundo Roni, só após três dosagens confirmando a baixa nos níveis do hormônio deve ser iniciada a reposição. Essa pode ser feita, segundo Corradi, por meio de injeções trimestrais ou mesmo a partir da aplicação de gel, diário, nas axilas. “O uso da medicação combinada a um apoio psicológico melhora o quadro consideralvelmente”, diz. Na rede pública, porém, não há o hormônio para a reposição.

L., de 54 anos, teve a vida transformada após o diagnóstico da andropausa e o início do tratamento. A cada três meses, e depois de dosar os níveis da testosterona no organismo, ele recorre às injeções prescritas pelo médico. O olhar atento de seu urologista, entretanto, foi essencial para a descoberta do problema, que é subdiagnosticado. L. queixou-se de uma baixa de libido e de um desinteresse e cansaço generalizado para as atividades diárias. “Achei que era depressão, mas quando relatei ao médico ele desconfiou da andropausa e quis dosar meu hormônio, confirmando a suspeita. Dois anos depois do início do tratamento eu me sinto feliz, tenho uma vida normal novamente”, comenta.

COMUM, MAS NÃO NATURAL Estima-se que de 50% a 60% da população masculina tenha problemas com sua sexualidade. A andropausa é só uma das causas. Segundo Corradi, a disfunção erétil também é provocada pelo diabetes, uso de antihipertensivos, obesidade e aterosclerose, o colesterol alto. “Tudo isso provoca rigidez na parede dos vasos sanguíneos, inclusive os do pênis”, explica. A identificação da causa da impotência, se hormonal ou vascular, é determinante na definição do tratamento e pode ser feita com exames clínico e laboratorial. Mas o mais importante, segundo o especialista, é que o homem se conscientize que a disfunção não é algo natural com o envelhecimento, apesar de comum. “É essencial que ele procure o médico para identificar a causa do problema”, alerta.

* A repórter viajou a convite da Bayer

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