Uso de suplementos alimentares na terceira idade é perda de tempo e dinheiro
Segundo cientistas dos EUA, faltam evidências consistentes sobre os benefícios da suplementação durante a velhice. Portanto, invista na atividade física
Isabela de Oliveira - Correio Braziliense
Publicação:16/07/2015 10:00Atualização: 15/07/2015 13:39
Cientistas do Conselho de Pesquisa Médica da Unidade de Epidemiologia da Universidade de Southampton, no Reino Unido, chegaram à conclusão após revisar 17 trabalhos que relacionavam a ingestão de suplementos e a prática de exercícios físicos em homens e mulheres que passaram dos 65 anos. Os efeitos da junção dos dois comportamentos foram tema de várias pesquisas, mas ainda com resultados pouco consistentes, avalia Sian Robinson, responsável pelo novo estudo. “Eles indicam apenas que esses suplementos podem ser uma estratégia potencial para melhorar a condição muscular de pessoas mais velhas. No entanto, as evidências são fracas. Mais pesquisas são necessárias”, diz.
A autora acredita que não há provas suficientes para a recomendação clínica dos produtos. Por outro lado, há um cenário que reforça a necessidade de livrar-se do sedentarismo para manter o bem-estar. O declínio muscular de indivíduos com 40 a 80 anos é estimado em 30% e 50%. A perda da força e da capacidade funcional avança 3% anualmente quando o indivíduo entra na sétima década de vida, o que faz da sarcopenia um problema relevante na terceira idade, visto que também está associada à obesidade, à osteoporose e ao diabetes tipo 2.
Na dúvida, Antônio Cavalcante Souza, 61 anos, prefere cuidar muito bem da alimentação. Ele começou a dar importância ao assunto quando estava pré-diabético e 24kg acima do peso. “Procurei uma nutricionista e mudei tudo. Também comecei a praticar exercícios, como corrida e dança”, conta o corretor de imóveis, que já emagreceu 14 kg. O próximo passo é entrar em uma academia, onde poderá repor a massa magra que já começou a diminuir. “Mas não penso em tomar suplementos. Dizia que nunca tinha tempo, mas o tempo a gente precisa fazer.”
Sondagens específicas
Os resultados de Robinson até mostraram melhora na força muscular quando a ingestão de proteínas ou de aminoácidos — a base de construção dos músculos — foi aliada às atividades físicas. Porém, isso ocorreu em apenas três dos sete estudos eleitos para a investigação. É possível que os efeitos benéficos desse suplemento tenham sido evidentes apenas em participantes deficientes nessas substâncias ou que a fonte e a qualidade delas proporcionem benefícios mais ou menos visíveis. Também há a possibilidade de as dietas saudáveis oferecerem outros micronutrientes e substâncias bioativas que não foram contemplados pela análise.
Einstein Francisco Camargos, diretor científico da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia — seção Distrito Federal (SBGG-DF), explica que essa é uma das grandes dificuldades de compreender a eficiência dos suplementos. “A não ser que esses estudos sejam individualizados, investigando separadamente as substâncias, por exemplo, a leticina da soja ou o licopeno do tomate, não há clareza. Fica igual à história do café: saem pesquisas dizendo que faz bem, outras que faz mal, e ninguém conclui nada”, observa o especialista.
O médico brasileiro ressalta que, embora não haja comprovação científica dos benefícios dos complexos vitamínicos, eles não fazem mal, mesmo quando a pessoa ingere mais do que a quantidade de nutrientes recomendada. “Essa quantidade não faz diferença nem provoca danos. O que sabemos é que vitaminas isoladas podem fazer mal, como a vitamina E, que pode provocar danos cerebrais, ou a vitamina A, que favorece o desenvolvimento de alguns tipos de câncer”, explica.
Prevenção
De todos os suplementos analisados na Universidade de Southampton, a creatina — um aminoácido relacionado à força e à composição muscular — foi o que obteve melhor desempenho entre os idosos. Os pesquisadores detectaram algumas diferenças do efeito da substância entre sexos. Mesmo assim, todos os estudos analisados apontaram benefícios durante o treinamento, permitindo um aumento da força e também da massa livre de gordura.
Os resultados são consistentes com uma pesquisa recente com 357 adultos mais velhos em que foram constatados benefícios do suplemento quando aliado aos exercícios físicos. “Embora os resultados sejam encorajadores, o número de estudos é pequeno e, por isso, é necessário mais trabalho”, adverte Robinson.
Marcos Moreira Barbosa, 55 anos, tenta chegar bem à terceira idade de forma mais natural. O empresário cuida da capacidade física com muito exercício. Além das caminhadas diárias — percorre de 6km a 8km por treino —, deu início às atividades na academia. O empenho, diz, é uma necessidade que surgiu recentemente.
Quando mais novo, Marcos não praticava atividades físicas com frequência nem tampouco se preocupava com o que punha no prato. “A gente não tinha sabedoria tempos atrás. Não conhecíamos o funcionamento das doenças e, por isso, não sabíamos como como evitá-las. Hoje, sabemos que é possível evitar muita coisa praticando esportes e cuidando da alimentação”, pontua. “Para você ter ideia de quão escassa era nossa informação, no passado, era chique fumar.”
Uso com supervisão
“É crescente o número de estudos focados no aumento da massa muscular em idosos. Isso porque, com o avanço da idade, a realização de algumas atividades do dia a dia é cada vez mais difícil — o que acarreta na perda de massa muscular. Outra questão é que os mais velhos apresentam um quadro de resistência anabólica que exige quantidades maiores de proteína para que haja resposta do organismo, e esse aumento coincide justamente com a época da vida em que a ingestão de proteínas é menor. Diante disso, os suplementos alimentares podem ser uma interessante fonte de proteína. Consumir a creatinina, por exemplo, com a orientação médica, pode contribuir para o aumento da massa muscular deles. Para a reposição de sais minerais e uma boa hidratação, também é recomendável o uso de isotônicos durante as atividades. O idoso costuma diminuir a quantidade de água ingerida, desidratando o organismo rapidamente, o que não é bom. Os que praticam atividade física devem fazer de cinco a seis refeições diárias, além de ter uma ingestão de 50% a 55% da dieta na forma de carboidratos, 25% de gorduras e 15% a 20% de proteínas.”
Márcia Andrea de Melo Loureiro, dona da Salutar Alimentos e nutricionista clínica na Life Clínica, em Campinas (SP)
Aos 55 anos, Marcos arrumou tempo para as atividades físicas e a dieta equilibrada: planos de chegar à terceira idade livre dos comprimidos
Saiba mais...
Não adianta evitá-los: os exercícios são a única maneira comprovada de manter a saúde na velhice. De acordo com um estudo publicado recentemente na revista especializada Clinical Interventions in Aging, apostar somente em suplementos alimentares para evitar diminuição de força que vem com a idade é perda de tempo e de dinheiro. Pelo menos por enquanto, manter os músculos em atividade é a forma realmente eficaz de evitar a sarcopenia, como é chamada a queda muscular que começa a se manifestar a partir dos 40 anos.- Excesso do uso de cápsulas de vitaminas e suplementos pode ser prejudicial à saúde
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Cientistas do Conselho de Pesquisa Médica da Unidade de Epidemiologia da Universidade de Southampton, no Reino Unido, chegaram à conclusão após revisar 17 trabalhos que relacionavam a ingestão de suplementos e a prática de exercícios físicos em homens e mulheres que passaram dos 65 anos. Os efeitos da junção dos dois comportamentos foram tema de várias pesquisas, mas ainda com resultados pouco consistentes, avalia Sian Robinson, responsável pelo novo estudo. “Eles indicam apenas que esses suplementos podem ser uma estratégia potencial para melhorar a condição muscular de pessoas mais velhas. No entanto, as evidências são fracas. Mais pesquisas são necessárias”, diz.
A autora acredita que não há provas suficientes para a recomendação clínica dos produtos. Por outro lado, há um cenário que reforça a necessidade de livrar-se do sedentarismo para manter o bem-estar. O declínio muscular de indivíduos com 40 a 80 anos é estimado em 30% e 50%. A perda da força e da capacidade funcional avança 3% anualmente quando o indivíduo entra na sétima década de vida, o que faz da sarcopenia um problema relevante na terceira idade, visto que também está associada à obesidade, à osteoporose e ao diabetes tipo 2.
Na dúvida, Antônio Cavalcante Souza, 61 anos, prefere cuidar muito bem da alimentação. Ele começou a dar importância ao assunto quando estava pré-diabético e 24kg acima do peso. “Procurei uma nutricionista e mudei tudo. Também comecei a praticar exercícios, como corrida e dança”, conta o corretor de imóveis, que já emagreceu 14 kg. O próximo passo é entrar em uma academia, onde poderá repor a massa magra que já começou a diminuir. “Mas não penso em tomar suplementos. Dizia que nunca tinha tempo, mas o tempo a gente precisa fazer.”
Sondagens específicas
Os resultados de Robinson até mostraram melhora na força muscular quando a ingestão de proteínas ou de aminoácidos — a base de construção dos músculos — foi aliada às atividades físicas. Porém, isso ocorreu em apenas três dos sete estudos eleitos para a investigação. É possível que os efeitos benéficos desse suplemento tenham sido evidentes apenas em participantes deficientes nessas substâncias ou que a fonte e a qualidade delas proporcionem benefícios mais ou menos visíveis. Também há a possibilidade de as dietas saudáveis oferecerem outros micronutrientes e substâncias bioativas que não foram contemplados pela análise.
Einstein Francisco Camargos, diretor científico da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia — seção Distrito Federal (SBGG-DF), explica que essa é uma das grandes dificuldades de compreender a eficiência dos suplementos. “A não ser que esses estudos sejam individualizados, investigando separadamente as substâncias, por exemplo, a leticina da soja ou o licopeno do tomate, não há clareza. Fica igual à história do café: saem pesquisas dizendo que faz bem, outras que faz mal, e ninguém conclui nada”, observa o especialista.
O médico brasileiro ressalta que, embora não haja comprovação científica dos benefícios dos complexos vitamínicos, eles não fazem mal, mesmo quando a pessoa ingere mais do que a quantidade de nutrientes recomendada. “Essa quantidade não faz diferença nem provoca danos. O que sabemos é que vitaminas isoladas podem fazer mal, como a vitamina E, que pode provocar danos cerebrais, ou a vitamina A, que favorece o desenvolvimento de alguns tipos de câncer”, explica.
Prevenção
De todos os suplementos analisados na Universidade de Southampton, a creatina — um aminoácido relacionado à força e à composição muscular — foi o que obteve melhor desempenho entre os idosos. Os pesquisadores detectaram algumas diferenças do efeito da substância entre sexos. Mesmo assim, todos os estudos analisados apontaram benefícios durante o treinamento, permitindo um aumento da força e também da massa livre de gordura.
Os resultados são consistentes com uma pesquisa recente com 357 adultos mais velhos em que foram constatados benefícios do suplemento quando aliado aos exercícios físicos. “Embora os resultados sejam encorajadores, o número de estudos é pequeno e, por isso, é necessário mais trabalho”, adverte Robinson.
Marcos Moreira Barbosa, 55 anos, tenta chegar bem à terceira idade de forma mais natural. O empresário cuida da capacidade física com muito exercício. Além das caminhadas diárias — percorre de 6km a 8km por treino —, deu início às atividades na academia. O empenho, diz, é uma necessidade que surgiu recentemente.
Quando mais novo, Marcos não praticava atividades físicas com frequência nem tampouco se preocupava com o que punha no prato. “A gente não tinha sabedoria tempos atrás. Não conhecíamos o funcionamento das doenças e, por isso, não sabíamos como como evitá-las. Hoje, sabemos que é possível evitar muita coisa praticando esportes e cuidando da alimentação”, pontua. “Para você ter ideia de quão escassa era nossa informação, no passado, era chique fumar.”
Uso com supervisão
“É crescente o número de estudos focados no aumento da massa muscular em idosos. Isso porque, com o avanço da idade, a realização de algumas atividades do dia a dia é cada vez mais difícil — o que acarreta na perda de massa muscular. Outra questão é que os mais velhos apresentam um quadro de resistência anabólica que exige quantidades maiores de proteína para que haja resposta do organismo, e esse aumento coincide justamente com a época da vida em que a ingestão de proteínas é menor. Diante disso, os suplementos alimentares podem ser uma interessante fonte de proteína. Consumir a creatinina, por exemplo, com a orientação médica, pode contribuir para o aumento da massa muscular deles. Para a reposição de sais minerais e uma boa hidratação, também é recomendável o uso de isotônicos durante as atividades. O idoso costuma diminuir a quantidade de água ingerida, desidratando o organismo rapidamente, o que não é bom. Os que praticam atividade física devem fazer de cinco a seis refeições diárias, além de ter uma ingestão de 50% a 55% da dieta na forma de carboidratos, 25% de gorduras e 15% a 20% de proteínas.”
Márcia Andrea de Melo Loureiro, dona da Salutar Alimentos e nutricionista clínica na Life Clínica, em Campinas (SP)