ALIMENTAÇÃO »

Ofereça vários alimentos e deixe o bebê provar o que mais gosta; entenda o método BLW

Método desenvolvido por especialista britânica já ganhou adeptos no Brasil

Diminuir Fonte Aumentar Fonte Imprimir Corrigir Notícia Enviar
Renata Rusky - Revista do CB Publicação:01/09/2015 10:00Atualização:01/09/2015 10:23
Isadora adora comer com as próprias mãos e não costuma rejeitar os alimentos (Rodrigo Nunes/Esp. CB/D.A Press)
Isadora adora comer com as próprias mãos e não costuma rejeitar os alimentos
A pequena Isadora tem apenas 1 ano. Aos 4 meses, ela começou a experimentar os primeiros alimentos. Além de oferecer papinhas na colher, a mãe dela, Jessica Pereira, foi orientada a também dar alguns alimentos em pedaços maiores para que a própria criança segurasse, mordesse e explorasse. Ela conta que, no início, tinha certo receio de a filha engasgar, no entanto, as experiências eram sempre bem-sucedidas e ela percebeu que a menina adorava comer com as próprias mãos, independentemente do que fosse — cenoura, maçã. Atualmente, Jessica, não consegue se lembrar de um só alimento que a filha recuse. “Até de limão ela gosta. Não pode ver ninguém comendo nada na rua, que quer também”, brinca. Prevenida, a mãe sempre carrega alguma fruta na bolsa para essas ocasiões.

Sem saber, Jessica estava, pelo menos em alguns momentos, colocando em prática o método de introdução alimentar batizado de BLW pela britânica consultora de saúde Gill Rapley. A sigla vem de baby-led-weaning, que significa, em tradução livre, “desmame guiado pelo bebê”. Entre as coisas que o definem estão o fato de os alimentos serem oferecidos realmente sólidos, em vez de misturados ou amassados como nas papinhas, e o fato de o próprio bebê escolher qual alimento vai pegar, colocar na boca e morder, sem pressão, em vez de ser alimentado com uma colher.

Gill Rapley é autora do livro Baby-led-weaning: o guia essencial para introduzir comidas sólidas e ajudar seu bebê a crescer feliz e como um comedor confiante, ainda sem lançamento no Brasil. Na obra, a especialista admite não se tratar de um conceito completamente novo e reconhece que, ao longo de muitos anos, pais fazem experiências de dar um ou outro alimento na mão da criança, como no caso de Jessica, no entanto, de forma não sistemática.

Ela garante que deixar a criança pequena ter esse contato com cada ingrediente que estaria misturado em uma papinha faz ela estabelecer uma relação melhor com a comida quanto adultos. “Minha experiência como enfermeira na saúde pública me mostrou que muitos problemas de alimentação poderiam ser resolvidos com os bebês sendo autorizados a se alimentarem sozinhos”, conta Gill.

Mais vantagens
  • Tocar na comida é a primeira lição de ciências do bebê — com isso, ele aprende o que pode ser amassado, por exemplo. Pedagogos reconhecem o valor da brincadeira para crianças, pois a oportunidade oferece experiências com texturas que são diferentes da maioria dos brinquedos.
  • Ser autorizados a se alimentar sozinha, com as próprias mãos, faz com que a criança desenvolva independência e autoconfiança.
  • Comendo sozinho, o bebê decide o que, em que velocidade e quantidade ele vai ingerir. Quando outra pessoa oferece o alimento, é fácil que o apetite natural seja disfarçado. É possível alimentá-lo em excesso, o que pode virar um hábito quando adulto.
  • Se o bebê pode tocar na comida antes de ingeri-la, ele conecta o sabor de cada alimento à aparência dele.
  • A criança que come sozinha aceita uma variedade maior de frutas e verduras.
  • Deixar que o bebê mantenha o foco na brincadeira e na exploração, em vez de a atenção ser apenas no ato de comer, faz com que a transição para alimentos sólidos seja mais natural. Isso porque o que motiva o bebê é a curiosidade, não a fome.

Desenvolvimento bucal
A fonoaudióloga Lygia Mattos, 35 anos, brinca que, por ter tido a primeira filha já na casa dos 30 anos, pesquisa sobre tudo. Quando estava grávida, sobre o parto; depois, sobre amamentação; e, finalmente, sobre alimentação de bebês. Foi assim que acabou descobrindo o BLW. A formação acadêmica foi importante na decisão de aderir ao método com a filha, Heloísa, 10 meses, já que a prática ajuda no desenvolvimento da fala. “Ela já repete algumas palavras, como papai”, conta Lygia.

Segundo a Associação Internacional de Crescimento Facial, embora não haja evidência de que as papinhas sejam ruins para o desenvolvimento da mandíbula ou da fala, há evidências de que o desenvolvimento menos completo do maxilar é um fenômeno moderno. O processo começou há cerca de 100 anos, quando os humanos começaram a comer comidas mais macias.

Com 6 meses e alguns dias de vida, Heloísa comeu pela primeira vez uma cenoura. Mesmo sem dentes, conseguia ingerir vários alimentos. “Algumas pessoas viam e comentavam. Não entendiam como podia e eu tinha que dizer que ela dava conta sim”, conta a mãe, Lygia. Quando, finalmente, saíram alguns dentinhos, ela notou que a filha sabia exatamente a função deles.

Para Lygia, a experiência foi e continua sendo muito boa, embora ela reclame da dificuldade de encontrar pediatras que entendam o método e, principalmente, que a ajudem na dieta vegana da filha. De toda forma, a fonoaudióloga conta redobrar os cuidados com a alimentação de Heloísa e relata que a menina nunca ficou doente e está sempre bem-disposta. Não dá pra dizer que a pequena tem frescura. Come tudo, embora tenha seus favoritos — brócolis, cenoura e morango. Nas poucas ocasiões em que Lygia a alimenta com papinha, ela estranha um pouco, mas come.

Catarina, 1 ano, e a irmã, Clarice, 5, se acostumaram a fazer as próprias escolhas: dieta saudável em família  (Rodrigo Nunes/Esp. CB/D.A Press)
Catarina, 1 ano, e a irmã, Clarice, 5, se acostumaram a fazer as próprias escolhas: dieta saudável em família

Revendo a própria alimentação

No BLW, recomenda-se que o bebê se alimente, de preferência, com a família e da mesma comida, o que faz com que todos tenham que seguir as regras da dieta do pequeno. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) sugere que não seja usado sal no preparo e que não se deve utilizar temperos e caldos industrializados, por exemplo, o que pode ser desagradável para algumas pessoas. Além disso, a dieta deve ser bem variada. A isso, Lygia não conseguiu se adaptar, pois procura dar absolutamente todo tipo de vegetais para a filha, mas admite que há algumas coisas que ela e o marido não gostam.

A pediatra neonatologista pela SBP Vânia Gato Medeiros, no entanto, deixa claro que isso não afeta tanto os benefícios do método. Ainda assim, segundo ela, o bebê aprende muita coisa por repetição, então, observar os pais comerem enquanto ele próprio come é uma boa opção. Além disso, trata-se de uma forma da família rever a própria dieta e, quem sabe, melhorá-la. Foi o que aconteceu com Deborah Bracarense. Como ela queria mesmo que as refeições fossem conjuntas, precisou adaptar a alimentação da casa. Apesar de manter uma dieta saudável, o método de preparo dos alimentos passou por mudanças. “Nós precisamos diminuir o sal e o óleo”, exemplifica.

Deborah usou o método BLW com a filha de 5 anos, Clarice, e, agora, está repetindo com a mais nova, Catarina, 1. A diferença nas duas experiências é o conhecimento. Com a Clarice, foi tudo na intuição, já com Catarina, além do que aprendeu na prática com a filha mais velha, ainda consegue muita informação na internet. Um dos motivos principais que a levou a optar pelo método foi observar crianças que “não gostavam de nada”. Se a ideia era fazer com que as meninas se alimentassem bem, a tarefa deu resultado. A mãe conta que Clarice costuma roubar cenouras da geladeira.

As duas meninas gostam de quase tudo. Quando tenta se lembrar de algo que rejeitaram, a mãe precisa refletir um pouco: batata-baroa. O fato de ela oferecer os diversos alimentos separados tornou possível identificar exatamente aquilo que as pequenas não gostam. Elas isolaram apenas a batata-baroa, em vez de rejeitar toda a comida. Mais um ponto para o BLW.

Engasgos
Segundo Vânia Gato, embora haja uma procura grande por informações sobre o BLW, alguns fatores podem desestimular os pais. Os principais problemas, no caso, são a bagunça causada e o medo que o bebê engasgue. Quanto à sujeira, a pediatra garante que, por incrível que pareça, o bebê aprende a não fazer bagunça mais rapidamente do que parece; quanto aos engasgos, ela explica que, com a colher, os acidentes costumam acontecer com mais frequência.

De acordo com a especialista, muitas vezes em que se tem a impressão de que o bebê se engasgou, ele, na realidade, está apenas tendo o reflexo de tirar a comida da parte de trás da língua e empurrá-la para a frente.  Dessa forma, é mais fácil ter problemas com a papinha, já que são os adultos que colocam o alimento na boca da criança e ele pode ir para o lugar errado.

Como fazer

  • O bebê deve estar sempre apoiado na posição vertical. Com isso, aquilo que ele não consegue ou não quer engolir cai da boca.
  • Os horários das refeições não precisam coincidir com os horários das mamadas. Pensar nas duas atividades separadamente permite uma experiência melhor para pais e bebês.
  • Não é necessário cortar a comida em pedaços que caibam na boca. Na verdade, isso vai fazer com que seja mais difícil para o pequeno lidar com a comida.
  • O tamanho das porções deve ser medido pelo tamanho da palma do bebê, com um fator adicional importante: os pequenos não conseguem abrir o punho para soltar as coisas. Os melhores alimentos, portanto, são aqueles com haste, como brócolis.
  • O arroz pode ser preparado no estilo japonês, com os grãos mais grudados.

COMENTÁRIOS

Os comentários são de responsabilidade exclusiva dos autores.