Pesquisa mineira ajuda a mapear a dengue no Brasil
Inquérito nacional coleta sangue de voluntários em 63 municípios. Processo liderado por laboratório de Belo Horizonte apontará histórico de contato com os quatro sorotipos do vírus
Bruno Freitas - Estado de Minas
Publicação:14/09/2015 10:27Atualização: 14/09/2015 10:44
“Posteriormente, essa informação será analisada com as obtidas nos demais estudos em curso. Com a ajuda de processos de simulação em modelos dinâmicos computacionais, será possível propor ao Ministério da Saúde qual a melhor estratégia para vacinação, entre as diferentes propostas que estão sendo discutidas. Esse é um projeto de grande relevância para a saúde no Brasil e resultará em grandes benefícios para a população”, afirma Marcelo Burattini, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenador do projeto.
Iniciado no fim de junho, o inquérito tem previsão de ser concluído até o mês que vem. Burattini conta que a discussão sobre a futura introdução da vacina começou por meio dos comitês assessores dos programas nacionais de controle da dengue (PNCD) e do Programa Nacional de Imunizações (PNI) há cerca cinco anos. Desde então, surgiram definições de quais estudos preparatórios deveriam ser conduzidos. “Vários pesquisadores de São Paulo, Goiás e Bahia participam diretamente. Porém, o estudo também prevê o levantamento de pesquisas e publicações sobre a dengue realizados de forma a se permitir a obtenção de um panorama da pesquisa da área no Brasil”, acrescenta Burattini.
A pesquisa de soroprevalência busca, principalmente, conhecer o padrão de exposição da população brasileira ao vírus da dengue, nas diversas regiões, estados e municípios afetados. A análise dos dados permitirá calcular parâmetros descritivos da dinâmica da doença no Brasil, cruciais para a proposição de estratégias de vacinação otimizadas. Os exames, coletados por 65 laboratórios conveniados, são liderados pelo Hermes Pardini, laboratório mineiro que venceu a licitação realizada pela Associação Paulista para o Desenvolvimento de Medicina (SPDM). O projeto prevê a realização de mais de 63 mil testes de dosagem de anticorpos da classe IgG para dengue em voluntários com idade de 1 a 20 anos.
Os exames serão realizados em 26 estados brasileiros – exceto Rio Grande do Sul e Santa Catarina, onde a ocorrência de dengue autóctone é baixa. Entre os critérios de inclusão, os municípios do inquérito devem ter apresentado, em ao menos três dos últimos cinco anos, número de ocorrências de dengue igual ou superior a 300 casos por 100 mil habitantes e serem polos regionais. Algumas cidades foram eliminadas pela proximidade com outro polo. “Os voluntários são recrutados entre os munícipes que comparecerem às unidades de saúde selecionadas ou às unidades laboratoriais”, acrescenta o coordenador do trabalho.
PROCESSO
Depois da coleta, identificação e centrifugação dos materiais biológicos pelos laboratórios conveniados, o Hermes Pardini realizará os exames no Núcleo Técnico Operacional (NTO) da empresa em Vespasiano, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Gerente corporativa de Produção do laboratório, Junia Dias Franco Pérez explica que, como o Hermes Pardini já realiza o exame de sorologia para dengue há alguns anos, a única preparação para a pesquisa foi a compra adicional de reagentes e o aumento de mão de obra especializada.
Antes do processo, as amostras são identificadas com o nome completo do paciente e uma etiqueta de código de barras que permite fazer seu rastreamento. No NTO, são inseridas em um equipamento que faz todo o teste automaticamente – em etapas de pipetagem da amostra, pipetagem de reagente com antígeno marcado com anticorpo, pipetagem de conjugado, etapas de lavagem da amostra e leitura da reação.
Depois da análise, o teste é interfaceado, para que o profissional habilitado avalie o resultado em conjunto com o histórico do paciente e demais exames, para então ser liberado. “É notória a segurança de todo o processo, por meio da automação e informatização. Evitamos, assim, possíveis falhas de identificação da amostra, falhas analíticas, que ocorrem em maior frequência em processos manuais, e falhas de digitação e liberação de resultados”, aponta Junia.
FRENTES DE MAPEAMENTO
Além do inquérito nacional de soroprevalência, outros três estudos apontam melhor estratégia para introdução da vacina no Brasil:
1. Levantamento da morbimortalidade
Reanálise de 5,5 milhões de casos de dengue notificadas ao Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan)
entre 2000 e 2014. Durante o período, foi obtido o registro detalhado de ocorrências da doença no país, com informações como quadro clínico, tempo para atendimento, diferenças regionais, por sorotipo, gênero e idade, formas graves, risco
para hospitalização e óbitos.
2. Estudos da imunidade celular na dengue
Busca entender o papel da imunidade celular na resposta imune à dengue, caracterizando células e receptores envolvidos, dinâmica da resposta de ativação celular, dinâmica da ativação dos mecanismos de resposta inflamatória intracelular e sua participação nas formas clássicas e complicadas da dengue.
3. Análise comparativa de diferentes estratégias vacinais
Pretende analisar diferentes estratégias vacinais em discussão para a definição da melhor estratégia para o Brasil. erá realizada com o auxílio de técnicas de modelagem baseadas em lógica nebulosa.
Saiba mais...
Superando 1 milhão de casos registrados no Brasil apenas no primeiro semestre deste ano – mais do que o dobro do ano passado, de acordo com o Ministério da Saúde –, a dengue é foco de plano nacional que visa elaborar uma estratégia para a possível introdução de uma vacina no calendário oficial de imunizações. Quatro estudos contratados pelo governo federal buscam obter um detalhamento da doença de acordo com as diferentes realidades do território nacional (veja abaixo). Parte desta frente é o inquérito nacional de soroprevalência, liderado por um laboratório mineiro e que obtém amostras de sangue de voluntários de 63 municípios. O objetivo é realizar exames e detectar anticorpos da classe IgG contra o vírus transmitido pelo mosquito Aedes aegypti. O resultado indicará se a pessoa teve contato anterior com um dos quatro sorotipos do vírus: Denv-1, Denv-2, Denv-3 e Denv-4.- Ministro da Saúde diz que vacina contra dengue estará disponível em 2018
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Brasil já registrou mais de 1 milhão de casos da doença somente no primeiro semestre de 2015
“Posteriormente, essa informação será analisada com as obtidas nos demais estudos em curso. Com a ajuda de processos de simulação em modelos dinâmicos computacionais, será possível propor ao Ministério da Saúde qual a melhor estratégia para vacinação, entre as diferentes propostas que estão sendo discutidas. Esse é um projeto de grande relevância para a saúde no Brasil e resultará em grandes benefícios para a população”, afirma Marcelo Burattini, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenador do projeto.
Iniciado no fim de junho, o inquérito tem previsão de ser concluído até o mês que vem. Burattini conta que a discussão sobre a futura introdução da vacina começou por meio dos comitês assessores dos programas nacionais de controle da dengue (PNCD) e do Programa Nacional de Imunizações (PNI) há cerca cinco anos. Desde então, surgiram definições de quais estudos preparatórios deveriam ser conduzidos. “Vários pesquisadores de São Paulo, Goiás e Bahia participam diretamente. Porém, o estudo também prevê o levantamento de pesquisas e publicações sobre a dengue realizados de forma a se permitir a obtenção de um panorama da pesquisa da área no Brasil”, acrescenta Burattini.
A pesquisa de soroprevalência busca, principalmente, conhecer o padrão de exposição da população brasileira ao vírus da dengue, nas diversas regiões, estados e municípios afetados. A análise dos dados permitirá calcular parâmetros descritivos da dinâmica da doença no Brasil, cruciais para a proposição de estratégias de vacinação otimizadas. Os exames, coletados por 65 laboratórios conveniados, são liderados pelo Hermes Pardini, laboratório mineiro que venceu a licitação realizada pela Associação Paulista para o Desenvolvimento de Medicina (SPDM). O projeto prevê a realização de mais de 63 mil testes de dosagem de anticorpos da classe IgG para dengue em voluntários com idade de 1 a 20 anos.
Os exames serão realizados em 26 estados brasileiros – exceto Rio Grande do Sul e Santa Catarina, onde a ocorrência de dengue autóctone é baixa. Entre os critérios de inclusão, os municípios do inquérito devem ter apresentado, em ao menos três dos últimos cinco anos, número de ocorrências de dengue igual ou superior a 300 casos por 100 mil habitantes e serem polos regionais. Algumas cidades foram eliminadas pela proximidade com outro polo. “Os voluntários são recrutados entre os munícipes que comparecerem às unidades de saúde selecionadas ou às unidades laboratoriais”, acrescenta o coordenador do trabalho.
Empresa mineira Hermes Pardini fará todo o processamento dos exames, com sistema automatizado
PROCESSO
Depois da coleta, identificação e centrifugação dos materiais biológicos pelos laboratórios conveniados, o Hermes Pardini realizará os exames no Núcleo Técnico Operacional (NTO) da empresa em Vespasiano, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Gerente corporativa de Produção do laboratório, Junia Dias Franco Pérez explica que, como o Hermes Pardini já realiza o exame de sorologia para dengue há alguns anos, a única preparação para a pesquisa foi a compra adicional de reagentes e o aumento de mão de obra especializada.
Antes do processo, as amostras são identificadas com o nome completo do paciente e uma etiqueta de código de barras que permite fazer seu rastreamento. No NTO, são inseridas em um equipamento que faz todo o teste automaticamente – em etapas de pipetagem da amostra, pipetagem de reagente com antígeno marcado com anticorpo, pipetagem de conjugado, etapas de lavagem da amostra e leitura da reação.
Depois da análise, o teste é interfaceado, para que o profissional habilitado avalie o resultado em conjunto com o histórico do paciente e demais exames, para então ser liberado. “É notória a segurança de todo o processo, por meio da automação e informatização. Evitamos, assim, possíveis falhas de identificação da amostra, falhas analíticas, que ocorrem em maior frequência em processos manuais, e falhas de digitação e liberação de resultados”, aponta Junia.
FRENTES DE MAPEAMENTO
Além do inquérito nacional de soroprevalência, outros três estudos apontam melhor estratégia para introdução da vacina no Brasil:
1. Levantamento da morbimortalidade
Reanálise de 5,5 milhões de casos de dengue notificadas ao Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan)
entre 2000 e 2014. Durante o período, foi obtido o registro detalhado de ocorrências da doença no país, com informações como quadro clínico, tempo para atendimento, diferenças regionais, por sorotipo, gênero e idade, formas graves, risco
para hospitalização e óbitos.
2. Estudos da imunidade celular na dengue
Busca entender o papel da imunidade celular na resposta imune à dengue, caracterizando células e receptores envolvidos, dinâmica da resposta de ativação celular, dinâmica da ativação dos mecanismos de resposta inflamatória intracelular e sua participação nas formas clássicas e complicadas da dengue.
3. Análise comparativa de diferentes estratégias vacinais
Pretende analisar diferentes estratégias vacinais em discussão para a definição da melhor estratégia para o Brasil. erá realizada com o auxílio de técnicas de modelagem baseadas em lógica nebulosa.