Setembro Amarelo alerta para a prevenção do suicídio
Suicídio entre jovens tem aumentado nos últimos 25 anos. Sentimentos deslocados podem causar depressão e pais precisam ser mais presentes na vida dos filhos e reavaliar comportamentos
Ludymilla Sá
Publicação:22/09/2015 10:00Atualização: 22/09/2015 10:09
Há quem diga que setembro é o mês da renovação. É quando o inverno dá boas-vindas à primavera, as ruas ficam mais floridas e a beleza da natureza, como num passe de mágica, espalha um clima de esperança pelo ar. Talvez por isso tenha sido escolhido para ser época de reflexão sobre um problema grave, que tem acometido cada vez mais os jovens no mundo inteiro: o suicídio.
No Brasil, esse tipo de morte entre adolescentes e jovens aumentou 30% nos últimos 25 anos. O crescimento é maior que o da média da população, segundo especialistas, reforçando a importância da reflexão sobre o tema, e, especialmente, a importância da mudança de postura dos pais em relação aos filhos.
Para a especialista, atualmente, há uma ausência nos pais de genuíno interesse pelo outro. “Hoje, eles fazem um interrogatório, uma espécie de checklist. Se o interesse fosse genuíno, ele sentaria, olharia no olho e nem precisaria perguntar, saberia o que estaria ocorrendo, se estivesse, de fato, conectado com o filho.”
PEDIDO DE AJUDA
E os resultados dessa ausência de conectividade são perigosos. “Cada emoção contida pelo jovem pode gerar sintomas consequentes da ansiedade, depressão, desmotivação, tristeza e ausência de propósito. Os jovens têm ainda pouca habilidade para lidar com as oscilações, pois a variedade de emoções, sensações e objetivos é desafiadora. E alguém sobrecarregado, independentemente da idade, pode comunicar-se com uma depressão, uma das formas de ser ouvido e ouvir o próprio corpo. Hoje, boa parte tem síndrome do pânico, depressão, insônia e outros comportamentos que mostram as emoções deslocadas”, explica Márcia, acrescentando que 21% dos jovens de 14 a 25 anos apresentam depressão e 5% já tentaram suicídio.
A tentativa, inclusive, é considerada pela psicóloga como um pedido de ajuda. “Infelizmente, quem tomou a decisão de se suicidar faz um planejamento e o realiza, não tenta. Quem quer acabar com a própria vida não faz tentativas. O jovem que faz tentativa está fazendo um pedido de ajuda. Cabe aos pais ou a quem convive com esse jovem observar e perceber que alguma coisa está fora do lugar. A proximidade, o amor e o diálogo são os melhores antídotos contra esse tipo de problema.”
Humberto Correa da Silva Filho - presidente da Associação Brasileira para o Estudo e a Prevenção do Suicídio (Abeps), vice-presidente da Associação Latino-americana de Suicidologia e professor titular de psiquiatria da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
O suicídio é um problema de saúde pública?
“É um problema de saúde pública. Para se ter uma ideia, são registradas 800 mil mortes por suicídio no mundo todo ano, o número é maior do que em todas as guerras e homicídios no mundo anualmente. Segundo o DATASUS, em 2012, foram cerca de 12 mil óbitos do tipo no Brasil, e esse número é subestimado. Acredita-se que seja cerca de 30% a mais que isso.”
O que esses números representam?
“Primeiramente, demonstram um número de mortes prematuras, abrangendo muitos jovens em idade produtiva. Esse é o primeiro grupo de pessoas que cometem suicídio. O segundo grupo é o de idosos. E causa um impacto emocional considerável em pessoas próximas. Estima-se que cinco pessoas em volta sejam impactadas, causando mais depressão ou risco de depressão. O impacto emocional causado é muito maior que quando se perde alguém por outra razão. Os sentimentos são muitos fortes e esse luto fica difícil para as pessoas próximas. Outro ponto ainda mais importante que reforça que o suicídio é uma questão de saúde pública é que estudos recentes apontam que 100% das pessoas que se mataram tinham alguma doença psiquiátrica. E a mais frequente é a depressão. Isso faz com que, potencialmente, o suicídio seja prevenível.”
Por que o assunto é considerado tabu, chegando ao ponto de se criar uma campanha de conscientização?
“No início do cristianismo, quando a Igreja Católica foi organizada, o suicídio foi considerado o pior dos pecados. E isso foi incorporado à mente e aos corações das pessoas. Depois, foi criminalizado. Na Inglaterra, até 1961, quem tentasse suicídio respondia a um processo criminal. Na Índia, até poucas semanas atrás, o indivíduo também respondia a um processo criminal. Foi impregnado de geração em geração. Por isso, nossa obrigação, hoje, é falar cada vez mais sobre o assunto. O suicídio não é uma questão moral, nem religiosa, é um problema de saúde mental.”
No Brasil, esse tipo de morte entre adolescentes e jovens aumentou 30% nos últimos 25 anos. O crescimento é maior que o da média da população, segundo especialistas, reforçando a importância da reflexão sobre o tema, e, especialmente, a importância da mudança de postura dos pais em relação aos filhos.
Saiba mais...
Segundo a psicóloga da Universidade de Guarulhos e diretora do Instituto de Thalentos, em São Paulo, Márcia Dolores Resende, a educação emocional é uma forma de levar equilíbrio para a vida de uma pessoa. Quanto mais as emoções são compreendidas, respeitadas e direcionadas, melhor será a vida. “Mas, hoje em dia, vivemos um cenário completamente diferente. Os pais têm com os filhos uma relação business, ou seja, conduzem as ações em casa como se estivessem no mundo corporativo. Eles os tratam como se fossem uma extensão do mundo corporativo. Habitualmente, a sociedade tem uma forma que acredita ser a mais adequada de ensinar a evitar o contato com a emoção. Assim, existe a ilusão de que uma pessoa está se preservando, ocultando com muito afinco o que sente.”Para a especialista, atualmente, há uma ausência nos pais de genuíno interesse pelo outro. “Hoje, eles fazem um interrogatório, uma espécie de checklist. Se o interesse fosse genuíno, ele sentaria, olharia no olho e nem precisaria perguntar, saberia o que estaria ocorrendo, se estivesse, de fato, conectado com o filho.”
PEDIDO DE AJUDA
E os resultados dessa ausência de conectividade são perigosos. “Cada emoção contida pelo jovem pode gerar sintomas consequentes da ansiedade, depressão, desmotivação, tristeza e ausência de propósito. Os jovens têm ainda pouca habilidade para lidar com as oscilações, pois a variedade de emoções, sensações e objetivos é desafiadora. E alguém sobrecarregado, independentemente da idade, pode comunicar-se com uma depressão, uma das formas de ser ouvido e ouvir o próprio corpo. Hoje, boa parte tem síndrome do pânico, depressão, insônia e outros comportamentos que mostram as emoções deslocadas”, explica Márcia, acrescentando que 21% dos jovens de 14 a 25 anos apresentam depressão e 5% já tentaram suicídio.
A tentativa, inclusive, é considerada pela psicóloga como um pedido de ajuda. “Infelizmente, quem tomou a decisão de se suicidar faz um planejamento e o realiza, não tenta. Quem quer acabar com a própria vida não faz tentativas. O jovem que faz tentativa está fazendo um pedido de ajuda. Cabe aos pais ou a quem convive com esse jovem observar e perceber que alguma coisa está fora do lugar. A proximidade, o amor e o diálogo são os melhores antídotos contra esse tipo de problema.”
Humberto Correa da Silva Filho - presidente da Associação Brasileira para o Estudo e a Prevenção do Suicídio (Abeps), vice-presidente da Associação Latino-americana de Suicidologia e professor titular de psiquiatria da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
O suicídio é um problema de saúde pública?
“É um problema de saúde pública. Para se ter uma ideia, são registradas 800 mil mortes por suicídio no mundo todo ano, o número é maior do que em todas as guerras e homicídios no mundo anualmente. Segundo o DATASUS, em 2012, foram cerca de 12 mil óbitos do tipo no Brasil, e esse número é subestimado. Acredita-se que seja cerca de 30% a mais que isso.”
O que esses números representam?
“Primeiramente, demonstram um número de mortes prematuras, abrangendo muitos jovens em idade produtiva. Esse é o primeiro grupo de pessoas que cometem suicídio. O segundo grupo é o de idosos. E causa um impacto emocional considerável em pessoas próximas. Estima-se que cinco pessoas em volta sejam impactadas, causando mais depressão ou risco de depressão. O impacto emocional causado é muito maior que quando se perde alguém por outra razão. Os sentimentos são muitos fortes e esse luto fica difícil para as pessoas próximas. Outro ponto ainda mais importante que reforça que o suicídio é uma questão de saúde pública é que estudos recentes apontam que 100% das pessoas que se mataram tinham alguma doença psiquiátrica. E a mais frequente é a depressão. Isso faz com que, potencialmente, o suicídio seja prevenível.”
Por que o assunto é considerado tabu, chegando ao ponto de se criar uma campanha de conscientização?
“No início do cristianismo, quando a Igreja Católica foi organizada, o suicídio foi considerado o pior dos pecados. E isso foi incorporado à mente e aos corações das pessoas. Depois, foi criminalizado. Na Inglaterra, até 1961, quem tentasse suicídio respondia a um processo criminal. Na Índia, até poucas semanas atrás, o indivíduo também respondia a um processo criminal. Foi impregnado de geração em geração. Por isso, nossa obrigação, hoje, é falar cada vez mais sobre o assunto. O suicídio não é uma questão moral, nem religiosa, é um problema de saúde mental.”