Ácido hialurônico melhora dores nas articulações da boca

Técnica da ortopedia e da reumatologia está sendo usada pela odontologia com bons resultados

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Augusto Pio - Estado de Minas Publicação:23/10/2015 10:09Atualização:27/10/2015 11:45
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As disfunções temporomandibulares (DTMs) atrapalham a vida de muita gente em todo o mundo. Elas são alterações funcionais que comprometem a função mastigatória, fala e deglutição e podem se apresentar de várias formas. Para se ter ideia, se a pessoa sente dor quando abre e fecha a boca, tem dificuldades na mastigação de determinados alimentos ou escuta estalos na hora de abrir a boca, e se essas alterações estão associadas à presença de dor, o melhor mesmo é procurar um profissional da área. É importante lembrar que a dor durante a mastigação é um sintoma clássico de DTM, assim como a limitação da abertura da boca.

Eduardo Januzzi, cirurgião-dentista: 'É preciso entender que disfunção temporomandibular não é sinônimo de disfunção da articulação temporomandibular ou problema de mordida ou bruxismo (Cristina Horta/EM/DA. Press)
Eduardo Januzzi, cirurgião-dentista: "É preciso entender que disfunção temporomandibular não é sinônimo de disfunção da articulação temporomandibular ou problema de mordida ou bruxismo
Recentemente, especialistas se reuniram no Hospital Mater Dei, em Belo Horizonte, para um curso sobre a técnica de viscossuplementação, que consiste em injetar ácido hialurônico na articulação temporomandibular (ATM). Segundo os organizadores do curso, o cirurgião-dentista Eduardo Januzzi e o fisioterapeuta Rafael Tardin, a dor orofacial (conhecida pela sigla DOF, de dor na região da cabeça e do pescoço) e a DTM são muito comuns na população mundial e disseminar informações sobre essas patologias e novas técnicas para minimizá-las faz com que indivíduos que têm esses problemas possam receber diagnóstico mais rápido e ter acesso a um plano de tratamento mais eficaz.

Januzzi esclarece que, atualmente, é discutido o emprego de um procedimento específico: a viscossuplementação das ATMs. “O procedimento é destinado especificamente a alguns tipos de DTMs e não deve ser considerado como uma moderna panaceia. Seu usopor profissional qualificado vai, com toda a certeza, trazer benefício para significativa parcela de pacientes com problemas da ATM.”

A viscossuplementação é uma técnica usada pela ortopedia e pela reumatologia para dores em outras articulações do corpo, como mãos e joelhos. “Recentemente, realizamos uma revisão da literatura, abordando essa alternativa e concluímos que a técnica aplicada às DTMs é eficaz, o que vem merecendo, cada vez mais, atenção da comunidade odontológica, médica de e científica”, acrescenta.

A viscossuplementação da ATM com o derivado do ácido hialurônico é minimamente invasiva. O ácido é infiltrado na articulação com o objetivo de controlar a dor, melhorando a função articular, além de controlar processos degenerativos (osteoartrose/osteoartrite), resgatando, assim, o sistema de lubrificação dessa região. Segundo o cirurgião-dentista, o ácido atua melhorando a qualidade e a quantidade do líquido sinivial, que nutre e lubrifica as articulações do rosto.

A aplicação dura aproximadamente 15 minutos e, segundo especialistas, é indolor, pois é usada uma anestesia tópica. Os efeitos após a aplicação podem ser uma dor leve local e sensação de edema, mas que podem desaparecer em até 30 minutos depois do procedimento. Segundo Eduardo Januzzi, o protocolo para tratamento com viscossuplementação sugere uma aplicação a cada quatro semanas, em média. Dependendo do caso, o tratamento completo inclui de três a quatro sessões, acompanhadas com exercícios de fisioterapia. Os valores vão depender de cada caso, pois cada paciente pode apresentar situações distintas do problema.

“A técnica por ser minimamente invasiva, pouco traumática, já que usamos seringas e agulhas muito delicadas. Não se fazem cortes, além de não serem necessários internações e procedimentos cirúrgicos, como no caso da artroscopia e, algumas vezes, a artrocentese, que é a lavagem da articulação e que necessita de anestesia geral ou pelo menos sedação do paciente”, explica o cirurgião-dentista. O fisioterapeuta Rafael Tardin mostra o ponto onde ocorre os problemas (Jair Amaral/EM/D.A Press) O fisioterapeuta Rafael Tardin mostra o ponto onde ocorre os problemas

EQUIPE MULTIDISCIPLINAR Para tratar a DTM, é feita uma abordagem multidisciplinar do caso. É formada uma equipe com cirurgião-dentista, fisioterapeuta, farmacologista, radiologistas, psiquiatra, psicólogo e neurologista. Eventualmente, outros especialistas são acionados. “Isso imprime qualidade e velocidade à recuperação funcional, principalmente nos casos mais críticos e crônicos”, acrescentam os especialistas.

Jair Amaral/EM/D.A Press (O fisioterapeuta Rafael Tardin mostra o ponto onde ocorrem os problemas)
Jair Amaral/EM/D.A Press
O fisioterapeuta Rafael Tardin esclarece que não existe um fator causal específico da DTM. “Existem vários fatores de risco, como traumas diretos na face (acidentes); bruxismo do sono (causado por estresse, distúrbios do sono, ansiedade e depressão, por exemplo); doenças reumáticas (artrites sistêmicas, que podem afetar secundariamente a articulação) ou degenerativas (osteoporose e osteoartrite); alterações da função da ATM, como deslocamento do disco, que causa os estalos; predisposição genética; e, algumas vezes, alterações importantes da mordida, que podem sobrecarregar o sistema mastigatório e gerar dores nessa região”, enumera.

Na visão dos odontologistas, quanto mais precocemente identificados os distúrbios, melhor o prognóstico do tratamento. Além da viscossuplementação, há outras modalidades terapêuticas amplamente disseminadas para tratar as DTMs, como o uso de medicamentos (anti-inflamatórios, relaxantes musculares, antidepressivos específicos para o controle da dor), fisioterapia, placas de mordida e acupuntura, entre outros. “É preciso entender que DTM não é sinônimo de disfunção da ATM ou problema de mordida ou bruxismo.

Atualmente, as disfunções são mais bem entendidas como um grupo de afecções de natureza musculoesquelética, que podem envolver tanto as articulações temporomandibulares, quanto a musculatura mastigatória, embora elas, frequentemente, se apresentem juntas”, esclarece Januzzi. “Podem ainda ter várias causas e estar associadas a outras dores que ocorrem na face, cabeça e pescoço, como as dores de cabeça. Portanto, o profissional que atende esse paciente deve ter conhecimento e formação específicos para realizar um minucioso exame e chegar a um diagnóstico antes de qualquer tratamento.”

MELHOR PROGNÓSTICO Para David Sanz López, licenciado em medicina na Espanha e cirurgião maxilofacial do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, em Portugal, “ estamos a assistir hoje à introdução de protocolos de trabalho novos, nomeadamente com a crescente introdução da cirurgia pouco invasiva que melhora a qualidade assistencial e o prognóstico dos nossos doentes”. “A introdução dessas técnicas, com a possibilidade de infiltrar moléculas terapêuticas intra-articularmente e os protocolos na abordagem primária, estão trazendo grandes vantagens para os pacientes. A artrocentese e a artroscopia (cirurgia com microcâmara, que transmite a imagem dentro da articulação para um monitor e o profissional consegue visualizar a situação no local) também são interessantes”, aponta. Sobre outros tratamentos Sanz López, que preside a Sociedade Portuguesa de Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial, ressalta que se têm obtido bons resultados com a injeção de plasma rico em fatores de crescimento. “É um assunto muito interessante, mas ainda são precisos mais estudos."

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