Cientistas criam 'fone de ouvido' vaginal para feto escutar música; você usaria?
O dispositivo intravaginal desenvolvido na Espanha permite reproduzir música sem distorção para os bebês. O Babypod e é vendido pela internet e não é unanimidade entre os especialistas
Redação - Saúde Plena
Correio Braziliense
Publicação:10/11/2015 15:01Atualização: 10/11/2015 15:17
A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) divulgou na semana passada em seu perfil no Facebook um produto desenvolvido por cientistas espanhóis que permite que os bebês escutem música sem nenhuma distorção ainda dentro da barriga de suas mães. O dispositivo intravaginal Babypod é vendido pela internet. Texto do site onde o ‘fone de ouvido vaginal’ é comercializado afirma que o aparelho demonstrou estimular a vocalização do bebê antes do seu nascimento.
Não faltam estudos que já comprovaram que as experiências do bebê ainda dentro do útero vão influenciar a vida da criança depois do nascimento. Fato é que a publicação da Febrasgo já soma mais de 714 compartilhamentos. Nos comentários, grande parte das pessoas acharam a invenção “desnecessária” e “bizarra”. “Dentro do útero o bebê só precisa ouvir o som do coração da mãe. Um absurdo isso”, escreveu Natália Lima. Outra usuária da rede social, Dina de Oliveria postou: “Não me espanta inventarem um treco desses, me espantarei se souber que alguém comprou e usou”. Clara Assumpção aproveitou para fazer uma crítica: “Fala sério, começa com música e depois curso de inglês”.
O estudo
Os pesquisadores partiram da ideia de que a única forma de um bebê em gestação ouvir músicas da mesma maneira que uma pessoa fora do ambiente uterino seria por via vaginal. Isso por que as ondas sonoras da música ambiente ou emitida por fones de ouvido colocados sobre a barriga da mãe precisam atravessar diversas camadas - pele, o tecido adiposo, os músculos e parede uterina -, o que faz com que o som chegue à criança praticamente inaudível.
O Babypod foi testado em 100 grávidas voluntárias, com gestações entre 14 e 39 semanas e os pesquisadores garantem que o invento não apresenta riscos para a gravidez, pois é feito com um material de silicone hipoalergênico e não possui bateria, bluetooth ou radiofrequência. No entanto, é contraindicado em casos de dilatação do colo uterino ou quando estão ocorrendo as contrações do parto, além de situações de infecção vaginal e de gestação de alto risco.
Nos testes, os cientistas compararam as reações do feto quando a música era transmitida por fones colocados na barriga e quando era emitida por via vaginal e que, inclusive foram usados no vídeo de divulgação do produto.
Com o Babypod, os bebês reagiam à música, fazendo movimentos com a boca e a língua. Os inventores supõem serem sinais de vocalização e estimulação à linguagem e à comunicação. “O som que chega do exterior quase não é escutado pelo bebê. Ele o percebe como um sussurro e de forma distorcida porque os tecidos abdominais e do interior da mãe absorvem as ondas sonoras”, explicou a especialista em ginecologia Marisa López-Teijón, principal autora da pesquisa.
O professor de música da Universidade de Brasília (UnB) Ricardo Freire complementa a explicação para o caminho das ondas sonoras até o feto: “No líquido amniótico, os sons graves são amplificados. Com isso, ocorre uma distorção do som”. Ele - que também fez uma pesquisa com musicalização fetal no Hospital da Universidade de Brasília (HUB) em 2006 - ressalta que o estímulo sonoro mais poderoso e que mais acalma o bebê é a voz materna enquanto ela canta.
Ressalvas
A neonatologista e especialista em saúde da mulher e do bebê pela Sorbonne Universidade de Paris, na França, Laurista Corrêa, avalia que o aparelho pode ser estressante para o feto. “Não vejo os benefícios desse aparelho, que me parece invasivo e arriscado. É comprovado que a mãe conversar com o bebê ou alguém tocar violão para ele, por exemplo, são bons estímulos, tranquilizam os batimentos cardíacos do feto. É essencial que essa tecnologia seja bastante estudada antes de ter a comercialização massificada.”
Corrêa lembra uma pesquisa semelhante, que testava a audição do feto a partir de um estímulo controverso, abolido tempos depois pela comunidade científica. “Eles colocavam uma buzina na vagina para testar as reações do bebê. Era absurdo, devido ao estresse num período de desenvolvimento importante, que pode trazer prejuízos graves para a vida da criança.”
Os inventores asseguram, no entanto, que o dispositivo não traz prejuízos emocionais ou ao sistema auditivo do bebê. “A música que chega ao feto através do Babypod é emitida a 54 decibéis. É como se falássemos com o bebê numa conversa em tom baixo. Consultamos otorrinos e outros especialistas para realizar o estudo, e eles corroboraram esse ponto”, ressalta López-Teijón.
Entre os benefícios da musicalização intravaginal, a pesquisadora destaca estímulos neurológicos ligados à comunicação e a possibilidade de reduzir o estresse da mãe em períodos nos quais ela não nota os movimentos do feto. “Com a música, ele reage e se mexe de forma que ela perceba”.
A recomendação dos pesquisadores é que o aparelho seja usado entre 10 e 20 minutos de música para o bebê durante a manhã e à noite.
Saiba mais...
O resultado da invenção foi publicado na revista científica britânica Ultrasound. Introduzido na vagina da mãe, o aparelho possui um alto-falante como o de um fone de ouvido e uma saída para plugar em reprodutores de música (como celulares, aparelhos de som ou tablets). Além disso, ele vem com entrada para conectar fones de ouvido e possibilitar que mais pessoas escutem a música ao mesmo tempo que a criança.Não faltam estudos que já comprovaram que as experiências do bebê ainda dentro do útero vão influenciar a vida da criança depois do nascimento. Fato é que a publicação da Febrasgo já soma mais de 714 compartilhamentos. Nos comentários, grande parte das pessoas acharam a invenção “desnecessária” e “bizarra”. “Dentro do útero o bebê só precisa ouvir o som do coração da mãe. Um absurdo isso”, escreveu Natália Lima. Outra usuária da rede social, Dina de Oliveria postou: “Não me espanta inventarem um treco desses, me espantarei se souber que alguém comprou e usou”. Clara Assumpção aproveitou para fazer uma crítica: “Fala sério, começa com música e depois curso de inglês”.
O estudo
Os pesquisadores partiram da ideia de que a única forma de um bebê em gestação ouvir músicas da mesma maneira que uma pessoa fora do ambiente uterino seria por via vaginal. Isso por que as ondas sonoras da música ambiente ou emitida por fones de ouvido colocados sobre a barriga da mãe precisam atravessar diversas camadas - pele, o tecido adiposo, os músculos e parede uterina -, o que faz com que o som chegue à criança praticamente inaudível.
O Babypod foi testado em 100 grávidas voluntárias, com gestações entre 14 e 39 semanas e os pesquisadores garantem que o invento não apresenta riscos para a gravidez, pois é feito com um material de silicone hipoalergênico e não possui bateria, bluetooth ou radiofrequência. No entanto, é contraindicado em casos de dilatação do colo uterino ou quando estão ocorrendo as contrações do parto, além de situações de infecção vaginal e de gestação de alto risco.
Nos testes, os cientistas compararam as reações do feto quando a música era transmitida por fones colocados na barriga e quando era emitida por via vaginal e que, inclusive foram usados no vídeo de divulgação do produto.
Com o Babypod, os bebês reagiam à música, fazendo movimentos com a boca e a língua. Os inventores supõem serem sinais de vocalização e estimulação à linguagem e à comunicação. “O som que chega do exterior quase não é escutado pelo bebê. Ele o percebe como um sussurro e de forma distorcida porque os tecidos abdominais e do interior da mãe absorvem as ondas sonoras”, explicou a especialista em ginecologia Marisa López-Teijón, principal autora da pesquisa.
O professor de música da Universidade de Brasília (UnB) Ricardo Freire complementa a explicação para o caminho das ondas sonoras até o feto: “No líquido amniótico, os sons graves são amplificados. Com isso, ocorre uma distorção do som”. Ele - que também fez uma pesquisa com musicalização fetal no Hospital da Universidade de Brasília (HUB) em 2006 - ressalta que o estímulo sonoro mais poderoso e que mais acalma o bebê é a voz materna enquanto ela canta.
Ressalvas
A neonatologista e especialista em saúde da mulher e do bebê pela Sorbonne Universidade de Paris, na França, Laurista Corrêa, avalia que o aparelho pode ser estressante para o feto. “Não vejo os benefícios desse aparelho, que me parece invasivo e arriscado. É comprovado que a mãe conversar com o bebê ou alguém tocar violão para ele, por exemplo, são bons estímulos, tranquilizam os batimentos cardíacos do feto. É essencial que essa tecnologia seja bastante estudada antes de ter a comercialização massificada.”
Corrêa lembra uma pesquisa semelhante, que testava a audição do feto a partir de um estímulo controverso, abolido tempos depois pela comunidade científica. “Eles colocavam uma buzina na vagina para testar as reações do bebê. Era absurdo, devido ao estresse num período de desenvolvimento importante, que pode trazer prejuízos graves para a vida da criança.”
Os inventores asseguram, no entanto, que o dispositivo não traz prejuízos emocionais ou ao sistema auditivo do bebê. “A música que chega ao feto através do Babypod é emitida a 54 decibéis. É como se falássemos com o bebê numa conversa em tom baixo. Consultamos otorrinos e outros especialistas para realizar o estudo, e eles corroboraram esse ponto”, ressalta López-Teijón.
Entre os benefícios da musicalização intravaginal, a pesquisadora destaca estímulos neurológicos ligados à comunicação e a possibilidade de reduzir o estresse da mãe em períodos nos quais ela não nota os movimentos do feto. “Com a música, ele reage e se mexe de forma que ela perceba”.
A recomendação dos pesquisadores é que o aparelho seja usado entre 10 e 20 minutos de música para o bebê durante a manhã e à noite.