Dispositivo monitora vasos sanguíneos e acusa problemas vasculares pela temperatura do corpo
Sensor criado nos EUA monitora o que ocorre nos vasos sem a realização de exames invasivos
Vilhena Soares - Correio Braziliense
Publicação:12/11/2015 15:00Atualização: 12/11/2015 15:11
A ideia de monitorar o fluxo sanguíneo por meio de um aparelho semelhante a uma tatuagem surgiu durante pesquisa anterior conduzida pela mesma equipe, quando os cientistas criaram sensores eletrônicos finos a fim de mapear a temperatura da superfície da pele. “A principal motivação, naquele caso, era criar um dispositivo que fosse imperceptível ao usuário e facilitasse esse tipo de avaliação”, destacou ao Correio Chad Webb, autor do estudo e pesquisador da Universidade de Illinois.
Durante o desenvolvimento do projeto, os especialistas notaram que a mesma tecnologia poderia ser usada para monitorar a saúde vascular. “Mais tarde, percebemos que um problema similar existe com os sistemas de imagens médicas utilizados para mapear o fluxo de sangue perto da superfície da pele. Eles são extremamente sensíveis ao movimento e exigem que o paciente permaneça completamente imóvel para que os dados sejam obtidos”, explica Webb.
O dispositivo criado para resolver essa limitação é formado por uma película elástica flexível e colado na pele. Grava o movimento de calor por meio dos sensores, sem a necessidade de pressão aplicada externamente. As variações de temperatura são indicadas por alterações de cores da película, funcionando como uma espécie de termômetro colorido. “Qualquer fluxo de sangue perto do dispositivo resulta em mudanças mensuráveis na propagação espacial dos sinais. Com o aparelho, nós conseguimos monitorar essas alterações ao longo do tempo”, diz Webb.
Os autores testaram o equipamento na ponta dos dedos e no antebraços de homens saudáveis e conseguiram medir o fluxo sanguíneo em diferentes vasos. O sucesso dos exames iniciais deixou a equipe otimista quanto ao futuro do projeto. “Mais e mais empresas estão focadas nos desafios associados à construção de eletrônicos vestíveis em escala industrial. O nosso dispositivo fornece um método para a monitorização de um parâmetro de importância crítica para a saúde humana, o fluxo de sangue, com uma construção bem alinhada com a produção eficaz de dispositivos vestíveis em grande escala”, destaca o autor.
Menos internações
Roberto Candia, cardiologista do Laboratório Exame de Brasília, acredita que o dispositivo possa, no futuro, reduzir internações para a observação do fluxo sanguíneo. “Muitas vezes, na clínica, são necessários procedimentos mais invasivos para fazer esse monitoramento. Só assim, conseguimos observar a resposta de um medicamento e saber como anda a pressão arterial de um paciente cardiopata, por exemplo. Com um dispositivo mais simples, essas serão tarefas muito mais fáceis de serem realizadas”, detalha.
Candia destaca que as ferramentas disponíveis para medir o fluxo sanguíneo não têm a mesma praticidade que o dispositivo criado pelos cientistas da Universidade de Illinois. A sensibilidade, por exemplo, deixa a desejar. “Os aparelhos de pressão eletrônicos não possuem a mesma eficácia. Tecnologias como essa nos fornecem uma análise muito mais refinada”, destaca.
Rogério de Moura, cardiologista e chefe do Setor de Cateterismo Cardíaco do Hospital Balbino, no Rio de Janeiro, faz outro comparativo com os procedimentos atuais. Segundo ele, o dispositivo norte-americano utiliza uma metodologia mais simples, sem a necessidade, por exemplo, de emissão da luz para fazer a medição. “Pela temperatura e pela mudança das cores dessa espécie de adesivo, temos um modo mais eficaz e com um sistema menos complicado. Acredito também que qualquer método que ajude pacientes em terapia intensiva e que sirva como um auxiliar ao tratamento é um grande ganho”, destaca o especialista.
Preocupação global
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte do mundo. Em 2008, os óbitos ligados a essas complicações equivaleram a 80% do total registrado no planeta. A estimativa é de que, a cada ano, 17,3 milhões de pessoas percam a vida em função dessas enfermidades. E a previsão é de que o cenário fique ainda pior: a agência das Nações Unidas calcula que o número suba para 23,6 milhões em 15 anos.
Também dentro do corpo
O dispositivo ultrafino para o monitoramento do fluxo sanguíneo é uma esperança para auxiliar no controle e na prevenção de várias enfermidades médicas, como a aterosclerose (o acúmulo de placas de gordura na parede das artérias), a anemia falciforme e o diabetes. A última enfermidade acomete 382 milhões no mundo, cerca de 12 milhões no Brasil. Estima-se que, em 2035, a quantidade de pessoas com o mal metabólico chegue a 471 milhões. Se mal tratado, o diabetes pode levar à cegueira, a complicações renais e a danos neurológicos.
Os pesquisadores da Universidade de Illinois também têm como objetivo incorporar a película em dispositivos implantáveis para que eles possam funcionar diretamente em órgãos internos. Chad Webb, autor do estudo, conta que novas parcerias permitiram a continuidade do estudo. “Nós temos colaborações em andamento com instituições médicas e indústrias ao redor do mundo. Continuamos a aperfeiçoar a utilização desses dispositivos em importantes aplicações práticas.”
Uma das áreas de aperfeiçoamento é dispensar o uso de fios, já que o protótipo carece de auxílio de carregadores. “Temos concentrado esforços para gerar a próxima geração de dispositivos desse tipo com operação completamente sem fio. Além disso, ao modificar os detalhes da técnica, somos capazes de otimizar a capacidade desses aparelhos para que eles possam funcionar em diversas partes do corpo”, explica Webb. (VS)
Glóbulos de foice
Ocorre devido a alterações nos glóbulos vermelhos do sangue, fazendo com que eles adquiram um formato de foice. Com as alterações nas membranas, há o risco maior de rompimento. Os glóbulos vermelhos precisam ter o formato arredondado para que possam circular por todo o corpo, evitando a anemia. A anemia falciforme é genética e, de acordo com a Associação de Anemia Falciforme do Estado de São Paulo, acomete um em cada 380 nascidos vivos.
Saiba mais...
Saber em que velocidade o sangue percorre os vasos do corpo ajuda a monitorar e prevenir crises de cardíacas, além de checar a eficácia de medicamentos. Para simplificar essa tarefa primordial, pesquisadores dos Estados Unidos desenvolveram um dispositivo menos invasivo e mais prático que aparelhos utilizados atualmente. A nova ferramenta funciona por meio de pequenos sensores térmicos metálicos que, ao serem aplicados na pele como um adesivo, conseguem monitorar o fluxo sanguíneo a partir de alterações na temperatura do paciente. O dispositivo, detalhado na revista Science Advances de hoje, foi testado com sucesso em humanos e poderá até ser usado em órgãos internos.A ideia de monitorar o fluxo sanguíneo por meio de um aparelho semelhante a uma tatuagem surgiu durante pesquisa anterior conduzida pela mesma equipe, quando os cientistas criaram sensores eletrônicos finos a fim de mapear a temperatura da superfície da pele. “A principal motivação, naquele caso, era criar um dispositivo que fosse imperceptível ao usuário e facilitasse esse tipo de avaliação”, destacou ao Correio Chad Webb, autor do estudo e pesquisador da Universidade de Illinois.
Durante o desenvolvimento do projeto, os especialistas notaram que a mesma tecnologia poderia ser usada para monitorar a saúde vascular. “Mais tarde, percebemos que um problema similar existe com os sistemas de imagens médicas utilizados para mapear o fluxo de sangue perto da superfície da pele. Eles são extremamente sensíveis ao movimento e exigem que o paciente permaneça completamente imóvel para que os dados sejam obtidos”, explica Webb.
O dispositivo criado para resolver essa limitação é formado por uma película elástica flexível e colado na pele. Grava o movimento de calor por meio dos sensores, sem a necessidade de pressão aplicada externamente. As variações de temperatura são indicadas por alterações de cores da película, funcionando como uma espécie de termômetro colorido. “Qualquer fluxo de sangue perto do dispositivo resulta em mudanças mensuráveis na propagação espacial dos sinais. Com o aparelho, nós conseguimos monitorar essas alterações ao longo do tempo”, diz Webb.
Os autores testaram o equipamento na ponta dos dedos e no antebraços de homens saudáveis e conseguiram medir o fluxo sanguíneo em diferentes vasos. O sucesso dos exames iniciais deixou a equipe otimista quanto ao futuro do projeto. “Mais e mais empresas estão focadas nos desafios associados à construção de eletrônicos vestíveis em escala industrial. O nosso dispositivo fornece um método para a monitorização de um parâmetro de importância crítica para a saúde humana, o fluxo de sangue, com uma construção bem alinhada com a produção eficaz de dispositivos vestíveis em grande escala”, destaca o autor.
Menos internações
Roberto Candia, cardiologista do Laboratório Exame de Brasília, acredita que o dispositivo possa, no futuro, reduzir internações para a observação do fluxo sanguíneo. “Muitas vezes, na clínica, são necessários procedimentos mais invasivos para fazer esse monitoramento. Só assim, conseguimos observar a resposta de um medicamento e saber como anda a pressão arterial de um paciente cardiopata, por exemplo. Com um dispositivo mais simples, essas serão tarefas muito mais fáceis de serem realizadas”, detalha.
Candia destaca que as ferramentas disponíveis para medir o fluxo sanguíneo não têm a mesma praticidade que o dispositivo criado pelos cientistas da Universidade de Illinois. A sensibilidade, por exemplo, deixa a desejar. “Os aparelhos de pressão eletrônicos não possuem a mesma eficácia. Tecnologias como essa nos fornecem uma análise muito mais refinada”, destaca.
Rogério de Moura, cardiologista e chefe do Setor de Cateterismo Cardíaco do Hospital Balbino, no Rio de Janeiro, faz outro comparativo com os procedimentos atuais. Segundo ele, o dispositivo norte-americano utiliza uma metodologia mais simples, sem a necessidade, por exemplo, de emissão da luz para fazer a medição. “Pela temperatura e pela mudança das cores dessa espécie de adesivo, temos um modo mais eficaz e com um sistema menos complicado. Acredito também que qualquer método que ajude pacientes em terapia intensiva e que sirva como um auxiliar ao tratamento é um grande ganho”, destaca o especialista.
Preocupação global
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte do mundo. Em 2008, os óbitos ligados a essas complicações equivaleram a 80% do total registrado no planeta. A estimativa é de que, a cada ano, 17,3 milhões de pessoas percam a vida em função dessas enfermidades. E a previsão é de que o cenário fique ainda pior: a agência das Nações Unidas calcula que o número suba para 23,6 milhões em 15 anos.
Também dentro do corpo
O dispositivo ultrafino para o monitoramento do fluxo sanguíneo é uma esperança para auxiliar no controle e na prevenção de várias enfermidades médicas, como a aterosclerose (o acúmulo de placas de gordura na parede das artérias), a anemia falciforme e o diabetes. A última enfermidade acomete 382 milhões no mundo, cerca de 12 milhões no Brasil. Estima-se que, em 2035, a quantidade de pessoas com o mal metabólico chegue a 471 milhões. Se mal tratado, o diabetes pode levar à cegueira, a complicações renais e a danos neurológicos.
Os pesquisadores da Universidade de Illinois também têm como objetivo incorporar a película em dispositivos implantáveis para que eles possam funcionar diretamente em órgãos internos. Chad Webb, autor do estudo, conta que novas parcerias permitiram a continuidade do estudo. “Nós temos colaborações em andamento com instituições médicas e indústrias ao redor do mundo. Continuamos a aperfeiçoar a utilização desses dispositivos em importantes aplicações práticas.”
Uma das áreas de aperfeiçoamento é dispensar o uso de fios, já que o protótipo carece de auxílio de carregadores. “Temos concentrado esforços para gerar a próxima geração de dispositivos desse tipo com operação completamente sem fio. Além disso, ao modificar os detalhes da técnica, somos capazes de otimizar a capacidade desses aparelhos para que eles possam funcionar em diversas partes do corpo”, explica Webb. (VS)
Glóbulos de foice
Ocorre devido a alterações nos glóbulos vermelhos do sangue, fazendo com que eles adquiram um formato de foice. Com as alterações nas membranas, há o risco maior de rompimento. Os glóbulos vermelhos precisam ter o formato arredondado para que possam circular por todo o corpo, evitando a anemia. A anemia falciforme é genética e, de acordo com a Associação de Anemia Falciforme do Estado de São Paulo, acomete um em cada 380 nascidos vivos.