Vítimas da Síndrome de Guillain-Barré ligada ao Zika superam paralisia

Relação entre o vírus e a síndrome caracterizada por paralisia gradativa já é citada pelo Ministério da Saúde

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Agência Estado Publicação:27/12/2015 14:25Atualização:27/12/2015 14:32
Complicação que pode estar ligada ao zika vírus, além da microcefalia, a Síndrome de Guillain-Barré (SGB), faz com que as vítimas travem uma batalha contra a incapacidade temporária e pela recuperação gradativa de habilidades que faziam parte do dia a dia, como se alimentar sem ajuda de outras pessoas.

A relação entre o vírus e a síndrome caracterizada por paralisia gradativa já é citada pelo Ministério da Saúde que, em todo o ano de 2014, relatou 65.884 procedimentos no Sistema Único de Saúde (SUS), incluindo internações - o número não corresponde ao total de pacientes, pois uma mesma pessoa pode ter feito mais de um procedimento. O ministério explica que os indícios de relação foram detectados pela Universidade Federal de Pernambuco. “Isso a partir da identificação do vírus em amostras de seis pacientes com sintomas neurológicos com histórico de doença exantemática. Desse total, quatro foram confirmadas com doença de Guillain-Barré”, explicou, em nota.

Dois meses após ter dengue, em abril de 2013, a tosadora de animais Ana Lucia Rosa da Silva, de 42 anos, achou que estava tendo um Acidente Vascular Cerebral (AVC) quando os primeiros sintomas da síndrome se manifestaram. “Dormi na casa da minha cunhada e já estava com a metade do corpo torta, e sem conseguir falar. Dei entrada no hospital e acharam que eu estava tendo um derrame. Fui perdendo as forças, não conseguia me levantar, não estava entendendo o que era. Minha mão não respondia aos comandos.”

Clique na imagem para ampliá-la e saiba mais  (Danilson Carvalho / CB / D.A Press)
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Autoimune

A síndrome é uma condição neurológica autoimune e pode ser desencadeada não só pelo zika, mas por qualquer doença infecciosa viral ou bacteriana. “O organismo produz de forma anormal anticorpos que atacam um envoltório dos nervos chamado bainha de mielina. Uma infecção por vírus ou bactérias, principalmente as intestinais, produz essa desregulação imunológica”, explica Abelardo Araújo, neurologista e chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica em Neuroinfecções do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas.

Araújo explica que, por ano, são registrados um a dois casos para cada 100 mil habitantes e a condição pode atingir a deglutição, a musculatura da face e o diafragma. “É uma emergência neurológica que não pode ser tratada em casa. Toda pessoa tem de ser internada.”

Para Ana Lucia, foram 25 dias de internação, quase quatro meses de cama e a retomada da autonomia teve o seu marco oito meses após a saída do hospital. “O que mais me marcou, e foi um dia feliz, foi quando consegui lavar o meu rosto sozinha. Nem foi quando comi ou andei. Foi quando consegui colocar as mãos na água e lavar o rosto. Voltar a fazer as coisas é uma mistura de medo e de alegria por estar conseguindo.”

Ela, que mora na Praia Grande, no litoral paulista, foi tratada com imunoglobulina, também conhecida como gamaglobulina, fez fisioterapia e fonoaudiologia. Outra opção de tratamento é a plasmaserese, que consiste em filtrar o sangue do paciente. Segundo Araújo, 15% dos pacientes apresentam algum tipo de sequela e as mais comuns são perda de reflexos, atrofia e fraqueza muscular permanente. Os sintomas costumam durar entre duas e quatro semanas e podem até levar à morte, se atingirem os músculos respiratórios.

Sem pânico
Mesmo com a associação ao zika vírus, a neurologista do Hospital Israelita Albert Einstein Cristina Massant diz que isso não é motivo para pânico, pois ainda não há meios para evitar que a síndrome se manifeste e não há indícios de que o vírus sempre vai desencadear o problema. “Isso demandaria mais dados clínicos, mas o zika não é uma causa importante, pois há outros fatores que desencadeiam.”

Em julho do ano passado, a Guillain-Barré apareceu na vida da bibliotecária Ingrid Lopes Abs, de 36 anos. “Passei oito dias na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e saí do hospital sem andar. Fiz 20 sessões de fisioterapia e, na décima, já estava usando o andador”, relembra. Ingrid, que mora em Maceió (AL) e conta que ainda está em fase de recuperação, mas que se sente aliviada. “Hoje, estou bem. Ainda tenho um pouco de paralisia facial e dormência nos pés. É só vitória quando a gente volta a ter uma vida normal. Precisei arranjar forças onde não tinha.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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