Microcefalia não é indicação para cesariana
Gestação de bebês com a anomalia congênita em surto no Brasil não é considerada de risco e partos podem ser realizados em serviços habituais
Carolina Cotta - Estado de Minas
Publicação:22/01/2016 09:30Atualização: 21/01/2016 12:27
“Microcefalia não torna a gravidez de alto risco. Nem é indicação de cesariana”, afirma a ginecologista e obstetra Adriana Scavuzzi, coordenadora do Centro de Atenção à Mulher do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), hospital de referência de Recife (PE) envolvido no acompanhamento de gestantes e de crianças nascidas com a malformação congênita. “Só a alteração da microcefalia não exige um acompanhamento especial. Essas mulheres podem fazer seus partos nos serviços habituais. Só é preciso ir a um hospital de referência para confirmar o diagnóstico ultrassonográfico”, explica a especialista.
Segundo Scavuzzi, o parto pode ser normal, desde que tenha o acompanhamento de um obstetra. “A via de parto sempre depende da condição da gestação. Pela microcefalia não há indicação para fazer cesariana. Teoricamente, será um parto normal até mais tranquilo porque a parte mais difícil é exatamente a passagem da cabeça e nessas crianças elas são menores. Se for necessária uma cesariana é por outro motivo que não a microcefalia”, desmistifica a médica. O pré-natal, entretanto, deve reforçar as boas práticas obstétricas e exige sim mais atenção.
ULTRASSOM Em Pernambuco, onde o alto índice de casos exigiu a criação de um fluxo de atendimento, mães com ultrassom suspeito, aqueles em que a medida do crânio do bebê está fora da curva da normalidade, só precisam ir aos hospitais de referência para confirmar o diagnóstico. “Certeza de que a criança tem microcefalia só é possível após o nascimento e a tomografia. Mas o ultrassom pode dar indícios se a medidas da cabeça não estiver na média esperada. Os casos em que é discreta a alteração na cabeça provavelmente não são percebidos ainda no útero. O ultrassom capaz de detectar o problema é aquele entre a 32ª e 35ª semanas”, explica.
Rafaela Gomes Pereira, de 21 anos, moradora de Mirandiba, interior de Pernambuco, descobriu em um ultrassom de rotina, aos oito meses de gestação, que a filha Rita Cecília, hoje com dois meses, teria microcefalia. Já no exame foi possível identificar que o perímetro cefálico do bebê era bem abaixo da média, e ela realmente nasceu com uma medida de 28 cm (O normal é de 35 a 37 centímetros e igual ou menor que 32 cm já é caso de notificação obrigatória para microcefalia). Rafaela só precisou mudar de hospital porque talvez a criança precisasse de uma UTI neonatal. O parto, entretanto, foi normal.
CUIDADOS Desde que o Ministério da Saúde tornou obrigatória também a notificação de gestantes com exantemas, um dos principais sintomas da febre zika, Minas Gerais já registrou cinco casos suspeitos. Três foram descartados, um foi confirmado – uma gestante em Ubá – e um segue em investigação. A proximidade dos casos assusta ainda mais as gestantes que, até então, imaginavam o problema bem longe daqui. A nutricionista Nathália Sernizon, de 26 anos, tem vivido essa angústia ao acompanhar os noticiários. No mesmo dia em que descobriu sua gravidez, soube da incidência de casos de microcefalia no Nordeste.
“Apesar de feliz com a notícia de uma vida dentro de mim, fiquei desesperada quando soube que, por estar grávida, estava propensa ao problema. Quando surgiram os alertas para mulheres adiarem planos de gestação, fiquei mais nervosa. Tinha, e ainda tenho, um grande medo. O maior desejo de uma futura mãe é que o seu filho venha ao mundo com saúde, e comigo não é diferente.” A primeira medida foi mudar os planos de viagem de férias em janeiro: nada de Nordeste. Nathália também renova o repelente prescrito por um infectologista a cada três horas. Calças e batas com mangas compridas tonaram-se acessórios do dia a dia.
Segundo Adriana, todas as gestantes suspeitas precisam fazer ultrassom em hospital de referência e colher sangue e urina para a pesquisa do zika, já que têm sintomas. “As mães que tiveram algum sintoma relacionado ao zika estão com uma ansiedade muito grande. “Elas percebem uma vermelhidão na pele e já entram em pânico. 'Será que posso ter um bebê com microcefalia? Estou correndo esse risco?', perguntam as gestantes, que sofrem muito até o diagnóstico ou nascimento”. A procura de gestantes por atendimento, inclusive, cresceu muito desde as notícias do surto.
Ilma Gomes curte a netinha Rita Cecília, no colo da mãe Rafaela. Aos 2 meses, a menina que nasceu com 28 cm de perímetro cefálico teve a microcefalia confirmada, em Pernambuco
Segundo Scavuzzi, o parto pode ser normal, desde que tenha o acompanhamento de um obstetra. “A via de parto sempre depende da condição da gestação. Pela microcefalia não há indicação para fazer cesariana. Teoricamente, será um parto normal até mais tranquilo porque a parte mais difícil é exatamente a passagem da cabeça e nessas crianças elas são menores. Se for necessária uma cesariana é por outro motivo que não a microcefalia”, desmistifica a médica. O pré-natal, entretanto, deve reforçar as boas práticas obstétricas e exige sim mais atenção.
Saiba mais...
“Também não há orientação formal para que as mulheres evitem a gravidez, mas os cuidados devem ser intensificados. Elas precisam avaliar seu estado geral de saúde, tomar o ácido fólico, fazer um pré-natal cuidadoso. As mães devem fazer sua parte, protegendo o corpo com calças e blusas de manga comprida, evitando a exposição da pele e recorrendo a repelentes indicados e mosquiteiros”, sugere a médica, segunda a qual, apesar do mosquito Aedes aegypti ter hábitos diurnos, mulheres em idade fértil, aquelas que planejam engravidar e as gestantes devem se proteger a qualquer hora do dia. - Pesquisadores se debruçam sobre zika para confirmar relação com microcefalia
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ULTRASSOM Em Pernambuco, onde o alto índice de casos exigiu a criação de um fluxo de atendimento, mães com ultrassom suspeito, aqueles em que a medida do crânio do bebê está fora da curva da normalidade, só precisam ir aos hospitais de referência para confirmar o diagnóstico. “Certeza de que a criança tem microcefalia só é possível após o nascimento e a tomografia. Mas o ultrassom pode dar indícios se a medidas da cabeça não estiver na média esperada. Os casos em que é discreta a alteração na cabeça provavelmente não são percebidos ainda no útero. O ultrassom capaz de detectar o problema é aquele entre a 32ª e 35ª semanas”, explica.
Rafaela Gomes Pereira, de 21 anos, moradora de Mirandiba, interior de Pernambuco, descobriu em um ultrassom de rotina, aos oito meses de gestação, que a filha Rita Cecília, hoje com dois meses, teria microcefalia. Já no exame foi possível identificar que o perímetro cefálico do bebê era bem abaixo da média, e ela realmente nasceu com uma medida de 28 cm (O normal é de 35 a 37 centímetros e igual ou menor que 32 cm já é caso de notificação obrigatória para microcefalia). Rafaela só precisou mudar de hospital porque talvez a criança precisasse de uma UTI neonatal. O parto, entretanto, foi normal.
CUIDADOS Desde que o Ministério da Saúde tornou obrigatória também a notificação de gestantes com exantemas, um dos principais sintomas da febre zika, Minas Gerais já registrou cinco casos suspeitos. Três foram descartados, um foi confirmado – uma gestante em Ubá – e um segue em investigação. A proximidade dos casos assusta ainda mais as gestantes que, até então, imaginavam o problema bem longe daqui. A nutricionista Nathália Sernizon, de 26 anos, tem vivido essa angústia ao acompanhar os noticiários. No mesmo dia em que descobriu sua gravidez, soube da incidência de casos de microcefalia no Nordeste.
“Apesar de feliz com a notícia de uma vida dentro de mim, fiquei desesperada quando soube que, por estar grávida, estava propensa ao problema. Quando surgiram os alertas para mulheres adiarem planos de gestação, fiquei mais nervosa. Tinha, e ainda tenho, um grande medo. O maior desejo de uma futura mãe é que o seu filho venha ao mundo com saúde, e comigo não é diferente.” A primeira medida foi mudar os planos de viagem de férias em janeiro: nada de Nordeste. Nathália também renova o repelente prescrito por um infectologista a cada três horas. Calças e batas com mangas compridas tonaram-se acessórios do dia a dia.
Segundo Adriana, todas as gestantes suspeitas precisam fazer ultrassom em hospital de referência e colher sangue e urina para a pesquisa do zika, já que têm sintomas. “As mães que tiveram algum sintoma relacionado ao zika estão com uma ansiedade muito grande. “Elas percebem uma vermelhidão na pele e já entram em pânico. 'Será que posso ter um bebê com microcefalia? Estou correndo esse risco?', perguntam as gestantes, que sofrem muito até o diagnóstico ou nascimento”. A procura de gestantes por atendimento, inclusive, cresceu muito desde as notícias do surto.