É preciso se preparar para encarar a aposentadoria de maneira saudável e feliz; veja histórias
Quanto mais jovem, mais dificuldade a pessoa tem de pensar na aposentadoria
Com o Brasil em rápido processo de envelhecimento – há mais de 23 milhões de pessoas com idade superior a 60 anos –, planejar a aposentadoria precisa se tornar um hábito de todos nós. Ter essa atitude é importante para, ao chegar o momento, não ser surpreendido por não ter resposta para a pergunta: E agora?. Na maioria das vezes, todos se preparam para ter a casa própria, garantir a faculdade dos filhos, adquirir o carro do sonho, a viagem inesquecível, acumular riqueza e patrimônio e nem sequer lembram de como será a hora de parar de trabalhar.
Muitas vezes, o susto é a primeira reação. Será que me preparei o suficiente para essa etapa da minha vida? Consegui guardar um bom dinheiro? Como pagarei as contas? Cuidei da minha saúde como deveria? Dei atenção às minhas questões emocionais e psicológicas para lidar com o envelhecer? Conquistei amigos que me acompanharão? Tenho uma família com a qual posso contar? E para quem tem filhos, eles vão estar presentes?
Além do lado financeiro – os gastos especiais próprios da idade –, a aposentadoria é sinônimo de isolamento, solidão e abandono. E cabe a cada um não deixar que isso ocorra, o que não é uma tarefa fácil, por envolver questões diversas. Ao mesmo tempo em que é preciso poupar para garantir o retorno financeiro quando parar de trabalhar, é essencial acumular o gosto pela vida, atenção com a saúde, amizades, ideais, curiosidade, inquietações, desejos que se prolonguem enquanto respirar.
REINVENTE-SE
Aposentadoria deriva do latim pausare – “parar para descansar” – e é direito de todos aqueles que encararam a labuta por muitos anos. O fundamental é que o descanso seja com dignidade, alegria e alto-astral. Nada de ficar no aposento, parado, paralisado. A ordem é se reinventar, viver dentro de cada realidade, sem perder a esperança. Essa discussão é proposta pelo Bem Viver hoje, que procurou ouvir quem segue o passo a passo para saudar a aposentadoria e não temê-la. Como Moema Belo, diretora-executiva do Cotemig, que, desde os 29 anos, começou seu plano de complementação de renda e agora, aos 53, ao se aproximar da aposentadoria, está pronta para curtir o que a nova fase lhe reserva. Sem neuroses, sem medo. “Fiz todo o planejamento, mas tudo na vida é incerto. Minha proposta é ter qualidade de vida na velhice, mesmo porque sou de uma família que vive muito. Minha bisavó foi até os 104 anos.” A ideia é que você se inspire e, se não começou, não perca mais tempo.
Estímulos para viver
Um médico e uma engenheira contam suas histórias e revelam os planos que traçaram para viver uma aposentadoria plena. Consultor financeiro indica a melhor decisão
Sergimar lembra que a medicina é uma profissão que permite, na maioria das vezes, postergar ao máximo o início da aposentadoria plena. “Com o passar dos anos, você diminui as cirurgias, os partos e concentra-se nas atividades de consultório. Aliás, a redução da carga de trabalho espontânea ou acidental faz parte da vida de todo profissional autônomo, como o médico sem vínculo empregatício. Precisamos estar preparados para enfrentar acidentes, paradas temporárias ou definitivas em nosso exercício profissional. Mas é importante salientar que para manter o padrão de vida da sua família é necessário criar reservas, a fim de que, em um momento adverso, se possa lançar mão dessas precauções.”
Para conquistar a tranquilidade da aposentadoria com o menor número de percalços, Sergimar a planejou, inclusive, ao adquirir uma fazenda de eucaliptos. “Nasci e me criei em uma fazenda em Macaubal, região de São José do Rio Preto, interior de São Paulo. Quando vim para Belo Horizonte fazer residência médica em ginecologia e obstetrícia, no Hospital das Clínicas da UFMG, em 1983, pensava em adquirir uma fazenda em Minas Gerais, como investimento, visando à aposentadoria. Depois de vários estudos, decidi investir em reflorestamento, especificamente no plantio de eucalipto. Isso já nos anos 1980. Esse tipo de planejamento também inclui a diversificação na área da medicina. Hoje me dedico às cirurgias videoendoscópicas (histeroscopia e laparoscopia). Além disso, há seis anos, com outros três sócios, criamos a Vilara – Clínica de Reprodução Assistida. Essa clínica, localizada dentro do Hospital Vila da Serra, tem uma filial em Varginha, no Sul de Minas. E, claro, não posso esquecer de três outras alternativas que escolhi: previdência privada, seguro de vida e seguro de incapacidade temporária.”
Já Moema Santa'Anna Belo, diretora-executiva do Grupo Cotemig, revela que, ao fazer parte de imensa família, a ideia é adquirir um terreno para construir uma vila de casinhas independentes para todos viverem juntos, compartilhar os custos, inclusive de cuidadores de idosos, se preciso, dividir a estrutura, além de manter a convivência, porque todos amam festejar, conversar e curtir a turma do baralho. “Criamos até a Associação Família Santa'Anna.”
Aos 29 anos, Moema começou a planejar a aposentadoria. “Gente de exatas é assim, sou pragmática e organizada. O insight veio numa época em que as pessoas não tinham essa preocupação. Mas é importante e deveria ser disciplina da escola, educação financeira. Sempre tive o espírito de independência. Então, pensava em como ter o mesmo padrão de vida ao me aposentar. A previdência privada foi a primeira ação, depois agreguei aplicações e diversifiquei com tesouro direto e até um pequeno imóvel.”
Moema, casada com Paulo há 10 anos, conta que eles planejam a velhice juntos. Aliás, confessa que ela o ensinou. “Decidimos ser saudáveis, mas nada neurótico. A atividade física está na rotina (ela adora natação), e fizemos uma reeducação alimentar que seguimos à risca.” Bem resolvida, ela não luta contra o envelhecimento ou o deixa se tornar algo que a paralise. “Não temos escolha, então não é um problema na minha vida. Até agora, não me afetou. Não tenho a mesma disposição dos 20 anos, mas acredito que precisamos buscar a sabedoria de tirar proveito do que é bom de cada etapa da vida”, ensina a engenheira, feliz com a vida, e que, nas horas vagas, faz plastimodelismo (monta miniaturas de moto) e adora se jogar na estrada – antes fazia rali de moto, agora é de jipe. “Mais seguro para a idade”, ela brinca!
Construa pontes
Especialistas destacam o lado positivo e os dramas de quem chega à aposentadoria. Planejar a hora de parar é a grande saída para uma velhice alegre e com autoestima
“Por favor, esqueça o eufemismo 'melhor idade'.” O pedido é do médico psicanalista Geraldo Caldeira, que é enfático ao dizer que “envelhecer traz muitas perdas e sofrimento”. Ao mesmo tempo, é categórico ao alertar que quando se prepara para o momento é melhor, ainda que seja um drama, já que aposentadoria significa parar de ter uma atividade na vida. “O sofrimento aumenta porque o ser humano precisa ser ativo, sair, conversar, produzir, brincar, encontrar amigos, fazer descobertas. E a própria origem da palavra aposento significa ficar quieto, recluso, na cama. Não pode ser bom.”
Geraldo Caldeira explica que o ser humano precisa do reconhecimento que vem do outro e lembra o filósofo alemão Hegel. “A consciência de si é dada por outra consciência de si. Ou seja, se não tem o outro, o ser humano não se reconhece como pessoa. A história do Tarzan é um bom exemplo. Se a Jane não aparecesse, ele seria um macaco diferente, ele não se reconheceria. A mesma simbologia está no filme Náufrago, com Tom Hanks. Seu personagem precisou criar a figura da bola para conversar, dialogar, ter uma referência, mesmo sabendo que era uma fantasia.”
Portanto, não é tão tranquilo assim se aposentar. Ainda que a experiência seja particular. Mas, ao se distanciar do outro e da atividade que exerceu por anos, a pessoa precisa ter um suporte, já que, ao perder a referência, ela sofre demais. “Por isso, ao se aposentar, a atitude mais importante é não ficar só. E cada um tem de procurar o melhor caminho, seja revendo os amigos, participando de grupos, ter a turma do baralho, enfim, escolher um tema que seja a ponte que o leve a outra pessoa”, indica o psicanalista.
Como o homem é complexo, Geraldo Caldeira lembra que há indivíduos com a capacidade de ficar só, o que traduz a maturidade do ser humano. “No entanto, não pode ser o principal da vida ficar sozinho. Não se pode viver dependente do outro, mas tê-lo como referência é essencial. Quanto mais autoestima, mais a pessoa lida bem com a velhice, porque os valores não se perdem, se reforçam.”
CHUTEIRAS
O psicanalista observa que há quem não consiga ficar sozinho, o que, segundo ele, está relacionado com a baixa referência de si mesmo. “Aquele que não formou bem a sua autoestima, que ocorre por volta dos 7 anos, fase em que se constrói o superego (instância psíquica), dividido em censura e valores internos (autoestima). A autoestima é construída pelos valores parentais e quanto menos se passou aos filhos, menos eles vão construir. É fundamental passar valores, não só de comportamento.”
Geraldo Caldeira diz que a expressão “pendurar as chuteiras” é usada em estudos franceses, que explicam a tristeza da aposentadora. “Chamam também de depressão essencial. É o sujeito que não quer fazer mais nada na vida. Ele está no grupo da vida operatória, que favorece doenças psicossomáticas, divididas em depressão essencial (aposentar), pensamento operatório (não registra emoções, não sabe lidar com elas) e a propensão à perda das construções de mecanismos de defesas existenciais (a negação, não é comigo; ou a projeção, sempre é o outro; ambos mecanismos de defesa, sem causa orgânica, física).”
Não é preciso enfrentar ou passar por tal sofrimento. O envelhecimento faz parte da vida e aceitá-lo é atitude sábia. Daí o valor de planejá-la, programá-la. “Quanto mais jovem, melhor. O fundamento é não ficar no aposento, isolado em casa, desmotivado, sem amigos. Com a velhice, o corpo não é o mesmo, assim como a memória, o raciocínio e o físico são comprometidos. Há uma perda de condição, mas é preciso conviver. Aprender a conviver é garantia para o futuro de cada um.”
A origem
Foi no fim do século 19, na Alemanha. O governo do chanceler Otto von Bismarck estabeleceu, em 1889, um sistema nacional que assegurava o pagamento de uma pensão a todos os trabalhadores do comércio, indústria e agricultura que tivessem 70 anos ou mais. A ideia foi logo adotada na Áustria e na Hungria e, a partir de 1920, espalhou-se por outros países da Europa. Ao criar esse benefício, que atendia às reivindicações trabalhistas, Bismarck pretendia conter o crescimento das ideias socialistas, que se espalhavam pelo continente. No Brasil, a primeira lei que cuidou da aposentadoria é de 1923 e só se destinava a proteger os ferroviários. Depois, outras leis foram sendo editadas para beneficiar as demais categorias
Fonte: www.mundoestranho.abril.com.br
Vejas as principais perguntas que precisa fazer e a orientação que precisa buscar quando passa a pensar na aposentadoria, de acordo com o site www.serasaconsumidor.com.br/guias/aposentadoria-planeje-seu-futuro/
1) O que você quer?
2) Quando pretende se aposentar?
3) Com que dinheiro vai poder contar?
4) Quanto vai precisar juntar?
5) Comece o quanto antes e seja regular
6) Coloque seu plano em ação
7) Reveja sempre sua estratégia
8) Previdência Social: quem
pode se aposentar?
9) Saiba os tipos de aposentadoria concedidos pelo INSS: especial, por idade, invalidez e contribuição