Zika está no Brasil desde 2013
Análise genética comandada por brasileiro mostra que vírus que circula no país veio da Polinésia Francesa há cerca de três anos. Descoberta vai ajudar no desenvolvimento de vacinas contra a doença
Roberta Machado - Correio Braziliense
Publicação:29/03/2016 11:00
Uma análise genética do vírus zika revela que o Brasil levou mais de um ano para descobrir a transmissão da doença no país. De acordo com estudo assinado por mais de 50 pesquisadores brasileiros e estrangeiros, o vírus teria chegado ao país entre maio e dezembro de 2013. O primeiro diagnóstico de zika, contudo, só foi feito em maio de 2015. O artigo, publicado na edição de hoje da revista Science, traça a origem do vírus brasileiro até a Polinésia Francesa, de onde teria vindo o primeiro turista infectado. O período de consolidação do micro-organismo no território nacional condiz com um aumento das viagens originadas nos arquipélagos do Pacífico Sul, onde ocorria uma epidemia do mesmo agente infeccioso encontrado aqui.
A nova análise, entretanto, indica que a doença estava no país antes disso. “Dengue, chicungunha e zika causam sintomas relativamente semelhantes e se transmitem por meio do mesmo vetor. Assim, dado o tamanho e a dimensão do Brasil, é possível que a introdução inicial do zika tenha resultado numa epidemia relativamente pequena e localizada ou que ela tenha sido confundida com epidemias de dengue ou chicungunha”, explica ao Estado de Minas Nuno Faria, principal autor do trabalho e pesquisador do Instituto Evandro Chagas e da Universidade de Oxford.
EPICENTRO
Os pesquisadores acreditam que o vírus possa ter chegado durante a Copa das Confederações, em junho de 2013. O evento trouxe a seleção do Taiti para um jogo contra o Uruguai, realizado na Arena Pernambuco, em Recife, cidade que se tornaria, mais tarde, o epicentro da epidemia — são quase 7 mil notificações de casos suspeitos da doença no estado somente neste ano.
Para definir quando tiveram início as infecções do zika no Brasil, os cientistas compararam sete amostras do vírus encontradas no país com nove trazidas de outros territórios. “Os genomas dos vírus que evoluem rapidamente vão acumulando mutações ao longo do tempo. Pela quantificação dessa velocidade de acumulação de mutações, conseguimos construir com precisão a história evolutiva calibrada do tempo do zika vírus”, descreve Faria.
Entre as amostras analisadas, estava o único genoma sequenciado da epidemia que atingiu a Polinésia Francesa entre 2012 e 2014. Esse vírus pertencia à linhagem asiática, que também podia ser encontrado nas Filipinas, na Tailândia, na Malásia e, posteriormente, no Brasil. O trabalho revelou que o vírus da Polinésia Francesa era um parente mais próximo daquele que deu origem à epidemia brasileira.
“O que os métodos de reconstrução filogenética oferecem como resultado são hipóteses de relacionamento evolutivo”, explica Marta Gionanetti, estudante de pós-doutorado no Centro de Pesquisas Gonçalo Muniz (CPqGM) da FioCruz, e uma dos autores do trabalho. Ao acessar os registros de voos da época para o Brasil, os pesquisadores também constataram aumento de turistas vindos dessa região: foram quase 5 mil passageiros visitando o país por mês, muito mais do que a média, de 3,5 mil.
Ponto de partida
Esta é a primeira análise genômica completa do vírus zika brasileiro e deve servir de ponto inicial para novos estudos. Os pesquisadores ainda não sabem definir, por exemplo, o tempo de encubação da doença até o surgimento dos sintomas, que só se manifestam em 20% dos pacientes. Até mesmo as formas de contágio parecem ser pouco compreendidas. O vírus havia sido isolado no sêmen de um paciente há três anos, mas apenas recentemente os cientistas confirmaram que o zika pode ser transmitido por relações sexuais.
Uma das maiores preocupações envolvendo o vírus é o aparente aumento de casos de crianças nascidas com microcefalia no Brasil, fenômeno que foi estatisticamente ligado à doença. A suspeita é de que as mães infectadas estejam transmitindo o vírus para os bebês, que acabam com a malformação do crânio e do cérebro. No entanto, ainda não há provas definitivas da relação. O trabalho que traça a origem do zika no Brasil analisou também o genoma de uma amostra do agente infeccioso encontrada no cérebro de uma criança com microcefalia – o bebê morreu logo após o nascimento – e pode ajudar na compreensão desse problema.
“Uma das prioridades é desenvolver estudos de patogenia para conhecer em modelos experimentais animais o que ocorre nos animais prenhes e ver se podemos reproduzir a doença em humanos nesses animais. Esse é um estudo fundamental”, ressalta Pedro Vasconcelos, diretor do Instituto Evandro Chagas e autor do novo estudo.
SEQUENCIAMENTO
De acordo com o brasileiro, também é necessário realizar novos trabalhos de sequenciamento para determinar se o vírus brasileiro age de forma diferente das linhagens encontradas em outros países. Mas ele ressalta que o desvendamento dos genes do vírus brasileiro já é um importante passo para acelerar as pesquisas do vírus no país. “O sequenciamento permitirá que estudos sejam feitos para o desenvolvimento de drogas antivirais e vacinas, e também para o diagnóstico mais preciso e mais precoce”, lista.
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Estudos anteriores sugeriam que o vírus teria chegado ao Brasil em 2014. As hipóteses eram que a epidemia tivesse se iniciado durante a Copa do Mundo, realizada entre junho e julho, ou devido a um campeonato de canoagem recebido pelo Rio de Janeiro mais tarde, naquele mesmo ano. No segundo evento esportivo, chamava a atenção a forte participação de competidores da Ilha da Páscoa, da Polinésia Francesa, das Ilhas Cook e da Nova Caledônia, territórios que já haviam registrado casos de zika na época.- Síndrome de Guillain-Barré associada ao zika traz novo alerta ao Brasil
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A nova análise, entretanto, indica que a doença estava no país antes disso. “Dengue, chicungunha e zika causam sintomas relativamente semelhantes e se transmitem por meio do mesmo vetor. Assim, dado o tamanho e a dimensão do Brasil, é possível que a introdução inicial do zika tenha resultado numa epidemia relativamente pequena e localizada ou que ela tenha sido confundida com epidemias de dengue ou chicungunha”, explica ao Estado de Minas Nuno Faria, principal autor do trabalho e pesquisador do Instituto Evandro Chagas e da Universidade de Oxford.
EPICENTRO
Os pesquisadores acreditam que o vírus possa ter chegado durante a Copa das Confederações, em junho de 2013. O evento trouxe a seleção do Taiti para um jogo contra o Uruguai, realizado na Arena Pernambuco, em Recife, cidade que se tornaria, mais tarde, o epicentro da epidemia — são quase 7 mil notificações de casos suspeitos da doença no estado somente neste ano.
Para definir quando tiveram início as infecções do zika no Brasil, os cientistas compararam sete amostras do vírus encontradas no país com nove trazidas de outros territórios. “Os genomas dos vírus que evoluem rapidamente vão acumulando mutações ao longo do tempo. Pela quantificação dessa velocidade de acumulação de mutações, conseguimos construir com precisão a história evolutiva calibrada do tempo do zika vírus”, descreve Faria.
Entre as amostras analisadas, estava o único genoma sequenciado da epidemia que atingiu a Polinésia Francesa entre 2012 e 2014. Esse vírus pertencia à linhagem asiática, que também podia ser encontrado nas Filipinas, na Tailândia, na Malásia e, posteriormente, no Brasil. O trabalho revelou que o vírus da Polinésia Francesa era um parente mais próximo daquele que deu origem à epidemia brasileira.
“O que os métodos de reconstrução filogenética oferecem como resultado são hipóteses de relacionamento evolutivo”, explica Marta Gionanetti, estudante de pós-doutorado no Centro de Pesquisas Gonçalo Muniz (CPqGM) da FioCruz, e uma dos autores do trabalho. Ao acessar os registros de voos da época para o Brasil, os pesquisadores também constataram aumento de turistas vindos dessa região: foram quase 5 mil passageiros visitando o país por mês, muito mais do que a média, de 3,5 mil.
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Ponto de partida
Esta é a primeira análise genômica completa do vírus zika brasileiro e deve servir de ponto inicial para novos estudos. Os pesquisadores ainda não sabem definir, por exemplo, o tempo de encubação da doença até o surgimento dos sintomas, que só se manifestam em 20% dos pacientes. Até mesmo as formas de contágio parecem ser pouco compreendidas. O vírus havia sido isolado no sêmen de um paciente há três anos, mas apenas recentemente os cientistas confirmaram que o zika pode ser transmitido por relações sexuais.
Uma das maiores preocupações envolvendo o vírus é o aparente aumento de casos de crianças nascidas com microcefalia no Brasil, fenômeno que foi estatisticamente ligado à doença. A suspeita é de que as mães infectadas estejam transmitindo o vírus para os bebês, que acabam com a malformação do crânio e do cérebro. No entanto, ainda não há provas definitivas da relação. O trabalho que traça a origem do zika no Brasil analisou também o genoma de uma amostra do agente infeccioso encontrada no cérebro de uma criança com microcefalia – o bebê morreu logo após o nascimento – e pode ajudar na compreensão desse problema.
“Uma das prioridades é desenvolver estudos de patogenia para conhecer em modelos experimentais animais o que ocorre nos animais prenhes e ver se podemos reproduzir a doença em humanos nesses animais. Esse é um estudo fundamental”, ressalta Pedro Vasconcelos, diretor do Instituto Evandro Chagas e autor do novo estudo.
SEQUENCIAMENTO
De acordo com o brasileiro, também é necessário realizar novos trabalhos de sequenciamento para determinar se o vírus brasileiro age de forma diferente das linhagens encontradas em outros países. Mas ele ressalta que o desvendamento dos genes do vírus brasileiro já é um importante passo para acelerar as pesquisas do vírus no país. “O sequenciamento permitirá que estudos sejam feitos para o desenvolvimento de drogas antivirais e vacinas, e também para o diagnóstico mais preciso e mais precoce”, lista.