Campanha #MeuAmigoSecreto vira livro, o primeiro de coleção dedicada à hashtag

Publicação está em pré-venda, assinada pelo coletivo feminista Não Me Kahlo, que deu início à corrente virtual no fim do ano passado

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Larisse Lins - jornalismo@uai.com.br Publicação:19/04/2016 12:11Atualização:19/04/2016 12:32
O coletivo Não Me Kahlo deu início à campanha e assina coletivamente a publicação. ( Fotos: Reprodução da internet)
O coletivo Não Me Kahlo deu início à campanha e assina coletivamente a publicação.
Frutos do cruzamento salutar entre o movimento feminista e a reverberação de debates nas redes sociais, vêm se estendendo às prateleiras campanhas virtuais recentes dedicadas ao empoderamento das mulheres e à igualdade entre gêneros. Mulheres: retratos de respeito, amor-próprio, direitos e dignidade (Sextante, R$ 44,90) - que imprimiu, no semestre passado, as ilustrações da mineira Carol Rossetti, cuja página no Facebook ultrapassa os 300 mil curtidores - e #PrimeiroAssedio - compilação de depoimentos reunidos sob a hashtag homônima, organizados pela pesquisadora carioca Giovanna Dealtry - abriram caminho à tendência, fortalecida agora pelo livro #MeuAmigoSecreto: feminismo além das redes (Edições de Janeiro, R$ 29,90).

Com lançamento previsto para a segunda semana de maio, a obra entrou em pré-venda no último dia 14, dedicada a repercutir e, sobretudo, registrar a ação virtual, promovida em novembro passado. Na ocasião, a hashtag (palavra-chave antecedida pelo símbolo jogo-da-velha) denunciava comportamentos machistas testemunhados por mulheres, em alusão irônica à brincadeira popular nos festejos natalinos. “#MeuAmigoSecreto diz que aborto é assassinato mas pediu pra namorada abortar quando ela engravidou”, publicou o coletivo feminista Não Me Kahlo no Twitter, no dia 23 de novembro, dando início à cascata de posts - aquecidos, à época, por protestos contrários ao projeto de lei 5.069, conhecido como “PL do Aborto”, e pelo Dia Internacional da Não Violência Contra as Mulheres, lembrado em 25 daquele mês.

Agora, o manifesto ganha formato físico, em 12 capítulos dedicados a explorar desdobramentos temáticos como o machismo no universo geek, o feminismo negro, padrões de beleza e liberdade sexual. “Acreditamos que sair do campo virtual e migrar para os livros é uma ampliação dos campos de discussão sobre esses temas abordados nas hashtags. É uma oportunidade de dar continuidade e promover a permanência desses assuntos”, declara o coletivo, formado por Bruna de Lara, Bruna Leão, Gabriela Moura, Paola Barioni e Thaysa Malaquias, de diferentes locais do país. Elas respondem em conjunto, assim como assinam o livro. “Os capítulos foram escritos por nós de forma colaborativa, e, portanto, não levam o nome individual de cada uma. Foi um trabalho conjunto”, explicam.

Para Dênis Rubra, editor responsável pela publicação, #MeuAmigoSecreto: feminismo além das redes serve, além de reforço ao debate, como documentação, registro histórico. “Quando uma hashtag não está mais em evidência nas redes sociais, para onde vai esse debate? Como podemos continuar a colaborar com o desenvolvimento humanístico promovido pela discussão? É uma importante documentação para daqui a dez, vinte anos, quando quisermos pensar nesse momento atual da sociedade”, argumenta. Até o fim deste ano, a Edições de Janeiro lança novo título, não revelado, inspirado em debate viralizado nas redes, dando continuidade à recém-criada Coleção Hashtag, que deve ganhar dois livros por ano a partir de então.

“Há um capítulo dedicado ao binômio santa versus puta, por exemplo, que é um dos meus preferidos, pois incentiva a liberdade sexual da mulher, desconstrói um tabu. Em outro, as autoras lançam mão de embasamento profundo para rebater cada argumento contrário ao feminismo”, comenta Rubra. “Não é uma compilação de posts, relatos. Mas, sim, uma reunião do que há de referências bibliográficas, pesquisas, análises acerca desses temas.”



Coletivo Não Me Kahlo

Em linhas gerais, quais os principais benefícios da hashtag #MeuAmigoSecreto, e de outras hashtags semelhantes, para a luta pela igualdade de gênero?
As Hashtags ajudam de alguma forma a fortalecer o movimento, pois é também através delas, que mulheres de todo país não somete dão seu relato de abuso/assédio, como permite uma rápida troca dessas experiências entre nós. Logo, além de incentivar o aumento de denuncias de abusos, faz com que as pessoas fiquem cientes que não são casos isolados. Foi chocante, porém não nos surpreende saber que quase toda mulher tem um amigo secreto abusador e que vários primeiros assédios foram feitos por pessoas próximas.

É mais "fácil" militar em prol da igualdade de gênero na atualidade, quando as opiniões e correntes se propagam rapidamente nas redes sociais? Ou há mais "juízes"?
Acreditamos que as correntes e hashtags tornem a discussão mais fluida, não necessariamente de forma mais fácil, mas elas possibilitam um entendimento mais imediato de questões que são profundas, daí a necessidade de aprofundamento do debate.

Como surgiu a ideia de formatar a campanha em livro? Acredita que seja uma tendência, essa documentação da atualidade?

A ideia do livro foi, na verdade, um convite da Editora Edições de Janeiro, que está lançando a Coleção Hashtag, que reunirá vários assuntos que foram marcados por alguma hashtag em específico. Sendo o #MeuAmigoSecreto o primeiro, com o feminismo como tema. E sim, acreditamos que seja uma tendência, uma nova forma de expressão, uma nova forma de diálogo que vem surgindo e ganhando vida fora e dentro dos espaços virtuais.

>> Depoimentos

#meuamigosecreto segue e dá RT em perfis q sempre atacam mulheres, principalmente feministas.

#meuamigosecreto diz q homem pode engordar e ficar desleixado, mas mulher tem uma grande responsabilidade com sua aparência

#meuamigosecreto acha que se mulher não estiver sorrindo e solícita, está na tpm

#meuamigosecreto falou que eu não podia trabalhar de vestido pois "tirava a produtividade" da equipe

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