Beber ou não beber leite? Entenda a polêmica

Nem mesmo os médicos têm uma opinião comum. Alguns defendem os benefícios da bebida, enquanto outros indicam tirá-lo da alimentação

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Lilian Monteiro - Estado de Minas Publicação:03/05/2016 11:50Atualização:03/05/2016 11:53

 (Beto Magalhães/EM/D.A Press - 2013 13/7/11)
Leite pasteurizado, UHT ou longa vida, em pó, fortificado, integral, semidesnatado e desnatado. Leite vegetal. Leite de cabra. Qual escolher? Qual o mais indicado? Adulto deve consumir leite de vaca? A verdade é que não há unanimidade nem entre os médicos, o que torna a decisão mais complicada para todos nós. Sabemos que existem alimentos polêmicos, que levantam discussões, defensores e acusadores de cada lado, e estudos e pesquisas que vão e voltam com resultados nunca definitivos. Além do leite, o ovo, o café e o glúten carregam esse peso. Consumir ou não consumir?

Maria do Carmo Friche Passos, presidente da Federação Brasileira de Gastroenterologia e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Ciências Médicas, diz que combate essa história de que o leite faz mal à saúde. “Ele é um alimento bom. Inclusive, em breve, a federação vai encaminhar documento à Sociedade Brasileira de Nutrologia mostrando que a intolerância à lactose existe e quem a tem precisa diminuir o consumo, mas não pode ser de forma generalizada.”

O certo é que a onda de leite sem lactose ganhou força na poderosa indústria alimentícia e até quem não precisa passou a consumi-lo. “E mesmo quem é intolerante, precisa saber que basta reduzir o consumo. Pode comer uma só fatia de queijo em vez de três. O conceito tem de mudar. Claro, o adulto sobrevive sem o leite, mas não é uma realidade. Há particularidades. O leite integral tem gordura e para quem tem colesterol alto e quer emagrecer o melhor é consumir o desnatado ou semidesnatado, para diminuir a quantidade de caloria.”
Maria do Carmo Friche Passos, gastroenterologista e presidente da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG/Divulgação)
Maria do Carmo Friche Passos, gastroenterologista e presidente da Federação Brasileira de Gastroenterologia

Maria do Carmo Friche Passos alerta que tudo é “questão de bom senso”. Ela destaca que a intolerância à lactose não é doença, diferentemente da doença celíaca, e, se preciso, há enzimas que a substituem. Quanto ao leite fortificado, muitas versões suplementadas com vitaminas e minerais ofertadas pelo mercado, a médica gastroenterologista diz que “particularmente, não receito nada enriquecido. Não precisa. E os que são não têm nada de mais. Não trazem adicional em se tratando de leite”.

contra Por outro lado, o médico ortomolecular Luiz Jabbur é radicalmente contra o leite de vaca. “O único mamífero que toma leite diferente da sua própria espécie, diferente do materno, é o homem. O melhor alimento para o ser humano é o leite materno, pelo menos até o primeiro ano de vida, já que tem anticorpos para formar o sistema imunológico e os nutrientes para que a criança cresça e se desenvolva. Esse consumo é imprescindível.”

A indicação de Jabbur é “não consumir o leite de vaca (nem mesmo o sem lactose)”. E justifica: “Entre os defensores, muito se fala na osteoporose, mas o cálcio presente no leite é de difícil absorção pelo ser humano, diferentemente do encontrado nas folhas verde-escuras, também ricas em cálcio e biodisponíveis, ou seja, o organismo absorve melhor. O segundo ponto é que o recém-nascido tem a enzima lactase, que é responsável em digerir o açúcar do leite (lactose). Mas, à medida que envelhecemos, perdemos a capacidade de produzir a lactase, ou seja, a digestão do leite é cada vez mais difícil. Sem a enzima, não quebramos a lactose e isso não depende da quantidade. Claro que é progressivo, quanto mais velho, maior a dificuldade. Por isso o ser humano não deveria tomar leite”.

Luiz Jabbur, médico ortomolecular (Edésio Ferreira/EM/D.A Press - 26/11/15)
Luiz Jabbur, médico ortomolecular

O médico ortomolecular diz que o leite pode desencadear alergia, hipersensibilidade e intolerância. De maneira simples, ele explica que alergia é quando a pessoa come e passa mal imediatamente; a hipersensibilidade é mediada, quer dizer, toma leite no domingo e só vai ter dor de cabeça na terça-feira (ele lembra que o processo de digestão completo leva até 48 horas) e a intolerância está relacionada com a questão enzimática. “Infelizmente, o consumo vem de anos. A proteína do leite é absorvida pelo intestino e pode provocar desde a alergia subclínica (sem sintomas) até reações não relacionadas com o leite, como coriza, sinusite, olhos lacrimejantes, rosácea e corrimento vaginal. As descobertas só aumentam, assim como os sintomas. Precisamos cuidar do intestino, porque ele é nosso segundo cérebro. Mesmo quem não tem manifestação, é melhor evitar, porque o sistema imunológico pode ser ativado.”

No entanto, Luiz Jabbur aponta alternativas. “Indico leite vegetal, como o de amêndoa, arroz e coco. São mais caros, mas também podem ser feitos em casa. Recomendo evitar o de soja, porque a maioria é transgênica e, no caso dos homens, causa desregulação dos receptores hormonais.” Outra opção, ressalta o médico ortomolecular, é o leite de cabra e o de ovelha. “Reforço que, ao vetar o leite de vaca, incluo os derivados, tudo que tenha proteína do leite. Então, é melhor consumir o queijo de cabra, boursin, burrata e muçarela de búfula.”

Receitas

Leite de arroz
Cozinhe o arroz até derreter e bata-o no liquidificador. Acrescente água de acordo com a consistência que preferir. Coe na peneira e está pronto.

Leite de amêndoa
Num recipiente, cubra as amêndoas com água por 12 horas e deixe em repouso. Depois, bata no liquidificador e coe. O processo é mesmo do leite de arroz.

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