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Veja quais são os transtornos mentais mais comuns em determinadas fases da vida

É difícil prever quando, e se, a mente poderá adoecer, mas é preciso estar alerta para identificar qualquer problema e procurar ajuda

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Gláucia Chaves - Revista do CB Publicação:31/05/2016 15:00Atualização:31/05/2016 15:07
Doenças mentais ainda são tabu e é preciso conhecê-los (Arte: CB / D.A Press)
Doenças mentais ainda são tabu e é preciso conhecê-los
Falar em transtorno ou doença mental é debater um tabu. Ainda hoje, as doenças que acometem a mente causam estranhamento, medo e apreensão. O diagnóstico precoce é importante, mas nem sempre é fácil de ser identificado. O psiquiatra Carlos Guilherme Figueiredo, membro da Sociedade Brasileira de Psiquiatria, explica que as doenças mais prevalentes, de modo geral, são a depressão, a ansiedade, a dependência química e o transtorno bipolar. Além de fatores genéticos e biológicos, o momento da vida — infância, adolescência, vida adulta ou terceira idade — pode influenciar na incidência de doenças específicas. “Fatores genéticos, associados a alterações neuroquímicas e estressores ambientais, são os principais responsáveis pela ocorrência dos quadros psiquiátricos”, completa o médico.

Segundo Miria Benincasa, professora do programa de pós-graduação em psicologia da saúde, da Universidade Metodista de São Paulo (Umesp) e da Faculdade de Psicologia da Universidade de Taubaté (Unitau), uma explicação para as diferentes doenças, recorrentes em cada faixa etária, é a própria maturidade mental da pessoa. Traduzindo: esses males precisam que o “arquivo de dados”, dentro da nossa cabeça, estejam organizados de uma forma propícia para se manifestarem, o que só acontece com a maturidade do intelecto.

Outra explicação seria a própria rotina. Dependendo de qual fase se esteja vivendo, das exigências enfrentadas e da pressão a qual se está exposto, as doenças podem, ou não, se manifestar. O tipo de transtorno também muda com a idade, assim como as obrigações e preocupações.  “A psicopatologia infantil é diferente da do adulto, mesmo porque a criança está em formação, em amadurecimento de seus recursos e funções”, justifica Miria Benincasa. Segundo a psicóloga, os transtornos do neurodesenvolvimento, como o transtorno do espectro autista e déficit de atenção, tendem a ser diagnosticados pela primeira vez na infância, mas não necessariamente desaparecem na vida adulta. “A esquizofrenia, por exemplo, raramente ocorre pela primeira vez antes dos 10 anos ou após os 50, embora avance até a terceira idade.”

A adolescência é marcada por excesso de transformações: corporais, sociais, de interesses. “Na vida adulta, vem a demanda por trabalho excessivo, busca por dinheiro e estabilidade. As exigências sociais e familiares, a vida na cidade grande, por exemplo, favorecem o surgimento de sintomas ansiosos”, lista a psicóloga Miria Benincasa. A terceira idade, infelizmente, também não está livre dos transtornos mentais. Nesta etapa da vida, em que há o distanciamento dos filhos, a morte de amigos e a crescente perda de habilidades e de potencialidades, a psicóloga diz ser comum o surgimento do transtorno de humor depressivo.

Diagnosticar e, claro, tratar os transtornos mentais o quanto antes é imprescindível para o bem-estar do paciente e de seus familiares. As patologias da mente são responsáveis por graves prejuízos funcionais e geram forte impacto social, econômico e educacional. “Essas doenças em atividade levam ao comprometimento cognitivo, especialmente de atenção e de memória, além de estarem associadas a doenças clínicas, como obesidade, hipertensão e diabetes”, reforça o psiquiatra Carlos Figueiredo.

Quando não são tratados, os males psiquiátricos tendem a piorar. As consequências para a vida de um indivíduo não diagnosticado, e que não tenha recebido o acompanhamento adequado, são perigosíssimas e podem envolver, inclusive, o surgimento de outros transtornos. “O risco é de agravamento e de cronicidade. Ou seja, se um dia for tentar tratar, a remissão dos sintomas é mais difícil”, frisa a psicóloga Miria Benincasa. “São raros os casos que regridem sem tratamento. Quando ocorre na infância, além do transtorno em si, o desenvolvimento fica comprometido”, alerta, a médica.

O problema da falta de tratamento, além da óbvia perda de qualidade de vida para o paciente, é o chamado fator de risco. Segundo Miria Benincasa, um transtorno da infância chamado de “transtorno de conduta” é fator de risco para o “transtorno de personalidade antissocial”. Assim como o déficit de atenção não tratado é fator de risco para uso de substâncias psicoativas, por exemplo.

Alguns diagnósticos, porém, tanto para crianças como para adultos, precisam apenas de acompanhamento e não apresentam mais sintomas tratáveis por anos ou por toda a vida. “Podemos ver isso em alguns graus do espectro autista, no deficit de atenção, nos transtornos ansiosos, nos depressivos etc”, enumera Benincasa.

Para cada fase, um risco

Infância

Chamadas de transtornos do neurodesenvolvimento, as doenças mentais das crianças, como o nome sugere, ocorrem durante os primeiros anos do crescimento.

A investigação é especialmente complicada em pacientes de pouca idade. Os pequenos não passam por testes laboratoriais, apenas por um detalhado exame clínico. Ainda assim, antes dos 18 anos, não é possível confirmar nenhum diagnóstico com absoluta certeza. De acordo com Carlos Guilherme Figueiredo, psiquiatra membro da SBP, as doenças mais comuns nessa fase são as deficiências intelectuais, os transtornos do espectro autista, o transtorno de deficit de atenção com hiperatividade e os transtornos específicos do aprendizado.

Thiago Blanco Vieira, psiquiatra da infância e da adolescência — especialista em terapia cognitivo-comportamental para crianças e adolescentes e pesquisador colaborador da Unidade de Psiquiatria da Infância e Adolescência da Universidade Federal de São Paulo (USP) —, explica que a vasta maioria dos transtornos mentais têm suas manifestações iniciais, ainda que atenuadas, durante a infância.

A boa notícia é que transtornos mentais diagnosticados nas crianças podem desaparecer na vida adulta.  Segundo Thiago Vieira, quando o diagnóstico é realizado de forma criteriosa e precoce, e, a partir daí, “sejam instituídos tratamentos adequados e reconhecidamente eficazes”, é possível que os sintomas entrem em remissão. “A criança ou o adolescente que tinha alguma condição psicopatológica não mais a terá durante a idade adulta e, assim, ela poderá viver sem qualquer diagnóstico”, afirma, o médico.

Transtornos mais comuns

  • Deficiência intelectual: De acordo com a Associação Americana sobre Deficiência Intelectual do Desenvolvimento (AAIDD), pacientes com tal diagnóstico têm por característica principal um desempenho mental inferior à média. É comum também apresentarem limitações em pelo menos duas áreas de habilidades: comunicação, autocuidado, vida no lar, adaptação social, saúde e segurança, uso de recursos da comunidade, determinação, funções acadêmicas, lazer e trabalho. Geralmente, os pacientes se comportam como se tivessem menos idade do que de fato têm.
  • Transtornos do espectro autista (TEA): Formado por um grupo de transtornos, o problema tem como característica principal os prejuízos sociais e de interação com os outros e com o mundo exterior. Geralmente, os sinais aparecem já nos primeiros meses de vida. Bebês que não mantêm contato visual, que parecem não “ouvir” e não demonstram reações a brincadeiras, por exemplo, provavelmente são acometidos pelo transtorno. Comportamentos repetitivos também são comuns ao quadro. Há vários subgrupos de TEA, com sintomas e características específicos.
  • Transtorno de deficit de atenção com hiperatividade (TDAH): Segundo a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), o problema tem como sintomas principais a desatenção, a inquietude e a impulsividade. São as chamadas, injustamente, de “criança problema”. Elas não ficam quietas, não conseguem reter informações e, geralmente, são estabanadas. É de origem neurobiológica e tem causas genéticas. É o transtorno mental que mais acomete as crianças (cerca de 3% a 5% dos pequenos penam com ele).
  • Transtornos Específicos do Aprendizado: Como o nome sugere, os transtornos de aprendizagem atrapalham (e muito!) a retenção de novos conhecimentos pelos pequenos. Podem se apresentar em forma de dificuldade para aprender a escrever, a ler ou a fazer contas matemáticas, por exemplo. Um sinal bastante sugestivo são crianças que apresentam resultados extremamente inferiores ao esperado pela faixa etária e pelo grau de escolaridade. Acredita-se que a limitação tenha origem no sistema nervoso central.


Adolescência e vida adulta
Durante a adolescência, e também no início da vida adulta, segundo Carlos Guilherme Figueiredo (SBP), a manifestação de diagnósticos como depressão, transtorno bipolar e ansiedade são mais frequentes. De acordo com Helena Moura, também membro da SBP, o uso de álcool e de drogas, geralmente, se inicia nesta fase da vida. “Aqueles que vão além da experimentação podem desenvolver problemas mais tarde”, completa.

Transtornos mais comuns

  • Depressão: A doença caracteriza-se por um estado de tristeza profunda. De acordo com a Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos afetivos (Abrata), é muito comum que o indivíduo sinta angústia, ansiedade, desânimo, falta de energia. Além disso, o humor depressivo, a irritabilidade, a ansiedade, a dificuldade de concentração, o esquecimento e a tendência ao isolamento são sintomas característicos ao transtorno. De acordo com a psiquiatra Helena Moura, a depressão é três vezes mais comum em pessoas de 18 a 29 anos do que em idosos. Para diferenciar a tristeza normal da depressão é preciso observar se a pessoa sente a necessidade de “sumir”, de largar tudo. Muitos pacientes deprimidos preferem se isolar, enquanto outros procuram ocupar a cabeça ao máximo para não pensarem em sentimentos negativos.
  • Transtorno bipolar:  O paciente diagnosticado vive uma montanha-russa de emoções, uma vez que seu humor muda constantemente. Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), o humor do indivíduo oscila entre episódios de humor exaltado (chamado euforia) e os períodos depressivos. A ciência ainda não conseguiu definir o que desencadeia o distúrbio, mas acredita-se que “fatores externos, meio ambiente, hormônios, hereditariedade e peculiariedades biológicas” estejam entre as principais causas da doença. Fácil distração, hiperatividade, aumento de energia, falar em excesso, autoestima muito alta, compulsão alimentar ou de bebidas alcoólicas e pouco controle de temperamento estão entre os principais sintomas.
  • Transtorno de ansiedade generalizada: É muito mais do que apenas uma sensação de angústia ou de aflição. O transtorno de ansiedade generalizada pode significar um verdadeiro tormento na vida do doente. O distúrbio é caracterizado como uma “preocupação excessiva ou expectativa apreensiva persistente e de difícil controle.” Um dos critérios para o diagnóstico é que a situação perdure por, pelo menos, seis meses, com a presença de três ou mais sintomas: fadiga, irritabilidade, inquietação, tensão muscular, dificuldade de concentração, perturbação do sono e fadiga.


Idosos
Na terceira idade, o diagnóstico das demências são mais comuns. De acordo com a psiquiatra Helena Moura, o risco de demência aumenta de 1% a 2%, aos 65 anos, para cerca de 30%, aos 85. Algumas peculiaridades devem ser levadas em consideração quando se fala em tratamento de pessoas mais velhas. As medicações já ingeridas por conta de outras doenças, como diabetes e hipertensão, podem interagir com os medicamentos para os transtornos mentais (ou vice-versa). “Portanto, nesses indivíduos temos que ter o cuidado de escolher medicamentos que não diminuam ou aumente o efeito quando misturados a outras drogas”, reforça a médica. Outro ponto que merece atenção é o perfil de efeitos colaterais. Medicamentos que possam causar queda de pressão, por exemplo, são perigosos para os idosos.

Transtornos mais comuns

  • Demências: O desgaste das células cerebrais, com o passar do tempo, pode dar origem às demências. Pela definição da Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz), entre os prejuízos cognitivos do quadro incluem-se “alterações de memória, de julgamento, de linguagem, de habilidades visuais e espaciais, de raciocínio, de concentração, de aprendizado, além de desorientação em relação ao tempo e ao espaço, e dificuldade de realização de tarefas complexas.”  Não raro, os sintomas listados vêm acompanhados de mudanças comportamentais e de alterações de personalidade, chamados sintomas neuropsiquiátricos. Várias doenças, como o Alzheimer, podem provocar quadros de demência.

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