VIOLÊNCIA DE GÊNERO »

Quase 30% brasileiros acham que "o homem só bate porque a mulher provoca"

Pesquisa do Instituto Avon/Data Popular mostra que 52 milhões de brasileiros admitem que têm algum conhecido, parente ou amigo que já foi violento com a parceira, mas apenas 9,4 milhões deles admitem que já tiveram tal atitude

Diminuir Fonte Aumentar Fonte Imprimir Corrigir Notícia Enviar
Valéria Mendes - Saúde Plena Publicação:31/05/2016 11:16Atualização:31/05/2016 12:34
Um caso de estupro é notificado no Brasil a cada 11 minutos (UESLEI MARCELINO / AFP )
Um caso de estupro é notificado no Brasil a cada 11 minutos
Mesmo diante do estupro coletivo da adolescente carioca de 16 anos, brasileiros e brasileiras têm assistido a tentativas incessantes de justificar o crime bárbaro cometido por mais de 30 homens. Orgulhosos do feito e certos da impunidade, as cenas da jovem desacordada depois da violência sexual cometida contra ela ganharam as redes sociais. Em quanto tempo esqueceremos a frase “Amassaram a mina, intendeu ou não intendeu? Kkk.”?

Nesta segunda-feira (30/05) a delegada que assumiu as investigações colocou um ponto final nas tentativas de minimizar algo que é chocante. Cristiana Bento afirmou “que o estupro está provado” no vídeo que foi publicado. Em 2009, a lei 12.015 foi alterada e passou a considerar, além da conjunção carnal, atos libidinosos como crime de estupro. Na gravação, as partes íntimas da menina são tocadas em meio a risadas de um grupo de homens. Um deles diz que ela foi violentada por "mais de 30".

Apesar de 96% dos jovens brasileiros reconhecerem o machismo no Brasil como aponta a pesquisa Violência contra as mulheres: os jovens estão ligados?, realizada pelo Instituto Avon em parceria com o Data Popular em 2014, esses mesmos homens não identificam cultura do estupro com a mesma facilidade. Para 51% deles, a mulher deve ter a primeira relação sexual com um namorado sério. Outros 41% concordam que a mulher deve ficar com poucos homens. Além disso, de acordo com 38% dos jovens entrevistados, a mulher que tem relações sexuais com muitos homens não é para namorar e 25% afirmam que se uma mulher usa decote e saia curta, é porque está se oferecendo para os homens.

Dados levantados em outra pesquisa do Instituto intitulada Percepções dos homens sobre a violência doméstica contra a mulher, de 2013, evidenciam a relação de poder que os homens perpetuam em relação às mulheres. Enquanto 52 milhões de brasileiros confirmam que possuem algum conhecido, parente ou amigo que já foi violento com a parceira, apenas 9,4 milhões deles admitem que já tiveram tal atitude. Foram caracterizadas como atitudes violentas os xingamentos, empurrões, ameaças, agressões físicas, humilhação, obrigar a fazer sexo sem vontade ou ameaças com armas.

Clique na imagem para ampliá-la (Soraia Piva / EM / D.A Press)
Clique na imagem para ampliá-la


Um terceiro levantamento - Violência contra a mulher no ambiente universitário -, divulgado pelo Instituto Avon no ano passado, revelou que mais de 700 mil mulheres devem ser vítimas de assédio ou violência dentro das faculdades apenas este ano. A pesquisa mostra que 7% das universitárias afirmam que foram drogadas sem seu conhecimento e 7% já foram forçadas a ter uma relação sexual nas dependências da instituição ou em festas acadêmicas. Significa que 200 mil mulheres vão estar expostas a esta situação este ano.

Além disso, dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram que um caso de estupro é notificado no Brasil a cada 11 minutos. De acordo com o Ministério da Saúde, o abuso sexual é o segundo maior tipo de violência praticada no Brasil. Segundo o levantamento, 70% das pessoas estupradas são crianças e adolescentes de até 17 anos (cerca de 350 mil pessoas ao ano).

A esperança é que a educação sexual e a educação de gênero, que devem ser abraçadas por família, escola e sociedade, consigam mudar o cenário de violência contra a mulher no país. Há quem aposte no exemplo vindo de casa, na relação de igualdade que deve ser estabelecida no ambiente familiar. E há quem acredite que a mudança partirá das mulheres já que os homens não serão capazes de reconhecer os próprios privilégios porque, como mostram diversos estudos já realizados no país, eles estão interessados em igualdade.

COMENTÁRIOS

Os comentários são de responsabilidade exclusiva dos autores.