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Técnica francesa é opção para tratar tonturas, vertigens e labirintite

Terapia é baseada nos conhecimentos da neurofisiologia e da neurociência

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Carolina Cotta - Estado de Minas Publicação:07/06/2016 13:00
Óculos de realidade virtual são utilizados pela fisioterapeuta Angela Bessa para tratar pacientes com desequilíbrio corporal (Euler Júnior/EM/D.A Press)
Óculos de realidade virtual são utilizados pela fisioterapeuta Angela Bessa para tratar pacientes com desequilíbrio corporal
O equilíbrio corporal é resultado da integração de diversos sistemas que mantêm o corpo contra a ação da gravidade, tanto em repouso, quanto em movimento. Esses sistemas, entretanto, podem entrar em desequilíbrio e provocar vertigens, tonturas, sensação de flutuação e queda. Isso gera desconforto e insegurança, já que muitas pessoas temem não conseguir exercer atividades físicas rotineiras. Com o envelhecimento, e o risco que é uma queda em idade avançada, evitar esse desequilíbrio se torna ainda mais importante. E há recursos para tratá-los.

As principais causas dos desequilíbrios são conflitos sensoriais entre as informações (visual, vestibular e proprioceptiva) que chegam ate o cérebro. Se uma dessas informações for incoerente com a outra, e com o modelo interno já existente no cérebro, ocorre uma desorientação sensorial e a resposta é a tontura, as vertigens, desequilíbrio, náuseas, sinalizando que algo está errado. A queda no idoso é caracterizada como alteração cognitiva, na qual o cérebro fica desorientado espacialmente pelas informações incoerentes.

Na primeira metade do século passado, o tratamento da tontura era feito com cirurgia do nervo vestibular do labirinto. A fisioterapia vestibular só surgiu na década de 1940, sendo definida como uma abordagem específica para reduzir os sintomas e promover a adaptação e substituição das disfunções vestibulares relacionadas a diversos distúrbios do equilíbrio. Esse tipo de fisioterapia é reconhecido no Brasil desde 2012 e um de seus recursos é a terapia de reabilitação vestibular (TRV), tratamento complementar não invasivo.

Baseada em um grupo de exercícios personalizados, que, em conjunto com medicamentos, quando indicados, modificações dos hábitos de vida e orientação alimentar, a TRV promove resultados a curto e a longo prazos no controle postural, proporcionando acentuada melhora na qualidade de vida dos pacientes. A fisioterapeuta Angela Bessa trabalha com reabilitação do sistema vestibular e do equilíbrio, em Belo Horizonte. Com formação em vertigens e distúrbios do equilíbrio pela Université de Medecine de Reims (França), estudou reabilitação vestibular em Paris com Alain Semont e aplica suas técnicas.

Segundo a especialista, o tratamento é especializado para as patologias vestibulares e está ligado a normalização das entradas sensoriais (visão, propriocepção e sistema vestibular). São elas que oferecem as informações, em tempo real, para o equilíbrio e a postura. Os conhecimentos se baseiam na neurofisiologia e na neurociência e a técnica é aplicada por meio de aparelhos capazes de fazer o diagnóstico e o tratamento ao mesmo tempo.

Ângela está trabalhando com dois novos aparelhos. Um deles é um software desenvolvido na França exclusivamente para tratar essas patologias, simulando as atividades da vida diária. “São óculos de realidade virtual, na qual o paciente fica na integralidade de seu campo visual estimulado. O objetivo é reproduzir o distúrbio que sente no cotidiano”, explica.

Tudo é feito no consultório, não existe autotratamento em casa, pois é um tratamento neurossensorial dos reflexos e, por isso, são necessários os aparelhos que estimulam o conflito sensorial que o paciente tem e, com isso, o cérebro encontra solução por ele mesmo, obtendo um rápido resultado. Não existem exercícios premeditados (neuromotor), ginásticas. “Aos poucos, o paciente vai adquirindo autonomia e novas estratégias posturais, se integrando em suas atividades rotineiras, melhorando sua qualidade de vida”, explica. As sessões dependem de cada caso e da capacidade de o cérebro do paciente reagir às novas formações de novo modelo interno. “É um aprendizado, como aprender a andar de bicicleta. Assim que uma nova via é formada, ele recebe alta”, explica.

PESQUISA

Em sua tese de doutorado, a otorrinolaringologista Natalia Aquaroni Ricci pesquisou os efeitos da reabilitação vestibular no equilíbrio corporal de idosos vestibulopatas crônicos. Segundo a pesquisadora, com o avançar da idade, as modificações no sistema vestibular e a maior prevalência de vestibulopatias predispõem os idosos à tontura e à instabilidade corporal. Segundo a especialista, a reabilitação vestibular é o tratamento mais indicado para indivíduos com disfunção vestibular. Contudo, faltam protocolos que considerem as particularidades da população idosa e que contemplem, além da estimulação vestibular, os múltiplos componentes do controle postural, que são essenciais para o equilíbrio corporal.

Em estudo publicado este ano, no American Journal of Physical Medicine & Rehabilitation, Natália e outros pesquisadores da Universidade de São Carlos e Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) compararam os efeitos da reabilitação vestibular no controle do equilíbrio em idosos com tontura crônica. O estudo acompanhou 82 idosos por três meses, todos com diagnóstico de tontura crônica provocada por distúrbios vestibulares. Metade do grupo foi tratada com um método tradicional e a outra foi submetida a um protocolo multimodal. Ambos os protocolos promoveram melhorias no controle do equilíbrio do idoso, que foi mantida durante um período de curto prazo. Mas o protocolo multimodal apresentou melhor desempenho em testes de equilíbrio estático específicos.

Instabilidade incômoda
Há dois tipos de tontura. A rotatória ou vertigem, quando o paciente sente tudo girando ao seu redor; e a não-rotatória, que é a instabilidade postural ou desequilíbrio. Vertigem é uma ilusão sensorial, que se manifesta pelo movimento de vai e vem do olho, dando a sensação de que todo o ambiente se mexe ou que o paciente se mexe em relação ao ambiente. Desequilíbrio é quando a pessoa está andando e cai para um lado, e as pessoas percebem que ela está caindo. Tonteira é como se a pessoa estivesse em um barco ou como se estivesse alcoolizada. A instabilidade é quando somente a pessoa percebe que ela está instável ao ficar em pé, mas somente ela sente e ninguém percebe.

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