Tipo de linfoma que acometeu Edson Celulari é um dos mais comuns; tire suas dúvidas
Tipo não Hodgkin apresenta cerca de 40 subtipos. Diagnóstico precoce aumenta as chances de cura
Carolina Cotta - Estado de Minas
Publicação:21/06/2016 13:41Atualização: 21/06/2016 13:48
Dilma Rousseff ainda era candidata à Presidência da República quando foi diagnosticada com um linfoma. Em 2009, grande parte dos brasileiros sequer sabia que isso era um tipo de câncer. Uma pesquisa do Instituto DataFolha, na época, revelou que 51% da população brasileira nunca tinha ouvido falar sobre essa que está entre as 10 neoplasias mais frequentes em todo o mundo. Um desconhecimento preocupante, já que a doença pode ter o tratamento potencializado com a detecção precoce. Depois de Dilma, o ator Reynaldo Gianecchini recebeu o mesmo diagnóstico e ficou curado. Agora, foi a vez do também ator Edson Celulari, de 58 anos.
O linfoma é o tipo de câncer que se desenvolve nos linfonodos ou gânglios linfáticos, popularmente conhecidos como ínguas. Ele surge quando a célula linfática, o linfócito – uma das responsáveis pela defesa natural do organismo contra infecções – sofre uma mutação e começa a se proliferar. O acúmulo dessas células gera massas tumorais inicialmente nos gânglios linfáticos, podendo acometer outras regiões. Existem dois tipos principais: o linfoma de Hodgkin, com quatro subtipos que representam cerca de 20% dos casos e geralmente tem melhor prognóstico, e o linfoma não Hodgkin, o mais comum e com mais de 40 subtipos, que podem ser mais agressivos ou indolentes.
Muitos subtipos têm cura. O linfoma de Hodgkin, por exemplo, é curável em 60% a 90% dos casos, dependendo do estágio de evolução e dos fatores de risco. Os linfomas não Hodgkin agressivos também são curáveis em mais de 60% dos casos com os tratamentos atuais. Apenas os não Hodgkin indolentes, que afetam principalmente pacientes com mais de 60 anos de idade, geralmente não são curáveis, mas a evolução da doença também pode ser reduzida com medicações como o rituximabe, o mais frequentemente usado.
O linfoma não Hodgkin não é uma doença única. Segundo Alexandre Chiari, oncologista clínico da Oncomed e do Hospital da Polícia Militar, trata-se de um grupo heterogêneo de uma doença neoplásica com origem nos linfonodos. “Não existe 'o' linfoma de Hodgkin e sim uma gama de linfomas não Hodgkin. São pouco mais de 40 subtipos diferentes, com prognósticos e tratamentos distintos. O mais comum deles, o linfoma difuso de grandes células B, é altamente curável”, explica. Alguns tipos requerem, inclusive, auto-transplante de medula óssea, como ocorreu com Gianecchini.
ABORDAGEM
Segundo a hematologista e oncologista Adriana Scheliga, que atua no Inca com assistência, ensino e pesquisa, principalmente de linfomas não Hodgkin, linfomas Hodgkin e mieloma múltiplo, o rituximabe, administrado de forma venosa, interage com uma proteína localizada na superfície de alguns linfócitos e desencadeia uma série de reações químicas que levam à morte da célula. Diferentemente da quimioterapia clássica, que mata não somente as células doentes, mas também ataca as sadias, o medicamento age somente sobre as cancerígenas.
Assim, além de oferecer maiores chances de cura com melhor qualidade de vida, há boa tolerabilidade, não se observando os efeitos colaterais frequentes da quimioterapia, como queda de cabelo e efeitos tóxicos no coração e nos rins. A inclusão dos anticorpos monoclonais no tratamento padrão de linfoma, de acordo com a especialista, reduziu consideravelmente o número de mortes pela doença. Com uso aprovado no Brasil desde 1998, o acesso ao medicamento, de alto custo, foi incorporado à rede pública e hoje tanto pacientes particulares como os do Sistema Único de Saúde podem se beneficiar. “Com a combinação da quimioterapia e o medicamento, o paciente passa mais tempo sem voltar ao hospital, sem fazer tratamentos e com mais qualidade de vida”, explica a especialista.
A combinação de rituximabe e quimioterapia é o padrão ouro de tratamento, mas não é indicado para todos os casos. Segundo a hematologista Paula Cardoso Bastos Marun, do Oncocentro, é preciso ter o receptor específico para que a medicação faça efeito. Hoje, na rede particular, já está disponível o rituximabe subcutâneo, de aplicação rápida, como se fosse uma insulina. O tradicional precisa de um tempo de infusão de três a seis horas.
SINTOMAS
Aumento de nódulos nas regiões cervical, axilar e inguinal, febre, sudorese noturna e perda de peso são alguns dos sintomas do linfoma não Hodgkin. Segundo Paula Cardoso, a febre sugestiva da doença é geralmente vespertina e frequente, mas só a biópsia é capaz de dar um diagnóstico diferencial. “O linfoma de Hodgkin é mais comum em pessoas jovens e atinge regiões próximas ao coração, então não dá para se ter certeza antes do resultado da biópsia. Depois dessa, é preciso avaliar onde está o tumor por meio de tumografia ou Pet CT”, explica. Segundo a hematologista, o linfoma é uma doença genética, mas algumas doenças podem estar associadas, caso de quem tem outras infecções como pelo vírus Epstein-barr e HIV. Segundo o Inca, o H. pylori, o vírus da hepatite C, e o vírus linfotrópico, para células T do tipo 1, também estão associadas a um maior risco no desenvolvimento dos linfomas não Hodgkin.
Números no Brasil
Estimam-se 5.210 casos novos de linfoma não Hodgkin em homens e 5.030 em mulheres para o Brasil, este ano. Sem considerar os tumores de pele não melanoma, o linfoma não Hodgkin em homens varia de nono a 11º mais frequente, dependendo da região. Para as mulheres, chega a ser o oitavo mais frequente na Região Sudeste e 12º no Nordeste. O linfoma não Hodgkin é composto de uma variedade de doenças com comportamento de incidência bastante variado no mundo. Foram estimados cerca de 390 mil casos novos (2,7% do total de câncer) e 200 mil óbitos (2,4% do total de óbitos) no mundo para o ano de 2012. Desses, cerca de 50% dos casos de incidência e 67% dos óbitos ocorrem em regiões menos desenvolvidas, refletindo assim uma sobrevida baixa da doença. As maiores taxas de incidência encontram-se na América do Norte, Austrália, Nova Zelândia e em algumas partes da Europa.
Dilma Rousseff ainda era candidata à Presidência da República quando foi diagnosticada com um linfoma. Em 2009, grande parte dos brasileiros sequer sabia que isso era um tipo de câncer. Uma pesquisa do Instituto DataFolha, na época, revelou que 51% da população brasileira nunca tinha ouvido falar sobre essa que está entre as 10 neoplasias mais frequentes em todo o mundo. Um desconhecimento preocupante, já que a doença pode ter o tratamento potencializado com a detecção precoce. Depois de Dilma, o ator Reynaldo Gianecchini recebeu o mesmo diagnóstico e ficou curado. Agora, foi a vez do também ator Edson Celulari, de 58 anos.
Saiba mais...
"Reuni minhas forças, meus santos, um punhado de coragem... coloquei tudo numa sacola e estou indo cuidar de um linfoma não Hodgkin. Foi um susto, mas estou bem e ao lado de pessoas amadas. A equipe médica é competente e experiente. Estou confiante e pensando positivo. Com determinação e fé, sairei desse tratamento ainda mais forte. Todo carinho será bem-vindo”, postou o ator em uma rede social, em uma foto no qual aparece careca. A ex-mulher Cláudia Raia também usou as redes sociais para postar uma foto da filha deles, Sophia, de 13 anos, dando um beijo na cabeça do pai.- PET-CT no Sus: Exame que rastreia câncer de pulmão, colorretal e linfoma só está disponível em oito estados do Brasil
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O linfoma é o tipo de câncer que se desenvolve nos linfonodos ou gânglios linfáticos, popularmente conhecidos como ínguas. Ele surge quando a célula linfática, o linfócito – uma das responsáveis pela defesa natural do organismo contra infecções – sofre uma mutação e começa a se proliferar. O acúmulo dessas células gera massas tumorais inicialmente nos gânglios linfáticos, podendo acometer outras regiões. Existem dois tipos principais: o linfoma de Hodgkin, com quatro subtipos que representam cerca de 20% dos casos e geralmente tem melhor prognóstico, e o linfoma não Hodgkin, o mais comum e com mais de 40 subtipos, que podem ser mais agressivos ou indolentes.
Muitos subtipos têm cura. O linfoma de Hodgkin, por exemplo, é curável em 60% a 90% dos casos, dependendo do estágio de evolução e dos fatores de risco. Os linfomas não Hodgkin agressivos também são curáveis em mais de 60% dos casos com os tratamentos atuais. Apenas os não Hodgkin indolentes, que afetam principalmente pacientes com mais de 60 anos de idade, geralmente não são curáveis, mas a evolução da doença também pode ser reduzida com medicações como o rituximabe, o mais frequentemente usado.
O linfoma não Hodgkin não é uma doença única. Segundo Alexandre Chiari, oncologista clínico da Oncomed e do Hospital da Polícia Militar, trata-se de um grupo heterogêneo de uma doença neoplásica com origem nos linfonodos. “Não existe 'o' linfoma de Hodgkin e sim uma gama de linfomas não Hodgkin. São pouco mais de 40 subtipos diferentes, com prognósticos e tratamentos distintos. O mais comum deles, o linfoma difuso de grandes células B, é altamente curável”, explica. Alguns tipos requerem, inclusive, auto-transplante de medula óssea, como ocorreu com Gianecchini.
ABORDAGEM
Segundo a hematologista e oncologista Adriana Scheliga, que atua no Inca com assistência, ensino e pesquisa, principalmente de linfomas não Hodgkin, linfomas Hodgkin e mieloma múltiplo, o rituximabe, administrado de forma venosa, interage com uma proteína localizada na superfície de alguns linfócitos e desencadeia uma série de reações químicas que levam à morte da célula. Diferentemente da quimioterapia clássica, que mata não somente as células doentes, mas também ataca as sadias, o medicamento age somente sobre as cancerígenas.
Assim, além de oferecer maiores chances de cura com melhor qualidade de vida, há boa tolerabilidade, não se observando os efeitos colaterais frequentes da quimioterapia, como queda de cabelo e efeitos tóxicos no coração e nos rins. A inclusão dos anticorpos monoclonais no tratamento padrão de linfoma, de acordo com a especialista, reduziu consideravelmente o número de mortes pela doença. Com uso aprovado no Brasil desde 1998, o acesso ao medicamento, de alto custo, foi incorporado à rede pública e hoje tanto pacientes particulares como os do Sistema Único de Saúde podem se beneficiar. “Com a combinação da quimioterapia e o medicamento, o paciente passa mais tempo sem voltar ao hospital, sem fazer tratamentos e com mais qualidade de vida”, explica a especialista.
A combinação de rituximabe e quimioterapia é o padrão ouro de tratamento, mas não é indicado para todos os casos. Segundo a hematologista Paula Cardoso Bastos Marun, do Oncocentro, é preciso ter o receptor específico para que a medicação faça efeito. Hoje, na rede particular, já está disponível o rituximabe subcutâneo, de aplicação rápida, como se fosse uma insulina. O tradicional precisa de um tempo de infusão de três a seis horas.
SINTOMAS
Aumento de nódulos nas regiões cervical, axilar e inguinal, febre, sudorese noturna e perda de peso são alguns dos sintomas do linfoma não Hodgkin. Segundo Paula Cardoso, a febre sugestiva da doença é geralmente vespertina e frequente, mas só a biópsia é capaz de dar um diagnóstico diferencial. “O linfoma de Hodgkin é mais comum em pessoas jovens e atinge regiões próximas ao coração, então não dá para se ter certeza antes do resultado da biópsia. Depois dessa, é preciso avaliar onde está o tumor por meio de tumografia ou Pet CT”, explica. Segundo a hematologista, o linfoma é uma doença genética, mas algumas doenças podem estar associadas, caso de quem tem outras infecções como pelo vírus Epstein-barr e HIV. Segundo o Inca, o H. pylori, o vírus da hepatite C, e o vírus linfotrópico, para células T do tipo 1, também estão associadas a um maior risco no desenvolvimento dos linfomas não Hodgkin.
Números no Brasil
Estimam-se 5.210 casos novos de linfoma não Hodgkin em homens e 5.030 em mulheres para o Brasil, este ano. Sem considerar os tumores de pele não melanoma, o linfoma não Hodgkin em homens varia de nono a 11º mais frequente, dependendo da região. Para as mulheres, chega a ser o oitavo mais frequente na Região Sudeste e 12º no Nordeste. O linfoma não Hodgkin é composto de uma variedade de doenças com comportamento de incidência bastante variado no mundo. Foram estimados cerca de 390 mil casos novos (2,7% do total de câncer) e 200 mil óbitos (2,4% do total de óbitos) no mundo para o ano de 2012. Desses, cerca de 50% dos casos de incidência e 67% dos óbitos ocorrem em regiões menos desenvolvidas, refletindo assim uma sobrevida baixa da doença. As maiores taxas de incidência encontram-se na América do Norte, Austrália, Nova Zelândia e em algumas partes da Europa.