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Estudo com 44 mil pessoas aponta eficácia de técnicas de motivação

Dizer a si mesmo que é possível alcançar um resultado cada vez melhor realmente ajuda quem enfrenta situações desafiadoras, conclui estudo britânico

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Vilhena Soares - Correio Braziliense Publicação:19/07/2016 09:00Atualização:14/07/2016 16:35
Memórias positivas recentes têm potencial de ajudar a relaxar (CB/D.A Press)
Memórias positivas recentes têm potencial de ajudar a relaxar
“Mude seus pensamentos e você mudará seu mundo.” Uma das mais famosas frases do escritor americano Norman Vincent Peale, conhecido por pregar o valor do otimismo, tornou-se uma máxima bastante explorada pela literatura de autoajuda. Antes de torcer o nariz para a sentença, duvidando de seu valor, saiba que uma pesquisa britânica acaba de encontrar evidências de que o pensamento positivo pode, sim, surtir efeito prático na vida das pessoas, ajudando-as a obter melhores resultados em tarefas desafiadoras.

A conclusão é baseada em um amplo experimento que avaliou o desempenho em um jogo on-line do qual participaram 44 mil pessoas. Os resultados mostraram que estratégias de motivação realmente fizeram a diferença no resultado final. Além de ajudar no cotidiano, afirmam os cientistas, uma atitude positiva pode servir como auxílio no tratamento de distúrbios mentais que causam desequilíbrios de humor, como a depressão.

Os autores do estudo trabalham há anos com o acompanhamento psicológico de atletas, ajudando-os a se prepararem emocionalmente para competições. Com o novo trabalho, publicado na revista especializada Frontiers in Psychology, eles queriam descobrir que tipo de técnica motivacional pode ser mais eficaz. Assim, além de elaborar um jogo on-line, eles dividiram os milhares de voluntários em 12 grupos, cada um estimulado por um tipo de estratégia, com exceção de um, que não foi motivado de nenhuma maneira e serviu como grupo de controle.

Um dos incentivos, por exemplo, consistia em, antes do desafio, assistir a um vídeo motivacional gravado pelo corredor Michael Johnson, atleta ganhador de quatro ouros olímpicos. Outro era, depois de ter jogado uma vez, ser estimulado a se imaginar alcançando um melhor resultado em uma nova tentativa. Uma terceira possibilidade: dizer a si mesmo que conseguiria fazer melhor e voltar a encarar o jogo.

Concentração

Em comparação ao grupo que não recebeu nenhum estímulo, todas as demais turmas se saíram melhor, sugerindo que estratégias motivacionais dos mais variados tipos surtem efeito. No entanto, algumas técnicas se mostraram mais eficientes, especialmente a de dizer a si mesmo “Eu posso alcançar um resultado melhor”, chamada pelos pesquisadores de self-talk-outcome (expressão que poderia ser traduzida como resultado do falar sozinho). Imaginar-se alcançando um melhor resultado ou reagindo mais rapidamente aos desafios também surtiram bons efeitos, assim como o vídeo com Michael Johnson.

“A mensagem-chave do estudo é que uma breve repetição de frases de afirmação ou vídeos centrados em resultados motivacionais aumentam a emoção, a excitação e o esforço, o que leva a um melhor desempenho, à medida que melhoramos o foco de atenção e esforço na tarefa”, afirma Tracey Devonport, pesquisadora da Universidade de Wolverhampton e uma das autoras do estudo.

Para Izaela Macario, psicóloga do Instituto Aliança Oncologia, em Brasília, o que explica o resultado é mesmo a concentração gerada pelas atividades de motivação. “É importante deixar claro que não existe uma espécie de ‘pensamento mágico’, que faz você conquistar o que quer. Não é por aí. Mas pensar positivo pode fazer a diferença porque faz com que você fique bem direcionado”, analisa a especialista, que não participou do estudo. “Existem pesquisas que mostram como o estresse pode influenciar a produção de hormônios e o humor da pessoa, pesando em resultados, o que mostra uma concordância com as conclusões desse estudo”, acrescenta.

Além do esporte
Os autores vão, agora, testar as técnicas em judocas que participarão dos Jogos Olímpicos no Brasil e outros grupos, mas Devonport está convencida de que elas podem ser úteis também para as mais variadas situações do cotidiano. “Queremos oferecer essas intervenções on-line para o público em geral, de estudantes a atletas de elite”, adianta a pesquisadora. “Enfrentamos desafios em todos os aspectos de nossas vidas: um importante exame no qual precisamos ir bem, um teste de condução, uma disputa esportiva, um pedido de aumento, o debate de uma questão importante. As técnicas que usamos podem ser aplicadas em todos esses contextos. Considere um cenário como uma entrevista de emprego. Podemos, provavelmente, antecipar os tipos de perguntas que serão feitas e nos vermos respondendo com clareza e confiança”, exemplifica.

Vladimir Melo, doutorando em psicologia na Universidade Católica de Brasília e terapeuta familiar, também acredita que atividades de autoafirmação podem fazer a diferença na vida das pessoas. “Recentemente, li um livro chamado A realidade inventada (de Paul Watzlawick, editora Psy II), que aborda esse tema. Mesmo em pesquisas, cientistas com visões otimistas e pessimistas podem influenciar no resultado, e por isso eles tomam cuidado para que sua posição não contamine o resultado da pesquisa”, destaca.

O terapeuta também acredita que o pensamento positivo pode ajudar pacientes de saúde mental. “A psicologia se interessa muito pela forma como as pessoas encaram a vida, seja positiva ou negativamente. Isso ajuda a entender as mudanças de pensamento, que podem contribuir para compreender problemas como a depressão, na qual, em um momento, a pessoa está bem e, depois, não. É preciso saber por que ocorre essa mudança”, acredita.

Memórias felizes
Outro estudo recente apontou que memórias positivas recentes têm potencial de ajudar a relaxar. Psicólogos da Universidade de Liverpool, no Reino Unido, pediram a 123 pessoas que se lembrassem de um evento agradável recente enquanto eram induzidas ao relaxamento. Testes para medir o nível de satisfação do grupo revelaram grandes níveis de sentimentos ligados ao bem-estar individual e em grupo. “Esse resultado sugere que induzir o pensamento positivo tem o potencial para ser um método prático e eficaz para aumentar o humor de indivíduos com problemas de saúde mental específicos, tais como a ansiedade ou a depressão”, destacou, em um comunicado, Peter Taylor, pesquisador do Instituto de Psicologia, Saúde e Sociedade da universidade.

Prazer fortalece o organismo
Em um experimento com ratos, divulgado ao longo da semana, cientistas americanos notaram que a ativação de um circuito do cérebro ligado à sensação de prazer impulsionou o sistema imunológico dos animais. Os cientistas já desconfiavam desse efeito, ao levar em consideração estudos anteriores, que mostraram como o uso de remédios sem efeito (placebo) rende resultados positivos.

Em busca de mais dados, a equipe incubou células do sistema imune de roedores após eles terem passado por uma atividade que estimulou um circuito de recompensa do cérebro, chamado de área tegmental ventral. Em seguida, as células foram expostas à bactéria E. coli, mas se mostraram duas vezes mais eficazes no combate ao micro-organismo do que normalmente.

Uma segundo experiência consistiu em vacinar ratos com essas células do sistema imunológico impulsionadas. Quando, 30 dias depois, os animais foram expostos à mesma bactéria, eles também se mostraram mais resistentes que roedores usados como grupo de controle.

Expectativas

Os autores explicam que a área tegmental ventral é estimulada nos animais quando existem expectativas positivas, como a chegada de uma refeição mais saborosa ou a proximidade de um encontro sexual. Nesses momentos, essa região manda uma mensagem para o sistema nervoso simpático, responsável por dar respostas a crises, o que provoca também uma reação imune de combate a agentes invasivos, como as bactérias.

“A alimentação e o sexo expõem o indivíduo a bactérias. Isso lhe daria uma vantagem evolutiva. Quando o sistema de recompensa é ativado, a imunidade também aumenta”, disse, à agência de notícias France-Presse, Asya Rolls, professora da Faculdade de Medicina do Instituto Technion-Israel de Tecnologia e uma das autoras do trabalho.

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