Programas contra o câncer não são postos em prática e doença mata cada vez mais no Brasil
A demora de meses e até anos à espera de atendimento resulta em mortes que poderiam ser evitadas com tratamento adequado
Agência Estado
Publicação:15/08/2016 11:30Atualização: 15/08/2016 11:35
Especialistas das redes pública e privada da saúde, reunidos na quarta-feira (10/08) em São Paulo, em mais um evento da série Fóruns Estadão, realizado pelo Grupo Estado, concordaram que, antes mesmo de novas iniciativas, é necessária uma mobilização para pôr em prática as medidas já aprovadas. "Nosso compromisso deve ser o de melhorar a gestão na saúde para usar bem no que já temos. Existem centenas de serviços e equipamentos prontos, mas que não estão em funcionamento.
"Enquanto não estivermos usando bem o que já temos, não tenho moral para pedir mais recursos", declarou o ministro da saúde, Ricardo Barros, presente ao encontro.
A oncologista Maira Caleffi, presidente da Femama, ONG voltada ao combate do câncer de mama, ressaltou as falhas na aplicação da Portaria 874, de 2013, que instituiu a política nacional para prevenção e controle do câncer. "Essa portaria é um primor, inclui tudo o que a gente gostaria de ter. Mas precisa ser executada."
Oncologista clínico do Hospital Albert Einstein e diretor científico do Instituto Oncoguia, Rafael Kaliks foi enfático ao sustentar que, para ele, a única forma de melhorar o atendimento oncológico à população é "a interação entre o SUS e a medicina suplementar. A estrutura do SUS é pobre. Deveríamos usar o parque instalado da medicina suplementar".
Para Kaliks, "decisões erradas de governo têm levado a mortes evitáveis". "O Ministério (da Saúde) tem de assumir a responsabilidade de pôr as pessoas certas no lugar certo. Por exemplo, quem determina qual medicamento ou tratamento deve ser incorporado ao SUS?"
Alto custo de medicamentos
O alto custo das novas drogas para tratamento do câncer também foi alvo de críticas. Vários dos medicamentos recém-lançados para combater tumores chegam a custar mais de R$ 100 mil.
"O preço das drogas é impagável até para a sociedade americana, que tem mais recursos. Esses preços vão quebrar o sistema privado e são difíceis de praticar no setor público", disse Rafael Kaliks, oncologista do Hospital Israelita Albert Einstein e diretor científico do Oncoguia, durante o Fórum Estadão Saúde.
O presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, Gustavo Fernandes, defendeu que governo e indústria farmacêutica tenham maior diálogo para negociar os preços dos medicamentos. "Mas, para isso, o governo precisa dizer que tem interesse em comprar mas não consegue pagar, em vez de afirmar que não incorpora a droga por falta de eficácia, como faz hoje", disse.
A Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma) diz que todo medicamento vendido ao governo passa por amplas negociações, com base em critérios estabelecidos pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos. Além disso, a definição leva em conta o menor preço de um grupo de nove países com os quais o Brasil faz a comparação de valores.
"Mais reduções seriam possíveis se, em vez de permitir a judicialização, o governo fizesse um levantamento para identificar quais drogas, especialmente para câncer, são realmente necessárias para o SUS. Com base nisso, se o governo incorporasse essas terapias, possibilitaria descontos ainda maiores pela estabilidade e volume das compras", disse a Interfarma, em nota.
Saiba mais...
As críticas ao Sistema Único de Saúde (SUS) são muitas e bem conhecidas. Atendimento precário, falta desde médicos a medicamentos básicos. No caso do câncer, em particular, a demora de meses e até anos à espera de atendimento resulta em mortes que poderiam ser evitadas com tratamento adequado. Políticas e programas de saúde anunciados para melhorar o atendimento oncológico não têm conseguido conter o crescente número de ocorrências e de óbitos.- Rede pública é mais efetiva do que particular para tratar esclerose múltipla
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Especialistas das redes pública e privada da saúde, reunidos na quarta-feira (10/08) em São Paulo, em mais um evento da série Fóruns Estadão, realizado pelo Grupo Estado, concordaram que, antes mesmo de novas iniciativas, é necessária uma mobilização para pôr em prática as medidas já aprovadas. "Nosso compromisso deve ser o de melhorar a gestão na saúde para usar bem no que já temos. Existem centenas de serviços e equipamentos prontos, mas que não estão em funcionamento.
"Enquanto não estivermos usando bem o que já temos, não tenho moral para pedir mais recursos", declarou o ministro da saúde, Ricardo Barros, presente ao encontro.
A oncologista Maira Caleffi, presidente da Femama, ONG voltada ao combate do câncer de mama, ressaltou as falhas na aplicação da Portaria 874, de 2013, que instituiu a política nacional para prevenção e controle do câncer. "Essa portaria é um primor, inclui tudo o que a gente gostaria de ter. Mas precisa ser executada."
Oncologista clínico do Hospital Albert Einstein e diretor científico do Instituto Oncoguia, Rafael Kaliks foi enfático ao sustentar que, para ele, a única forma de melhorar o atendimento oncológico à população é "a interação entre o SUS e a medicina suplementar. A estrutura do SUS é pobre. Deveríamos usar o parque instalado da medicina suplementar".
Para Kaliks, "decisões erradas de governo têm levado a mortes evitáveis". "O Ministério (da Saúde) tem de assumir a responsabilidade de pôr as pessoas certas no lugar certo. Por exemplo, quem determina qual medicamento ou tratamento deve ser incorporado ao SUS?"
Alto custo de medicamentos
O alto custo das novas drogas para tratamento do câncer também foi alvo de críticas. Vários dos medicamentos recém-lançados para combater tumores chegam a custar mais de R$ 100 mil.
"O preço das drogas é impagável até para a sociedade americana, que tem mais recursos. Esses preços vão quebrar o sistema privado e são difíceis de praticar no setor público", disse Rafael Kaliks, oncologista do Hospital Israelita Albert Einstein e diretor científico do Oncoguia, durante o Fórum Estadão Saúde.
O presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, Gustavo Fernandes, defendeu que governo e indústria farmacêutica tenham maior diálogo para negociar os preços dos medicamentos. "Mas, para isso, o governo precisa dizer que tem interesse em comprar mas não consegue pagar, em vez de afirmar que não incorpora a droga por falta de eficácia, como faz hoje", disse.
A Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma) diz que todo medicamento vendido ao governo passa por amplas negociações, com base em critérios estabelecidos pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos. Além disso, a definição leva em conta o menor preço de um grupo de nove países com os quais o Brasil faz a comparação de valores.
"Mais reduções seriam possíveis se, em vez de permitir a judicialização, o governo fizesse um levantamento para identificar quais drogas, especialmente para câncer, são realmente necessárias para o SUS. Com base nisso, se o governo incorporasse essas terapias, possibilitaria descontos ainda maiores pela estabilidade e volume das compras", disse a Interfarma, em nota.