Repórter narra experiência como caçador de Pokémon: 'Mesmo divertido, o jogo cansa'

Foram horas e horas dedicadas a andar pela cidade caçando monstrinhos, chocando ovos, perdendo lutas para outros jogadores e observando o fenômeno de Pokémon Go tomar as ruas de BH

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Gustavo Perucci - Estado de Minas Publicação:21/08/2016 08:47Atualização:21/08/2016 09:42
 (EM / D.A Press)
“Foram duas semanas intensas. Entre trabalhar, cuidar da casa, passear com o cachorro, preparar a festa de um ano do afilhado e resolver pendências normais do dia a dia, me enfurnei nos últimos 15 dias na nova febre mundial: caçar pokémons. A sugestão da matéria sobre a experiência de capturar os tais monstrinhos pela cidade surgiu da curiosidade pessoal de alguém que cresceu e que até hoje curte jogos eletrônicos e de todo frenesi causado pelo lançamento do game de realidade aumentada. Confesso que, mesmo gostando bastante de desenhos animados, não tenho familiaridade com as aventuras de Ash e seu fiel companheiro Pikachu na TV. Mesmo assim, desconhecer os personagens e enredo do cartoon não influencia na experiência. Do início empolgado à falta de propósito dos últimos dias, foram horas caminhando sem rumo por diferentes cantos de BH, uma infinidade de pokebolas gastas, visitas a vários pokestops, alguns ovos chocados (sim, temos que chocar ovos virtualmente...), poucas batalhas (todas perdidas), nenhum ginásio conquistado, um exército de Goldbats inútil e a sensação de que, mesmo divertido, o jogo cansa.”
O Saúde Plena foi atrás de outros afoitos jogadores para contar para vocês as sensações e impressões de cada um sobre a febre do momento.

 14 dias na  realidade aumentada

Sala de parto, banheiro, casamento e até velório. Não há limite para os tais monstrinhos de bolso. A cada dia, eles aprontavam mais alguma. Aglomerações espontâneas, acidentes, assaltos, invasões. Notícias e mais notícias da febre que curvava ainda mais crianças, jovens e adultos à tela de smartphones pipocavam na internet. Sacanagem é a palavra que melhor descreve a fase de testes que justificaram o lançamento do jogo com restrição geográfica. Gamers da Austrália, Estados Unidos e Nova Zelândia foram os primeiros agraciados.

De pouco em pouco, Pokémon Go se aproximava cada vez mais o Brasil. Um ou outro conseguiu baixar o game antes do lançamento, o que me motivava a conferir diariamente (umas 10 vezes por dia) se já estava liberado ou não. Sem sucesso, só restava esperar. A agonia demorou quase um mês para findar. Enfim, em 3 de agosto, os monstrinhos dominaram o território nacional, causando o mesmo alvoroço que em países estrangeiros. De uma hora para outra, Belo Horizonte passou a abrigar diversos pokéstops e ginásios e foi tomada por Pikachus, Bulbasaurs, Charmanders, Krabbys, os infames Zubats e outra infinidade de personagens da animação japonesa.

PARA ENTENDER

De um dia para o outro, os monstrinhos começaram a surgir nos locais mais inusitados, como um velório e uma sala de parto, chamando a atenção (Fotos: Pokémon Go / Reprodução Tela)
De um dia para o outro, os monstrinhos começaram a surgir nos locais mais inusitados, como um velório e uma sala de parto, chamando a atenção
O sucesso de Pokémon Go pode ser atribuído a duas razões: o apelo de uma franquia de mídia bem estabelecida – com série animada de TV, filmes, jogos eletrônicos, mangás (quadrinho japoneses) e brinquedos – unido ao recurso não tão novo, mas ainda não tão bem explorado, da realidade aumentada. O enredo da história é bem simples: os humanos capturam as criaturas, armados de suas pokébolas, as treinam e lutam um contra o outro, como em um esporte. O que a Niantic, produtora do jogo, fez foi trazer toda a ação do desenho para, digamos, a vida real. São 20 anos de franquia, que surgiu como um jogo do videogame de mão Game Boy e, em 1997, ganhou a famosa série animada e que encanta até hoje crianças de todo o mundo. Os personagens centrais do anime, que está na sua 20ª temporada, é o garoto de 10 anos Ash Ketchum e Pikachu, um pokémon revoltado, que não gosta de ficar em sua pokébola. O desenho gerou controvérsia quando espectadores, diante dos efeitos visuais para reproduzir o pode do choque elétrico do inseparável companheiro do protagonista, tiveram ataques epiléticos. Nada, porém, que pudesse parar o carisma desses monstrinhos. É uma infinidade de criaturas, com inspirações diversas (geralmente baseada em animais reais) e diferentes poderes. Eles são divididos em tipos: fogo, água, grama, terra, psíquico, lutador, fantasma, voador, inseto, elétrico e por aí vai. Cada poder leva vantagem sobre o outro, e isso é replicado no jogo. Tabelas e análises sobre isso têm aos baldes na internet. Com o lançamento do game, essa produção de dados sobre os bichinhos de intensificou.

PERFIL

Homem, casado, jornalista, 34 anos, pai de um cachorro (o Bartholomeu). Convivo com jogos eletrônicos desde a infância. Do famoso Donkey Kong portátil aos consoles mais modernos, sempre gostei de games, quadrinhos, desenhos animados, super-heróis e afins. Pode parecer meio infantil, mas é perfil comum entre pessoas da minha idade, que nasceram na era dos videogames e cartoons. Por isso, a empolgação e ansiedade em relação ao lançamento de Pokémon Go, a promessa de concatenação dos mundos real e virtual e todas as possibilidades que essa realidade aumentada pode trazer ao mundo dos jogos eletrônicos. Entendido o perfil, continuemos com a história.

O COMEÇO

Tentar dirigir e capturar as criaturas pode causar acidentes. Se o jogo ficar aberto, com certeza eles vão
aparecer hora ou outra. Além de infração de trânsito, é difícil permanecer concentrado no trânsito ao arremessar as pokébolas (Fotos: Pokémon Go / Reprodução Tela)
Tentar dirigir e capturar as criaturas pode causar acidentes. Se o jogo ficar aberto, com certeza eles vão aparecer hora ou outra. Além de infração de trânsito, é difícil permanecer concentrado no trânsito ao arremessar as pokébolas
Como costumam dizer, comi mosca no dia do lançamento. As tarefas diárias de um adulto me fizeram esquecer momentaneamente a curiosidade sobre o game. Tinha chegado do trabalho e, esperando a esposa voltar para casa, comecei a adiantar o jantar. Nem lembrava do tal Pokémon – estava mais entretido com a primeira tentativa na vida de confeccionar capeletes caseiros (esses sim, os primeiros monstrinhos com que me deparei na noite). No meio do trabalhoso processo, a patroa chega em casa com a notícia da liberação. Ela não é muito empolgada com jogos, mas, enquanto me via apanhar na cozinha, baixou o app e começou a instigar ainda mais minha curiosidade. “O que faço?”, perguntava. “Não sei!”, eu respondia, encoberto de farinha de trigo, na terceira tentativa de enrolar pasteizinhos italianos. Fazer o quê, não é? Tinha de terminar o jantar para poder, enfim, virar um caçador. Coisa de vida adulta... Como já era mais de 22h quando, finalmente, pude acessar o universo dos pokémons, a exploração na rua ficou para outro dia. Em casa mesmo, jantando no quarto, capturei meu primeiro monstrinho: Charmander, um dinossaurinho com poder do fogo. Na mesma noite, em cômodos diferentes da residência, capturei outros monstrinhos. Outros não. Basicamente zubats, morcego sem olhos com poder do veneno. Não sabia, mas esses bichinhos alados sem olhos me assombrariam durante as próximas duas semanas.

FINALMENTE, À RUA!


No dia seguinte, a empolgação era notória. Relatei para a esposa das criaturas capturadas e, antes mesmo de checar, como de costume, o WahtsApp e redes sociais, já estava com Pokémon Go ligado. O passeio diário com o Barthô ficou para mais tarde, pois queria sair logo e começar minha jornada concentrado em caçar os tais bichos. Caminhando pelas ruas com um olho no celular e outro nas pessoas, era fácil identificar quem estava jogando. Homens de terno, crianças atrasando pais impacientes, adolescentes com uniforme escolar. Impossível definir um tipo padrão de jogador. Na van escolar que levava alunos a uma tradicional escola da Zona Sul de BH, era possível escutar, do carro vizinho parado no sinal, a empolgação dos estudantes. “Já peguei tal e tal”, se empolgava um. “Sei um jeito de começar com o Pikachu”, gritava outro. Todos com os olhos nos computadores de bolso, empolgadíssimos com a novidade. E é bom o motorista do escolar preparar o ouvido, pois ele ainda vai escutar muita conversa animada sobre caçar pokémons. Na Praça ABC, no cruzamento das avenidas Getúlio Vargas e Afonso Pena, jovens em grupos ou sozinhos aproveitavam a aglomeração de pokéstops e ginásios. Enquanto prestava atenção nos outros, começava a colecionar zubats, ainda sem entender a dinâmica do jogo.

EVOLUINDO

Prestes a completar 1 ano, meu afilhado, Elias, tem seu sono atrapalhado por um Pidgey. Melhor esse pássaro virtual que um pernilongo... (Pokémon Go / Reprodução Tela)
Prestes a completar 1 ano, meu afilhado, Elias, tem seu sono atrapalhado por um Pidgey. Melhor esse pássaro virtual que um pernilongo...
Como todo gamer empolgado, já tinha lido notícias e tutoriais do jogo, suficientes para me dar uma ideia do que deveria fazer. Na prática, as dicas vindas do exterior e replicadas por aficionados brasileiros ajudam, mas leva certo tempo até entender como jogar. No caminho da casa dos meu pais, onde estaciono o carro, para seguir para o trabalho, todos os ginásios já tinham donos. Poxa, em poucas horas, jogadores já haviam alcançado níveis de treinador bem altos. Estava apenas no nível 2, enquanto outros já haviam alcançado o 10 ou 12, com monstros bem poderosos. Guiado pelo que li, segui caçando mais e mais monstrinhos e coletando o máximo de itens possíveis nos pokéstops pelo caminho. Fazendo o percurso mais curto para chegar ao jornal, passo por seis deles. Para o primeiro dia, já era o suficiente para matar a curiosidade inicial. Na volta para o carro, a mesma rotina: observando o movimento de jogadores nas ruas, seguia colecionando pokémons (basicamente zubats) e acumulando poções, incensos, ovos e pokébolas. Era hora de voltar para casa, pegar o Barthô e explorar a minha vizinhança, na Região Oeste de BH.

OCASIÃO FAZ O LADRÃO

Quem não leu as notícias sobre acidentes de trânsito e até atropelamentos motivados pela irresponsabilidade de pessoas jogando Pokémon Go no carro? Pois é... Estava empolgado, querendo evoluir rápido. Na volta para casa, não consegui evitar: deixei o celular ligado no app enquanto dirigia. E realmente é bastante arriscado. Ao surgir um desses monstrinhos de bolso inédito na minha coleção, era inevitável a tentativa de capturá-lo. Só que direção e celular realmente não combinam. Recebida a devida buzinada do veículo na faixa ao lado, assustado com a investida sem sentido do meu carro para cima, deixei o smartphone no banco do passageiro e concentrei em chegar em casa sem causar nenhum acidente. Em todas as locomoções motorizadas que fiz, presenciei vários e vários motoristas (de carro ou motocicleta) jogando. Não vi nenhum acidente, mas era fácil perceber quem se aventurava a caçar dirigindo. Demora para arrancar o carro, paradas bruscas do nada, uma mão no volante outra no celular. Essa infração de trânsito já é comum, depois que redes sociais e aplicativos de mensagens ganharam força. Mas era notório que a nova mania mundial estimulava o comportamento ainda mais. Sem hipocrisia, criei algumas regras pessoais para jogar enquanto dirigia: só tentava capturar um pokémon se ele surgisse enquanto estava parado no engarrafamento (que, nessa situação, 'graças a Deus', são rotineiros em BH) ou no semáforo. Aproveitava a locomoção mais para encubar os ovos e coletar itens nos pokéstops do caminho do que para aumentar minha coleção. Mesmo assim, tenho certeza que irritei várias pessoas no trânsito nos primeiros dias dessa saga. Depois, vendo o papelão que estava fazendo, larguei a prática, me concentrando no jogo somente nas caminhadas.

Caça aos bichinho atrapalhou até o passeio diário com o cachorro, que não deixou de reclamar da atenção dividida. Na foto, Bartholomeu observa a vizinhança enquanto mais um Zubat sobrevoa sua cabeça (Pokémon Go/Reprodução de tela)
Caça aos bichinho atrapalhou até o passeio diário com o cachorro, que não deixou de reclamar da atenção dividida. Na foto, Bartholomeu observa a vizinhança enquanto mais um Zubat sobrevoa sua cabeça
O CÃO SOFRE

O Bartholomeu é um cachorro grande, que até mora em um espaço razoável. Mesmo assim, caminhadas diárias são imprescindíveis para a felicidade do xodó daqui de casa. Andamos cerca de uma hora por dia no sobe e desce dos morros típicos de BH. Só que, nos últimos dias, Barthô não tem ficado satisfeito com a dinâmica dos nossos passeios. Ele não entendia as paradas repentinas e a minha concentração no celular. Geralmente, nem levo o aparelho ao andar com ele. Queria continuar, mas precisava pegar mais e mais zubats. O percurso que costumamos fazer também foi alterado, guiado pelos poucos pokéstops e ginásios que existem na vizinhança. Para minha sorte, na Praça da Saúde, na Avenida Silva Lobo, bem perto de casa, um brinquedo público infantil virou uma parada para coleta de itens. Se o cachorro sofria com minha nova postura nas caminhadas, reclamando com o devido choro inconformado a atenção dividida entre ele e os bichos virtuais, qualquer motivo era suficiente para me fazer sair de casa para caminhar pelo bairro. Uma viagem à padaria, que fica a duas quadras do meu prédio, levava 20 minutos, meia hora. O pão era o menos importante. Queria mesmo era caçar pokémon.

PERAMBULANDO

No começo, a empolgação justifica. Depois, vai perdendo o sentido. Mesmo assim, Pokémon Go me motivou a sair de casa e andar pela cidade. Além do meu bairro e o do jornal, principais lugares das minhas investidas, passei pelo Gutierrez, Prado, Centro, Savassi, Praça da Liberdade, Santa Amélia, Ouro Preto e Lagoa da Pampulha. Onde ia, sacava o celular do bolso e começava a jogar. O comportamento das pessoas é diferente em cada uma dessas localidades. Nas vizinhanças da Região Centro-Sul, jogadores andam tranquilos, com smartphones em riste, comemorando cada conquista. Já no Centrão de BH, os mais desconfiados andavam com a mão e o telefone no bolso, provavelmente no modo silencioso, esperando a vibração que anuncia a aparição de um pokémon, checando de tempos em tempos a tela. Na praça que abrigava a antiga sede do governo do estado, uma multidão aproveita a segurança e abundância de pokéstops e ginásios para avançar no jogo. No dia 7 de agosto, um domingo, impressionava a concentração de jovens completamente voltados para a tela do celular, reunindo mais pessoas que evento cultural promovido por uma mineradora. Os estudantes Guilherme Alcântara e João Augusto Soares, de 18 e 19 anos, respectivamente, combinaram de se encontrar no local depois do almoço para jogar. Depois de uma hora caçando as criaturas, os dois não demonstravam sinal de cansaço. “Jogar aqui é bom demais. É cheio de pokéstops e a toda hora alguém usa um Lure Module”, afirma Guilherme. Os Lure Modules funcionam como um imã de pokémons quando aplicados nas paradas de coleta de itens. Durante os 30 minutos que o recurso funciona, a cada utilização, todos os jogadores próximos aproveitam o efeito. Depois de ajudar com a decoração do bolo do aniversário do meu afilhado, pedi licença a minha mãe e à minha esposa e segui para a praça. Nesse dia, bati meu recorde de capturas: 50 monstrinhos. Vai lá que quase 60% eram os infames zubats, mas consegui aumentar consideravelmente minha coleção. Voltando para a casa dos meus pais, um garoto, que aparentava ter 5 anos, exigia da mãe comprometimento e eficiência na caça dos bichinhos. “Tem que pegar todos, viu, mãe!?”, falava, ao sair de um restaurante. Percebi que minhas jornadas a pé começavam a se alongar por demais. Para coletar mais itens e aumentar as chances de captura, fui criando percursos diferentes para locomoções rotineiras. Se acrescentasse quatro quarteirões na caminhada entre o carro e o trabalho, mais três pokéstops cruzavam o caminho. Mais seis quadras, quatro novos pontos de coleta de itens.

INJUSTIÇA E TRANSFORMAÇÃO

Soninha não perdoou o Krabby intrometido que surgiu enquanto trabalhava: vassourada nele! (Pokémon Go / Reprodução Tela)
Soninha não perdoou o Krabby intrometido que surgiu enquanto trabalhava: vassourada nele!
Uma das vantagens apontadas pelos entusiastas de Pokémon Go, e lema do jogo (Get up and go, levante-se e vá, em tradução livre), é o estímulo à prática de exercício, ocupação do espaço público e redescoberta da cidade. Realmente, o game leva a observar detalhes que, na correria do dia a dia, passam batido pela nossa atenção. Nunca havia reparado, por exemplo, no mosaico de azulejos quebrados que enfeitam a parte superior do pequeno túnel no encontro das avenidas do Contorno, Raja Gabáglia e Álvares Cabral. Também me incentivou a procurar saber de quem era o busto fincado no passeio central da Avenida Getúlio Vargas, bem em frente à sede do EM. Sem nenhuma informação disponível no local e perante minha incapacidade de reconhecer a figura, tive de apelar para a internet para descobrir que é uma homenagem ao gaúcho de São Borja, líder da Revolução de 1930, que pôs fim à República Velha, e presidente da República em dois mandatos, que dá nome à avenida. Deu para notar, também como a cidade se transforma, já que vários dos pontos de referência utilizados para o jogo são grafites, muitos deles já apagados ou cobertos por novas pinturas. Um detalhe no jogo, porém, incomoda quem não mora na região mais central da cidade. Lourdes, Funcionários, Pampulha e Savassi são abundantes em pokéstops e ginásios, sendo quase impossível desviar deles. Já os jogadores de bairros nem tão periféricos, sofrem com a pouca oferta dos pontos. A reclamação de moradores de cidades do interior por falta desses recursos essenciais à dinâmica do game virou notícia. Segundo a produtora, os dados que Pokémon Go utiliza para determinar ginásios e pokéstops são baseados em pontos de referência do Google Maps, que oferecia várias informações sobre centenas de milhares de locais históricos, artes públicas, estátuas e comércios. Essa base foi utilizada em um outro game da Niantic, chamado Ingress, o qual também utiliza localidades do mundo real em sua jogabilidade. Como esse primeiro game teve pouca adesão, os pontos se concentraram nas regiões mais populares de cada cidade. Como o mapa pode ser atualizado pela produtora em tempo real, é possível que novas paradas e ginásios surjam. Mesmo assim, fica a sensação de injustiça geográfica no ar.

CONSPIRAÇÃO E OPORTUNISMO

Em uma quinta-feira, o eletricista que atende à minha família Heleno Resende foi resolver algumas pendências lá em casa. Enquanto ele trabalhava, sabendo de seu gosto por videogames, perguntei se o filho dele já havia sido tomado pela febre do Pokémon Go. “Olha, Gustavo, depois que li umas coisas falando que a CIA espiona a gente por meio desse jogo, não deixei o Arthur jogar não. Falei pra ele esquecer disso e se concentrar em ir bem na escola nova. Tem também essas notícias de assalto, ele é muito novo... melhor não mexer com isso, não”, contou ressabiado, questionando se eu acreditava ou não. Respondi que não sabia, mas que tudo era possível. Realmente, surgiram notícias relacionando o criador da produtora do jogo com o gigante da tecnológica Google e a central de inteligência norte-americana. Então, quem não gosta de ser vigiado, é melhor pensar duas vezes antes de baixar o game. Boatos de que os monstrinhos auxiliavam na espionagem mundial aparecem a cada dia. Até relação com o demônio as coitadas criaturas animadas foram acusadas de ter. Cada um acredita no que quer, não é?! Preferi deixar de lado todas essas teorias e seguir em frente. Da mesma forma que essas notícias tomavam a internet, e-mails das redações de todo o país começavam a ser bombardeados com releases buscando aproveitar do sucesso do jogo para promover alguém ou alguma marca. É o trabalho de assessores de imprensa e empresas de comunicação e marketing, mas deixam um gostinho de forçação de barra. “Pokémon Go sinaliza problemas de visão”, “Pokémon Go – aprenda o significado das palavras em inglês do game de celular que virou mania mundial” e “Varejo Go” são alguns exemplos. Menos, minha gente...

PASSA...

Jogar Pokémon Go estimula jogadores a observar grafites e esculturas que, normalmente, passam batido: busto não identificado na Avenida Getúlio Vargas motivou pesquisa para descobrir quem é o tal homenageado, nada menos que o ex-presidente que dá nome à via (Fotos: Pokémon Go / Reprodução Tela)
Jogar Pokémon Go estimula jogadores a observar grafites e esculturas que, normalmente, passam batido: busto não identificado na Avenida Getúlio Vargas motivou pesquisa para descobrir quem é o tal homenageado, nada menos que o ex-presidente que dá nome à via
Dia 9 de agosto foi meu aniversário de casamento. Com menos de uma semana de jogo, estava no auge da empolgação. Depois de presenciar a Soninha (que toda semana vai dar um jeito lá em casa) dando uma vassourada em um Krabby, me concentrei em homenagear minha amada com um jantar especial, cartão carinhoso e tudo o mais que a ocasião requer. Nem por isso, o celular ficou inativo. Tanto é que tive de ouvir a frase que me chamou a atenção para as devidas prioridades da data: “Largue esse pokémon, Gu”. Larguei! Incrível como isso hipnotiza um pouco a gente. Quem vivencia o mundo dos videogames sabe que um lançamento ou aquisição de novo título tira algumas horas de sono e a concentração com outros aspectos da vida. Mas passa. Pode durar uma semana, um mês, até um ano. A repetição e domínio do desafio cansa. Acho que é por isso prefiro jogos com início, meio e fim, como os de tiro em primeira pessoa e aventura. Acabou e pronto. Se você é um pai preocupado com todo o fascínio do rebento com os monstrinhos virtuais, fique tranquilo. Não vai durar para sempre.

MALDITOS ZUBATS

Os últimos cinco dias de jogatina começaram a me cansar. Sem conseguir ganhar nenhuma luta, sem dominar nenhum ginásio, com um exército de golbats completamente ineficaz, coletar itens e mais e mais pokémons foi perdendo, aos poucos, o propósito. Para você entender, a maioria desse monstrinho evoluem, se transformando em outra criatura mais forte. E o Golbat é um Zubat evoluído. Com a quantidade do segundo que conseguia capturar, era um dos poucos que tiveram a oportunidade de desenvolver ao ponto de ter alguma chance de vitória num combate. O celular começou a precisar de menos carga de bateria (no começo, eram necessários, no mínimo, quatro recargas diárias). Já não me interessava mais pelos morcegos venenosos e toda a experiência frustrada foi ficando sem graça. A ideia é apagar o app depois de finalizada a matéria, dar atenção ao Barthô durante nossas caminhadas e ter de volta para mim o tempo gasto com essa atividade, que, mesmo divertida no início, carece de sentido. Durante as duas semanas, aprendi a lançar as pokébolas com maestria, capturei mais de 500 pokémons (de 55 tipos diferentes) e choquei 18 ovos. Saio com um cartel decepcionante: 37 lutas, 6 vitórias, 31 derrotas e nenhum ginásio conquistado.

GLOSSÁRIO  POKÉMON

Para entender o que o filho anda dizendo sem parar ou conhecer um pouco mais do universo de Pokémon Go, veja o significado de alguns termos do jogo

Ginásios
São os locais específicos para as batalhas. Depois de dominados, o jogador só sai se sua equipe for derrotada pelo desafiante. Existem três times disponíveis:Valor, Instict e Mystic.

Incubadora

Item essencial para chocar os ovos de pokémons. Uma vez que uma Incubadora esteja guardando um deles, é preciso andar pela quilometragem pré-definida chocar o monstrinho. Antes, era possível fazer o percurso de carro, mas uma atualização acabou com a 'trapaça”.

Força de Combate
Medida que aponta o nível de força de um pokémon. Se o seu monstrinho tiver um CP maior do que o do oponente, a chance de vitória é grande.

Ovos
Itens encontrados ao longo do jogo e que, ao serem chocados, dão vida a um novo pokémon.

Evolução
Quando um pokémon se transforma em uma versão mais forte de si mesmo, aumentando o CP e mudando de aparência. Para evoluir um monstrinho, é necessário gastar uma quantidade específica de doces.

Doce
Item utilizado para evoluir e aumentar o nível dos pokémons. Cada monstrinho trabalha exclusivamente com seu próprio doce, que pode ser obtido ao capturar as criaturinhas ou vendendo os repetidos.

Pontos de Experiência
É a medida que aponta seu progresso como treinador no game. É possível ganhar experiência ao capturar e evoluir pokémons, além de derrotar outros jogadores e conquistar ginásios. Ao atingir determinado número de pontos, seu personagem sobe de nível.

Incenso
Item que, ao ser utilizado, atrai pokémons selvagens para sua proximidade por 30 minutos, facilitando sua captura.

Lure Module
(Módulo de Atração)
Item que pode ser inserido por qualquer treinador em um pokéstop. Uma vez ativo, aumenta o número de pokémons selvagens na área. Diferente do incenso, beneficia todos os jogadores que estejam próximos do pokéstop.

Pokébolas
Ferramenta para capturar pokémons selvagens e adicioná-los à sua equipe de monstrinhos. Existem tipos diferentes de pokébolas: normais, great balls, ultra calls e master balls.

Pokéstop
Pontos no mapa nos quais o jogador pode conseguir itens gratuitamente.

Poções
Itens utilizados para recuperar a saúde dos pokémons depois das batalhas.

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