Brilha, mas nem tanto: eficácia de produtos de beleza com ouro divide opiniões

Dermatologistas brasileiros e norte-americanos fazem ressalvas à eficácia das promessas de rejuvenescimento feitas por grandes marcas importadas. Um professor de Física da UFMG contesta o questionamento e afirma ter comprovado cientificamente a capacidade do ouro em restaurar colágeno na pele.

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Gabriella Pacheco - Saúde Plena Publicação:03/05/2013 08:00Atualização:03/05/2013 08:38
A máscara da Orogold, que custa US$1.398 o pacote com 12, promete nutrir os tecidos da pele e reparar os sinais do envelhecimento. (Reprodução internet - www.teambuy.ca)
A máscara da Orogold, que custa US$1.398 o pacote com 12, promete nutrir os tecidos da pele e reparar os sinais do envelhecimento.

Atrativos, luxuosos e com promessas irresistíveis: diminuir as rugas e trazer de volta a vitalidade da pele. Os cosméticos com ouro em sua fórmula não são novidade no mercado, mas parece que ainda vai demorar para a polêmica que os rodeia passar, uma vez que as opiniões de especialistas sobre os efeitos do ouro na pele ainda são bem divergentes.

Entre os dermatologistas impera o questionamento sobre a eficácia do ouro como rejuvenescedor e muitos desconhecem estudos comprovando que as propriedades do ouro favorecem a pele. Encontrado em máscaras e cremes de beleza, a presença do metal nesses cosméticos não chega a ser considerada tóxica - por ser em quantidade muito pequena. O problema é que os médicos também não conseguem identificar os benefícios trazidos pela combinação, fazendo muitos especialistas considerá-lo meramente ilustrativo.

“No geral, mal não faz, mas para mim ele é puramente um atrativo de mercado já que para nós, dermatologistas, não existe nenhuma comprovação científica de que ele ajude a pele em alguma coisa”, salienta a dermatologista e membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Dermatologia em Minas Gerais, Ana Cláudia de Brito Soares. O único alerta que a dermatologista faz, é a possibilidade dos cosméticos causarem dermatites alérgicas e irritações.


Um uso conhecido do ouro como medicamento foi no tratamento de artrite reumatóide. A dermatologista norte-americana Jeannette Graf pesquisou o histórico do uso dele na saúde e constatou que o metal já foi popular devido à suas qualidades como anti-inflamatório. “No entanto, o seu uso diminui ao longo dos anos por causa da alta incidência de reações adversas e efeitos colaterais”, pontua.

Ela ainda afirma que apesar do registro documental dessas propriedades, não existem evidências de que o metal traga algum benefício para a pele. “Nenhum estudo que explorasse o efeito do ouro na pele de homens ou animais foi encontrado e não há prova cientifica que apoiem o efeito dele no colágeno”, pontua.

No entanto, um físico mineiro discorda da afirmação da norte-americana. O professor da Universidade Federal de Minas Gerais, Luiz Orlando Ladeira, afirma que, por meio de pesquisas em nanotecnologia, descobriu que o ouro pode ajudar a inativar as áreas de defeito do colágeno.

“Tenho certeza absoluta que o ouro ajuda no rejuvenescimento. Não existem muitos estudos mesmo que comprovem isso, mas eu estudo nanotecnologia desde 2000 e tenho visto na prática como o ouro contribuiu para corrigir o defeito do colágeno”, explica.

Marcas importadas investem em produtos com ouro. Da esquerda para a direita: Sérum da La Praire; creme para os olhos da La Rocca; máscara da Orogold e Renew Gold Emulsion da Avon
Marcas importadas investem em produtos com ouro. Da esquerda para a direita: Sérum da La Praire; creme para os olhos da La Rocca; máscara da Orogold e Renew Gold Emulsion da Avon

Marcas importadas como a suíça La Prairie e as americanas LaRocca e Orogold são algumas das que comercializam fórmulas do rejuvenescimento 'dourado' e o professor pretende entrar na lista de fornecedores do produto no mercado da beleza. Há cerca de um ano ele e a filha, a bióloga Marina Ladeira, comercializam de maneira artesanal a linha Quilates com cremes para o rosto, banho e sabonetes à base de ouro.

Fórmula preciosa
A grosso modo, o professor Ladeira informa que o colágeno é uma proteína que ajuda a manter a estrutura do tecido, 'segurando' as células da pele. “Eu já trabalhava estudando métodos de reassociação do crescimento de células de colágeno quando li em um artigo algumas possibilidades das nanopartículas de ouro. Comecei pesquisas e vi que conseguia mesmo inativar sítios defeituosos no colágeno utilizando as nanopartículas do metal. Achei isso fantástico e foi assim que o creme surgiu”, relata.

Professor Luiz Ladeira da UFMG, criador da linha Quilates, desenvolvida por meio de nanotecnologia com ouro (Leandro Couri/EM/D.A Press)
Professor Luiz Ladeira da UFMG, criador da linha Quilates, desenvolvida por meio de nanotecnologia com ouro

Segundo ele, esses pedaços microscópicos do ouro conseguem retardar e corrigir o envelhecimento das células da pele, além de ajudar no clareamento de manchas. “O ouro também é um dos componentes mais biocompatíveis da natureza e já foi utilizado em vários tratamentos medicinais sem problemas”, completa.

A produção atual é de cerca de 50 potes de creme por mês e o preço ainda é bem inferior aos dos semelhantes importados e um pote com 50 gramas de creme da linha pode ser comprado por R$50 – metade de similares estrangeiros. A filha Marina é responsável pela distribuição e garante que o produto tem feito sucesso. “Por ser um produto artesanal a venda sempre acontece no boca a boca e, no final das contas, a pessoa que compra acaba fazendo a propaganda do produto. Quem vê o resultado sempre quer comprar e quem começa usar não para”.

O uso desses cosméticos também pode ser encontrado em clínicas estéticas por meio de procedimentos de beleza que prometem revitalização da pele. Em Belo Horizonte, alguns tratamentos são oferecidos como máscaras para hidratação, nutrição e revitalização. Os preços variam de R$45 a R$120, dependendo do tipo de procedimento feito em conjunto com a máscara.

A esteticista Cátia Valéria Costa, da clínica Pierre Alexander, no Bairro Santa Efigênia, defende a eficiência dos cosméticos com ouro. “Para mim ele brilha”, brinca. Ela conta que oferece um tratamento à base de ouro e cálcio, com um efeito 'Cinderela' – do tipo que passa rápido. “Essa máscara é revitalizante, cria um efeito bacana na pele e dá para sair do salão só com filtro solar. Mas não é nenhum botox e as pessoas tem que ter isso em mente. Mesmo assim os clientes gostam e ela sai bastante”.

Cuidados

Se rejuvenesce ou não ainda é difícil dizer, contudo é válido lembrar que o ouro chegou a ser considerado pela Sociedade Norte-Americana de Dermatites de Contato, em 2001, como "alergênio do ano" e qualquer alteração na pele de quem utiliza produtos com esse ingrediente merece ser observada de perto por um especialista.

A dermatologista Andrea Coutinho também desconhece o potencial cosmético do metal mas lembra que o ouro já foi utilizado na medicina estética em liftings. “Essa prática é mais antiga, deve ter uns 30 anos. As pessoas costumavam implantar fios de ouro para levantar a pele. Eles ficavam imperceptíveis, mas quando um fio arrebentava aquilo ficava parecendo varizes. As reações eram muito poucas, mas a prática caiu em desuso com o aumento dos procedimentos de preenchimento e botox”, relata.

De acordo com a médica norte-americana, Jeannette Graf, as reações alérgicas causadas pelo ouro acontecem com maior frequência nas áreas do rosto ou nas pálpebras onde produtos contendo o metal, como maquiagem, protetor solar ou bases, podem corroer o ouro e causar sensibilidade.

Ela ainda dá um alerta na hora de escolher produtos. “A coisa mais importante é comprar produtos de uma empresa de confiança com controle de qualidade e padrões de produção altos. Os ingredientes também devem ter pesquisas cientificas que comprovem suas propostas e segurança”.

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