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Grãos e fibras ganham espaço na refeição

Chia, quinoa e amaranto são alguns dos produtos que conquistam as prateleiras. Ricos em proteínas e ácidos graxos, são exaltados por vários benefícios, mas há quem não acredite nos "efeitos milagrosos"

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Sara Lira - Estado de Minas Publicação:28/05/2013 13:45Atualização:28/05/2013 15:13

A granola é um dos alimentos naturais com fibras mais populares dos supermercados (www.sxc.hu)
A granola é um dos alimentos naturais com fibras mais populares dos supermercados
Grãos, farelos, chás e outros tantos alimentos naturais têm ocupado cada vez mais espaço nas prateleiras de supermercados e farmácias. Misturados na comida, em bebidas ou puros, eles têm sido consumidos por uma parcela da população que busca hábitos alimentares mais saudáveis e principalmente mais saúde. Tidos como “alimentos do momento”, eles têm ganhado cada vez mais adeptos. As promessas são várias, passando por melhorias na digestão, na qualidade do sono, pele e cabelos até a prevenção de doenças. Esse é o tema da segunda reportagem da série sobre alimentação, que o Estado de Minas começou a publicar ontem. A intenção é mostrar um pouco da busca de muitos brasileiros por hábitos alimentares mais saudáveis.

Segundo a nutricionista e mestranda em ciência de alimentos na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Débora Fernandes Rodrigues, a semente de chia, por exemplo, contém compostos antioxidantes que ajudam no combate aos radicais livres, envolvidos no desenvolvimento de muitas doenças. O farelo de trigo e a linhaça apresentam fibras que podem aliviar a constipação intestinal e o amaranto em flocos pode atuar na redução do colesterol. Entre esses e tantos outros benefícios prometidos, o consumo desses alimentos deve ser acompanhado da ingestão de bastante água para que exerçam suas funções corretamente. Mas nada é tão mágico. “O consumo desses alimentos não é milagroso. Eles de fato apresentam muitas propriedades benéficas ao organismo, mas o consumo deve ser atrelado a hábitos de vida saudáveis e a uma alimentação equilibrada”, explica Débora.

A empresária Juliana Santiago Ferreira Caram, de 24 anos, confirma que adotar uma alimentação mais natural teve efeito positivo na sua vida. Há cerca de três meses ela começou uma reeducação alimentar e incluiu a chia, a linhaça, a granola e chás no seu cotidiano. Instruída por uma nutricionista, a empresária afirma que não substituiu nada por esses alimentos, considerados funcionais por aumentarem o poder de saciedade de uma refeição. “Só adicionei esses produtos à minha alimentação. A chia, por exemplo, uso com iogurte; a linhaça, salpico na salada. Mas não como esses alimentos puros, pois recebi a explicação de que a gente tem que consumi-los acompanhados de algum outro, como uma fruta.” Juliana já praticava atividades físicas, mas sentia dificuldades em saber o que comer antes e depois dos treinos, e como conseguir melhora física com a alimentação. “Quando sinto mais fome, insiro a chia ou a linhaça na salada, pois assim não tenho tanta vontade de comer carboidratos depois. Meu intestino melhorou e acabei usando outros tipos de produtos na alimentação, coisas que eu não conhecia e achei que nem ia gostar. Mas vi que eles têm um efeito positivo”, diz.

Há três meses, a empresária Juliana Santiago procurou orientação e adicionou chia, granola e chás à sua alimentação cotidiana  (Maria Tereza Correia/EM/D.A Press)
Há três meses, a empresária Juliana Santiago procurou orientação e adicionou chia, granola e chás à sua alimentação cotidiana
Sozinhos, não cumprem papel

E esta é justamente a dica dos especialistas em nutrição: jamais trocar a alimentação convencional pelos produtos. A regra é incluí-los, sempre sob orientação de um profissional. “Apesar de apresentarem benefícios, todos eles devem ter o consumo avaliado, principalmente porque muitas vezes são ingeridos em substituição a outras refeições ou mesmo para emagrecimento, o que não é adequado”, explica Débora. Segundo ela, muitas pessoas consomem farinhas, grãos e outros tipos por estarem em alta no momento e por serem muito difundidos.

Mas sozinhos eles não cumprem seu papel. “Esse é o meu principal ‘contra’, ou seja, as pessoas fazem uso desses alimentos porque estão na moda, e não sabem, muitas vezes, por que os estão consumindo. Muitas pesquisas relatam benefícios em relação ao consumo desses alimentos, mas há também aquelas que não mostram benefícios. Exemplo disso é o trigo verde, que não recomendo pela escassez de estudos. Os outros alimentos não são milagrosos, mas podem ser consumidos se associados a hábitos dietéticos saudáveis”, complementa a especialista.

Outra opinião

Ainda assim, a ideia de suplementação por meio desses alimentos naturais não é bem aceita por todos os profissionais da nutrição. Para alguns deles, uma alimentação equilibrada e hábitos saudáveis são suficientes para suprir qualquer carência do organismo. É o que pensa o nutrólogo e membro da Academia Mineira de Medicina Ênio Cardillo Vieira. Para ele, o consumo desses alimentos não passa de “modismo”. “A alimentação trivial é suficiente. Não precisa ficar gastando com essas coisas, pois o alimento traz tudo de que a gente precisa”, destaca. “Nunca li nenhum artigo científico sobre a eficácia de quinoa, linhaça, chia ou outros alimentos como esses”, afirma.

Para Cardillo, a suplementação deve ser feita apenas em casos específicos e avaliados por um profissional. “Se a mulher quer engravidar, ela deve começar a tomar ácido fólico, pois nas primeiras semanas de gestação é quando se desenvolve o tubo neural do bebê. Se existe uma deficiência de ácido fólico, há maior probabilidade de defeito nesse tubo. Isso sim é comprovado”, afirma. O nutrólogo ainda diz que alimentos da moda fazem um certo “sucesso” porque são menos comuns. “O limão vermelho, por exemplo, é o mais nutritivo e ninguém vai atrás dele. As pessoas vão atrás daquilo que é raro”, acrescenta.

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