Consumidores subestimam quantidade de calorias em lanche, diz estudo
Pesquisa feita com 3,4 mil norte-americanos mostra que a maioria subestima os valores energéticos do que põe no prato. No Brasil, lei para que restaurantes e lanchonetes disponibilizem dados para o consumidor está no Senado, parada há um ano
Cerca de 3,4 mil norte-americanos participaram do estudo, que se estendeu por dois anos. Os entrevistados foram divididos em três grupos: adultos desacompanhados, adolescentes e crianças – sendo que as respostas dos últimos foram dadas por seus pais ou responsáveis. Os grupos frequentaram 89 restaurantes diferentes em quatro cidades do estado da Nova Inglaterra, no Nordeste dos Estados Unidos.
Os pais das crianças tiveram a segunda maior margem de erro, subestimando em 23% o valor das refeições enquanto os adultos acharam que seus pedidos eram 20% menos calóricos que na realidade. A média de calorias consumidas pelos adultos foi a maior: 836 calorias em média, por lanche. A maioria dos entrevistados desse grupo acreditou ter consumido 175 calorias a menos do que as encontradas de fato em seus lanches. Os adolescentes vêm em seguida, consumindo 756 calorias por refeição. No entanto, eles imaginavam estar comendo 259 a menos. A média calórica dos pedidos infantis foi de 733, enquanto a estimativa dos pais era também de 175 calorias a menos.
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O levantamento foi realizado com consumidores de seis grandes redes de fast food norte-americanas: McDonald’s, Burger King, KFC, Wendy’s, Subway e Dunkin’ Donuts. A pesquisa identificou que a maior discrepância entre imaginado e real foi encontrada por adultos e adolescentes no Subway. A suspeita dos responsáveis pelo trabalho é de que essa rede, em particular, transmita a ideia de que seus lanches são menos calóricos do que na verdade são.
Para não errar na hora de escolher um alimento quando ser quer fazer um lanche rápido, no fim de semana ou no dia a dia corrido, quando não há tempo para uma refeição completa, o Conselho Regional de Nutricionistas em Minas Gerais defende que a informação é essencial para que os consumidores possam fazer escolhas conscientes. “As pessoas não tem a informação básica para fazerem uma crítica do que estão comendo. A informação no rótulo seria positiva no sentido de sensibilizar quem está comendo a ingerir menos. Acho que isso iria, com certeza, resultar em uma mudança de mentalidade”, pondera a conselheira da entidade, a nutricionista Jaqueline Lopes de Paula.
A prática de informar para o consumidor o que ele está ingerindo mostra que dá resultado. Em 2009, uma outra pesquisa feita no estado de Washington, nos EUA, acompanhou consumidores durante 18 meses depois de uma legislação local ter obrigado restaurantes a oferecerem o valor calórico das refeições servidas em seus cardápios. O resultado foi que com a obrigatoriedade a população local reduziu até 143 calorias por pedidos. A cidade em que a pesquisa foi realizada foi uma das pioneiras no país a estabelecer uma legislação de rotulagem de calorias no menu.
Aqui no Brasil, se depender do Legislativo, esse tipo de lei deve demorar para estar disponível. Desde 2011 está em debate no Senado uma emenda à Resolução – RDC 360/03 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), com a proposta de fazer com que restaurantes, lanchonetes e outros estabelecimentos do tipo disponibilizem ao consumidor a informação nutricional dos alimentos servidos. Depois de passar pelas comissões de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle da Casa, a proposta voltou, em fevereiro de 2012, ao relator do projeto o senador Eduardo Braga (PMDB-AM), para emissão de parecer. Essa foi a última movimentação do projeto em mais de um ano.
Atualmente, a resolução da Anvisa obriga a rotulagem nutricional em todos os alimentos produzidos e comercializados, “qualquer que seja sua origem, embalados na ausência do cliente e prontos para serem oferecidos aos consumidores”. Contudo são excluídos dessa obrigatoriedade “os alimentos preparados e embalados em restaurantes e estabelecimentos comerciais, prontos para o consumo, como por exemplo, sanduíches embalados, sobremesas do tipo flan ou mousses ou saladas de frutas e outras semelhantes”.
Há, no entanto, regiões no Brasil que já discutem legislações próprias sobre o assunto. No Distrito Federal, desde 2001 a Lei 2.812 obriga restaurantes e estabelecimentos afins a afixarem em local visível a quantidade de calorias nas porções dos produtos comercializados. No Paraná, um projeto de lei similar tramita na Assembleia Legislativa. A proposta seria votada no fim de abril, mas teve uma emenda acrescentada e retornou à Comissão de Constituição e Justiça para nova avaliação do texto.
Minas Gerais ainda não tem nenhuma legislação do tipo. De acordo com a assessoria da Assembleia Legislativa do estado (ALMG), três projetos de lei já passaram pela Casa na última década propondo a obrigatoriedade de bares e restaurantes oferecerem essa informações, mas nenhum foi aprovado. O primeiro deles, apresentado em 2003, foi vetado totalmente. O segundo, de 2007, foi arquivado definitivamente. E em 2011, um último projeto foi apresentado e retirado pelo autor da proposta. Uma ideia que está em avaliação na ALMG é a que propõe exigir desses estabelecimentos a disposição das informações nutricionais dos produtos vendidos.
Lanche consciente
Apesar da não obrigatoriedade, alguns restaurantes fast food já oferecem em seus cardápios informações nutricionais de seus pratos, incluindo as calorias. Na rede norte-americana Mc Donald's, desde o início do ano os consumidores têm acesso à taxa calórica dos produtos nos cardápios e painéis luminosos das lojas. No concorrente Burger King, o consumidor pode, no site da rede, também calcular quantas calorias irá consumir em um lanche completo. Segundo a nutricionista Jaqueline Lopes de Paula, uma dieta saudável diária – do café da manhã até a última refeição do dia – deve ter em média 2.000 calorias para um adulto, mas o aconselhável é que cada pessoa faça um acompanhamento com um nutricionista para ter um indicativo do consumo de nutrientes e calorias ideal.
“A nutrição não é uma ciência exata. Quando a pessoa tem uma noção de quanto pode consumir fica mais fácil não extrapolar, por isso a informação é tão importante. Se tivéssemos consciência associada à informação problemas como a obesidade não seriam tão comuns”, afirma. “Tem gente, por exemplo, que come dois sanduíches em uma única refeição. Só esses dois já equivalem à metade do que uma pessoa pode comer no dia inteiro”, completa. Dados do Ministério da Saúde mostram que a proporção de pessoas acima do peso no país aumentou de 42,7%, em 2006, para 48,5%, em 2011. Já o percentual de obesos subiu de 11,4% para 15,8%. A situação merece atenção.
Palavra do especialista.
Maria Terezinha Oscar Govinatzki, presidente da Federanção Nacional dos Nutricionistas.
Como a senhora acredita que essa pesquisa se aplica à realidade brasileira?
Acho que o brasileiro também subestima a quantidade calórica, especialmente na adolescência. Só não sei se a proporção do erro é igual, uma vez que nos EUA a procura por fast-foods é até cultural. Acho compreensível nessa idade porque esses lanches levam muita gordura e é ela que dá o gostinho bom das comidas.
Como o consumo excessivo desses lanches deve ser enfrentado?
Acho que é uma questão de educação que deveria começar em casa, mas também ter enfase no ensino formal. Existe uma preocupação do governo em relação à obesidade infantil e isso deve ser começar nas escolas. As pessoas têm que saber comer e escolher e se lembrar de nunca trocar as refeições por esses lanches rápidos nem fazer uso diário dele.
A informação nos cardápios ajuda?
A quantidade de calorias ajuda sim, mas não é só o calórico que importa. Tem que informar sobre as vitaminas, proteínas e sais minerais também. A alimentação não é feita só de calorias e para ter o aproveitamento de tudo que você precisa é importante saber quais as outras informações nutricionais dos alimentos também.