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Consumidas largamente, as ervas podem trazer prejuízos à saúde

É importante conhecer bem as plantas medicinais para que os chás não se tornem vilões

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Luciane Evans Publicação:16/06/2013 12:00Atualização:16/06/2013 10:17
Conhecer as plantas não é tão simples como se pensa (Stock)
Conhecer as plantas não é tão simples como se pensa
Indignada, Maria Das Graças Lins Brandão segurava duas caixas de chá industrializado, daqueles vendidos em supermercados. Veio ao encontro da equipe do caderno Bem Viver, do jornal Estado de Minas, e desabafou. “Quando pensamos que as coisas vão melhorar, elas pioram.” Professora de fitoterápicos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), integrante da Comissão da Farmacopeia Brasileira da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a especialista, referência no assunto, avisa que conhecer as plantas não é tão simples quanto pensamos. “A tradição popular está se perdendo. O que se conhecia sobre as ervas, com os nossos antepassados, não existe mais. Está tudo muito bagunçado.” Nas duas caixas que estavam em suas mãos, produzidas por uma marca famosa no mercado, imagens de boldo e carqueja não correspondiam aos vegetais. “Isso pode confundir, e muito, o consumidor”, indignou-se.

No embalo da entrevista, ela mostrou ainda as folhas da planta asiática que produz o tão famoso chá verde. Elas nada têm a ver com aquelas vendidas em muitos mercados e às quais muitas mulheres se renderam na esperança de ter um emagrecimento saudável. Por causa dessas e outras confusões que todos nós fazemos em relação às plantas, procuramos especialistas para esclarecer a linha tênue entre o remédio e veneno da natureza. O que é mito e o que é cientificamente comprovado? A surpresa é que pouco se sabe quais são os efeitos colaterais de muitas plantas que estão por aí, sendo receitadas como a salvação natural para muitos males.

O certo é que muitos acham que, por se tratar de algo natural, não há substâncias químicas. É aí que esse ledo engano se torna risco real para a saúde de quem consome. Outro gatilho para que as ervas se tornem vilãs é a dose. Por mais incrível que pareça, ainda não sabemos fazer o preparo correto de um bom chá – essa bebida milenar para a humanidade. Se você é daqueles que tomam litros e litros por dia, armazena na geladeira e ainda mistura uma planta com outra, é bom parar e ler o que os especialistas têm a dizer: o seu chá pode não estar sendo tão benéfico e se tornando um vilão para o organismo. “Nem sempre os chás das plantas medicinais são tão bonzinhos como a crença popular diz que são”, apimenta a discussão o chefe do serviço de hepatologia do Hospital Universitário da Universidade Federal da Bahia, Raymundo Paraná.

Ele é coordenador do inquérito nacional de toxicidade por drogas, feito pela Sociedade Brasileira de Hepatologia. Segundo Raymundo, a intenção do estudo é descobrir em nove centros de transplantes no país o número de casos de transplante de fígado motivados por toxidade. “Começamos essa análise no início deste ano e os dados preliminares nos assustam: a toxidade foi maior para os produtos naturais do que do alopáticos”, revela. Ele destaca que muitos não sabem a dose, a planta e, muito menos, como preparar corretamente um chá de plantas.

Use com moderação
Especialistas recomendam cautela no consumo de chás. Apesar de preparados com plantas, muitos têm componentes químicos

Depois da refeição, no fim da tarde ou antes de dormir. Para relaxar, acabar com a insônia, regular a pressão, melhorar o colesterol, o desempenho sexual ou até para emagrecer. Quem nunca se rendeu ao sabor e à quentura de um bom chá feito com plantas? Por variados motivos, muitas pessoas procuram respostas da natureza para curar os mais diversos males. E a procura aumenta mais nesta época do ano, quando as gripes e resfriados batem à porta. No entanto, especialistas advertem que é preciso cautela no uso de produtos que, por mais que sejam naturais, têm componentes químicos que merecem atenção. Sem menosprezar a sabedoria popular, profissionais de fitoterapia e de nutrição acreditam que antigos conhecimentos estão sendo desvirtuados e poucos são os efeitos colaterais conhecidos pela ciência.

Por variados motivos, muitas pessoas procuram respostas da natureza para curar os mais diversos males (Stock)
Por variados motivos, muitas pessoas procuram respostas da natureza para curar os mais diversos males
Originário do Oriente, o chá é a segunda bebida mais consumida no mundo, perdendo apenas para a água. Popular em vários países e entre diversos povos, no Brasil ele tem ganhado os consultórios médicos e também sendo receitado por nutricionistas como complemento de uma dieta balanceada. As plantas medicinais passaram a ganhar reconhecimento científico e até os medicamentos preparados à base de seus princípios ativos, os fitoterápicos, são incentivados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Em 2011, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) lançou o primeiro formulário de fitoterápicos da farmacopeia brasileira. O guia explica aos profissionais de saúde como manipular 58 das plantas medicinais mais conhecidas, auxiliando na produção dos fitoterápicos.

Mas uma coisa é saber os nomes e, outra, é saber distinguir as plantas. Não é fácil. Com a ajuda da professora de fitoterápicos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Maria das Graças Lins Brandão, percorremos as hortas do Museu de História Natural e Jardim Botânico da universidade. Na parte dedicada à melissa, camomila e capim-cidreira, plantas famosas e tradicionais entre os brasileiros, a especialista apontou um erro comum entre os consumidores: confundir essas ervas com citronela, indicada como repelente de insetos. Outra planta que gera confusão, segundo ela, é a carqueja. “Era usada como digestivo pelos índios, mas o uso prolongado pode causar danos ao fígado. Tem gente que toma para emagrecer e acaba parando no centro de terapia intensiva (CTI) de hospitais”, alerta.

CONTRAINDICAÇÕES
A professora assegura que chás de camomila, capim-cidreira e melissa podem ser tomados sem contraindicações. “As plantas aromáticas exigem um preparo de infusão, que consiste em jogar água fervente sobre a parte da planta a ser usada e, em seguida, tampar o recipiente que as contém. Enquanto esfria, a água vai extraindo da planta seus princípios ativos”, explica. Assim, para hortelã, por exemplo, ela diz que o processo é esse. “Mas toda bebida tem que ser feita na hora em que vai ser consumida”, indica. Geralmente, com aquelas que não têm aroma, o processo para o chá é de decocção, em que se ferve a parte da planta a ser consumida junto com a água por até cinco minutos.

'Toda bebida tem que ser feita na hora em que vai ser consumida' - Maria das Graças Lins Brandão,
professora de fitoterápicos da UFMG
 (Maria Tereza Correia/EM/D.A Press)
"Toda bebida tem que ser feita na hora em que vai ser consumida" - Maria das Graças Lins Brandão, professora de fitoterápicos da UFMG
“Muitas mães cozinham as folhas de erva-doce para melhorar a dor de barriga de seus filhos, mas é uma planta que não se pode cozinhar. Esse processo errado pode dar mais dor de barriga”, alerta a professora. Uma planta que ficou famosa na década de 80 foi o confrei. Maria das Graças lembra que o vegetal foi muito usado como remédio, mas o uso excessivo casou uma série de problemas de saúde aos usuários, devido à presença de alcaloides, que são capazes de provocar câncer no fígado. No entanto, para uso externo, com compressas, é um excelente cicatrizante e bom para acne. Outra planta destacada por ela é o barbatimão. “As cascas dele contêm substâncias com propriedades adstringentes. Por isso, é usada na cicatrização de feridas e de úlceras, há estudos que comprovam isso. Mas temos visto a planta ser vendida como boa contra hipertensão”, critica.

“Por isso, é importante identificar e conhecer as diferentes espécies, já que cada uma delas deve ser preparada de acordo com sua química e seus princípios ativos. O uso também deve ser feito com cuidado. Por serem naturais, é comum a ideia de que as plantas medicinais não fazem mal e de que, por isso, podem ser usadas sem moderação. Elas são remédios e agem quimicamente no corpo”, avisa Maria.

Um dos órgãos mais afetados pelo excesso, abuso e uso errado das plantas medicinais é o fígado. Segundo o chefe do serviço de hepatologia do Hospital Universitário da Universidade Federal da Bahia, Raymundo Paraná, muitos são os casos de toxidade na parte do corpo devida a ingestão de produtos naturais. “Em Minas Gerais, por exemplo, um chá muito tomado é de poejo, para gases. Mas o excesso da planta pode causar uma hepatite tóxica. O boldo por exemplo, é um ótimo chá, mas se tomado juntamente com medicamentos anticoagulantes pode induzir sangramentos”, avisa.

Quem é quem?
Veja as plantas de uso mais tradicionais e seus riscos e benefícios

  • Confrei
Uso: externo
Indicação terapêutica: cicatrizante
Restrição de uso: usar por, no máximo, quatro ou seis semanas por ano. Não usar em lesões abertas

  • Capim-Santo (capim-cidreira, capim-limão)
Forma de uso: oral
Indicações terapêuticas confirmadas: sedativo (calmante), antiespasmótico (contra cólicas)
Advertências: pode potencializar o efeito de medicamentos sedativos

  • Carqueja ou carqueja-amarga
Formas de uso: oral
Ação terapêutica confirmada: dispepsias (indigestão)
Advertências: não pode ser usado em gestantes e lactantes. O uso pode causar hipotensão.
Evitar o uso concomitante com medicamentos para hipertensão e diabetes

  • Chapéu-de-couro
Forma de uso: oral
Advertências: não deve ser usado por pessoas com insuficiências renal ou cardíaca. Não usar em caso de tratamento com anti-hipertensivos
Indicações terapêuticas: diurético e anti-inflamatório

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