Descoberta de sinais do autismo em bebês pode ajudar em desafio da medicina
Cientistas dos EUA identificaram que, além de maior, o cérebro de crianças com o distúrbio fica protegido por uma quantidade de estrutura líquida acima do normal
Roberta Machado - Correio Braziliense
Publicação:17/07/2013 13:00Atualização: 16/07/2013 11:35
O transtorno do espectro autista pode ser causado por uma variedade de fatores genéticos e ambientais, que afetam de formas e intensidades distintas a personalidade e o desenvolvimento cognitivo. Esse quebra-cabeça pode ter uma peça importante justamente na mente das crianças, onde alguns sinais do autismo se tornam visíveis já nos primeiros meses de vida. A afirmação é de pesquisadores dos EUA que examinaram o desenvolvimento do cérebro de 55 bebês, sendo 10 autistas. Além do comportamento típico do distúrbio, as crianças com autismo tinham o cérebro maior e um volume mais expressivo de líquido cefalorraquidiano (LCR).
Das crianças participantes do estudo, cujos resultados foram publicados na revista Brain, 33 foram concebidas por mulheres que já haviam tido filhos autistas (o risco da síndrome é 20 vezes maior em famílias com o histórico do problema). O grupo do Mind Institute, da Universidade da Califórnia, combinou imagens de ressonância magnética com testes psicológicos para avaliar os bebês. As crianças foram submetidas aos exames entre os 6 e os 9 meses de idade, e, do 12º ao 15º mês. Elas voltaram para exames entre 1 ano e meio e 2 anos, além de serem submetidas a testes tradicionais de comportamento até os 3 anos.
O estudo revelou que oito delas apresentaram um volume incomum no cérebro e no líquido que o protege. A maior diferença na quantidade de líquor foi detectada logo depois do primeiro aniversário dos participantes, que tinham, em média, 33% mais líquido na cabeça. Quanto mais fluido cerebral, mais graves eram os sintomas do distúrbio diagnosticado posteriormente. Antes do segundo ano de idade, os autistas tinham o cérebro 7% maior.
É a primeira vez que é identificado um biomarcador para o distúrbio em bebês tão novos. “Já se sabe que há um aumento do encéfalo em 30% a 40% dos casos de autismo, mas, a partir desse estudo, podem haver novos, que vão clarificar a origem do problema”, avalia José Salomão Schwartzman, do programa de pós-graduação em Distúrbios do Desenvolvimento da Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo.
Avaliação complexa
Os sinais mostraram-se visíveis nas crianças desde os 6 meses, uma idade em que o diagnóstico da síndrome costuma ser complicado. “Não há exame clínico laboratorial que indique se a criança é autista. As avaliações são baseadas em escalas de classificação de testes feitos por uma equipe multiprofissional”, explica a psicóloga Joana Portolese, da ONG Autismo & Realidade. “Não há uma alteração fenotípica, como a síndrome de Down. Então, nos primeiros meses, ainda é muito difícil de detectar. Mas, nos casos mais graves, percebemos mais cedo, e, aí, fazemos a estimulação precoce.”
A partir do diagnóstico precoce, é possível interferir no desenvolvimento da criança e minimizar prejuízos cognitivos ou de relacionamento. Os pesquisadores acreditam que seria importante examinar o nível de líquor nos bebês ainda no primeiro ano de vida, e dar início ao tratamento preventivo quando detectado um excesso do fluido. O diagnóstico poderia ser confirmado nos meses seguintes com um novo exame, pois o volume excessivo de LCR diminui em crianças de desenvolvimento saudável. O processo, no entanto, deveria ser acompanhado por testes psicológicos tradicionais. O grupo de cientistas trabalha agora com outras instituições para repetir o estudo em uma escala mais significativa.
Ação dos anticorpos
Nova pesquisa aponta que um mecanismo de proteção materna pode estar entre os fatores ambientais que causam os transtornos do espectro autista. O estudo, publicado na revista especializada Translational Psychiatry, mostra que algumas formas de autismo podem ter relação com anticorpos gerados pela mãe e transmitidos aos filhos ainda na gestação.
Os pesquisadores da Universidade da Califórnia examinaram o sistema imunológico de 395 mulheres e constataram que quase um quarto das mães de crianças com o distúrbio tinham anticorpos diferentes das que tiveram filhos sem a síndrome. A variedade desse tipo de proteína, que não ataca vírus ou bactérias, representa um componente necessário para o desenvolvimento neurológico das crianças, aponta o artigo. O experimento comparou os anticorpos de 149 mães de crianças saudáveis com os de 246 mulheres com filhos afetados pelo distúrbio.
Durante a gravidez, fetos absorvem anticorpos das mães como uma forma de se defender de infecções depois do nascimento — o sistema imunológico das crianças só começa a agir a partir dos 6 meses de idade. Mas a pesquisa norte-americana aponta que essa relação pode ser prejudicial para o desenvolvimento do bebê. Os resultados revelam que 23% das mães de crianças autistas têm anticorpos que atacam proteínas importantes para o cérebros dos filhos. Nenhum desses fatores negativos foi encontrado nas mulheres cujos filhos tinham desenvolvimento normal.
Das crianças participantes do estudo, cujos resultados foram publicados na revista Brain, 33 foram concebidas por mulheres que já haviam tido filhos autistas (o risco da síndrome é 20 vezes maior em famílias com o histórico do problema). O grupo do Mind Institute, da Universidade da Califórnia, combinou imagens de ressonância magnética com testes psicológicos para avaliar os bebês. As crianças foram submetidas aos exames entre os 6 e os 9 meses de idade, e, do 12º ao 15º mês. Elas voltaram para exames entre 1 ano e meio e 2 anos, além de serem submetidas a testes tradicionais de comportamento até os 3 anos.
O estudo revelou que oito delas apresentaram um volume incomum no cérebro e no líquido que o protege. A maior diferença na quantidade de líquor foi detectada logo depois do primeiro aniversário dos participantes, que tinham, em média, 33% mais líquido na cabeça. Quanto mais fluido cerebral, mais graves eram os sintomas do distúrbio diagnosticado posteriormente. Antes do segundo ano de idade, os autistas tinham o cérebro 7% maior.
Saiba mais...
Ainda não se sabe como o excesso de LCR pode causar o distúrbio, mas é certo que a anomalia afeta o desenvolvimento do cérebro se persistir depois dos primeiros anos de vida. “Estudos com animais mostram que a interrupção do fluxo de fluido cerebrospinal resulta em anormalidades na geração de neurônios e na migração de onde eles são gerados para o destino correto no cérebro. Esses são processos críticos para o desenvolvimento do cérebro humano normal”, diz Mark Shen, estudante de doutorado de neurociência cognitiva na Universidade da Califórnia e principal autor do estudo.- Estudo de Harvard relaciona a poluição ao maior risco de o bebê nascer com autismo
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É a primeira vez que é identificado um biomarcador para o distúrbio em bebês tão novos. “Já se sabe que há um aumento do encéfalo em 30% a 40% dos casos de autismo, mas, a partir desse estudo, podem haver novos, que vão clarificar a origem do problema”, avalia José Salomão Schwartzman, do programa de pós-graduação em Distúrbios do Desenvolvimento da Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo.
Avaliação complexa
Os sinais mostraram-se visíveis nas crianças desde os 6 meses, uma idade em que o diagnóstico da síndrome costuma ser complicado. “Não há exame clínico laboratorial que indique se a criança é autista. As avaliações são baseadas em escalas de classificação de testes feitos por uma equipe multiprofissional”, explica a psicóloga Joana Portolese, da ONG Autismo & Realidade. “Não há uma alteração fenotípica, como a síndrome de Down. Então, nos primeiros meses, ainda é muito difícil de detectar. Mas, nos casos mais graves, percebemos mais cedo, e, aí, fazemos a estimulação precoce.”
A partir do diagnóstico precoce, é possível interferir no desenvolvimento da criança e minimizar prejuízos cognitivos ou de relacionamento. Os pesquisadores acreditam que seria importante examinar o nível de líquor nos bebês ainda no primeiro ano de vida, e dar início ao tratamento preventivo quando detectado um excesso do fluido. O diagnóstico poderia ser confirmado nos meses seguintes com um novo exame, pois o volume excessivo de LCR diminui em crianças de desenvolvimento saudável. O processo, no entanto, deveria ser acompanhado por testes psicológicos tradicionais. O grupo de cientistas trabalha agora com outras instituições para repetir o estudo em uma escala mais significativa.
Ação dos anticorpos
Nova pesquisa aponta que um mecanismo de proteção materna pode estar entre os fatores ambientais que causam os transtornos do espectro autista. O estudo, publicado na revista especializada Translational Psychiatry, mostra que algumas formas de autismo podem ter relação com anticorpos gerados pela mãe e transmitidos aos filhos ainda na gestação.
Os pesquisadores da Universidade da Califórnia examinaram o sistema imunológico de 395 mulheres e constataram que quase um quarto das mães de crianças com o distúrbio tinham anticorpos diferentes das que tiveram filhos sem a síndrome. A variedade desse tipo de proteína, que não ataca vírus ou bactérias, representa um componente necessário para o desenvolvimento neurológico das crianças, aponta o artigo. O experimento comparou os anticorpos de 149 mães de crianças saudáveis com os de 246 mulheres com filhos afetados pelo distúrbio.
Durante a gravidez, fetos absorvem anticorpos das mães como uma forma de se defender de infecções depois do nascimento — o sistema imunológico das crianças só começa a agir a partir dos 6 meses de idade. Mas a pesquisa norte-americana aponta que essa relação pode ser prejudicial para o desenvolvimento do bebê. Os resultados revelam que 23% das mães de crianças autistas têm anticorpos que atacam proteínas importantes para o cérebros dos filhos. Nenhum desses fatores negativos foi encontrado nas mulheres cujos filhos tinham desenvolvimento normal.