Teste da orelhinha ainda precisa ser universalizado
Divulgação do teste da orelhinha já era obrigatória na rede pública de Minas e também deverá ser feita pela rede privada. Dados oficiais indicam que somente 20% dos nascidos vivos no estado realizam o teste, que permite o diagnóstico precoce de problemas auditivos
Gabriella Pacheco - Saúde Plena
Publicação:05/08/2013 08:50Atualização: 05/08/2013 08:47
Apesar de ser obrigatório no estado desde 2002, e em todo território nacional desde 2010, ainda deve demorar para que o teste da orelhinha seja de conhecimento e esteja ao alcance de toda mãe de recém-nascidos. Em Minas Gerais, rede pública e privada oferecem a triagem e, desde a última semana, todas as maternidades, independentemente de qual rede, que não têm o serviço passaram a ser obrigadas a informar onde ele poderá ser feito. Para a presidente da Sociedade Mineira de Pediatria, Raquel Pitchon, é necessário universalizar o procedimento.
A triagem auditiva conhecida como teste da orelhinha se consiste em dois exames, que podem ser realizados por fonoaudiólogos ainda antes da criança sair da maternidade. Realizado gratuitamente pelo SUS, ele possibilita o diagnóstico precoce de problemas auditivos em bebês. Os exames não doem, são rápidos, não são invasivos e não provocam nenhuma lesão no bebê.
A recomendação é que a triagem seja feita ainda nos primeiros meses de vida de toda e qualquer criança. “Sabemos que a incidência de baixa auditiva dentro das doenças neonatais é elevada proporcionalmente. E sabemos que, para a maioria dessas doenças, o diagnóstico precoce é fundamental e ajuda a evitar a evitar a evolução do quadro”, alerta Raquel.
Contudo, de acordo com o Programa Estadual de Triagem Auditiva Neonatal, apenas 20% dos nascidos vivos no estado realizaram o exame, em 2012. A referência técnica em saúde auditiva, Gabriela Cintra Januário, explica a percentagem baixa. Segundo ela, os dados correspondem somente aos testes realizados nas 43 maternidades credenciadas pelo estado que oferecem o serviço. “Ainda existem os exames realizados por municípios que implantaram o serviço de maneira independente e da rede privada. Nós não temos esses dados”, diz. Apesar disso, ela não descarta a necessidade de ampliação do serviço. “Existe sim a necessidade de aumentar nossa rede e ampliar a cobertura para facilitar o acesso e informação ao procedimento. Mas estamos em fase de reestruturação da gestão vigente”, completa.
O programa foi estruturado antes da publicação da lei federal que torna obrigatória a realização do exame, quando o estado exigia apenas que a rede pública oferecesse o serviço. Criado em 2007, o programa tem crescido à passos lentos. Em 2010, somente 24 maternidades mineiras eram credenciadas, distribuídas em nove das 13 macrorregiões de saúde do Estado.
Desde a última semana, a rede privada foi incluída na lei que determina a realização do teste em bebês. O texto não obriga que os hospitais e maternidades particulares ofereçam o serviço, mas exige que, caso ele não seja disponibilizado lá, o hospital indique uma unidade de saúde ou clínica que faça o exame.
Mesmo avaliando de maneira positiva a inclusão da rede particular na legislação, a pediatra tem ressalvas sobre a causa dos números baixos. “Em Belo Horizonte, o teste da orelhinha teve início nas maternidades privadas e a esmagadora maioria das crianças nascidas nelas já saem com o exame realizado ou com a marcação dele agendada”, pontua. “Mas todas as medidas que possam universalizar a realização do teste tendem a aumentar o número de bebês abrangidos. Então essas medidas são importantes”, completa.
Importância
Para a representante do Programa de triagem estadual, falta informação sobre a importância do teste e sobre o modo como ele é realizado. “Muitas famílias têm medo que furem o bebê, mas o exame não é invasivo. O teste do pézinho faz um furinho no pé da criança, mas é bem aceito. Então acho que é uma questão cultural. Por isso é importante o investimento na educação e informação para que ele também faça parte da cultura das pessoas”, ressalta Gabriela.
De acordo com o presidente do Comitê de Otorrinolaringologia da Sociedade Mineira de Pediatria, Ricardo Neves Godinho, de cada mil crianças nascidas no estado, uma terá problemas muito graves de audição e outras duas irão desenvolver doenças tão sérias quanto até os seis anos de idade. “As crianças prematuras têm uma chance 10 vezes maior que crianças normais de terem esses problemas”, destaca. Contudo, ele ressalta que se o diagnóstico for feito nos primeiros três meses de vida da criança e reabilitá-la com aparelhos de audição ou implante coclear, ela poderá desenvolver a linguagem como qualquer outra criança.
Procedimento
O otorrinolaringologista brinca que um dos testes se parece muito com o nosso hábito de colocar fones de ouvido e ouvir música. “No lugar de escutar o som, o aparelhinho, que é um fone de ouvido bem fininho, tem sensibilidade para captar a movimentação de uma célula dentro da orelha da criança”, explica. O exame é feito em local tranquilo, enquanto a criança dorme ou é amamentada – o que permite à mãe participar e ajudar no processo.
O segundo procedimento, para avaliação do reflexo cocleo-palpebral, o fonoaudiólogo emite um som alto com um aparelho e esse som estimula a criança. “Quando o bebê escuta direito, ele pisca os olhos e mexe com os bracinhos”, afirma. “Geralmente a gente conjuga os dois testes, porque o primeiro avalia só a cóclea - que é a porção do ouvido responsável pela captação de estímulos sonoros. O outro teste avalia o caminho que o som percorre no cérebro e como ele reage ao estímulo sonoro”, completa.
No teste da orelhinha, um aparelho eletrônico com fone é colocado no ouvido do bebê, o que permite ao médico verificar se a criança ouve normalmente
A triagem auditiva conhecida como teste da orelhinha se consiste em dois exames, que podem ser realizados por fonoaudiólogos ainda antes da criança sair da maternidade. Realizado gratuitamente pelo SUS, ele possibilita o diagnóstico precoce de problemas auditivos em bebês. Os exames não doem, são rápidos, não são invasivos e não provocam nenhuma lesão no bebê.
O diagnóstico precoce pode evitar a perda total da audição e permitir a reabilitação de crianças por meio de aparelhos ou implante coclear
Contudo, de acordo com o Programa Estadual de Triagem Auditiva Neonatal, apenas 20% dos nascidos vivos no estado realizaram o exame, em 2012. A referência técnica em saúde auditiva, Gabriela Cintra Januário, explica a percentagem baixa. Segundo ela, os dados correspondem somente aos testes realizados nas 43 maternidades credenciadas pelo estado que oferecem o serviço. “Ainda existem os exames realizados por municípios que implantaram o serviço de maneira independente e da rede privada. Nós não temos esses dados”, diz. Apesar disso, ela não descarta a necessidade de ampliação do serviço. “Existe sim a necessidade de aumentar nossa rede e ampliar a cobertura para facilitar o acesso e informação ao procedimento. Mas estamos em fase de reestruturação da gestão vigente”, completa.
O programa foi estruturado antes da publicação da lei federal que torna obrigatória a realização do exame, quando o estado exigia apenas que a rede pública oferecesse o serviço. Criado em 2007, o programa tem crescido à passos lentos. Em 2010, somente 24 maternidades mineiras eram credenciadas, distribuídas em nove das 13 macrorregiões de saúde do Estado.
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Desde a última semana, a rede privada foi incluída na lei que determina a realização do teste em bebês. O texto não obriga que os hospitais e maternidades particulares ofereçam o serviço, mas exige que, caso ele não seja disponibilizado lá, o hospital indique uma unidade de saúde ou clínica que faça o exame.
Mesmo avaliando de maneira positiva a inclusão da rede particular na legislação, a pediatra tem ressalvas sobre a causa dos números baixos. “Em Belo Horizonte, o teste da orelhinha teve início nas maternidades privadas e a esmagadora maioria das crianças nascidas nelas já saem com o exame realizado ou com a marcação dele agendada”, pontua. “Mas todas as medidas que possam universalizar a realização do teste tendem a aumentar o número de bebês abrangidos. Então essas medidas são importantes”, completa.
Importância
Para a representante do Programa de triagem estadual, falta informação sobre a importância do teste e sobre o modo como ele é realizado. “Muitas famílias têm medo que furem o bebê, mas o exame não é invasivo. O teste do pézinho faz um furinho no pé da criança, mas é bem aceito. Então acho que é uma questão cultural. Por isso é importante o investimento na educação e informação para que ele também faça parte da cultura das pessoas”, ressalta Gabriela.
De acordo com o presidente do Comitê de Otorrinolaringologia da Sociedade Mineira de Pediatria, Ricardo Neves Godinho, de cada mil crianças nascidas no estado, uma terá problemas muito graves de audição e outras duas irão desenvolver doenças tão sérias quanto até os seis anos de idade. “As crianças prematuras têm uma chance 10 vezes maior que crianças normais de terem esses problemas”, destaca. Contudo, ele ressalta que se o diagnóstico for feito nos primeiros três meses de vida da criança e reabilitá-la com aparelhos de audição ou implante coclear, ela poderá desenvolver a linguagem como qualquer outra criança.
O presidente do Comitê de Otorrinolaringologia da Sociedade Mineira de Pediatria, Ricardo Neves Godinho, brinca que os testes se parecem muito com o nosso hábito de colocar fones de ouvido e ouvir música
O otorrinolaringologista brinca que um dos testes se parece muito com o nosso hábito de colocar fones de ouvido e ouvir música. “No lugar de escutar o som, o aparelhinho, que é um fone de ouvido bem fininho, tem sensibilidade para captar a movimentação de uma célula dentro da orelha da criança”, explica. O exame é feito em local tranquilo, enquanto a criança dorme ou é amamentada – o que permite à mãe participar e ajudar no processo.
O segundo procedimento, para avaliação do reflexo cocleo-palpebral, o fonoaudiólogo emite um som alto com um aparelho e esse som estimula a criança. “Quando o bebê escuta direito, ele pisca os olhos e mexe com os bracinhos”, afirma. “Geralmente a gente conjuga os dois testes, porque o primeiro avalia só a cóclea - que é a porção do ouvido responsável pela captação de estímulos sonoros. O outro teste avalia o caminho que o som percorre no cérebro e como ele reage ao estímulo sonoro”, completa.