Estar acima do peso nem sempre compromete o funcionamento do organismo
Segundo especialistas, uma rotina saudável, com exercícios físicos e alimentação equilibrada, garante o bem-estar mesmo fora das medidas padrões
Correio Braziliense
Publicação:09/08/2013 10:00Atualização: 06/08/2013 14:00
A obesidade é porta de entrada para inúmeras doenças. Altas taxas de colesterol e diabetes, hipertensão e complicações cardíacas são alguns dos problemas gerados pelo excesso de peso. Há décadas, médicos e especialistas alertam para os danos que a doença, aliada ao sedentarismo, pode trazer. Entretanto, de acordo com especialistas, estar um pouco acima do peso e manter hábitos saudáveis é perfeitamente compatível com bons índices de saúde.
Um gordinho que pratica esportes ou faz exercícios físicos pode ser mais saudável do que alguém magro, mas que leva uma vida de exageros, afirma o fisiologista Turíbio Barros. “O ideal é manter as duas coisas, estar dentro do peso e praticar atividades. Mas, sem dúvidas, o prognóstico de saúde e a qualidade de vida do gordinho ativo são muito maiores”, explica.
Desde que não esteja aliado a outros fatores de risco (como sedentarismo, consumo de álcool ou de cigarro), estar um pouco acima do peso não faz com que a pessoa, necessariamente, seja acometida por outros problemas de saúde. “Para ter mais riscos, há a necessidade da combinação de excesso de adiposidade e de outras complicações, como alterações da glicemia, das gorduras no sangue, hipertensão arterial etc.”, afirma a endocrinologista Rosana Radominski.
Professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenadora do Grupo de Estudos de Obesidade da universidade, Ana Dâmaso pondera que a condição aparentemente antagônica não é muito comum. “Dificilmente, alguém com um índice de massa corporal acima de 30, por exemplo, não estará acomodado. É possível ter o sobrepeso e manter hábitos saudáveis, mas, na maioria dos casos, não é o que se percebe”, avalia.
O professor de geografia Antonio Jorge Rodrigues, 43 anos, entrou no grupo da exceção depois de um susto. O excesso de peso era um problema recorrente na família dele. Antonio, no entanto, só começou a desenvolver a obesidade em 2003, depois de romper o tendão e precisar parar as atividades que praticava. Enquanto se recuperava, ele ganhou peso e descobriu estar com hipertensão. Quando recebeu o diagnóstico, achou que era o momento certo para retornar às atividades e buscar uma vida mais saudável.
Apesar de estar acima do peso, Antonio, que também mudou os hábitos alimentares, controlou a hipertensão e conta que recuperou a qualidade de vida. “Durmo melhor, acordo mais disposto, ministro melhor minhas aulas e controlei minha pressão”, enumera. “Sem dúvida, foi resultado de estar em atividade.” O retorno aos hábitos saudáveis deu ao professor a vitalidade de uma pessoa mais jovem. “Corro e jogo bola acompanhando meninos mais novos. Não vou dizer que tenho a energia de quando tinha 20 anos, mas de 30 sim”, diz Antonio, que também faz um curso superior de educação física.
Prevenção precoce
Para quem está acima do ideal, mesmo pequenas perdas de peso podem trazer grandes benefícios, como controlar as alterações metabólicas causadas pela obesidade, manter a fome sob controle e evitar o risco de doenças. “Perder de 8% a 10% do excesso de peso pode já desfazer algumas alterações no metabolismo causadas pela obesidade”, afirma a professora da Unifesp Ana Dâmaso, embasada em dados de um estudo realizado na universidade. No entanto, para controlar disfunções mais graves, como o processo inflamatório, a perda precisa ser de pelo menos 20% do peso.
Dâmaso pondera que, quanto antes serem iniciadas, as atitudes contra a obesidade surtirão efeito mais rapidamente. “As complicações de saúde podem surgir ainda durante a adolescência. É incorreto acreditar que só virão depois. O processo de mudança deve acontecer desde cedo”, explica. Filho de pai diabético, Ramon Cruz, 24 anos, abandonou a vida sedentária em busca de mais saúde e de novos hábitos. Um pouco acima do peso ideal, o universitário buscou nos esportes e na reeducação alimentar formas de ser mais saudável.
Estudante de engenharia de software no câmpus da Universidade de Brasília do Gama, Ramon conta que, desde muito novo, enfrentou problemas com a balança, mas, ainda assim, praticava alguns esportes. Com o ingresso na universidade, porém, acabou por deixar de lado as atividades físicas e ganhou mais peso. Com receio de desenvolver problemas de saúde, o estudante começou, em 2012, a se dedicar à corrida. No início, eram apenas caminhadas, mas, em poucos meses, ele já conseguia correr cerca de 7 quilômetros e se sentir bem. “Eu pensei que, se continuasse engordando e sem praticar atividades, poderia no futuro ter algumas doenças. Resolvi voltar aos esportes”, diz. Neste ano, Ramon passou também a praticar rúgbi.
O jovem estudante também mudou a alimentação. Diminuiu carboidratos e aumentou o consumo de saladas e proteínas. “Comia muito pão, massas. Praticamente não como mais arroz e diminuí a quantidade de refrigerantes também”, explica. A mudança de hábitos trouxe principalmente disposição para as atividades cotidianas. “Eu me cansava caminhando nas ruas, subindo escadas. Agora, me sinto mais disposto”, diz. Depois que adotou o novo estilo de vida, é difícil notar os quilos a mais que o universitário ainda tem.
Mesmo existindo a possibilidade de conciliar os quilos a mais com uma rotina saudável, especialistas são unânimes em afirmar que existe um limite. Dificilmente, alguém que está em um estado de obesidade mais grave consegue se manter com boa saúde sem maiores danos. O excesso de peso traz dificuldades para se manter ativo. Dores nas articulações e falta de fôlego são alguns dos obstáculos que geralmente precisam ser enfrentados. “A obesidade, de fato, é praticamente incompatível com a vida ativa. Ela impõe certas limitações ao indivíduo”, afirma Turíbio Barros.
Benefícios invisíveis, efeitos reais
Resultantes da atividade física e dos bons hábitos alimentares, a redução da taxa de colesterol e a prevenção de doenças cardíacas não podem ser vistas no espelho, mas são fatores que alteram para melhor a qualidade de vida. “É o que chamamos de benefícios invisíveis, não podem ser enxergados, mas vão além e são mais importantes do que simplesmente perder peso”, afirma o fisiologista Turíbio Barros.
O problema é se convencer de que benefícios notórios e invisíveis valem mais do que obstáculos da rotina, como o tipo habitual de locomoção, os hábitos culturais e a falta de tempo. De acordo com Barros, há sempre o risco de as complicações da obesidade e dos costumes sedentários dificultarem a busca por atividades e hábitos que tornem a vida mais tranquila e saudável. “É um círculo vicioso, obesidade e inatividade, que precisa ser quebrado antes de se tornar irreversível”, afirma.
Praticante de caratê desde os 8 anos, o professor do esporte José Passos, 43 anos, precisou começar a ganhar peso aos 15 para lutar em uma nova categoria. Desde então, nunca voltou a estar dentro dos padrões, mesmo se dedicando ao esporte diariamente. “O caratê é minha profissão e também meu esporte. Dedico-me dando aulas, ensinando e, além disso, praticando e treinando”, diz o esportista, que controla o peso por conta da categoria de luta escolhida.
Saudável, ativo e com uns quilos a mais que o tradicional, José Passos acredita que a vida extremamente ativa não compromete o funcionamento do seu organismo. Para ele, o peso é mero detalhe. “A atividade física é o que me segura em pé, o que me mantém saudável desde sempre”, diz. “Para mim, que me mantenho ativo, ainda não sinto prejuízos (dos quilos mais).”
Independemente da condição, os especialistas alertam que o excesso de peso sempre deve ser encarado como uma situação de alerta. “As pessoas têm dificuldade em entender que a obesidade é uma doença que vêm de vários fatores e que exige um tratamento longo em várias áreas da medicina”, pondera Ana Dâmaso, especialista em obesidade.
Combinação de fatores
“É bom lembrar que a obesidade é uma doença na qual não existe um único fator responsável. Existe uma combinação de fatores, a predisposição genética, o ambiente, a alimentação, o sedentarismo etc. A predisposição genética, por exemplo, é algo imutável. Então, certas pessoas têm mais dificuldade para emagrecer do que outras. Em alguns casos, apenas a mudança de hábitos não é capaz de reverter ou prevenir o quadro de doenças trazidas pelo sedentarismo e pela obesidade. Então, há a necessidade de tratamento com medicamentos ou mesmo de uma intervenção cirúrgica.”
Rosana Radominski, endocrinologista
Ramon engordou quando entrou na universidade e conseguiu resgatar a disposição depois que começou a correr e a jogar rúgbi. O peso antigo, porém, não foi recuperado
Um gordinho que pratica esportes ou faz exercícios físicos pode ser mais saudável do que alguém magro, mas que leva uma vida de exageros, afirma o fisiologista Turíbio Barros. “O ideal é manter as duas coisas, estar dentro do peso e praticar atividades. Mas, sem dúvidas, o prognóstico de saúde e a qualidade de vida do gordinho ativo são muito maiores”, explica.
Desde que não esteja aliado a outros fatores de risco (como sedentarismo, consumo de álcool ou de cigarro), estar um pouco acima do peso não faz com que a pessoa, necessariamente, seja acometida por outros problemas de saúde. “Para ter mais riscos, há a necessidade da combinação de excesso de adiposidade e de outras complicações, como alterações da glicemia, das gorduras no sangue, hipertensão arterial etc.”, afirma a endocrinologista Rosana Radominski.
Professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenadora do Grupo de Estudos de Obesidade da universidade, Ana Dâmaso pondera que a condição aparentemente antagônica não é muito comum. “Dificilmente, alguém com um índice de massa corporal acima de 30, por exemplo, não estará acomodado. É possível ter o sobrepeso e manter hábitos saudáveis, mas, na maioria dos casos, não é o que se percebe”, avalia.
O professor de geografia Antonio Jorge Rodrigues, 43 anos, entrou no grupo da exceção depois de um susto. O excesso de peso era um problema recorrente na família dele. Antonio, no entanto, só começou a desenvolver a obesidade em 2003, depois de romper o tendão e precisar parar as atividades que praticava. Enquanto se recuperava, ele ganhou peso e descobriu estar com hipertensão. Quando recebeu o diagnóstico, achou que era o momento certo para retornar às atividades e buscar uma vida mais saudável.
Saiba mais...
Praticante de capoeira desde jovem, Antonio voltou ao esporte e criou o hábito de fazer caminhadas diárias, que duram cerca de 1h40. Em alguns fins de semana, ainda sai com amigos para pedalar. “Eu voltei, desde 2003, a fazer atividades físicas todos os dias, menos no domingo, que deixo mais para lazer e descanso”, conta.- Prática de artes marciais durante a infância auxilia no desenvolvimento corporal, cognitivo e social
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Apesar de estar acima do peso, Antonio, que também mudou os hábitos alimentares, controlou a hipertensão e conta que recuperou a qualidade de vida. “Durmo melhor, acordo mais disposto, ministro melhor minhas aulas e controlei minha pressão”, enumera. “Sem dúvida, foi resultado de estar em atividade.” O retorno aos hábitos saudáveis deu ao professor a vitalidade de uma pessoa mais jovem. “Corro e jogo bola acompanhando meninos mais novos. Não vou dizer que tenho a energia de quando tinha 20 anos, mas de 30 sim”, diz Antonio, que também faz um curso superior de educação física.
Prevenção precoce
Para quem está acima do ideal, mesmo pequenas perdas de peso podem trazer grandes benefícios, como controlar as alterações metabólicas causadas pela obesidade, manter a fome sob controle e evitar o risco de doenças. “Perder de 8% a 10% do excesso de peso pode já desfazer algumas alterações no metabolismo causadas pela obesidade”, afirma a professora da Unifesp Ana Dâmaso, embasada em dados de um estudo realizado na universidade. No entanto, para controlar disfunções mais graves, como o processo inflamatório, a perda precisa ser de pelo menos 20% do peso.
Dâmaso pondera que, quanto antes serem iniciadas, as atitudes contra a obesidade surtirão efeito mais rapidamente. “As complicações de saúde podem surgir ainda durante a adolescência. É incorreto acreditar que só virão depois. O processo de mudança deve acontecer desde cedo”, explica. Filho de pai diabético, Ramon Cruz, 24 anos, abandonou a vida sedentária em busca de mais saúde e de novos hábitos. Um pouco acima do peso ideal, o universitário buscou nos esportes e na reeducação alimentar formas de ser mais saudável.
Estudante de engenharia de software no câmpus da Universidade de Brasília do Gama, Ramon conta que, desde muito novo, enfrentou problemas com a balança, mas, ainda assim, praticava alguns esportes. Com o ingresso na universidade, porém, acabou por deixar de lado as atividades físicas e ganhou mais peso. Com receio de desenvolver problemas de saúde, o estudante começou, em 2012, a se dedicar à corrida. No início, eram apenas caminhadas, mas, em poucos meses, ele já conseguia correr cerca de 7 quilômetros e se sentir bem. “Eu pensei que, se continuasse engordando e sem praticar atividades, poderia no futuro ter algumas doenças. Resolvi voltar aos esportes”, diz. Neste ano, Ramon passou também a praticar rúgbi.
O jovem estudante também mudou a alimentação. Diminuiu carboidratos e aumentou o consumo de saladas e proteínas. “Comia muito pão, massas. Praticamente não como mais arroz e diminuí a quantidade de refrigerantes também”, explica. A mudança de hábitos trouxe principalmente disposição para as atividades cotidianas. “Eu me cansava caminhando nas ruas, subindo escadas. Agora, me sinto mais disposto”, diz. Depois que adotou o novo estilo de vida, é difícil notar os quilos a mais que o universitário ainda tem.
Mesmo existindo a possibilidade de conciliar os quilos a mais com uma rotina saudável, especialistas são unânimes em afirmar que existe um limite. Dificilmente, alguém que está em um estado de obesidade mais grave consegue se manter com boa saúde sem maiores danos. O excesso de peso traz dificuldades para se manter ativo. Dores nas articulações e falta de fôlego são alguns dos obstáculos que geralmente precisam ser enfrentados. “A obesidade, de fato, é praticamente incompatível com a vida ativa. Ela impõe certas limitações ao indivíduo”, afirma Turíbio Barros.
José luta em uma categoria acima do seu peso ideal: saúde e vigilância
Benefícios invisíveis, efeitos reais
Resultantes da atividade física e dos bons hábitos alimentares, a redução da taxa de colesterol e a prevenção de doenças cardíacas não podem ser vistas no espelho, mas são fatores que alteram para melhor a qualidade de vida. “É o que chamamos de benefícios invisíveis, não podem ser enxergados, mas vão além e são mais importantes do que simplesmente perder peso”, afirma o fisiologista Turíbio Barros.
O problema é se convencer de que benefícios notórios e invisíveis valem mais do que obstáculos da rotina, como o tipo habitual de locomoção, os hábitos culturais e a falta de tempo. De acordo com Barros, há sempre o risco de as complicações da obesidade e dos costumes sedentários dificultarem a busca por atividades e hábitos que tornem a vida mais tranquila e saudável. “É um círculo vicioso, obesidade e inatividade, que precisa ser quebrado antes de se tornar irreversível”, afirma.
Praticante de caratê desde os 8 anos, o professor do esporte José Passos, 43 anos, precisou começar a ganhar peso aos 15 para lutar em uma nova categoria. Desde então, nunca voltou a estar dentro dos padrões, mesmo se dedicando ao esporte diariamente. “O caratê é minha profissão e também meu esporte. Dedico-me dando aulas, ensinando e, além disso, praticando e treinando”, diz o esportista, que controla o peso por conta da categoria de luta escolhida.
Saudável, ativo e com uns quilos a mais que o tradicional, José Passos acredita que a vida extremamente ativa não compromete o funcionamento do seu organismo. Para ele, o peso é mero detalhe. “A atividade física é o que me segura em pé, o que me mantém saudável desde sempre”, diz. “Para mim, que me mantenho ativo, ainda não sinto prejuízos (dos quilos mais).”
Independemente da condição, os especialistas alertam que o excesso de peso sempre deve ser encarado como uma situação de alerta. “As pessoas têm dificuldade em entender que a obesidade é uma doença que vêm de vários fatores e que exige um tratamento longo em várias áreas da medicina”, pondera Ana Dâmaso, especialista em obesidade.
Combinação de fatores
“É bom lembrar que a obesidade é uma doença na qual não existe um único fator responsável. Existe uma combinação de fatores, a predisposição genética, o ambiente, a alimentação, o sedentarismo etc. A predisposição genética, por exemplo, é algo imutável. Então, certas pessoas têm mais dificuldade para emagrecer do que outras. Em alguns casos, apenas a mudança de hábitos não é capaz de reverter ou prevenir o quadro de doenças trazidas pelo sedentarismo e pela obesidade. Então, há a necessidade de tratamento com medicamentos ou mesmo de uma intervenção cirúrgica.”
Rosana Radominski, endocrinologista