Falta de tempo é principal desculpa para cuidado tardio com a saúde masculina
A mudança, na maioria dos casos, só acontece quando algo grave acomete o homem. Outro ponto torna o tratamento ainda mais difícil: a maioria abandona quando percebe alguma melhora
Rafael Campos - Redação
Publicação:20/08/2013 09:01Atualização: 20/08/2013 08:56
O referencial de autoconfiança e suposta despreocupação do representante comercial Byron Barretto é seguido pelo filho dele. André Barretto, 29 anos, também não vai ao médico, a não ser que esteja doente. Como é jovem, a saúde vai bem, mas, sem pensar no futuro, não investe na prevenção. “Tenho consciência de que, muitas vezes, a gente não se cuida por medo de encontrar alguma coisa errada ou ter que mudar hábitos que não queremos neste momento”, conclui.
O rapaz alega que anda sem tempo de fazer exercícios. A correria o obriga a comer em quantidades erradas e em horários não planejados. O resultado é que está 20kg acima do peso. Byron, o pai, se preocupa, pega no pé, mas não adianta. Assim como não surte efeito quando os filhos dele pedem para que o próprio faça exames e cuide do coração. No fim do ano passado, André cedeu aos apelos da mulher e foi a um cardiologista. Fez todos os exames de sangue solicitados e os de coração. Acima do peso e filho de um cardíaco, é melhor redobrar a vigilância. Resultado em mãos, descobriu que o colesterol estava um pouco alterado. Por conta própria, tem tentado mudar os hábitos alimentares, mas nunca mais voltou ao médico. Ele reconhece que precisaria fazer diferente, mas não tem tempo ou disposição para tanto.
A mudança, na maioria dos casos, só acontece quando algo grave acomete o homem. O operador de cobrança José da Silva Costa, 51 anos, hoje é um seguidor fiel de todas as recomendações médicas desde que descobriu que tinha um problema crônico. Mas, até pouco tempo, garante que só imaginava procurar um especialista caso a situação estivesse insuportável. “Eu pensava: ‘Vou procurar médico para quê?’. Se sentisse que estava com algum problema de saúde, fazia questão de não procurar para não saber o que tinha”, assegura.
“A busca deles, dificilmente, é espontânea e é preciso cuidado do profissional de saúde para que a abordagem possa fazê-los falar. É preciso investigar o homem como um todo. Muitos procuram o posto com problemas de disfunção erétil e ela pode esconder outras doenças, como o diabetes, por exemplo”, explica Anderson Abucha, assistente do núcleo da saúde do homem da Secretaria de Saúde do Distrito Federal. De acordo com ele, é preciso estimular a ida dos homens sem pontuar tratamentos, tornando a ação preventiva e global. “São inúmeros os casos de AVC e infarto que poderiam ter sido evitados com procedimentos primários. E essa prevenção é vantajosa para o homem e para o Estado, que gasta menos.”
O convencimento é um esforço contínuo. A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, do Ministério da Saúde, foi publicada em 2008. Contudo, até agora ainda sofre para alcançar sua totalidade. A política, que foi classificada como prioridade, garante, em seu texto, ter como objetivo promover “ações de saúde que contribuam significativamente para a compreensão da realidade singular masculina nos seus diversos contextos socioculturais e político-econômicos.”
O Distrito Federal tem um ambulatório com horário de atendimento exclusivo para os homens, que funciona em Sobradinho II. O projeto piloto existe desde 2009 e atende, das 18h às 22h, somente as demandas do sexo masculino. Maria Aparecida Murr, médica do ambulatório, explica que a verdadeira preocupação é não deixar que o homem chegue doente. “O objetivo dela é a prevenção. Não queremos que o homem chegue aqui hipertenso, mas saudável, para que não desenvolva a doença. A política foi desenhada para ficar na atenção primária, e esse ambulatório é um intermediário da atenção primária até o especialista.”
De acordo com ela, a prevenção é feita de forma holística. Ou seja, é preciso analisar todos os aspectos do paciente: se trabalha ou não, o que faz, qual o processo de ele adoecer, se é casado ou não, a idade, os hábitos alimentares, culturais, bem como processos simples, como aferir a pressão. Com esses dados, um perfil é traçado para que os especialistas possam entender com quem estão lidando. Essa base de dados já vem sendo estudada para entender melhor o homem do DF. “Muitos chegam com uma queixa envolvendo a sexologia, e a gente acaba descobrindo que ele é hipertenso, diabético etc.”, afirma Maria Aparecida. Aguinaldo Nardi diz que os envolvidos no cuidado com os homens precisam não saber apenas sobre trato médico.
Não feche os olhos
Além da falsa sensação de que não ficam doentes — e da vergonha em perceber que isso não é verdade —, eles preferem fingir que certas limitações não os afetam, por isso é necessário uma conversa que os faça sentir confiança. O levantamento Assumindo o controle: uma pesquisa internacional examinando como a disfunção erétil e os sintomas de HPB estão afetando a vida dos casais, divulgado neste mês pela Eli Lilly, mostra que, apenas para 15% dos homens, os sintomas de HPB (Hiperplasia Prostática Benigna) e DE (Disfunção Erétil) limitam muito a satisfação com o relacionamento. O número salta para 33% quando a pergunta é feita para as mulheres. Para 25% deles, essas limitações não interferem em nada, contra 20% das mulheres.
De acordo com o urologista Rômulo Maroccolo, diretor da Sociedade Brasileira de Urologia em Brasília, os homens só começam a procurar o especialista cinco anos após o surgimento dos primeiros sintomas. “A diferença é muito grande entre os homens que têm plano de saúde e os que precisam recorrer ao SUS. Nós somos o primeiro país da América Latina com um plano de saúde para o homem, mas ele só existe no papel.”
Outro ponto torna o tratamento ainda mais difícil: a maioria dos homens o abandona quando percebe alguma melhora. “A soma entre acesso limitado e aspectos culturais faz com que o homem não descubra doenças em estágios precoces”, completa Maroccolo. Mas, com a mudança contínua de comportamento, além da saúde melhor, a maior parte deles perde os preconceitos. O aposentado Antônio Alves Vilanova, de 70 anos, lembra que jamais deixou de voltar ao trabalho logo após uma consulta médica. “Nunca segui os tratamentos de forma séria. Até que um problema grave de saúde me fez ver que, se eu tivesse me cuidado antes, teria evitado esse sofrimento.”
Hoje, ele tenta estimular os colegas a perderem o medo e se abrirem com os especialistas, mas diz que a resistência ainda é grande, mesmo quando eles têm relação com pessoas acometidas de enfermidades graves. “A medicina está muito evoluída e, para que você consiga viver uns anos a mais, é só ir ao médico. Quando falo com meus amigos, eles sempre dizem que não farão exame de próstata. É quando digo para eles: eu já fui duas vezes e farei mais, porque essa prevenção ajuda.”
Se Byron e André Barreto andam em dívida com os próprios cuidados, o caçula da família está sendo orientado desde já a seguir um caminho diferente do avô e do tio. João Francisco, 5 anos, é anualmente levado pelos pais para a consulta com o pediatra. Nessa idade, é justamente esse médico que identificará — e apontará as soluções — problemas que podem comprometer a saúde na adolescência e na idade adulta.
Foi o pediatra que diagnosticou a razão da dor e ardência ao urinar, além da vermelhidão e do aumento da temperatura no pênis, que João Francisco sentiu quando tinha 3 anos. Era uma postite, resultado do acúmulo de urina no prepúcio, que leva à inflamação da glande. “Ele gritava de dor. Fiquei apavorada e corri para a emergência pediátrica. Lá mesmo, eles resolveram o problema e não foi preciso procurar um urologista”, comenta a mãe dele, Carolina Castro. Um banho com a medicação adequada, limpeza correta, e o problema sumiu depois de alguns dias. Depois do episódio, João Francisco aprendeu a fazer a própria higiene para evitar novos episódios desse mal dolorido.
É justamente na infância o momento de incentivar o homem a se cuidar em todas as fases da vida. A geração dos pequenos de hoje poderá se transformar em adultos mais conscientes. João Francisco, por exemplo, já sabe também que a alimentação é algo a ser controlado. Apesar do biotipo que denuncia que será, provavelmente, um homem magro, o pediatra já identificou alterações no colesterol. Logo, os pais lhe explicaram o que isso significaria, na prática, menos comilança de guloseimas, mais verduras no prato e atividades físicas sempre. Ele aceitou bem as recomendações e segue com disciplina. Um exemplo que deveria ser seguido pelo avô e pelo tio. E por todos os homens.
Antônio Alves Vilanova, 70 anos: 'um problema grave de saúde me fez ver que, se eu tivesse me cuidado antes, teria evitado esse sofrimento'
O rapaz alega que anda sem tempo de fazer exercícios. A correria o obriga a comer em quantidades erradas e em horários não planejados. O resultado é que está 20kg acima do peso. Byron, o pai, se preocupa, pega no pé, mas não adianta. Assim como não surte efeito quando os filhos dele pedem para que o próprio faça exames e cuide do coração. No fim do ano passado, André cedeu aos apelos da mulher e foi a um cardiologista. Fez todos os exames de sangue solicitados e os de coração. Acima do peso e filho de um cardíaco, é melhor redobrar a vigilância. Resultado em mãos, descobriu que o colesterol estava um pouco alterado. Por conta própria, tem tentado mudar os hábitos alimentares, mas nunca mais voltou ao médico. Ele reconhece que precisaria fazer diferente, mas não tem tempo ou disposição para tanto.
A mudança, na maioria dos casos, só acontece quando algo grave acomete o homem. O operador de cobrança José da Silva Costa, 51 anos, hoje é um seguidor fiel de todas as recomendações médicas desde que descobriu que tinha um problema crônico. Mas, até pouco tempo, garante que só imaginava procurar um especialista caso a situação estivesse insuportável. “Eu pensava: ‘Vou procurar médico para quê?’. Se sentisse que estava com algum problema de saúde, fazia questão de não procurar para não saber o que tinha”, assegura.
“A busca deles, dificilmente, é espontânea e é preciso cuidado do profissional de saúde para que a abordagem possa fazê-los falar. É preciso investigar o homem como um todo. Muitos procuram o posto com problemas de disfunção erétil e ela pode esconder outras doenças, como o diabetes, por exemplo”, explica Anderson Abucha, assistente do núcleo da saúde do homem da Secretaria de Saúde do Distrito Federal. De acordo com ele, é preciso estimular a ida dos homens sem pontuar tratamentos, tornando a ação preventiva e global. “São inúmeros os casos de AVC e infarto que poderiam ter sido evitados com procedimentos primários. E essa prevenção é vantajosa para o homem e para o Estado, que gasta menos.”
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Falta de tempo é a principal desculpa
Para cada fase da vida do homem, um cuidado especial
Falta de tempo é a principal desculpa
Para cada fase da vida do homem, um cuidado especial
O convencimento é um esforço contínuo. A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, do Ministério da Saúde, foi publicada em 2008. Contudo, até agora ainda sofre para alcançar sua totalidade. A política, que foi classificada como prioridade, garante, em seu texto, ter como objetivo promover “ações de saúde que contribuam significativamente para a compreensão da realidade singular masculina nos seus diversos contextos socioculturais e político-econômicos.”
O Distrito Federal tem um ambulatório com horário de atendimento exclusivo para os homens, que funciona em Sobradinho II. O projeto piloto existe desde 2009 e atende, das 18h às 22h, somente as demandas do sexo masculino. Maria Aparecida Murr, médica do ambulatório, explica que a verdadeira preocupação é não deixar que o homem chegue doente. “O objetivo dela é a prevenção. Não queremos que o homem chegue aqui hipertenso, mas saudável, para que não desenvolva a doença. A política foi desenhada para ficar na atenção primária, e esse ambulatório é um intermediário da atenção primária até o especialista.”
De acordo com ela, a prevenção é feita de forma holística. Ou seja, é preciso analisar todos os aspectos do paciente: se trabalha ou não, o que faz, qual o processo de ele adoecer, se é casado ou não, a idade, os hábitos alimentares, culturais, bem como processos simples, como aferir a pressão. Com esses dados, um perfil é traçado para que os especialistas possam entender com quem estão lidando. Essa base de dados já vem sendo estudada para entender melhor o homem do DF. “Muitos chegam com uma queixa envolvendo a sexologia, e a gente acaba descobrindo que ele é hipertenso, diabético etc.”, afirma Maria Aparecida. Aguinaldo Nardi diz que os envolvidos no cuidado com os homens precisam não saber apenas sobre trato médico.
Não feche os olhos
Além da falsa sensação de que não ficam doentes — e da vergonha em perceber que isso não é verdade —, eles preferem fingir que certas limitações não os afetam, por isso é necessário uma conversa que os faça sentir confiança. O levantamento Assumindo o controle: uma pesquisa internacional examinando como a disfunção erétil e os sintomas de HPB estão afetando a vida dos casais, divulgado neste mês pela Eli Lilly, mostra que, apenas para 15% dos homens, os sintomas de HPB (Hiperplasia Prostática Benigna) e DE (Disfunção Erétil) limitam muito a satisfação com o relacionamento. O número salta para 33% quando a pergunta é feita para as mulheres. Para 25% deles, essas limitações não interferem em nada, contra 20% das mulheres.
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A pesquisa, que ouviu casais em oito países (Canadá, México, Brasil, Espanha, França, Reino Unido, Alemanha e Itália), alertou para o fato de que as mulheres entendem mais a HBP e a DE como problemas de saúde e não males do envelhecimento. Maria Aparecida Murr indica, inclusive, que a companheira, ou o companheiro, vá com o marido ao médico. “Queremos que eles venham acompanhados, assim se sentirão mais à vontade. Até porque o homem cria vínculos mais fortes com o médico que as mulheres.”- Prevenção não faz parte do vocabulário do homem brasileiro. Abaixo a síndrome do super-homem!
- Para cada fase da vida do homem, um cuidado especial
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- Segundo estudo, homens com menos testosterona e testículos menores seriam mais paternais
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De acordo com o urologista Rômulo Maroccolo, diretor da Sociedade Brasileira de Urologia em Brasília, os homens só começam a procurar o especialista cinco anos após o surgimento dos primeiros sintomas. “A diferença é muito grande entre os homens que têm plano de saúde e os que precisam recorrer ao SUS. Nós somos o primeiro país da América Latina com um plano de saúde para o homem, mas ele só existe no papel.”
Outro ponto torna o tratamento ainda mais difícil: a maioria dos homens o abandona quando percebe alguma melhora. “A soma entre acesso limitado e aspectos culturais faz com que o homem não descubra doenças em estágios precoces”, completa Maroccolo. Mas, com a mudança contínua de comportamento, além da saúde melhor, a maior parte deles perde os preconceitos. O aposentado Antônio Alves Vilanova, de 70 anos, lembra que jamais deixou de voltar ao trabalho logo após uma consulta médica. “Nunca segui os tratamentos de forma séria. Até que um problema grave de saúde me fez ver que, se eu tivesse me cuidado antes, teria evitado esse sofrimento.”
Hoje, ele tenta estimular os colegas a perderem o medo e se abrirem com os especialistas, mas diz que a resistência ainda é grande, mesmo quando eles têm relação com pessoas acometidas de enfermidades graves. “A medicina está muito evoluída e, para que você consiga viver uns anos a mais, é só ir ao médico. Quando falo com meus amigos, eles sempre dizem que não farão exame de próstata. É quando digo para eles: eu já fui duas vezes e farei mais, porque essa prevenção ajuda.”
Se Byron e André Barreto andam em dívida com os próprios cuidados, o caçula da família está sendo orientado desde já a seguir um caminho diferente do avô e do tio. João Francisco, 5 anos, é anualmente levado pelos pais para a consulta com o pediatra. Nessa idade, é justamente esse médico que identificará — e apontará as soluções — problemas que podem comprometer a saúde na adolescência e na idade adulta.
Foi o pediatra que diagnosticou a razão da dor e ardência ao urinar, além da vermelhidão e do aumento da temperatura no pênis, que João Francisco sentiu quando tinha 3 anos. Era uma postite, resultado do acúmulo de urina no prepúcio, que leva à inflamação da glande. “Ele gritava de dor. Fiquei apavorada e corri para a emergência pediátrica. Lá mesmo, eles resolveram o problema e não foi preciso procurar um urologista”, comenta a mãe dele, Carolina Castro. Um banho com a medicação adequada, limpeza correta, e o problema sumiu depois de alguns dias. Depois do episódio, João Francisco aprendeu a fazer a própria higiene para evitar novos episódios desse mal dolorido.
É justamente na infância o momento de incentivar o homem a se cuidar em todas as fases da vida. A geração dos pequenos de hoje poderá se transformar em adultos mais conscientes. João Francisco, por exemplo, já sabe também que a alimentação é algo a ser controlado. Apesar do biotipo que denuncia que será, provavelmente, um homem magro, o pediatra já identificou alterações no colesterol. Logo, os pais lhe explicaram o que isso significaria, na prática, menos comilança de guloseimas, mais verduras no prato e atividades físicas sempre. Ele aceitou bem as recomendações e segue com disciplina. Um exemplo que deveria ser seguido pelo avô e pelo tio. E por todos os homens.
"Nunca segui os tratamentos de forma séria. Até que um problema grave de saúde me fez ver que, se eu tivesse me cuidado antes, teria evitado esse sofrimento”
Antônio Alves Vilanova, 70 anos, aposentado
Antônio Alves Vilanova, 70 anos, aposentado
Colaborou Flávia Duarte