Personalização da medicina é caminho perseguido para tratar as variações de tumores

Com o avanço das tecnologias de sequenciamento genético na última década, foi possível caracterizar o tumor e buscar atuar de forma cada mais precisa no tratamento, um esforço que mobiliza a comunidade científica e a indústria farmacêutica em prol da personalização

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Publicação:21/08/2013 09:45Atualização:21/08/2013 09:58
Apesar de uma só nomenclatura, o câncer de mama não é uma doença única, assim como o de pulmão, colo do útero, de pele e os demais também não são (FOTOS: ISTOCK)
Apesar de uma só nomenclatura, o câncer de mama não é uma doença única, assim como o de pulmão, colo do útero, de pele e os demais também não são
O tratamento do câncer de mama ganha novos aliados. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou recentemente a comercialização do perjeta, anticorpo monoclonal que figura entre os medicamentos mais modernos e eficientes para controle da doença em fase metastática – quando já atingiu outros órgãos. A droga, que já era comercializada na Europa e nos Estados Unidos, traz esperança para as pacientes brasileiras diagnosticadas com uma das formas mais agressivas da doença, o câncer de mama conhecido como HER2 positivo (HER2+), que atinge cerca de 20% do total de mulheres com a enfermidade.

“Hoje, sabemos que há três grandes grupos de câncer de mama. Aquele com alteração na proteína HER2, outro com receptores hormonais de estrogênio e progesterona e o grupo triplo negativo”, enumera Carlos Barrios, professor da Faculdade de Medicina da PUC do Rio Grande do Sul. O que caracteriza essa variação é o fato de ter a proteína HER2 na membrana da célula em número aumentado, o que contribui para a evolução da doença. “Quando chego a essa situação clínica, estou diagnosticando uma doença muito particular, que tem aquela alteração molecular como o motor que faz com que a célula se divida e evolua”, acrescenta Barrios, enfatizando as particularidades dessa versão da doença.

Apesar de uma só nomenclatura, o câncer de mama não é uma doença única, assim como o de pulmão, colo do útero, de pele e os demais também não são. “É como se fossem várias doenças em uma”, observa Barrios. As variações podem chegar ao nível individual, em que o tumor se comporta de maneira distinta, de acordo com o paciente.

Com o avanço das tecnologias de sequenciamento genético na última década, foi possível caracterizar o tumor e buscar atuar de forma cada mais precisa no tratamento, um esforço que mobiliza a comunidade científica e a indústria farmacêutica em prol da personalização cada vez maior da medicina. O sequenciamento do genoma é a ferramenta por meio da qual são identificados os biomarcadores responsáveis pela caracterização do tumor. Identificados, esses marcadores se tornam alvos do ataque de medicamentos desenvolvidos exclusivamente com esse fim.

COQUETEL IDEAL
Diante da precisão do diagnóstico, é possível direcionar o tratamento ideal para cada situação. Para o membro da Clínica Oncologistas Associados do Rio de Janeiro, Gilberto Amorim, esse é um caminho sem volta. “É preciso reaprender as doenças, já que são várias formas, mesmo que tenham a mesma nomenclatura”, afirma. Os avanços se estendem para o câncer de pulmão, colo do útero e melanomas. “A intenção é conhecer não só a doença, como também o indivíduo. Pessoas têm reações diferentes aos medicamentos e é preciso conhecer melhor os mecanismos de cada organismo”, avalia.

Nessa direção, a personalização permite, inclusive, a definição do melhor coquetel de medicamentos para cada indivíduo. “O tumor passa por testes e, a partir daí, podem ser definidas as drogas com maior chance de resposta”, observa Amorim. Isso já é feito no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, há um ano. “Fazemos esse sequenciamento do tumor com análise de cerca de 100 genes em casos em que o paciente não responde mais aos tratamentos convencionais”, explica o coordenador de Ensino e Pesquisa do Centro de Oncologia do hospital, Bernardo Garicochea.

Quando se esgotam as alternativas habituais, o sequenciamento genético pode ser uma alternativa para possibilidades que dificilmente seriam consideradas. “Com o teste no tumor, um remédio para leucemia pode agir em um determinado gene, que pode ser benéfico no tratamento de câncer de pulmão, por exemplo”, explica Garicochea. Tomando as decisões terapêuticas mais corretas, evita-se a prescrição de remédios caros e sem efeito, além de reduzir os riscos de reações adversas ao medicamento.

Cura para a metástase

Testes estão sendo realizados para o desenvolvimento de drogas que visam à redução de sintomas provocados pelo tratamento quimioterápico, entre eles, a perda de cabelo. “Foi criada a molécula TDM1, um conjugado entre anticorpo e um agente tóxico para atacar a célula cancerosa”, explica Carlos Barrios, professor da Faculdade de Medicina da PUC do Rio Grande do Sul.

A ideia é que o anticorpo funcione como um verdadeiro “míssil teleguiado” que chegará exatamente à área para a qual foi destinado. “O anticorpo vai levar consigo a molécula tóxica. Quando chegar à célula que se quer atacar, ela penetra e, a partir daí, tem-se uma verdadeira bomba”, explica Barrios. Com a destinação bem definida, os índices de toxicidade são bastante reduzidos.

“A molécula criada não se solta no organismo. Somente na célula que se quer combater”, observa. Sendo menos tóxico, o TDM-1 pode significar o fim da queda de cabelo. “Estamos na fase de testes para saber qual seria a melhor combinação. Se, por exemplo, o Perjeta poderia ser associado”, explica Barrios.

EVOLUÇÃO
O Herceptin foi o primeiro passo rumo ao controle do câncer do tipo HER2+. Associado com a quimioterapia, mostrou resultados importantes no aumento da expectativa de vida das pacientes. “Depois, foram tentadas alternativas para que esse efeito fosse ainda melhor. Isso ocorreu quando, além do Herceptin, associou-se outro anticorpo, o Pertuzumab ou Perjeta”, lembra Barrios. Agora, com o desenvolvimento do TDM-1, uma nova fase se anuncia para o tratamento dessas pacientes. “Câncer metastático ainda é sinônimo de morte. Mas a chance de cura está mais próxima para o subgrupo HER 2+”, garante o especialista da PUC-RS. (PT)

* a repórter viajou a convite da Roche

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