Amor e amizade andam juntos para ex-casais que conseguem superar traumas da separação

Sentimentos complementares podem caminhar lado a lado se o casal tem amadurecimento suficiente para saber superar a raiva do outro, a frustração e os traumas de uma separação

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Carolina Cotta - Estado de Minas Publicação:22/09/2013 10:08Atualização:22/09/2013 10:28
Uyara Mendes e Ronaldo Proença se separaram depois de 21 anos juntos. Eles frequentam a casa um do outro e comemoram datas especiais  (Beto Magalhães/EM/DA Press)
Uyara Mendes e Ronaldo Proença se separaram depois de 21 anos juntos. Eles frequentam a casa um do outro e comemoram datas especiais

Às vezes, é o que sobra. A paixão se esvai, o amor se transforma, e com quem tanto se dividiu e sorriu só fica amizade. O que não é pouco. O sentimento acompanha os casais pela vida a dois. Amizade que é também respeito, cumplicidade, apoio, um carinho que transcende. Segundo a psiquiatra e psicoterapeuta Ana Ester Nogueira Pinto, coautora do livro e jogo Tui: a arte de amar, amor e amizade são sentimentos próximos. “A origem e a vibração é a mesma. Mas o amor que une parceiros e que forma o casal é o amor sensual, sexualizado. Esse amor erótico sustenta a maioria das relações, principalmente de adultos jovens. Devem existir afinidades de corpo, de alma, de valores. Isso resulta, normalmente, em casamento.

Segundo a especialista, a capacidade de amar ou de lidar com as frustrações e raivas é treinada nas relações de família, em especial na primeira infância, com a mãe e o pai. Se eles se amam e passam amor para a criança, ela terá forte tendência a manter essa forma de relação. E vai amar pessoas por afinidade, de uma forma fraterna ou sensual, quando for o tempo. Como o casamento, surge uma série de tarefas e obrigações que não eram vividas na casa dos pais, e o casal precisa desenvolver a maturidade de cuidar delas sem perder de vista o namoro. Se o casal, em especial aqueles que já têm filhos, passa a conviver como colegas de república, e com ressentimento pelas obrigações e deveres, vem o problema.

Surgem duas opções. Uma delas é levar a vida assim, em boa convivência, respeitando o cansaço do final do dia, desenvolvendo a fraterna amizade. Na outra, as raivas vão sendo acumuladas com saudades de um tempo de vida sem compromissos e passa-se a ver o outro como culpado pela própria infelicidade. Vem a separação. E separação, com raiva, é sempre ruim e traumatizante. “Uma boa relação de casal envolve amor, amizade, admiração e sexo. Não precisa ser sexo todo dia, como nos jovens namoros, mas um jogo sensual diário que lembre ao outro o quanto ele é querido e admirado”, explica Ana Ester Nogueira.

À PROVA
Faz parte das relações de amor o sentir-se amado, especial, reconhecido e belo. Quando tudo isso deixa de existir, quando fica só a ternura amiga, quem sentir falta de ser desejado e visto como um ser de beleza e força irá buscar essa sensação de vitalidade em outra pessoa, em outro encontro. E assim, todo amor é posto à prova. “O amor maduro escolhe a felicidade do outro, em primeiro lugar. Sente a dor, mas acolhe a realidade da perda e pode fazer sobreviver a amizade, o respeito, os interesses em comum (filhos, se for o caso). O amor que prima pelo sentimento de posse fica agredido, frustrado, raivoso. Não haverá amizade porque já não havia a maturidade do sentimento.”

Alguns casais tentam manter a relação pensando na família, na expectativas dos pais ou dos filhos. Mas é um equívoco: os dois acabariam ressentidos e frustrados ao não priorizar a própria vida e liberdade de escolha. Segundo Ana Ester, também é um engano pensar que os filhos não percebem a infelicidade dos pais. Eles não só percebem, como introjetam aquele modelo de relação para si mesmo, mantendo um circuito de falta de autonomia e infelicidade. É preciso viver as escolhas, afinal, todas as experiências de vida fazem parte do aprendizado de viver, de se humanizar e de amar. O desenvolvimento psicológico humano vem pelo amor ou pela dor.

Três perguntas para...
Thalita Matta Machado - 31 anos, jornalista, filha de Uyara e Ronaldo
Thalita Matta Machado - 31 anos, jornalista, filha de Uyara e Ronaldo

Como você reagiu à separação dos seus pais?
Não foi uma surpresa. Eu tinha 18 anos, idade suficiente para perceber que o casamento já tinha acabado. No começo encarei muito bem, mas depois de uns meses senti falta do papai em casa. Cheguei a morar um tempo com ele, mas o colo de mãe falou mais alto.

A manutenção da amizade entre eles trouxe ganhos para você? Quais?
Muitos! Imagine todas as situações de eventos sociais que filhos precisam administrar com pais brigados? Não temos nenhum problema quanto a isso, passamos feriados, festas de Natal, aniversário juntos. Não existem dúvidas como: "Convido mamãe ou papai? Será que ele/ela vai ficar chateado?" Fica mais fácil entender que você não deixa de ter uma família porque seus pais não estão casados.

Você acredita que é possível ser amigo do ex? Por quê?
Completamente! É claro que depende do ex. Se ele tiver caráter e o término for tranquilo, sem traumas para as partes, não vejo motivo para não manter a amizade com alguém que você amou, que foi (e muitas vezes continua sendo, mesmo depois do término do relacionamento), tão importante na sua vida.

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