Quando os pais são os "destruidores" de sonhos
No caso dos pais, por vezes, os principais suspeitos (e acusados) de não apoiar os sonhos dos filhos, comportamento pode indicar apenas um incômodo, uma preocupação natural
Gláucia Chaves - Revista do CB
Publicação:27/09/2013 10:01Atualização: 22/09/2013 11:51
No caso dos pais, por vezes, os principais suspeitos (e acusados) de não apoiar os sonhos dos filhos, Godoy diz que o comportamento indica apenas um incômodo, uma preocupação natural. O que importa mesmo é saber esmiuçar o comportamento verbal dos outros e ter firmeza do que se quer. “Quanto mais consistente o objetivo, mais sólido será o caminho até ele.” Feito tudo isso, é hora de se vacinar contra o que os outros pensam. “É uma escravidão social. Desde cedo, somos ensinados a nos preocupar com o que estão achando de nós.”
O melhor tratamento contra a língua afiada dos outros? Boas doses de autoconhecimento e de seus efeitos colaterais, como a autoconfiança. “Vivemos correndo atrás de sonhos que são produzidos por demandas culturais, e não por nós mesmos”, ensina Gilberto Godoy. Não há problema, portanto, em sonhar com uma Ferrari estacionada na frente de uma mansão — desde que a meta seja honesta, e não baseada na tentativa de ser aceito. O caminho para o autoconhecimento e para a definição de objetivos pessoais é vasto, segundo o especialista, e passa por leituras, terapia e convívio social. “Pode ser até em uma conversa com amigos mais experientes e familiares. O que importa é ter contato com pessoas francas, honestas, que darão conselhos confiáveis.”
Sempre que conta que sonha em ser autor de novelas, Ítalo Damasceno Souza, 29 anos, escuta comentários positivos. Custear o sonho, contudo, não é fácil. Para “ganhar a vida”, ele trabalha como advogado e estuda para concurso público. Mas está longe de reclamar. “Como venho de Teresina (PI), achei que era uma coisa muito distante. Aqui em Brasília é que escrever se tornou uma opção real, junto com estudar para concurso. Agora, não é mais ‘vou estudar para concurso para, quando eu passar, começar a escrever’”, explica. Ele conta que, em sua terra natal, ser escritor não despertava muita credibilidade. O escritor seria visto como “uma pessoa louca, que passa fome e vive às custas de subvenção do governo”.
A vontade de escrever, contudo, continuou existindo, mesmo com ressalvas vindas até de seus pais. “Eles encaram como um hobby”, resume. Na universidade, Ítalo conheceu pessoas que também queriam escrever profissionalmente. Em seguida, a internet possibilitou a divulgação de seus textos. Um concurso de contos, este ano, fez com que suas palavras chegassem ao papel. “Depois desse concurso, vi que daria certo, que existem alternativas que me dariam a chance de ganhar dinheiro com isso”, comemora. “Isso passou a se tornar uma possibilidade real, tanto quanto concurso.”
Por enquanto, Ítalo considera o direito como um plano B. Não que não veja ligação entre as duas profissões, mas, de acordo com ele, o conhecimento das leis é uma ponte para seu sonho de escrever para a telinha. Embora o plano original seja passar em um concurso para só depois se dedicar aos escritos, no momento, Ítalo vive suas três funções — trabalhar, estudar e escrever — ao mesmo tempo. “Não é fácil, nem sempre dá certo. Em determinado momento, um fica mais intenso, outro menos.” Enquanto a aprovação não chega, o sonho vai criando asas. “Talvez, quem sabe, se eu tiver coragem, largo o concurso e fico só escrevendo.”
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Gilberto Godoy, psicólogo e professor do UniCeub, explica que há algumas coisas importantes para entender a existência dos matadores de sonhos. Primeiro, segundo ele, é que dentro das características humanas diante da incapacidade de realizações, as pessoas tendem a deixar exalar o que se chama culturalmente de inveja. “Ela nada mais é que o subproduto de nossas incapacidades. Ninguém inveja o que já tem. Isso está muito relacionado ao sentimento de insegurança.” Outro fator de destaque seria o comportamento verbal de cada um, que, nem sempre, exprime exatamente o que se passa na cabeça de quem fala. “No comportamento verbal, há o que a pessoa diz, o que ela quis dizer, o que ela faz ao dizer e o que consegue com o que diz”, enumera.Mais do que nunca, Ítalo Damasceno Souza acredita que está perto de realizar o sonho: ser escritor de novelas
O melhor tratamento contra a língua afiada dos outros? Boas doses de autoconhecimento e de seus efeitos colaterais, como a autoconfiança. “Vivemos correndo atrás de sonhos que são produzidos por demandas culturais, e não por nós mesmos”, ensina Gilberto Godoy. Não há problema, portanto, em sonhar com uma Ferrari estacionada na frente de uma mansão — desde que a meta seja honesta, e não baseada na tentativa de ser aceito. O caminho para o autoconhecimento e para a definição de objetivos pessoais é vasto, segundo o especialista, e passa por leituras, terapia e convívio social. “Pode ser até em uma conversa com amigos mais experientes e familiares. O que importa é ter contato com pessoas francas, honestas, que darão conselhos confiáveis.”
Sempre que conta que sonha em ser autor de novelas, Ítalo Damasceno Souza, 29 anos, escuta comentários positivos. Custear o sonho, contudo, não é fácil. Para “ganhar a vida”, ele trabalha como advogado e estuda para concurso público. Mas está longe de reclamar. “Como venho de Teresina (PI), achei que era uma coisa muito distante. Aqui em Brasília é que escrever se tornou uma opção real, junto com estudar para concurso. Agora, não é mais ‘vou estudar para concurso para, quando eu passar, começar a escrever’”, explica. Ele conta que, em sua terra natal, ser escritor não despertava muita credibilidade. O escritor seria visto como “uma pessoa louca, que passa fome e vive às custas de subvenção do governo”.
A vontade de escrever, contudo, continuou existindo, mesmo com ressalvas vindas até de seus pais. “Eles encaram como um hobby”, resume. Na universidade, Ítalo conheceu pessoas que também queriam escrever profissionalmente. Em seguida, a internet possibilitou a divulgação de seus textos. Um concurso de contos, este ano, fez com que suas palavras chegassem ao papel. “Depois desse concurso, vi que daria certo, que existem alternativas que me dariam a chance de ganhar dinheiro com isso”, comemora. “Isso passou a se tornar uma possibilidade real, tanto quanto concurso.”
Por enquanto, Ítalo considera o direito como um plano B. Não que não veja ligação entre as duas profissões, mas, de acordo com ele, o conhecimento das leis é uma ponte para seu sonho de escrever para a telinha. Embora o plano original seja passar em um concurso para só depois se dedicar aos escritos, no momento, Ítalo vive suas três funções — trabalhar, estudar e escrever — ao mesmo tempo. “Não é fácil, nem sempre dá certo. Em determinado momento, um fica mais intenso, outro menos.” Enquanto a aprovação não chega, o sonho vai criando asas. “Talvez, quem sabe, se eu tiver coragem, largo o concurso e fico só escrevendo.”