Como lidar com pessoas que boicotam seus sonhos?
Quem nunca ouviu de uma pessoa próxima frases do tipo "tomara que você consiga, mas será muito difícil" Mesmo que não seja por maldade, os destruidores de sonhos estão por toda a parte
Gláucia Chaves - Revista do CB
Publicação:27/09/2013 10:00Atualização: 22/09/2013 11:54
Dizem que somos do tamanho dos nossos sonhos. Pois os sabotadores também. Denise Vilas Boas, psicóloga analítica comportamental e vice-presidente da Associação Brasileira de Psicologia e Medicina (ABPMC), explica que o ato de desencorajar o outro é comum. “Acontece muito quando as pessoas acham que aquele sonho é fora do comum.” Segundo ela, uma explicação para o impedimento à meta alheia seria a vontade de permanecer confortável. “Se eu boicoto a sua tarefa, não preciso criar um objetivo para mim, nem ver que o outro conseguiu e eu não.”
Mas nem sempre isso ocorre por maldade. Algumas vezes, os comentários contrários são preocupações mal verbalizadas. Pais e mães, segundo Vilas Boas, são bons exemplos de pessoas que desencorajam tentando proteger os filhos do sofrimento. “Pode acontecer quando eles (os pais) não conseguem enxergar essa perspectiva ou acreditam que a pessoa não tem repertório para chegar aonde quer.” Por isso, a psicóloga salienta que uma das coisas mais importantes a se pensar quando se tem um sonho é o que é preciso fazer para chegar lá — e se o indivíduo está disposto a passar por todas as fases necessárias. “Se alguém quer ser astronauta, mas não gosta de física, não vai conseguir. A pessoa que tem o sonho precisa conhecer seus limites e avaliar se tem condições de realizá-lo.”
Objetivos de longo prazo exigem, além de planejamento, força de vontade. Angélica Capelari, psicóloga e professora da Universidade Metodista de São Paulo, explica que, se já é difícil se manter fazendo o que deve ser feito, comentários pseudomotivacionais complicam a meta ainda mais. Quem tem o sonho precisa de incentivo genuíno para não desistir. “Nem sempre se trata de uma sacanagem precipitada, mas atrapalha, pois, geralmente, as pessoas têm que trabalhar arduamente para conseguirem o que querem.”
Gabriel Coelho Pinto Correia, 28 anos, tem certeza absoluta de que chegará aonde quer: ao estrelato. Formado em administração de empresas, ele conta que sempre sonhou em ser músico. Aos 6 anos, começou como muitos, cantando no coral da igreja que frequentava, mas garante que conseguirá realizar o sonho de chegar aonde poucos conseguem. Para isso, dedica todo o seu tempo à música. Além de ser vocalista da banda Daros, aprendeu a tocar violão para se apresentar sozinho. “Nunca tive um plano B, acho que sou o único da banda que não tem e nunca terei. Para mim, música é o plano A e sempre será.”
Quando compartilha seu sonho, as reações se dividem entre quem já consegue vê-lo ganhando o Grammy e os que se preocupam com o passar do tempo. A banda começou em 2006, mas o contrato com a gravadora — e, consequentemente, a gravação do videoclipe e do CD — só veio em 2010. “Algumas pessoas apoiam, mas vejo que não acreditam. Tem gente que fala mal, que eu estou ‘viajando’, que já estou com 28 anos e a banda ainda não deu certo e que eu não acordei, que não tenho um plano B. Mas mesmo meus outros planos são voltados para a música. Mesmo que os outros desistam, eu não vou desistir nunca.”
Entrevista//Rodrigo Batalha
Conquistar objetivos não é fácil. Mas há quem esteja disposto a treinar pessoas para isso. Rodrigo Batalha, especialista em desempenho comportamental, palestrante, consultor e autor do livro Desempenho Máximo, estratégias para conquistar os seus objetivos (Saraiva, 2012), é um desses treinadores de autoestima. Ele conversou com a Revista e deu dicas para quem tem uma meta, mas não sabe como começar ou está com dificuldades em se manter nos trilhos.
Muitas vezes, pessoas com objetivos de longo prazo escutam comentários pseudomotivadores. Como identificar quando esses comentários não têm o objetivo de alertar, mas, sim, de desmotivar?
Tentar identificar se tais comentários são ou não motivadores é energia dispensada. Ora, se todo pensamento evoca algum dispositivo emocional a favor ou contra, e se temos um objetivo a atingir, temos que usar todo tipo de recurso para nos sentirmos motivados, mesmo que não tenha sido o objetivo. Sendo assim, o que importa é o significado que vamos dar, e não o que é dito. Vamos transformar tudo em ferramenta a nosso favor. Afinal, temos uma vitória a alcançar. A prova disso são aqueles que usam o desafio como alavanca para atingir o que querem. O que importa é nossa habilidade em significar os fatos e circunstâncias a fim de nos mover de forma ainda mais cheia de potencial.
Por que algumas pessoas fazem questão de fazer comentários como esses?
Quando alguém diz “você não é capaz”, na verdade está dizendo “eu não sou capaz”. Afinal, ele está usando a base de dados dele para avaliar, e não as da pessoa em questão. Os indivíduos têm um hábito estranho de julgar ou avaliar os outros com seus próprios valores, em vez de usar os valores alheios. Outro ponto é que, infelizmente, dois sentimentos permeiam a sociedade: o medo de ser insuficiente e a inveja de outros conquistarem aquilo que a pessoa não conseguiu ou nem tentou conquistar. Não se pode afirmar que a intenção das pessoas é sempre desmotivar. O ser humano confia muito pouco nas próprias capacidades e foca muito mais naquilo que não quer do que naquilo que quer. É quase uma programação natural, por medo de sofrer dores emocionais da frustração. O erro ainda é muito temido, mesmo sendo o grande construtor de nossas experiências e aprendizados. Aqueles que tentam o impossível e persistem acabam conseguindo. Afinal, no impossível a concorrência é bem menor.
O que fazer para não se deixar abalar por comentários negativos?
Por que não usar todos os comentários, tanto negativos quanto positivos, como alavanca para o sucesso? Somos donos de nossos cérebros, emoções e habilidades, temos o poder de usá-los como quisermos. Observe a frase do imperador romano Marco Aurélio: “Se você se aflige com qualquer coisa externa, o sofrimento não é causado pela coisa em si, mas por sua própria avaliação a respeito; e isso você tem o poder de revogar a qualquer momento”. É nosso significado que muda tudo, e não o fato em si. Conversei com dois irmãos criados nos mesmos ambientes e que, crianças, assistiram à morte do pai por um criminoso. Eles tiveram destinos muito diferentes. Um se tornou bandido e o outro, um rico empresário. Quando perguntei a eles por que tinham se tornado aquilo, ambos deram a mesma resposta: “Não poderia ser diferente tendo visto meu pai ser morto”. Um significou a morte do pai como um motivo para se vingar do mundo. O outro como alavanca para nunca permitir que seus filhos vivessem a mesma coisa. Não é o fato em si, mas o foco e o significado que damos a ele.
Como realizar seus sonhos:
-Objetivos se atingem com muitos recursos.
-Em primeiro lugar, é preciso saber o que quer e quais são seus valores. Ou seja, não perca o foco do objetivo principal e invista sempre em novas estratégias.
-Tenha seu objetivo traçado e definido com precisão.
-Após isso, é fundamental fazer uma estruturação de referências para se chegar lá, amparado por convicções de capacidade própria muito fortes. Ou seja, força emocional, entusiasmo e crença na conquista, demore o tempo que custar.
-Muitos desabam no meio do caminho, desistem e colocam a culpa no objetivo. Porém, lembre-se: se outros conseguiram, é possível.
-É preciso mudar a estratégia quando algo não estiver dando certo — e esqueça que a palavra “desistência” existe.
-Acredite em suas capacidades e não se deixe vencer pelo caminho, não importa o quão longo ele seja.
-Projetos de curto prazo são como querer que sementes plantadas em um dia deem frutos maduros no outro. Sonhos são grandes projetos de longo prazo, demandam persistência, crença, entusiasmo, ações massivas e paciência até que se realizem.
Saiba mais...
Pergunte a uma criança o que ela quer ser quando crescer. Provavelmente, você receberá como resposta uma profissão aparentemente inalcançável para nós, meros mortais, como astronauta, pintor ou astro do rock. Mesmo quem já cresceu tem sonhos trabalhosos, por assim dizer, que podem ser desde perder peso a comprar o apartamento dos sonhos. O problema começa quando os “matadores de sonhos” cruzam o caminho dos outros. Eles estão por todos os lados e podem até gostar de você, mas tentarão lhe fazer mudar de ideia. Comentários como “tomara que você consiga, mas saiba que será muito difícil” ou “espero que você não desista de novo” são motes pseudoencorajadores usados por eles. Como driblá-los?Gabriel Correia tem certeza que chegará ao estrelato com a música e nem cogita traçar um plano B
Mas nem sempre isso ocorre por maldade. Algumas vezes, os comentários contrários são preocupações mal verbalizadas. Pais e mães, segundo Vilas Boas, são bons exemplos de pessoas que desencorajam tentando proteger os filhos do sofrimento. “Pode acontecer quando eles (os pais) não conseguem enxergar essa perspectiva ou acreditam que a pessoa não tem repertório para chegar aonde quer.” Por isso, a psicóloga salienta que uma das coisas mais importantes a se pensar quando se tem um sonho é o que é preciso fazer para chegar lá — e se o indivíduo está disposto a passar por todas as fases necessárias. “Se alguém quer ser astronauta, mas não gosta de física, não vai conseguir. A pessoa que tem o sonho precisa conhecer seus limites e avaliar se tem condições de realizá-lo.”
Objetivos de longo prazo exigem, além de planejamento, força de vontade. Angélica Capelari, psicóloga e professora da Universidade Metodista de São Paulo, explica que, se já é difícil se manter fazendo o que deve ser feito, comentários pseudomotivacionais complicam a meta ainda mais. Quem tem o sonho precisa de incentivo genuíno para não desistir. “Nem sempre se trata de uma sacanagem precipitada, mas atrapalha, pois, geralmente, as pessoas têm que trabalhar arduamente para conseguirem o que querem.”
Gabriel Coelho Pinto Correia, 28 anos, tem certeza absoluta de que chegará aonde quer: ao estrelato. Formado em administração de empresas, ele conta que sempre sonhou em ser músico. Aos 6 anos, começou como muitos, cantando no coral da igreja que frequentava, mas garante que conseguirá realizar o sonho de chegar aonde poucos conseguem. Para isso, dedica todo o seu tempo à música. Além de ser vocalista da banda Daros, aprendeu a tocar violão para se apresentar sozinho. “Nunca tive um plano B, acho que sou o único da banda que não tem e nunca terei. Para mim, música é o plano A e sempre será.”
Quando compartilha seu sonho, as reações se dividem entre quem já consegue vê-lo ganhando o Grammy e os que se preocupam com o passar do tempo. A banda começou em 2006, mas o contrato com a gravadora — e, consequentemente, a gravação do videoclipe e do CD — só veio em 2010. “Algumas pessoas apoiam, mas vejo que não acreditam. Tem gente que fala mal, que eu estou ‘viajando’, que já estou com 28 anos e a banda ainda não deu certo e que eu não acordei, que não tenho um plano B. Mas mesmo meus outros planos são voltados para a música. Mesmo que os outros desistam, eu não vou desistir nunca.”
Rodrigo Batalha, especialista em desempenho comportamental, é treinador de autoestima
Conquistar objetivos não é fácil. Mas há quem esteja disposto a treinar pessoas para isso. Rodrigo Batalha, especialista em desempenho comportamental, palestrante, consultor e autor do livro Desempenho Máximo, estratégias para conquistar os seus objetivos (Saraiva, 2012), é um desses treinadores de autoestima. Ele conversou com a Revista e deu dicas para quem tem uma meta, mas não sabe como começar ou está com dificuldades em se manter nos trilhos.
Muitas vezes, pessoas com objetivos de longo prazo escutam comentários pseudomotivadores. Como identificar quando esses comentários não têm o objetivo de alertar, mas, sim, de desmotivar?
Tentar identificar se tais comentários são ou não motivadores é energia dispensada. Ora, se todo pensamento evoca algum dispositivo emocional a favor ou contra, e se temos um objetivo a atingir, temos que usar todo tipo de recurso para nos sentirmos motivados, mesmo que não tenha sido o objetivo. Sendo assim, o que importa é o significado que vamos dar, e não o que é dito. Vamos transformar tudo em ferramenta a nosso favor. Afinal, temos uma vitória a alcançar. A prova disso são aqueles que usam o desafio como alavanca para atingir o que querem. O que importa é nossa habilidade em significar os fatos e circunstâncias a fim de nos mover de forma ainda mais cheia de potencial.
Por que algumas pessoas fazem questão de fazer comentários como esses?
Quando alguém diz “você não é capaz”, na verdade está dizendo “eu não sou capaz”. Afinal, ele está usando a base de dados dele para avaliar, e não as da pessoa em questão. Os indivíduos têm um hábito estranho de julgar ou avaliar os outros com seus próprios valores, em vez de usar os valores alheios. Outro ponto é que, infelizmente, dois sentimentos permeiam a sociedade: o medo de ser insuficiente e a inveja de outros conquistarem aquilo que a pessoa não conseguiu ou nem tentou conquistar. Não se pode afirmar que a intenção das pessoas é sempre desmotivar. O ser humano confia muito pouco nas próprias capacidades e foca muito mais naquilo que não quer do que naquilo que quer. É quase uma programação natural, por medo de sofrer dores emocionais da frustração. O erro ainda é muito temido, mesmo sendo o grande construtor de nossas experiências e aprendizados. Aqueles que tentam o impossível e persistem acabam conseguindo. Afinal, no impossível a concorrência é bem menor.
O que fazer para não se deixar abalar por comentários negativos?
Por que não usar todos os comentários, tanto negativos quanto positivos, como alavanca para o sucesso? Somos donos de nossos cérebros, emoções e habilidades, temos o poder de usá-los como quisermos. Observe a frase do imperador romano Marco Aurélio: “Se você se aflige com qualquer coisa externa, o sofrimento não é causado pela coisa em si, mas por sua própria avaliação a respeito; e isso você tem o poder de revogar a qualquer momento”. É nosso significado que muda tudo, e não o fato em si. Conversei com dois irmãos criados nos mesmos ambientes e que, crianças, assistiram à morte do pai por um criminoso. Eles tiveram destinos muito diferentes. Um se tornou bandido e o outro, um rico empresário. Quando perguntei a eles por que tinham se tornado aquilo, ambos deram a mesma resposta: “Não poderia ser diferente tendo visto meu pai ser morto”. Um significou a morte do pai como um motivo para se vingar do mundo. O outro como alavanca para nunca permitir que seus filhos vivessem a mesma coisa. Não é o fato em si, mas o foco e o significado que damos a ele.
Como realizar seus sonhos:
-Objetivos se atingem com muitos recursos.
-Em primeiro lugar, é preciso saber o que quer e quais são seus valores. Ou seja, não perca o foco do objetivo principal e invista sempre em novas estratégias.
-Tenha seu objetivo traçado e definido com precisão.
-Após isso, é fundamental fazer uma estruturação de referências para se chegar lá, amparado por convicções de capacidade própria muito fortes. Ou seja, força emocional, entusiasmo e crença na conquista, demore o tempo que custar.
-Muitos desabam no meio do caminho, desistem e colocam a culpa no objetivo. Porém, lembre-se: se outros conseguiram, é possível.
-É preciso mudar a estratégia quando algo não estiver dando certo — e esqueça que a palavra “desistência” existe.
-Acredite em suas capacidades e não se deixe vencer pelo caminho, não importa o quão longo ele seja.
-Projetos de curto prazo são como querer que sementes plantadas em um dia deem frutos maduros no outro. Sonhos são grandes projetos de longo prazo, demandam persistência, crença, entusiasmo, ações massivas e paciência até que se realizem.
Fonte: Rodrigo Batalha, especialista em desempenho comportamental, palestrante, consultor e autor do livro Desempenho Máximo, estratégias para conquistar os seus objetivos