Música torna a atividade física menos desgastante
O som ajuda as pessoas a prestarem menos atenção ao esforço exigido pelos exercícios
Vilhena Soares - Correio Braziliense
Publicação:24/10/2013 15:00Atualização: 22/10/2013 11:47
Um novo estudo sugere que essa mistura de som e movimento não se deve apenas ao gosto do ser humano pelas melodias. Ouvir canções, concluíram os autores da investigação, tem o poder de tornar o esforço físico menos penoso. Segundo Thomas Fritz, pesquisador do Instituto Max Planck para Cognição Humana e Ciências do Cérebro, na Alemanha, a música ajuda a distrair e a relaxar a mente, fazendo com que a pessoa não pense tanto no cansaço a que seu corpo está sendo submetido.
Para chegar a essa conclusão, Fritz e alguns colegas realizaram um experimento composto de dois testes. No primeiro, três participantes utilizaram equipamentos encontrados em qualquer academia, como esteira e máquinas de levantamento de peso. Os exercícios foram realizados com e sem a presença de música, enquanto os cientistas mediram dados metabólicos dos participantes e perguntaram a eles sobre como se sentiam. O resultado mostrou que os voluntários experimentaram menos cansaço quando podiam escutar as melodias. Fritz acredita que a diferença se deu graças a uma sensação de bem-estar provocada pela música. “Eu acho que, durante o êxtase musical, nós temos um maior controle motor, que também é emocional”, destaca.
No segundo teste, os pesquisadores equiparam os aparelhos com um software que produzia música a partir dos movimentos realizados pelos voluntários nos aparelhos. Após realizar as medições, eles notaram que a sensação de “fazer” a música tornou os participantes ainda mais dispostos e menos cansados. “Esses resultados são um avanço, porque, decisivamente, nos ajuda a entender o poder terapêutico da música”, prossegue Fritz. “Um efeito modulador musical na atividade de esforço poderia ser uma razão ainda desconhecida para o desenvolvimento da música nos seres humanos: produzir música faz com que o esforço físico seja menos desgastante”, especula o coautor do trabalho, publicado na revista Pnas.
Som companheiro
Rafael Costa, publicitário de 26 anos, confirma as impressões dos pesquisadores. Sempre que sai para caminhar, leva a música como companheira. O som, acredita, lhe dá mais disposição para se exercitar. “Toda vez que saio de casa, lembro de pegar meu aparelho de som. Se chego ao parque e vejo que a bateria está para acabar, até me desanimo um pouco. É ruim. Parece que canso mais quando estou sem essa distração.”
A estudante Marina Macedo, 22 anos, descreve uma experiência semelhante. Ela não dispensa os fones de ouvido e o aparelho de MP3 quando decide andar de skate pela cidade. Ela acredita que o tipo de música que escuta auxilia seu desempenho nas manobras. “Sempre tento adequar o estilo da música ao que estou praticando. Começo a andar e coloco um rock mais pesado. Quando paro para descansar e beber água, troco para um som mais melódico”, conta. “Acho que, ao ouvir algo animado, eu esqueço o cansaço”.
De acordo com Thomas Fritz, o depoimento da estudante encontra ressonância no laboratório. Segundo o neurologista, o estilo da música parece mesmo influenciar o desempenho de um atleta. Como próximo passo do estudo, o time de pesquisadores deseja investigar essa relação mais a fundo. “Acreditamos que o efeito de relaxamento provavelmente depende do gosto musical. Queremos abrir o nosso software para compositores criarem muitos estilos de música”, destaca.
Neurocientista do Instituto D’or de Pesquisa, Anne Rose Engel acredita que o experimento comprova uma suspeita antiga. “Nesse trabalho, houve a combinação de uma atividade física com um treinamento que, em geral, já tem efeitos muito positivos no humor e no corpo. E ‘fazer’ música, também tem efeitos. Essas duas ações estão combinadas e mostram que o som está diminuindo a percepção de esforço das pessoas. Elas se ‘perdem’, se distraem”, analisa a especialista.
Regina Pedroza, professora do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB), acredita que o esforço feito na execução dos exercícios acaba por acompanhar um ritmo. “Como os exercícios pedem um esforço repetitivo, a música ajuda a distrair”, diz. “No entanto, não podemos generalizar. Há pessoas que não gostam. Trabalho na área de psicologia do esporte e vejo casos de atletas que se queixam do barulho. Não podemos dizer que é um recurso bom ou ruim. Depende muito da pessoa”, ressalta.
Poesia na cabeça
Pesquisadores da Universidade de Exeter, na Inglaterra, demonstraram que ouvir música e ler poesia produz uma atividade cerebral parecida. O trabalho com essa conclusão foi publicado recentemente no Journal of Consciousness Studies. Utilizando técnicas de ressonância magnética, os especialistas analisaram o cérebro de 15 voluntários quando liam prosa e trechos de suas poesias preferidas. Os cientistas notaram que, diferentemente dos demais textos, os versos mostraram-se capazes de acionar áreas que, em estudos anteriores, foram ligadas às emoções produzidas por melodias. “A escrita emocional (poesia) foi associada com a atividade nas áreas ativadas também pela música que emociona, como a ínsula, o tálamo e o mesencéfalo”, diz o líder do estudo, Adam Zeman.
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Ao trabalhar nos campos de algodão do sul dos Estados Unidos, os negros escravizados cantavam enquanto realizavam a tarefa braçal. O costume está ligado à origem do blues, que, curiosamente, seria entoado, tempos depois, por prisioneiros americanos durante os trabalhos forçados. Em várias outras situações — menos dramáticas —, a combinação da música com o esforço físico também pode ser observada. Basta lembrar dos militares que correm em grupo cantarolando ou das academias de ginástica, repletas de clientes com fones grudados na orelha.Na hora de realizar manobras no skate, Marina prefere rock pesado: "Sempre tento adequar o estilo da música ao que estou praticando"
Para chegar a essa conclusão, Fritz e alguns colegas realizaram um experimento composto de dois testes. No primeiro, três participantes utilizaram equipamentos encontrados em qualquer academia, como esteira e máquinas de levantamento de peso. Os exercícios foram realizados com e sem a presença de música, enquanto os cientistas mediram dados metabólicos dos participantes e perguntaram a eles sobre como se sentiam. O resultado mostrou que os voluntários experimentaram menos cansaço quando podiam escutar as melodias. Fritz acredita que a diferença se deu graças a uma sensação de bem-estar provocada pela música. “Eu acho que, durante o êxtase musical, nós temos um maior controle motor, que também é emocional”, destaca.
No segundo teste, os pesquisadores equiparam os aparelhos com um software que produzia música a partir dos movimentos realizados pelos voluntários nos aparelhos. Após realizar as medições, eles notaram que a sensação de “fazer” a música tornou os participantes ainda mais dispostos e menos cansados. “Esses resultados são um avanço, porque, decisivamente, nos ajuda a entender o poder terapêutico da música”, prossegue Fritz. “Um efeito modulador musical na atividade de esforço poderia ser uma razão ainda desconhecida para o desenvolvimento da música nos seres humanos: produzir música faz com que o esforço físico seja menos desgastante”, especula o coautor do trabalho, publicado na revista Pnas.
Rafael sente menos vontade de caminhar quando não pode ouvir música: "É ruim"
Rafael Costa, publicitário de 26 anos, confirma as impressões dos pesquisadores. Sempre que sai para caminhar, leva a música como companheira. O som, acredita, lhe dá mais disposição para se exercitar. “Toda vez que saio de casa, lembro de pegar meu aparelho de som. Se chego ao parque e vejo que a bateria está para acabar, até me desanimo um pouco. É ruim. Parece que canso mais quando estou sem essa distração.”
A estudante Marina Macedo, 22 anos, descreve uma experiência semelhante. Ela não dispensa os fones de ouvido e o aparelho de MP3 quando decide andar de skate pela cidade. Ela acredita que o tipo de música que escuta auxilia seu desempenho nas manobras. “Sempre tento adequar o estilo da música ao que estou praticando. Começo a andar e coloco um rock mais pesado. Quando paro para descansar e beber água, troco para um som mais melódico”, conta. “Acho que, ao ouvir algo animado, eu esqueço o cansaço”.
De acordo com Thomas Fritz, o depoimento da estudante encontra ressonância no laboratório. Segundo o neurologista, o estilo da música parece mesmo influenciar o desempenho de um atleta. Como próximo passo do estudo, o time de pesquisadores deseja investigar essa relação mais a fundo. “Acreditamos que o efeito de relaxamento provavelmente depende do gosto musical. Queremos abrir o nosso software para compositores criarem muitos estilos de música”, destaca.
Neurocientista do Instituto D’or de Pesquisa, Anne Rose Engel acredita que o experimento comprova uma suspeita antiga. “Nesse trabalho, houve a combinação de uma atividade física com um treinamento que, em geral, já tem efeitos muito positivos no humor e no corpo. E ‘fazer’ música, também tem efeitos. Essas duas ações estão combinadas e mostram que o som está diminuindo a percepção de esforço das pessoas. Elas se ‘perdem’, se distraem”, analisa a especialista.
Regina Pedroza, professora do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB), acredita que o esforço feito na execução dos exercícios acaba por acompanhar um ritmo. “Como os exercícios pedem um esforço repetitivo, a música ajuda a distrair”, diz. “No entanto, não podemos generalizar. Há pessoas que não gostam. Trabalho na área de psicologia do esporte e vejo casos de atletas que se queixam do barulho. Não podemos dizer que é um recurso bom ou ruim. Depende muito da pessoa”, ressalta.
Poesia na cabeça
Pesquisadores da Universidade de Exeter, na Inglaterra, demonstraram que ouvir música e ler poesia produz uma atividade cerebral parecida. O trabalho com essa conclusão foi publicado recentemente no Journal of Consciousness Studies. Utilizando técnicas de ressonância magnética, os especialistas analisaram o cérebro de 15 voluntários quando liam prosa e trechos de suas poesias preferidas. Os cientistas notaram que, diferentemente dos demais textos, os versos mostraram-se capazes de acionar áreas que, em estudos anteriores, foram ligadas às emoções produzidas por melodias. “A escrita emocional (poesia) foi associada com a atividade nas áreas ativadas também pela música que emociona, como a ínsula, o tálamo e o mesencéfalo”, diz o líder do estudo, Adam Zeman.