MMA para crianças: academia pioneira
Saiba qual é a opinião de pais, professores e da Comissão Atlética Brasileira de MMA
Letícia Orlandi - Saúde Plena
Publicação:20/11/2013 09:31Atualização: 20/11/2013 13:53
Os pequenos amigos fazem parte de um grupo pioneiro em Minas Gerais. Lucas é filho de Paloma Bonfim e Eduardo Lopes, proprietário de um estúdio de artes marciais em Belo Horizonte. Eduardo Lopes tem graduação e pós-graduação em educação física, é faixa preta em várias artes marcais e líder da equipe de MMA Full House. Ele confirma que a demanda aumentou muito desde a vinda do UFC para o Brasil. “Com a popularização do esporte, veio a aceitação dos pais. Nos últimos três anos, eles passaram a assistir mais as lutas, deixar que os filhos assistam e até a praticar, não só o MMA, mas também as modalidades separadamente”, relata.
Eduardo garante que há uma grande preocupação em adaptar o esporte para a criança, com acompanhamento especializado. “Para os menores, são apenas movimentos básicos, para vivenciar o corpo, aprender a cair, levantar, fazer rolamento. Tudo de forma lúdica”, explica. As aulas voltadas ao MMA são oferecidas a partir dos seis anos. “Somos a única academia com esse programa no estado e uma das poucas no Brasil. Não há socos ou técnicas de estrangulamento violentas nas aulas infantis. Não é o mesmo MMA praticado pelos atletas adultos”, afirma.
É possível observar, durante a aula, que os meninos seguem, mesmo com a pouca idade (alguns têm três anos), todos os ensinamentos do professor. Apesar de concentrados, eles não deixam de sorrir e brincar. Fazem pose de combate, cerram os punhos, sim, mas nem de longe lembram os pequenos lutadores norte-americanos. O professor dos meninos, Pedro Curiri, explica que ele está oferecendo a eles uma base para que possam escolher qual modalidade gostam mais. “Quando começamos a aula de introdução, não tinha essa experiência com crianças menores. Logo percebi que eles precisam, primeiro, ter mais noção do corpo, dos braços, das pernas. Com os maiores, que já têm mais técnica, ensinamos também a perder e ganhar. Por ser uma esporte de contato, sempre orientamos os meninos a não levar nada para o lado pessoal e a ajudar o colega. O resultado é que os alunos sempre são elogiados pela solidariedade”, comemora o atleta.
Paloma afirma que a academia está conseguindo romper paradigmas e preconceitos em relação ao MMA. “Muitos pais vêm porque já são fãs da modalidade, assistem às lutas junto com os filhos. E os meninos acabam trazendo outros coleguinhas, e mais pessoas, que antes não eram fãs, descobrem que a luta não é pancadaria. Pelo contrário, é muito saudável. O Lucas sempre é lembrado na escola por ser carinhoso e prestativo, e parte disso vem da vivência dele com as artes marciais”, afirma a empresária, professora e mãe.
Eduardo conta que, à medida que vão crescendo, os meninos se interessam pela competição. Para saciar essa curiosidade, a academia organiza festivais, em que todos ganham medalhas, não há pressão pelo resultado ou ranking. “Todos são vencedores. E todos usam as proteções nas canelas, braços, cabeça, mãos e tronco, como se fosse uma pequena armadura. Eles aprendem como seria vencer uma luta, com segurança. É um aprendizado para vencer na vida”, resume Eduardo. “O principal objetivo é trabalhar equilíbrio, força e coordenação motora entre os alunos menores. Para os maiores, são exigidos mais conhecimentos técnicos, mas de acordo com a filosofia do esporte e sob supervisão 100% do tempo”, acrescenta Paloma.
Victor Oliveira, de 12 anos, é um desses alunos da turma acima de 6 anos. Praticante de Muay Thai há cinco anos, em 2013 ele acrescentou ao currículo aulas de jiu-jitsu e MMA. Ele se diz menos agitado do que quando começou a praticar artes marciais e as notas na escola sempre estão boas, porque esta é a condição imposta pela família para que ele continue na academia. Victor diz que nunca sofreu lesões nos treinos, mas, perguntado sobre competição, revela que vai participar de seu primeiro campeonato de Muay Thai no próximo dia 7 de dezembro. A expectativa é de que tudo “corra bem”. Mas o que é correr bem? “Ah, eu espero que não me machuque muito e espero ganhar. Mas, se não ganhar, eu tento de novo depois”, avalia.
Para Lopes, apenas na adolescência o garoto pode ser apresentado à performance de competição. “O MMA não exige que o atleta atinja seu pico muito jovem. Como a modalidade demanda formação ampla, com muitos conhecimentos, é normal que a competição se inicie mais tarde. Leva tempo para você se tornar bom nas várias técnicas e temos atletas com o o brasileiro Vítor Belfort, que não pensa em parar aos 36 anos”, pondera o treinador.
O treinador assistiu aos vídeos e, mesmo sendo amante do MMA, acha que há um exagero. “Já estudei muito sobre a fisiologia do corpo humano. A criança precisa de um tempo maior para amadurecer. Quando a competição de alta performance é instigada muito cedo e elas vivem toda essa experiência de pressão, fama e dinheiro antecipadamente, elas enjoam. Acabam não atingindo seu potencial máximo quando adultas. Pular etapas não faz bem. Tudo tem a fase correta e a ciência comprova isso. Tenho certeza que esse pequenos lutadores não chegarão a se destacar quando adultos”, afirma. O médico pediatra especializado em Medicina Esportiva Carlos Eduardo Reis, um dos especialistas ouvidos nesta reportagem, concorda com Eduardo neste ponto. Veja mais adiante o que mais ele tem a dizer sobre o MMA infantil.
Eduardo explica ainda que a academia dirigida por ele tem uma equipe multidisciplinar para fornecer toda a orientação necessária aos pais. “Nossa nutricionista avalia a alimentação e só indica o suplemento ao atleta adulto se houver deficiência. No caso das crianças, isso é feito apenas com a alimentação. Como a carga de treinamento é baixa, a criança não tem perda significativa que justifique qualquer suplementação. Os atletas de alto nível, sim, por sofrerem grandes perdas durante as competições e treinos, passam por esse acompanhamento alimentar mais rígido”, explica.
Sobre os riscos enfrentados pelos lutadores de MMA e a possibilidade de seu filho se tornar um lutador um dia, Paloma é bem pragmática. “Todo esporte de alto rendimento oferece riscos. Tenho aqui atletas que nunca se machucaram gravemente lutando, mas já tiveram que ficar parados por causa de ferimentos causados no futebol”, relativiza.
O administrador e praticante de artes marciais Alfredo de Almeida Cunha, pai de João Márcio e João Gabriel, de 4 e 3 anos, compartilha dessa visão. Os irmãos frequentam as aulas introdutórias há um ano e meio. Assim como os pais de Lucas, ele diz que os meninos só vão se quiserem. “Nunca forço o treino. Pergunto se eles querem vir e aviso que, se não quiserem, não tem problema. Mas, se quiserem, terão que fazer tudo direitinho”, conta o pai.
Como os meninos vão às aulas desde muito novinhos, Alfredo diz que é mais fácil observar os benefícios em relação a outras crianças. “Eles demonstram mais coordenação motora, força, agilidade e destreza nas brincadeiras. No MMA, o professor fica 100% dedicado ao aluno. Acho muito mais fácil uma criança se machucar correndo com outras 20 dentro de um campo de futebol”, opina Cunha. “É possível falar mal e bem de todos os esportes de alto rendimento. Não é porque alguém é fã de corridas de Fórmula 1 e o filho participa de corridas de Kart que ele vai sair dirigindo em alta velocidade, por exemplo. No MMA, embora o sangue no ringue assuste, as lesões são menos duradouras que em outros esportes. Recentemente, o Júnior dos Santos (Cigano) ficou com o rosto desfigurado após uma luta, mas duas semanas depois já havia voltado ao normal e estava de volta ao ringue”, cita o administrador.
Para ele, a proteção excessiva em relação às crianças pode levar a problemas de desenvolvimento. “é claro que temos que proteger nossos filhos. Mas uma criança que não sabe o que é perder pode ter várias dificuldades futuras. Quando um menino vê que pode ser derrotado por um colega menor, passa a respeitar as pessoas sem julgar pela aparência. A criança que tem contato com a arte marcial fica mais calma e vai saber seus limites e não vai se envolver em brigas na escola. Todos elogiam a relação dos meus dois filhos, e parte disso vem do companheirismo deles no tatame”, avalia.
Ele completa que já assistiu a alguns vídeos de lutadores mirins e diz que, com supervisão e acompanhamento adequado, não vê problemas graves. “Se houver garantia de que isso não atrapalha o desenvolvimento da criança, não sou contra. Já morei nos EUA e sei que eles levam o esporte a sério desde muito cedo. Em dias de jogo, os atletas vão de terno para a escola, por exemplo. Pode ser que o MMA esteja indo pelo mesmo caminho”, arrisca Alfredo Cunha.
Já Thaís não acredita que o pequeno Gustavo vá seguir o MMA como um esporte competitivo no futuro. “Ele gosta mesmo é de futebol. O MMA é seu segundo favorito, mas não pretendemos formar um futuro lutador”, diz a mãe do menino de 4 anos.
Lopes aconselha aos pais interessados que procurem uma escola de artes marciais qualificada. “Em todos os setores, há profissionais mais e menos qualificados. Eu acho que os pais têm que assistir às aulas e oferecer todas as modalidades como opção para a criança. Assim, ela vai fazer o que mais gosta, o que dá prazer. O MMA também oferece os benefícios das artes marciais para autoestima, disciplina, respeito à hierarquia. O importante que é que o filho possa escolher e também que toda família possa praticar”, defende o treinador. Segundo ele, hoje, cerca de metade do público da academia é feminino, sendo muitas mães dos praticantes de lutas.
Comissão Atlética Brasileira de MMA
Márcio Tannure, chefe do Comitê Médico da Comissão Atlética Brasileira de MMA (CABMMA), explica que não existe uma idade mínima determinada oficialmente. “O que determina é a intensidade da atividade física. Uma criança de 7 anos não pode ser submetida a um treinamento igual ao do adulto ou do adolescente. A atividade deve ser lúdica, evitando riscos desnecessários”, explica Márcio.
O médico informa que, no Brasil, não existem competições oficiais de MMA infantil, nem regras ou categorias específicas para crianças. “Sou a favor da prática, como atividade física e forma de incentivo ao esporte. Mas sou contra a competição entre crianças tão novas. A luta competitiva só deve ser estimulada a partir dos 16 anos”, pondera Tannure.
Enquanto, nos Estados Unidos, a discussão já chegou ao nível da definição de regras específicas para as categorias infantis e envolve a preocupação com suplementos alimentares e anabolizantes entre os atletas mais jovens, no Brasil a demanda ainda é incipiente.
Perguntado sobre os riscos envolvidos na prática e na convivência com a cultura do MMA para as crianças, Márcio Tannure opta por fazer uma comparação com outras modalidades. “Trabalho com esporte há 15 anos e 12 deles foram no Flamengo, acompanhando as mais diversas modalidades em treinos e competições. Em esportes de alto rendimento, como a ginástica olímpica e o futebol, sempre há o risco de abusos, lesões, over training (excesso de treinamento) e atrocidades que podem afetar o crescimento e a maturação óssea da criança. O maior problema não é ser um esporte de contato; e sim a intensidade, a carga. E isso vai depender do treinador escolhido, não da modalidade em si”, opina o médico.
O pai que quiser atender ao pedido ou oferecer a oportunidade aos filhos deve fazer uma avaliação médica da criança e procurar uma boa academia, além de acompanhar as aulas, conhecer bem o local, os frequentadores, os professores. “Se for observado um comportamento agressivo da criança, é preciso reavaliar. A essência da arte marcial, que também está no MMA, não incita a violência”, pondera Tannure. “O MMA oferece o mesmo risco que outras modalidades e deve ser proposto de acordo com o tipo físico de cada um, assim como acontece no basquete, no vôlei, na ginástica”, conclui.
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Lucas e Gustavo, de 4 anos, se agarram no tatame após a aula de Introdução às Artes Marciais. Sob o olhar atento da mãe de Gustavo, Thaís, os meninos brincam o tempo todo, aplicando as técnicas recém-aprendidas. A própria Thaís também começou a praticar artes marciais depois que o filho passou a frequentar a academia. “Acho que é ótimo para percepção corporal, equilíbrio e autocontrole. Ele aprende a respeitar e cumprimentar o mestre, fica mais calmo, gasta energia. Antes, o Gustavo queria brincar de lutinha o tempo todo. Agora, ele já sabe que é só no tatame”, conta Thaís. -
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A partir dos 3 anos, as crianças já podem ser matriculadas na aula de Introdução às Artes Marciais
Eduardo garante que há uma grande preocupação em adaptar o esporte para a criança, com acompanhamento especializado. “Para os menores, são apenas movimentos básicos, para vivenciar o corpo, aprender a cair, levantar, fazer rolamento. Tudo de forma lúdica”, explica. As aulas voltadas ao MMA são oferecidas a partir dos seis anos. “Somos a única academia com esse programa no estado e uma das poucas no Brasil. Não há socos ou técnicas de estrangulamento violentas nas aulas infantis. Não é o mesmo MMA praticado pelos atletas adultos”, afirma.
É possível observar, durante a aula, que os meninos seguem, mesmo com a pouca idade (alguns têm três anos), todos os ensinamentos do professor. Apesar de concentrados, eles não deixam de sorrir e brincar. Fazem pose de combate, cerram os punhos, sim, mas nem de longe lembram os pequenos lutadores norte-americanos. O professor dos meninos, Pedro Curiri, explica que ele está oferecendo a eles uma base para que possam escolher qual modalidade gostam mais. “Quando começamos a aula de introdução, não tinha essa experiência com crianças menores. Logo percebi que eles precisam, primeiro, ter mais noção do corpo, dos braços, das pernas. Com os maiores, que já têm mais técnica, ensinamos também a perder e ganhar. Por ser uma esporte de contato, sempre orientamos os meninos a não levar nada para o lado pessoal e a ajudar o colega. O resultado é que os alunos sempre são elogiados pela solidariedade”, comemora o atleta.
Nas aulas introdutórias, todas as atividades são apresentadas de forma lúdica e incluem valores como respeito ao mestre e solidariedade ao colega
Eduardo conta que, à medida que vão crescendo, os meninos se interessam pela competição. Para saciar essa curiosidade, a academia organiza festivais, em que todos ganham medalhas, não há pressão pelo resultado ou ranking. “Todos são vencedores. E todos usam as proteções nas canelas, braços, cabeça, mãos e tronco, como se fosse uma pequena armadura. Eles aprendem como seria vencer uma luta, com segurança. É um aprendizado para vencer na vida”, resume Eduardo. “O principal objetivo é trabalhar equilíbrio, força e coordenação motora entre os alunos menores. Para os maiores, são exigidos mais conhecimentos técnicos, mas de acordo com a filosofia do esporte e sob supervisão 100% do tempo”, acrescenta Paloma.
Victor Oliveira, de 12 anos, é um desses alunos da turma acima de 6 anos. Praticante de Muay Thai há cinco anos, em 2013 ele acrescentou ao currículo aulas de jiu-jitsu e MMA. Ele se diz menos agitado do que quando começou a praticar artes marciais e as notas na escola sempre estão boas, porque esta é a condição imposta pela família para que ele continue na academia. Victor diz que nunca sofreu lesões nos treinos, mas, perguntado sobre competição, revela que vai participar de seu primeiro campeonato de Muay Thai no próximo dia 7 de dezembro. A expectativa é de que tudo “corra bem”. Mas o que é correr bem? “Ah, eu espero que não me machuque muito e espero ganhar. Mas, se não ganhar, eu tento de novo depois”, avalia.
Alfredo Cunha e os filhos João Márcio, de 4 anos (esq.) e João Gabriel, de 3: crianças desenvolveram coordenação motora e equilíbrio
O treinador assistiu aos vídeos e, mesmo sendo amante do MMA, acha que há um exagero. “Já estudei muito sobre a fisiologia do corpo humano. A criança precisa de um tempo maior para amadurecer. Quando a competição de alta performance é instigada muito cedo e elas vivem toda essa experiência de pressão, fama e dinheiro antecipadamente, elas enjoam. Acabam não atingindo seu potencial máximo quando adultas. Pular etapas não faz bem. Tudo tem a fase correta e a ciência comprova isso. Tenho certeza que esse pequenos lutadores não chegarão a se destacar quando adultos”, afirma. O médico pediatra especializado em Medicina Esportiva Carlos Eduardo Reis, um dos especialistas ouvidos nesta reportagem, concorda com Eduardo neste ponto. Veja mais adiante o que mais ele tem a dizer sobre o MMA infantil.
Eduardo explica ainda que a academia dirigida por ele tem uma equipe multidisciplinar para fornecer toda a orientação necessária aos pais. “Nossa nutricionista avalia a alimentação e só indica o suplemento ao atleta adulto se houver deficiência. No caso das crianças, isso é feito apenas com a alimentação. Como a carga de treinamento é baixa, a criança não tem perda significativa que justifique qualquer suplementação. Os atletas de alto nível, sim, por sofrerem grandes perdas durante as competições e treinos, passam por esse acompanhamento alimentar mais rígido”, explica.
Thaís com Gustavo, de 4 anos: as brincadeiras de luta agora ficam restritas ao tatami
O administrador e praticante de artes marciais Alfredo de Almeida Cunha, pai de João Márcio e João Gabriel, de 4 e 3 anos, compartilha dessa visão. Os irmãos frequentam as aulas introdutórias há um ano e meio. Assim como os pais de Lucas, ele diz que os meninos só vão se quiserem. “Nunca forço o treino. Pergunto se eles querem vir e aviso que, se não quiserem, não tem problema. Mas, se quiserem, terão que fazer tudo direitinho”, conta o pai.
Como os meninos vão às aulas desde muito novinhos, Alfredo diz que é mais fácil observar os benefícios em relação a outras crianças. “Eles demonstram mais coordenação motora, força, agilidade e destreza nas brincadeiras. No MMA, o professor fica 100% dedicado ao aluno. Acho muito mais fácil uma criança se machucar correndo com outras 20 dentro de um campo de futebol”, opina Cunha. “É possível falar mal e bem de todos os esportes de alto rendimento. Não é porque alguém é fã de corridas de Fórmula 1 e o filho participa de corridas de Kart que ele vai sair dirigindo em alta velocidade, por exemplo. No MMA, embora o sangue no ringue assuste, as lesões são menos duradouras que em outros esportes. Recentemente, o Júnior dos Santos (Cigano) ficou com o rosto desfigurado após uma luta, mas duas semanas depois já havia voltado ao normal e estava de volta ao ringue”, cita o administrador.
Para ele, a proteção excessiva em relação às crianças pode levar a problemas de desenvolvimento. “é claro que temos que proteger nossos filhos. Mas uma criança que não sabe o que é perder pode ter várias dificuldades futuras. Quando um menino vê que pode ser derrotado por um colega menor, passa a respeitar as pessoas sem julgar pela aparência. A criança que tem contato com a arte marcial fica mais calma e vai saber seus limites e não vai se envolver em brigas na escola. Todos elogiam a relação dos meus dois filhos, e parte disso vem do companheirismo deles no tatame”, avalia.
Lucas, de 4 anos, com a mãe e professora de artes marciais, Paloma: o treino não é imposto ao garoto
Já Thaís não acredita que o pequeno Gustavo vá seguir o MMA como um esporte competitivo no futuro. “Ele gosta mesmo é de futebol. O MMA é seu segundo favorito, mas não pretendemos formar um futuro lutador”, diz a mãe do menino de 4 anos.
Lopes aconselha aos pais interessados que procurem uma escola de artes marciais qualificada. “Em todos os setores, há profissionais mais e menos qualificados. Eu acho que os pais têm que assistir às aulas e oferecer todas as modalidades como opção para a criança. Assim, ela vai fazer o que mais gosta, o que dá prazer. O MMA também oferece os benefícios das artes marciais para autoestima, disciplina, respeito à hierarquia. O importante que é que o filho possa escolher e também que toda família possa praticar”, defende o treinador. Segundo ele, hoje, cerca de metade do público da academia é feminino, sendo muitas mães dos praticantes de lutas.
Comissão Atlética Brasileira de MMA
Na aula introdutória, à esquerda, crianças de até 5 anos aprendem movimentos básicos. Na aula de MMA oferecida para os que têm entre 6 e 12 anos, a técnica dos golpes é aperfeiçoada
O médico informa que, no Brasil, não existem competições oficiais de MMA infantil, nem regras ou categorias específicas para crianças. “Sou a favor da prática, como atividade física e forma de incentivo ao esporte. Mas sou contra a competição entre crianças tão novas. A luta competitiva só deve ser estimulada a partir dos 16 anos”, pondera Tannure.
Enquanto, nos Estados Unidos, a discussão já chegou ao nível da definição de regras específicas para as categorias infantis e envolve a preocupação com suplementos alimentares e anabolizantes entre os atletas mais jovens, no Brasil a demanda ainda é incipiente.
Perguntado sobre os riscos envolvidos na prática e na convivência com a cultura do MMA para as crianças, Márcio Tannure opta por fazer uma comparação com outras modalidades. “Trabalho com esporte há 15 anos e 12 deles foram no Flamengo, acompanhando as mais diversas modalidades em treinos e competições. Em esportes de alto rendimento, como a ginástica olímpica e o futebol, sempre há o risco de abusos, lesões, over training (excesso de treinamento) e atrocidades que podem afetar o crescimento e a maturação óssea da criança. O maior problema não é ser um esporte de contato; e sim a intensidade, a carga. E isso vai depender do treinador escolhido, não da modalidade em si”, opina o médico.
O pai que quiser atender ao pedido ou oferecer a oportunidade aos filhos deve fazer uma avaliação médica da criança e procurar uma boa academia, além de acompanhar as aulas, conhecer bem o local, os frequentadores, os professores. “Se for observado um comportamento agressivo da criança, é preciso reavaliar. A essência da arte marcial, que também está no MMA, não incita a violência”, pondera Tannure. “O MMA oferece o mesmo risco que outras modalidades e deve ser proposto de acordo com o tipo físico de cada um, assim como acontece no basquete, no vôlei, na ginástica”, conclui.