Doença que causa vômito repetidamente confunde médicos há 130 anos

A Síndrome de Vômito Cíclico (SVC) faz com que pessoas, especialmente crianças, vomitem mais de 20 vezes ao dia. Na Inglaterra, uma menina chegou a ser erroneamente diagnosticada com bulimia após passar dias vomitando 40 vezes ao dia

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Gabriella Pacheco - Saúde Plena Publicação:07/01/2014 15:00Atualização:07/01/2014 12:19
Jayde Pitt foi diagnosticada erroneamente algumas vezes antes dos médicos descobrirem que ela sofria da Síndrome de Vômito Cíclico (Reprodução / www.dailymail.co.uk)
Jayde Pitt foi diagnosticada erroneamente algumas vezes antes dos médicos descobrirem que ela sofria da Síndrome de Vômito Cíclico

Cento e trinta anos após sua descoberta na Inglaterra, a Síndrome de Vômito Cíclico (SVC) continua confundindo médicos e frustrando pacientes que sofrem com essa rara doença. A causa dela não é conhecida – apesar de pesquisadores acreditarem que ela seja multifatorial. Seu principal sintoma é o vômito repetitivo durante o dia, com episódios que duram até uma semana. Ao contrário da incidência da síndrome, sua principal característica é tão comum que faz com que pessoas sejam erroneamente diagnosticadas frequentemente.

Esse foi o caso de Jayde Pitt, uma garota britânica de 12 anos de idade que vomitava cerca de 40 vezes ao dia. Apesar da pouca idade, a menina teve a condição confundida com gravidez por médicos. Seu caso espantou pessoas e virou notícia mundo afora. Mas apesar de rara, a condição de Jayde atinge várias outras meninas e meninos na mesma faixa etária. A incidência real da síndrome é, assim como sua causa, desconhecida, mas existe na literatura médica estimativas de que ela 2% das crianças em idade escolar. Para todos eles, as idas ao pronto socorro geralmente é frustrante, uma vez que a doença é facilmente confundida com outras.

No caso de Jayde, os médicos também chegaram a cogitar que a menina tivesse bulimia. Isso também aconteceu com a inglesa Lyam Baker, de 16 anos. Antes da SVC ter sido identificada, Lyam foi mantida em uma clínica psiquiátrica por seis meses sob suspeita de distúrbios alimentares, segundo relatou o jornal The Daily Mail. A rápida e intensa perda de peso, consequência das crises de vômito, é a principal responsável por essa confusão.

Infelizmente, os erros de diagnóstico são comuns e não existe um exame que confirme a condição. “Ela é uma síndrome de exclusão”, explica o médico do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e membro da Federação Brasileira de Gastroenterologia Ricardo Barbuti. “Temos que afastar primeiro outras doenças. A bulimia é uma, mas também são analisadas a pancreatite, alterações infecciosas, meningite, encefalite, entre outras. O que ajuda (no diagnóstico) é a característica repetitiva do vômito e os períodos assintomáticos que a síndrome tem”, completa.

Nos Estados Unidos, uma associação auxilia e dá apoio a quem tem a síndrome e seus familiares. Segundo a Associação da Síndrome de Vômito Cíclico, a doença pode persistir por meses, anos ou até décadas. Os episódios podem aparecer várias vezes ao ano ou ao mês e as mulheres têm maior tendência de sofrer com o mal.

O médico brasileiro explica que algumas alterações no cérebro e no estômago podem estar envolvidas na origem da síndrome. Apesar de não saber sua causa específica, os médicos podem dizer que os episódios são desencadeados por alguns 'gatilhos' como problemas emocionais, estresse ou alimentos. “É muito individual”, pontua. Diante disso, o especialista sugere a manutenção de um diário alimentar para verificar se alterações na dieta criam desencadeiam alguma condição.

Em momentos de crise, uma alimentação leve é imprescindível. “Evitar gorduras é muito importante, porque a gordura retarda o esvaziamento do estômago e facilita o aparecimento dos sintomas”, diz. O uso de medicamentos para evitar que as crises apareçam também é comum. Outra opção de tratamento é a terapia nutricional e psicoterapia, para tentar descobrir e retirar os fatores desencadeantes.

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