Mulheres representam a quebra de barreiras e a realização de sonhos
Já estamos no século 21, mas o registro de casos de feminicídio - homicídio em função do gênero - é maior que no passado
Carolina Cotta - Estado de Minas
Publicação:02/03/2014 10:15Atualização: 02/03/2014 10:33
“Mulheres, quando deixareis vós de ser cegas?” O ano é 1791. A frase é de Olympe de Gouges em sua Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, um modelo feminilizado e provocador da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que marcou a explosão da Revolução Francesa dois anos antes. Sua crítica à desigualdade levou a revolucionária francesa à guilhotina. De lá para cá outras milhares morreram simplesmente por serem mulheres. Já estamos no século 21, mas o registro de casos de feminicídio – homicídio em função do gênero – é maior que no passado. No Dia Internacional da Mulher, comemorado esta semana, valeria mais uma reflexão sobre essa opressão que a rosa distribuída no sinal.Para Marlise Matos, coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher (Nepem) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em um mundo de tamanha invisibilidade, a data é um meio de produzir reconhecimento e lembrar das mulheres que conquistaram alguns dos direitos que experimentamos hoje. O processo de escolarização feminino, ainda no século 19, foi a conquista fundamental para uma mudança no pensamento crítico e, consequentemente, na realidade. Foram as mulheres que ousaram fazer diferente, as responsáveis pela possibilidade do voto, da carreira e da opção entre casar ou não, ter filhos ou não. Quais serão nossas próximas conquistas?
Karina sempre sonhou em ser mãe. Para Rísia não chegava a ser um sonho de infância, mas também seria uma realização. “Somos bem-sucedidas, temos boa condição financeira. Um filho seria uma realização para cada uma de nós e para a família que formamos”, acredita Karina, que leva consigo a criança gerada por inseminação artificial a partir de um banco de esperma. Rísia é quem irá amamentar. “Assim, eu e Nina teremos um forte vínculo afetivo, como ela terá com a Karina, que a gestou”, conta Rísia. Existia também um aspecto técnico: Karina fez uma cirurgia redutora de mama no passado e teria menos condições de amamentar. “O médico nos explicou que o remédio que vai estimular na Rísia a lactação é apenas um estímulo. Para funcionar, ela teria que querer, e ela já tem leite”, comemora Karina.
No último domingo, elas reuniram família e amigos para o chá de fraldas. Crianças, idosos, casais hetero e homoafetivos presentes lidavam com a situação com a maturidade que se deseja. Rísia não esconde um receio de Nina sofrer algum preconceito por ser filha de duas mães, mas acredita na mudança de conceitos da sociedade e no fato de a filha ser fruto de muito amor. “Acho que é meu instinto protetor. Mas até aqui só ganhamos com nossa decisão. Temos o apoio de nossas famílias e amigos. Se pensarmos que somos uma família diferente todo mundo vai pensar também. É nossa contribuição para uma mudança de mentalidade”, acredita a arquiteta. “Pode fugir ao padrão, mas é normal”, diz Karina.
Se as mudanças na sociedade vêm da coragem e da luta de alguns grupos, Karina, Rísia e Nina também são apenas novas mulheres em revolução. Para Marlise Mattos, todas aquelas que ousam são a linha de frente nesse campo de batalha por mais igualdade. “Precisamos de mulheres que quebrem fronteiras delimitadas ou que consigam estendê-las um pouco mais. Os padrões mostram uma linha divisória: até aqui se pode ir, depois não. As relações são marcadamente de poder. No tradicional, a expectativa e a prática são orientadas por valores que dizem que mulheres podem algumas coisas e não podem outras. Mas podemos qualquer coisa. Somos livres para isso”, defende a doutora em sociologia.
A arquiteta Rísia Botrel e a servidora pública Karina Medeiros esperam a chegada de Nina para abril. Há 10 anos juntas, com a chegada da filha, as duas querem completar a família
A medida que conquistam reconhecimento e igualdade, as mulheres buscam novas formas de empoderamento. O desafio de hoje é o protagonismo, a independência, a autonomia e, sempre, o fim da violência. Mas a busca por igualdade e respeito ainda exige romper com o estabelecido. Exige coragem. A arquiteta Rísia Botrel, de 43 anos, e a servidora pública Karina Medeiros, de 34, se preparam para a chegada de Nina, a filha que desejaram para completar a família formada há uma década. Casadas desde o ano passado, depois de um processo jurídico que reverteu a união estável anterior, elas já enfrentam outra batalha: querem o direito de registrar Nina como filha das duas mães que ela terá. A menininha é esperada para abril.
No último domingo, elas reuniram família e amigos para o chá de fraldas. Crianças, idosos, casais hetero e homoafetivos presentes lidavam com a situação com a maturidade que se deseja. Rísia não esconde um receio de Nina sofrer algum preconceito por ser filha de duas mães, mas acredita na mudança de conceitos da sociedade e no fato de a filha ser fruto de muito amor. “Acho que é meu instinto protetor. Mas até aqui só ganhamos com nossa decisão. Temos o apoio de nossas famílias e amigos. Se pensarmos que somos uma família diferente todo mundo vai pensar também. É nossa contribuição para uma mudança de mentalidade”, acredita a arquiteta. “Pode fugir ao padrão, mas é normal”, diz Karina.
Se as mudanças na sociedade vêm da coragem e da luta de alguns grupos, Karina, Rísia e Nina também são apenas novas mulheres em revolução. Para Marlise Mattos, todas aquelas que ousam são a linha de frente nesse campo de batalha por mais igualdade. “Precisamos de mulheres que quebrem fronteiras delimitadas ou que consigam estendê-las um pouco mais. Os padrões mostram uma linha divisória: até aqui se pode ir, depois não. As relações são marcadamente de poder. No tradicional, a expectativa e a prática são orientadas por valores que dizem que mulheres podem algumas coisas e não podem outras. Mas podemos qualquer coisa. Somos livres para isso”, defende a doutora em sociologia.